quarta-feira, 14 de julho de 2010

Optimismo oficial (luso), Kumba Ialá e Hegel...

1. Parece que a moda do optimismo “contra ventos e marés” está de regresso, a avaliar por entrevista concedida (...) pelo PM ao F. Times em suplemento dedicado a Portugal.
2. Curiosamente, até a decisão da Moody’s de baixar dois “degraus” o rating da dívida pública portuguesa, foi oficialmente recebida como sinal positivo...
3. A partir daqui o que é que não poderá deixar de ser tomado como motivo de optimismo?...Só mesmo um violento terramoto talvez...ou nem mesmo isso?
4. Este episódio do F. Times trouxe-me à memória um outro, de há alguns anos, com outro suplemento, neste caso dedicado à Guiné-Bissau ao tempo em que Kumba Ialá era Presidente.
5. Como habitualmente o suplemento começava com um texto de apreciação geral da situação do País, nesse caso um texto com conclusões devastadoras, de um País em extrema dificuldade e penúria, cuja leitura faria qualquer mortal tremer de angústia caso tivesse de encarar algum risco de investimento no País.
6. O mais curioso é que por baixo do texto do suplemento, na mesma página, aparecia uma imagem sorridente do Presidente Ialá, com o seu tradicional barrete vermelho, subscrevendo uma declaração carregadas de tons optimistas e, claro, convidando a comunidade internacional a investir no País uma vez que esse investimento, assegurava, oferecia as melhores perspectivas de um futuro pleno de rentabilidade!
7. Ao confrontar estes episódios, salvaguardadas as devidas distâncias, parece oportuno citar a observação que Bernard Shaw fez acerca de Hegel: “Hegel estava certo quando disse que o que nós aprendemos com a história é que o homem nunca consegue aprender com a história...”.
8. De facto e neste caso, por muita história que se faça, parece cada vez mais claro que há optimismos que resistem a todas as lições da história...e com os resultados que se conhecem!
9. Uma última nota para dizer que pessoalmente nada tenho contra os optimistas, por mais inveterados que sejam ou se declarem...mas tenho muito contra esse optimismo quando acaba por nos vir ao bolso, em sucessivos aumentos de impostos...bem como por arrastar contínua perda de qualidade de vida de tantos e tantos cidadãos...

9 comentários:

  1. Bom, caro Dr. Tavares Moreira, não seria a primeira vez no nosso país, que um terramoto teria a função de motivo para resolver uma crise, tão ou maior que esta que hoje vivemos...

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  2. Ainda por cima, a entrevista foi paga por entidades públicas, claro...

    Em estado de auto-promoção,
    qual entrevista publicitária,
    paga com a distinta subvenção
    de uma elite sedentária.

    Sem ter tempo para respirar
    e num estado deformado
    temos um país a estoirar
    e um povo subestimado.

    Este país tão destroçado
    por vergonhosas governações
    tem um futuro entrançado
    entre ambages e decepções.

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  3. O nosso P.M. disse há dias que cada vez mais se sentia "sozinho a puxar pelo País"... A mim parece-me cada vez mais a história do velhinho em contra mão na auto estrada e que ouve no rádio "atenção que está um veículo em contra mão na Auto estrada!" e diz alto: "- Um não, montes deles!"

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  4. Eu, que sempre me considerei optimista, alinhei agora com os pessimistas, simplesmente porque acho que são eles que têm razão.
    Já agora, só na SIC Notícias soube que o suplemento do FT foi pago por publicidade, na maioria de empresas públicas ou que têm negócios com o estado. As outras TVs deram notícia ampla sobre a entrevista, mas omitiram este pormenor.

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  5. Caro Tavares Moreira

    Estou de acordo com a sua análise. O suplemento vem tarde e, no contexto actual da crise, desfocado das questões que deviam ser colocadas.
    O Senhor PM não compreendeu que o problema de Portugal nos mercados internacionais é sobre a solvência da Republica, não da sua liquidez.
    Neste momento teria sido importante enfatizar que somos um país com boas contas e que o somos há mais de 100 anos. (O gregos em 200 anos de história só estiveram 40 sem estarem falidos).
    Neste momento, seria mais importante enfatizar que a execução orçamental está a decorrer em bom ritmo,ergo, as metas devem ser cumpridas.
    Neste momento, seria mais importante enfatizar que estamos no início de um processo de ajustamento e, em simultâneo, que o governo optou (será que pode apresentar como argumento?) por uma via gradual e não pela via mais drástica de consolidação orçamental.
    Não queremos (como bons pacóvios) lembrar que as qualificações dos nossos trabalhadores são baixas; por isso omitimos o êxito (ainda que não total) da inciativa novas oportunidades...ou que a nossa estratégia de combate ao consumo de droga é um caso de estudo internacional...
    Temos sempre que cair na comunicação provinciana ao estilo "também temos empresas de classe mundial..."
    Dito isto, este governo como os carabineiros de Offenbach, chega sempra atrasado...o suplemento devia ter sido apresentado em Janeiro e, agora, seria o seguimento; a campanha terminaria em Outubro apresentando os resultados conseguidos no ano.....
    Receio que, como sucede com outras campanhas, vamos ficar pelo meio e, como sabe, as campanhas de comunicação são como os antibióticos: se não fazemos o tratamento completo arriscamos a criar defesas para os vírus...

    (O comentário não leva em linha de conta a congruência comunicativa do suplemento, isso seria objecto de um outro (e muito mais longo) comentário sobre esse tema.
    Apenas queria apontar para o facto de, em Portugal, não se ter percebido que, (mesmo quando é publicidade paga), em publicações como o FT é essencial conquistar os escribas; faz a diferença no "tom" final das peças, porque entre a adesão ao escrito e o frete vai um mundo de diferença....)

    Cumprimentos
    joão

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  6. Desenquadrado, mas não desfasado da espuma dos tempos, o seguinte comentário: «JN:«Patrões no desemprego quase duplicaram». Gestores e directores de PME afectados pela crise não param de crescer desde 2008»

    Na sociedade civil já todos sabem que o grande inimigo do emprego e das empresas, porque há quem teime em pensar que há emprego sem empresas, é o Estado burocrático e burrocrático que se imiscua, reprime e atrapalha, um Estado feito de quase nada, provido de submarinos mas desprovido de periscópios de lentes afinadas.
    Nos grandes partidos de causas, como o Bloco de Esquerda, reconhecido por muitos como o partido caviar, por se afirmar como um partido de cigarras gordas e anafadas, que não gostam de ser formigas - salva-se Loução, o último dos idealistas - cujo único mote é gastar, gastar à tripa forra, e penalizar, penalizar à tripa forra, sem querer saber se de tanto legislar e torcer, aniquilam o último emprego.
    Como temos chamado a atenção, só uma nova relação não baseada no paradigma da perseguição e da pura agiotagem fiscal, baseada numa pura responsabilidade limitada dos actores, trará Portugal de volta à mesa do desenvolvimento e do emprego.
    De outro modo o empreendedorismo e o risco fica limitado a aventureiros loucos e masoquistas. Quem foi o idiota que se lembrou e criou a reversão da responsabilidade a gestores e administradores?
    Custa tanto a perceber como o m.d.c. de segurança e confiança são os verdadeiros e únicos donos do futuro?

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  7. Caro Bartolomeu,

    Até poderia concordar consigo...mas falta-nos um Marquês de Pombal!
    Os barões que temos para aí não passam de vendedores, baratos, de ilusões que se desfazem com a mais pequena rabanada de vento!

    Caro M. Brás,

    Essa da entrevista paga com dinheiro dos contribuintes vem perfeitamente de encontro à parte final do meu post: sou totalmente contra os optimismos que nos vêm aos bolsos...em resultado da falência das suas medidas!

    Caro Tiago Barbosa,

    Quanto a essa de "puxar sozinho pelo País" eu diria...ainda bem que puxou sozinho, o que nos teria acontecido se tivesse alguém a puxar com ele!

    Caro Freire de Andrade,

    Pago por empresas públicas não, permita-me que respeitosamente corrija - pago pelos nossos impostos!

    Caro João,

    O grande problema destas mensagens que toda a gente percebe que são pagas, é que já ninguém lhes dá crédito - sobretudo quando a situação do País contrasta dolorosamente com o teor da mesma mensagem!
    Foi exactamente por isso que fiz apelo ao episódio Kumba Ialá que, numa situação extrema é certo, deixou uma mensagem de inimaginável oprimismo...

    Caro Almeida Sande,

    Tem bastante razão no comentário que faz. Com este Estado - ou Estados para ser mais rigoroso - jamais o País poderá recuperar da lenta agonia (agora em aceleração) em que mergulhou...
    Não temos mesmo saída sem uma drástica redução da dimensão de todos estes Estados - Administrativo Central, Regional, Local...e Empresariais Central, Regional e Local!
    Não há optimismo que nos valha, muito menos aquele que pagamos com os impostos!

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  8. Mas repare, ele veste impecavelmente bem Armani. E tem sempre a pedicure feita e um corte de cabelo imune a qualquer crítica. Isso faz toda a diferença...

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  9. Caro Ruben Correia,

    Certamente, não desvalorizo essas qualidades "intrínsecas", mas repare que nesse aspecto o impecável barrete vermelho de Kumba Ialá não lhe fica nada atrás...
    E o vermelho do barrete, pelos murmúrios de esquerda que projecta, até deve fazer inveja a muita gente na esquadra "armanizada" do incumbente!

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