“The Web Means the End of Forgetting” é o título de um artigo assinado por Jefrey Rosen publicado no New York Times que gostei imenso de ler e que nos alerta para uma nova sociedade digital que está em marcha incapaz de esquecer e perdoar.
O artigo começa com a história de uma rapariga que pendurou uma fotografia sua no MySpace, na qual aparece numa festa vestida de pirata e a beber num copo de plástico, com a legenda “Drunken pirata”. Por causa desta fotografia a universidade em que a rapariga estudava negou-lhe, segundo percebi, o estatuto de professor, alegando que ela estava a promover a bebida a estudantes mais novos. A estudante recorreu da decisão junto de um tribunal que viria a rejeitar a queixa dando razão à universidade.
O Autor alerta-nos para os custos de uma época em que muito do que dizemos e fazemos e do que outros pensam e dizem sobre nós é guardado para sempre e à disposição de todos em arquivos digitais ao dispor de todos na Web. É como que uma memória gravada que não mais se apaga, que acompanhará as nossas vidas para sempre, deixando marcas que não se podem remover. É uma memória perigosa e, porventura, castigadora que não dispõe da capacidade de esquecimento ao contrário da memória que transportamos connosco.
O artigo começa com a história de uma rapariga que pendurou uma fotografia sua no MySpace, na qual aparece numa festa vestida de pirata e a beber num copo de plástico, com a legenda “Drunken pirata”. Por causa desta fotografia a universidade em que a rapariga estudava negou-lhe, segundo percebi, o estatuto de professor, alegando que ela estava a promover a bebida a estudantes mais novos. A estudante recorreu da decisão junto de um tribunal que viria a rejeitar a queixa dando razão à universidade.
O Autor alerta-nos para os custos de uma época em que muito do que dizemos e fazemos e do que outros pensam e dizem sobre nós é guardado para sempre e à disposição de todos em arquivos digitais ao dispor de todos na Web. É como que uma memória gravada que não mais se apaga, que acompanhará as nossas vidas para sempre, deixando marcas que não se podem remover. É uma memória perigosa e, porventura, castigadora que não dispõe da capacidade de esquecimento ao contrário da memória que transportamos connosco.
A memória que reside no cérebro e no coração e à qual estão associados sentimentos e emoções está construída para saber esquecer, desvalorizar, reconstruir e desconstruir os nossos próprios actos e comportamentos do passado e os actos e comportamentos dos outros, concedendo a nós próprios e em relação aos outros uma second chance como lhe chama o Autor do artigo. Aprender com a experiência, corrigir erros e adaptar os nossos comportamentos à curva da vida são factos aceites pelos homens. A capacidade de nos reinventarmos a nós próprios e começar de novo é a bem dizer uma questão de sobrevivência. Mas uma sociedade que guarda na Web partes de nós próprios impossibilita, na prática, o esquecimento e o perdão.
Segundo o Autor, o banco de memória permanente da Web significa que cada vez mais não há second chance. É que agora a pior coisa que uma pessoa faz transforma-se muitas vezes na primeira coisa que todos sabem de si. Será que esta visão de Jefrey Rosen é assim tão verdadeira?
Se a valorização da nossa memória de plástico é perigosa, mais perigosa é a não separação da vida privada no espaço público quando vista à aparência de olhos poderosos.
ResponderEliminarInquieta-me um tribunal de costumes, baseado numa espécie de tribunal inquisitório do nosso construtivismo social, mas inquieta-me sobremaneira a não desconstrução e a afirmação de olhos de juízes acima de qualquer suspeita!
Em minha opinião... É!
ResponderEliminarSe...
Mas já lá vamos, primeiro, os elogios.
Elogio a escolha da imágem que ilustra o texto, sempre, como as demais, seleccionada a propósito do assunto e portadora de uma mensagem em si mesma.
Elogio a escolha do tema, pertinentíssimo.
E elogio a forma como o texto nos é apresentado na sequência do descorrimento.
Antes de voltar ao "se..." e ainda em minha opinião, faria muito mais sentido a universidade ter negado o estatuto à mocinha, por a legenda estar a promover a "pirataria". Se fosse em Portugal, faria ainda mais sentido, pois iría colidir frontalmente com os interesses de piratas já estabelecidos e detentores de títulos académicos... e com cátedra.
(essa tua bocarra ainda um dia ainda te vai trazer problemas, Bartolomeu... tu não queres crer que ha bruxas, mas olha que as ha... ha!)
Voltando então ao "se..."
Se... a vida de cada um de nós estiver suficientemente dependente do uso da net e dos espaços das redes sociais.
Como tudo o que é público, quem tem aspectos da sua vida privada que necessita proteger, tem de ter sempre presente a questão da segurança e... como diziam os antigos... "o segredo é a alma do negócio".
Outro problema é existir muita gente, que por não ter mais nada que fazer, dedica-se a "encontrar piolhos, na cabeça de um careca" e então arranjam sempre uma pontinha por onde pegar e... "se não for pelo cu... será pelas calças".
Adiante...
Pessoalmente, interpreto esta coisa das redes sociais, como o mai sepeice, o ai faive, o feice buque e outros, como uma dependência... não direi tão forte como com as drogas, mas talvez ao nível do tabaco e do alcool.
Mas, que percebo eu de dependências, ou de vícios, para poder estar para aqui a estabelecer comparações?
Bah...
O que me parece mais sensato é auto-disciplinar a nossa mente e... o nosso corpo, para não dependermos de nada... nem da sociedade.
Diz-me um amigo: estás parvo pá, não ha ninguem capaz de viver completamente afastado de tudo!
Talvez não haja, apesar de por vezes os repórter televisivos lá irem desencantar um fulano que vive num eremitério e que durante dois ou três dias faz a notícia nos telejornais.
;)
Gostei muito de ler este post, Margarida. Não pelo alerta para os riscos dos registos para memória futura da informação pessoal que circula pela net, incluindo opiniões, mas sobretudo porque nos faz pensar como se perdeu a noção do valor do perdão.
ResponderEliminarO mal dos outros, sobretudo se puder ser exibido, provoca uma sensação colectiva de prazer. O castigo e a punição representam hoje os sucedâneos do circo romano em que a piedade, a comiseração e a compreensão da essencial humanidade do erro cediam perante o gaúdio geral.
Creio que a sociedade da informação veio ampliar estes instintos.
Depois de ler o excelente comentário do caro Drº Ferreira de Almeida, não me é fácil comentar...
ResponderEliminarCaro maioria quase silenciosa
ResponderEliminarEstou muito de acordo consigo. As novas tecnologias da informação estão a desafiar a noção de privacidade, convidando as pessoas a partilhar abertamente informação sobre as suas vidas e a dos outros, o que aparentemente não teria qualquer inconveniente.
O problema é que as redes sociais digitais geram comportamentos compulsivos, suscitando uma onda crescente de dados que alimentam uma cadeia imparável de partilha. E como alguém refere no artigo citado, as pessoas prestam mais atenção a tudo o que tem uma carga negativa. E depois é ver quem faz pior.
Caro Bartolomeu
Obrigada pelas suas sempre amáveis palavras. Apenas me inspirei na leitura que fiz. A imagem é que deu um pouco mais de trabalho. Tive que pesquisar.
A auto-disciplina é um exercício muito importante. A questão é que as pessoas são cada vez mais pressionadas e perdem ou esquecem, por vezes, as boas referências. E depois já é tarde. Mas é verdade que cabe a cada um de nós fixar os limites de reserva da sua vida privada. Tudo indica que os limites se estão deslocar para novas fasquias.
José Mário
É bem verdade que as pessoas procuram, gostam e pagam para se divertir com o mal dos outros. Não admira que havendo um mercado ávido do prazer colectivo, exista uma indústria que não dá tréguas à privacidade.
Caro jotaC
Renovo o meu comentário anterior. Continuação de bons mergulhos...
Excelente post, Margarida, este é um tema de que os utilizadores das redes sociais começam a ter cada vez mais consciência, ao princípio foram apanhados desprevenidos. Talvez nunca tenhamos pensado nessa irreversibilidade cruel do que se escreve, os livros também ficam para sempre mas é diferente, não resultam de um impulso de comunicação e partilha que dá a ilusão de que estamos em círculo fechado. É a outra face da moeda da liberdade, o risco dos que a limitam, dos que espreitam e fixam para julgar. Talvez nunca a liberdade tenha sido tão tentadora e tão enganosa.
ResponderEliminarMuito a propósito este tema, Margarida.
ResponderEliminarOs registos de vida pessoal, que as redes sociais gravam e os motores de busca facultam, facilmente se transformam em verdadeiras e insuportáveis condenações perpétuas, só atenuadas pela sua vulgarização. Mas isso também significa uma degradação do bom nome, do direito ao mesmo, e até da consideração que a sociedade tem de si própia.O artigo dá uma ideia dos estragos pessoais que daí podem advir.
É mais uma forma das pessoas se sentirem vigiadas, desta feita em resultado de deslizes que sempre houve, mas que antes estavam circunscritos a círculos bem delimitados. É a privacidade que se esfuma.
Isto vem somar-se às múltiplas tecnologias de controlo que, em nome da segurança e até da defesa da liberdade, vão limitando essa mesma liberdade.
É o regresso às sociedades panópticas e de controlo de que falava a Suzana aqui no 4R, no início do ano.
Nem mesmo é necessário ser vigiado; a mera consciência dessa possibilidade já é um brutal condicionamento.
Suzana
ResponderEliminarÉ como diz. Sendo a Web um espaço de ampla liberdade de comunicação, interacção, informação e conhecimento, não deixa de ser também um meio para restringir a reserva de liberdade de cada pessoa ao impelindo-a a tornar pública a sua privacidade. Ocorreu-me a imagem da "colectivização" da privacidade para descrever o fenómeno.
Caro just-in-time
Seja bem aparecido. Excelente descrição da articulação entre liberdade, segurança, defesa e controlo, cujos âmbitos e limites estão em movimento acelerado sem sabermos muito bem para onde vamos e se realmente queremos que assim seja. Os fenómenos colectivos são normalmente imparáveis. São como uma bola de neve!
O caso de Stacey Snyder é um exemplo de que, afinal de contas, os americanos continuam a ser um povo, digamos, conservador. O MySpace registou e arquivou uma imagem da candidata a professora que lhe viria a criar problemas, mesmo sendo considerada, pela própria e por outros, perfeitamente legal visto que se referia a uma situação ocorrida fora do horário de expediente! Lembrei-me de um outro caso - professora na revista Playboy em Portugal não há muito tempo – As fotos também não deixam esquecer.
ResponderEliminarAs desvantagens de qualquer invenção ou desenvolvimento tecnológico acompanham sempre as vantagens. Parece que a espontâneadade é coisa do passado, mesmo no campo virtual. O alerta continua e não somente para as figuras públicas mas também para o cidadão comum. Já tinha ouvido falar de casos de despedimentos devido a comentários tão banais como “I am bored” ou algo semelhante. Pensar que os antecedentes, o estilo de vida, as opiniões, a intimidade, o dia a dia das pessoas estão tão longe como o está um teclado de alguém sem escrúpulos que pode destruir a vida de um semelhante sem pensar duas vezes. Esta tendência do Homem e da Mulher para a destruição, para a maldade...
Cara Catarina
ResponderEliminarApercebi-me da sua chegada ao 4R quando ontem li os seus comentários ao "Registo pessoal" da Suzana Toscano. Estava à espera que regressasse das suas férias. Tem com certeza coisas bonitas para nos contar do seu passeio aos Castelos do Loir.
As novas tecnologias da comunicação devem ser utilizadas, como em tudo na vida, com cuidado. E teremos que ter mais cuidado com as nossas "privacidades" porque o Big Brother é cada vez maior!
É verdade, cara Margarida, as “vacances” terminaram, estou agora de “holidays” e a pensar se não seria uma boa ideia tirar ainda umas semanas de “férias”! : )
ResponderEliminarComo a visita a Paris se prolongou (é tão difícil sair desta linda cidade!) e queria ainda usufruir da sua beleza antes de regressar a casa, fiquei menos tempo no Loire mas o suficiente para me aperceber que quero lá voltar. Não tive a oportunidade de visitar os castelos de Chenonceau, Cheverny e Chambord, como estava planeado mas visitei o “Gigante do Vale do Loire” , o Castelo Brissac, o mais alto de França - habitado pelos seus proprietários – e com uma belíssima adega e belíssimos jardins! Vi o castelo de Oudon, dos Duques da Bretanha e outros talvez de menor importância mas igualmente atraentes. Passei por Rennes rumo ao Mont-Saint-Michel, símbolo da identidade francesa e inscrito na lista do património mundial da UNESCO; St. Malo com o seu castelo e praia (Normandia), Guérande, cidade medieval, muito pitoresca, cercada por muralhas, creio que do séc ulo XV ou XVI; Le Croisic e tantas outras vilas e cidades igualmente encantadoras. Não poderia sair da costa sem visitar La Baule , 12 kms de praia – a mais longa da Europa – assim me informaram! Apesar do seu aspecto sofisticado e indubitavelmente elitista a minha preferência continua a direccionar-se para qualquer uma das lindas praias algarvias!
Resumindo: Os franceses, para além de simpáticos (gostam verdadeiramente de informar as turistas que se perdem constantemente na estação do metro da Gare du Nord, em Paris), têm orgulho nas suas cidades, nas suas vilas – ruas limpas, flores, muitas flores às janelas, às portas, jardins muito bem tratados, trânsito que observa as normas das rodovias (o que os transeuntes não fazem em Paris!); continuam a levar as suas “baguettes” debaixo do braço, nunca se esquecem de dizer “bonjour” quando começam a falar com alguém ou quando pedem informações e, na região de Nantes, cumprimentam-se não com dois beijos mas com quatro!!!!! Levaram-me a visitar vários amigos e seus familiares (que se esmeraram nos jantares e motivo pelo qual não gostei do que a balança indicou vinte e tal dias mais tarde) e passei longos minutos a beijar toda a gente; a certa altura perguntei: e se convidarem quinze amigos, por exemplo, também se cumprimentam com quatro beijos? Responderam: Não, nessa altura é só com um!
Cara Margaria, imagine agora 12 dias em Paris! : )
Obrigada pelo seu interesse!
Cara Catarina
ResponderEliminarAs férias são sempre bem vindas. Depois dos 20 dias que leva de belos passeios, não admira que queira continuar. Quando estamos a gostar o tempo acaba-se. É sempre assim!
Porque não aproveitar mais alguns dias para dar um passeio em Portugal. Há sempre coisas bonitas para ver. Claro que não tem comparação com França em termos de escolhas e de densidade e variedade do que há para apreciar.
Mas é uma ideia!
É inesgotável o que a França tem para mostrar. A Paris pudemos ir muitas vezes porque há sempre muito para revisitar e recordar e coisas novas para ver.
Ainda assim conseguiu fazer muita coisa numa semana. Também já fiz o passeio que fez e gostava de voltar. Os grandes castelos, que não conseguiu visitar, os mais emblemáticos e turísticos, não são para meu gosto os mais encantadores. Os que viu, que também visitei, destacam-se pelo bom gosto do seu mobiliário, pelos fabulosos jardins que os servem ou até pelo campo que os rodeia ou pelo povoado em que se inserem. A Cara Catarina salientou um ponto muito importante. As vilas francesas estão, em geral, muito bem cuidadas. Estão pensadas para as pessoas e os seus habitantes preocupam-se com a qualidade de vida. Para além do bom gosto, bem visível nas flores e nos jardins, há uma grande preocupação com a organização urbana e o ordenamento do território. E há também a preocupação de potenciar as riquezas locais, as tradições, a arquitectura, os costumes, etc. Estamos a milhas!
A Normandia é também uma região fantástica.
Quanto à gastronomia não há nada a fazer. Ir de férias e não provar as especialidades que nos esperam é impossível. O melhor, mesmo, é ter um plano de recuperação montado para o pós-férias.
Os amigos, a simpatia, o acolhimento, os beijos e todas as amabilidades que nos oferecem são o que de melhor podemos receber e dar para nos sentirmos em casa!
Obrigada Cara Catarina por partilhar connosco o seu passeio.