terça-feira, 27 de julho de 2010

Os homens, os bichos e as bichas

Uma coisa é certa, os bichos começam a ser melhor tratados do que os homens. Já nem falo do viaduto especial para lobos, ornamentado a preceito, sobre a A24, em Vila Pouca de Aguiar, nem dos túneis para os sapos e rãs, sob a A5 para Cascais. Se a humanidade do interior é discriminada em relação à do litoral, com os bichos tal não acontece, como fica demonstrado.
Agora, fiquei maravilhado com os cuidados postos na qualidade de vida das cagarras, que abundam nas Ilhas Selvagens. Mais de 70, digo, de setenta cientistas reuniram-se recentemente na zona para estudar a diversidade marinha. (Um parêntesis, para evidenciar que cada vez mais se fala e exige diferença e diversidade, excepto para a nossa Constituição, que não admite diversidade alguma em relação ao caminho para o socialismo). Mas, adiante.
Pois lá, nas Selvagens, as cagarras são acarinhadas: desde logo, anilhadas, para se saber onde andam, os cientistas constroem-lhes muros para os ninhos, de imediato numerados. Uma equipa de quatro Doutores ou em vias disso só por si controla 400 ninhos. Em prol dos bichos, ajoelham, retiram a cagarra que choca o ovo, revistam o ninho, tomam nota do nº da anilha, verificam se é macho ou fêmea, cortam um pedaço de uma pena e marcam a ave com tinta. O trabalho é de importância decisiva para o objectivo científico em vista que é, no ano seguinte, saber se o ocupante é o mesmo ou diferente. Mas os cientistas procuram ainda penetrar no mais íntimo das aves: se os casais são fiéis, a taxa de divórcio, o sucesso reprodutivo, o que comem no verão ou no inverno, “esse tipo de trabalho”, segundo um dos cientistas. Aliás, uma conclusão é decepcionante: a taxa de divórcio é apenas de 3% a 4%, o que indicia uma sociedade razoavelmente tacanha e atrasada.
A curiosidade pela dieta das cagarras é de comover: ao escurecer, os cientistas, munidos de lanternas na cabeça, sentam-se no chão com um tabuleiro e um garrafão de água salgada, agarram as cagarras, enfiam-lhe um tubo na garganta, bombeiam água e fazem-nas vomitar para o tabuleiro. O vómito é tratado com pinças e colocado num frasco com álcool. Para “ perceber o ecossistema” e fazer prosseguir a ciência.
Enfim, a função faz o órgão e as cagarras os cientistas. Aliás, os únicos humanos autorizados a relacionar-se com as bichas. Castigo severo para os madeirenses, que se pelavam por elas, espalmadas, salgadas e secas ao sol. Não sei é se alguns cientistas, à surrelfa, farão ainda o mesmo. Há que investigar. Mas não, a comunidade científica carragal não mete o pé na argola, a não ser o da cagarra!...
Nota: Não inventei nada, tudo isto é verdade revelada pelo Público de 22 Julho de 2010.

3 comentários:

  1. Não percebo nada de cagarras, nem de bichas, da gastronomia madeirense tenho nota das espetadas em pau de loureiro, especialidade de Chão de Lagoa, servido habitualmente com muit folclore à mistura, para distrair o visitante, sobretudo se for de nacionalidade Cubana.
    Quanto à baixa taxa de divorcios, verificada entre a espécie... as cagarras, bem entendido, em minha opinião deve-se, não à fidelidade dos casais mas sim à promiscuidade.
    Repare caro Dr. Pinho Cardão, quando a coisa se generaliza, passa a ser lei.
    Portanto, o mais provável é os Doutores andarem a perder tempo, analizando o vomitado da cagarra.
    ;)))

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  2. Coisa estranha, ou melhor, contradições de um país que dispersa fundos a estudar a intimidade das cagarras, enquanto que, por cá, o bicho homem desespera de calor nos postos médicos onde o ar condicionado já há muito deixou de funcionar (este tema foi abordado no telejornal da TVI).
    O meu pai costumava contar-me que quando foi recruta em cavalaria havia um oficial tão zeloso com os cavalos que, todos os dias, ao inspeccioná-los, repetia sempre o mesmo:
    -Prefiro perder um homem a perder um cavalo!...
    Será que o dito oficial desvalorizava assim tanto a vida do bicho homem!?

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  3. Aqui estão as cagarras! Mas isto é um estudo, cuidado!!! Quem será que está a financiar tamanha investigação científica?!
    Não haverá uma forma menos invasiva de analisar a dieta das cagarrezinhas? Um tubo pela garganta abaixo?!!!!! A Sociedade de Protecção aos Animais ainda não se manifestou?
    A taxa de divórcio é realmente muito baixa... mas como habitam nas Selvagens, ambiente talvez pouco diverso, de poucas ou nenhumas distrações... Também devem ser monógamas. E relativamente à sua orientação sexual? Será estritamente heterrossexual? De certo que leremos em breve as opiniões desta comunicade científica composta por 70 elementos.

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