quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Declaração notável...de humor negro!

1. Foi muito divulgada pelos media – como se de um importante achado se tratasse – uma declaração do PM, em visita há poucos dias a uma empresa industrial, na qual, segundo rezam as crónicas, pontificaram os conceitos “exportações” e “investimento” como elementos-chave para o sucesso da economia.
2. Bem sei que as declarações dos políticos, (não só mas) especialmente dos responsáveis governamentais, já quase não têm significado, de tão distantes da realidade se apresentam.
3 Estes políticos parecem viver num País que manifestamente não é o mesmo em que os cidadãos-comuns vivem:
(i) Andam exclusivamente preocupados com as aparências,
(ii) Desdobram-se em permanentes declarações para os media na ânsia de mostrar um trabalho inexistente ou de transmitir uma imagem rosa de realidades bem adversas,
(iii) Manipulam as estatísticas a seu bel-prazer para tentarem transmitir uma imagem estatística favorável de uma realidade bem pior,
(iv) Esmeram-se na arte de varrer os problemas para debaixo de um imenso tapete (que já sofreu uma série de “allongues”) para encobrir a acumulação de matéria inerte resultante dos erros de política,
(v) Continuam convencidos que o optimismo (pacóvio) cria empregos quando a única coisa que se mostra capaz de criar é impostos cada vez mais elevados....
4. Em regra, pois, não vale a pena prestar atenção ao que dizem e menos ainda gastar tempo a comentar essas declarações...já cansa e quase não se pode ouvir...
5. Admito todavia justificar-se neste caso uma breve referência a esta declaração, por ser paradigmática da distância entre a realidade e o discurso político.
6. De facto, numa época em que a política económica - graças ao descontrolo comprovado das despesas públicas (de que só conhecemos uma parte, não obstante), ao agravamento das restrições financeiras e aos sucessivos agravamentos da carga fiscal em especial sobre os rendimentos - penaliza cada vez mais o investimento empresarial e agrava as dificuldades das empresas expostas à concorrência internacional...
7....o primeiro responsável por essa mesma política aparecer a proclamar as virtudes do investimento e das exportações constitui um caso sério, mas muito sério mesmo, de levitação política...ou de humor negro!

27 comentários:

  1. Essa Levitação Política tem como contraponto o Peso de Chumbo que as gentes vão acumulando sobre os ombros.

    Abraço, TM.

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  2. Bom, mas agora já se vê solução para este estado de coisas, caro Dr. Tavares Moreira... basta que o PSD não aprove a proposta de orçamento do governo, para 2011!
    Se o PS não der o dito pelo não dito, o que eu duvido... teremos eleições antecipadas, e o nosso PR, nem precisa de fazer qualquer declaração, coisa que muito lhe agrada.
    E o PSD... está disposto a dar a maioria ao PS, em novas eleições?

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  3. Caro Bartolomeu, vc delira ou tem estado em Marte?! Dar a maioria ao PS com os dados brutos da economia pré-crise?

    Será fácil demonstrar ao eleitorado de boa vontade aonde nos trouxe a sofreguidão do PS em conservar Institutos, Fundações, Organismos, Observatórios, parecerias Público-Privadas, tanta devassidão nas contas públicas e na estruturação dos dinheiros públicos.

    Não máquina de marketing enganoso que salve o charlatanismo em vigor.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Caro Joshua,

    Havia quem pensasse que as últimas eleições legislativas só não foram ganhas pelo PSD por mera inépcia da então equipa dirigente deste partido.

    Julgo que quem pensou assim mostrará sabedoria se se afastar dessa "análise". Será sempre muito difícil vencer Sócrates enquanto os portugueses não compreenderem a situação de desastre iminente em que nos encontramos. E, ou me engano muito, ou só perceberão o desastre quando ele desabar sobre nós com todo o fragor. Até lá, à boa maneira portuguesa, resta o recurso às manobras dilatórias na esperança que aconteça um milagre (como Silva Lopes confessou há tempos no Plano Inclinado).

    José Sócrates conhece bem os portugueses. Por isso, é um adversário muito difícil de bater.

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  6. Não cria empregos? Já não deve haver "Jota" no desemprego...

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  7. Precisamente, Eduardo F.
    No entanto, creio que já todo o povo português percebeu, em que estado se encontra a nossa economia e ainda que as prespectivas foturas não são nada auspiciosas. Aquilo a que o entendimento público não chegou ainda, foi ao vislumbre da alternativa.
    A´pergunta que mais frequentemente se ouve, nas conversas familiares, é precisamente: quem é que vai conseguir recuperar o país?
    Se olharmos em redor, não encontramos um único sinal animador. Começando na desmotivação e na apatia do cidadão comum, continuando nos pequenos e médios empresários, terminando na completa e total desorientação dos nossos políticos e governantes.
    Acho que até o Tonibler já desistiu da ideia de reimplantar a monarquia... o D. Sebastião, não ha meio de voltar de Alcácer Quibir, parece que está melhor por lá a montar o seu cavalo branco. D. Pedro também não se resolve a deixar o Brasil... a Xica dá Siuva não lhe larga o gibão...

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  8. Pois bem, caro Bartolomeu e caro Eduardo, reconheço que a equação "alternativa" é de dura resolução e que a cerviz do povo português, quando bem conhecida, pode ser controlada e minimizada na sua capacidade de escândalo e lúcida noção dos que a traem. O Socratismo tem sido isso: um concerto cínico de pontos de pressão, uma espécie de acupunctura maligna sobre a psique geral.

    Urge lutar, observar e decompor a realidade: denunciar os factos. Esse papel deve ser assumido por quem escreve e se manifesta na e pela Sociedade Civil.

    Eu duvido do Regime e sou pela pacífica e amplamente plebiscitada Restauração da Monarquia apenas porque se configura como uma oportunidade de reset e refrescamento institucionais que, em alternativa, só um banho de sangue revolucionário poder desencadear.

    Não desisto de lutar. Espero que ambos, Bartolomeu e Eduardo, nunca desistam do combate pela decência na vida pública e por políticas avessas ao tique charlatão, longe da dissipação e do devorismo praticados pelo "socialismo" socratista.

    Abraço.

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  9. Caro Joshua,

    Exactamente, a levitação política dos iluminados tem como contraponto o peso de chumbo suportado pelos cidadãos comuns...é o "equilíbrio" do sistema que requer essa compensação!
    Retribuo o abraço.

    Caro Bartolomeu,

    Não basta, não, com a devida vénia...essa condição é necessária mas não suficiente!
    Quem fura tectos legais da despesa com a maior tranqulidade deste mundo, usando o tapete para disfarçar, também furará o regime dos duodécimos - que como sabe é a regra em caso de não existir orçamento aprovado - com a mesma tranquilidade!

    Caro Tonibler,

    Brilhante, essa dos Jotas em pleno emprego!
    A brigada Armani dá o exemplo de como se pratica o Estado Social, quer o meu amigo dizer!

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  10. Ora, aí está, caro Dr. Tavares Moreira, essa é a "pedra de toque" a ultrpassagem dos tais tectos, com a desculpa de que o estado tem de, com despesa fazer movimentar a economia.
    Agora, a espiga toda, é aparecer quem esteja disposto a pegar na dívida acumulada?
    A mim, não me parece que Passos Coelho "os" tenha suficientemente negros, para tanto, mas... na história, ao longo dos séculos, sempre foram aparecendo uns Geraldo Geraldes Sem Pavor,uns Nun´Alvares de St. Maria e outros... alguns de quem até a história se esqueceu...
    Haverá por aí um suicida capaz de se atrever?

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  11. Caro Bartolomeu,

    Pode bem ser que Passos Coelho venha a mostrar capacidade para enfrentar o Monstro da despesa pública, quem sabe?
    Para já, não promete nada - a não ser mudanças na lei fundamental que despertaram as mais falsas, furiosas e farisaicas (3 Fs) reacções por parte das carpideiras de um Estado Social em fase de desmoronamento por efeito das suas próprias políticas...
    Pode ser que sim, pode ser que não - dos incumbentes podemos ter a certeza que NÃO!

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  12. Partilho da sua dúvida, caro Dr. Tavares Moreira.
    Quanto às mudanças que Passos Coelho apresentou em proposta, deixe que lhe diga caro Dr. que lhes faltou, no mínimo, clareza.
    Aliás, nem sequer muitos dos correligionários de Passos Coelho, entenderam o texto e a objectividade dessas propostas. A maioria, entendeu que essas alterações teríam como objectivo, criar dois tipos de saúde e de educação, uma para ricos, outra para pobres.
    Se existe nas propostas de Passos Coelho, outro objectivo diferente destes, então deviam ter sido apresentados de modo a que ninguem tivesses dúvidas. Uma vez que essas propostas geraram polémica, que acredito, tenha sido fomentada pelos tais fariseus que refere, então Passos Coelho deveria, em minha opinião, obviamente, esclarecer convenientemente o povo português, uma vez que era ao povo que elas se destinavam.
    Agora, no ponto em qu e Pedro Passos Coelho deixou este assunto, confere às carpideiras, o direito pressuposto de carpir.
    (aqui entre nós os dois, que ninguem nos ouve, eu até acho que elas não carpem... elas riem a bandeiras despregadas)

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  13. Caro Bartolomeu,

    Convido-o a meditar sobre o ambiente mediático actual, em Portugal, para não sermos uns pobres ingénuos...
    Qualquer proposta da oposição, sobretudo se for dirigida a enfrentar seriamente os problemas estruturais do País, está inevitavelmeente condenada a uma barragem demolidora de críticas, as mais das vezes puramente demagógicas, dos opinadores de serviço ao poder...
    Não estou com isto a dizer que as propostas constitucionais do PSD foram adequadamente divulgadas, aliás é assunto ao qual sou alheio.
    A percepção que tenho é, no entanto, que qq propostas que nesse ou noutros domínios da organização e do funcionamento do Estado, se forem propostas sérias, estarão à partida inapelavelmente sujeitas a um fogo de barragem de carpideiras arregimentadas, de vários estilos, muito bem instaladas nos diversos media, que dificilmente deixarão incólumes tais propostas e seus proponentes...
    É este o actual estado do País e da política nacional - pelo que todo o cepticismo em relação ao futuro é mais do que justificado.
    Por isso repito, se não se importa: não sejamos ingénuos...

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  14. Não resisto a contar a anedota dos dois compadres lavradores, um rico, o outro pobre.
    O pobre precisava de lavrar as terras, mas não tinha junta de bois e arado. A mulher do pobre insistia; homem, vai falar com o compadre e pede-lhe os bois e o arado emprestados. O marido returquia; estás maluca mulher, ganancioso como o nosso compadre é, nunca mos vai emprestar. Mas a mulher insistia e argumentava; Sem pedires não sabes se empresta ou não, tenta homem, amanhã levanta-te cedo e vai a casa do compadre, vais ver que ele empresta-tos.
    A noite toda o compadre pobre remoeu a ideia e na manhã seguinte muito cedo, levantou-se e rumou a casa do compadre com a intenção de lhe pedir os bois e o arado emprestados. Quando se apróximava da casa do compadre, as duvidas tornaram-se mais fortes e começou a dizer, de si, para si; estou a perder tempo, o compadre não mos vai emprestar, o homem é um usurário, vou voltar para casa. Depois pensava; bem, sem falar primeiro com ele, não sei se empresta ou não. Entretanto o compadre pobre lá chega à porteira do compadre rico e hesitante, puxa a corrente da sineta. Espera uns segundos e volta a hesitar, mas decide voltar a puxar a sineta, e a ruminar pensamentos enquanto espera. Por fim lá lhe aparece o compadre a uma janela meio estremunhado de sono e pergunta;
    então compadre, a esta hora da manhã? o que é que se passa?
    Responde o compadre pobre: olhe compadre... meta o arado no cu!
    E volta para casa...
    Na verdade, caro DR. Tavares Moreira, penso que devemos, por princípio, acreditar na boa intenção das medidas para mudar o mundo. As quais, se forem apresentadas de forma clara, transparente, serão reconhecidas, mesmo que fariseu e carpideiras tentem fazer com que pareçam desmerecedoras de concordância.

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  15. Encantadora essa parábola do arador rico e do arador pobre, caro Bartolomeu!
    Num ponto tem o meu Amigo toda a razão, permita-me que lhe diga: cada qual toma dose de ilusão que quer - e está no seu direito de se deixar enganar!

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  16. Estaria 100% de acordo com a sentença final, caro Dr. Tavares Moreira, se em lugar de "ilusão", tivesse lido, "opinião".
    Mas pronto, eu compreendo que muitas vezes é impossível termos tudo o que desejamos e, já considero um enorme privilégio, a atenção que o caro Dr. Tavares Moreira dedica aos meus comentários, o que me permite adquirir multiplos saberes.
    No entanto, caro Dr. Tavares Moreira, na minha simples opinião, ou ilusão... entendo que ninguem se pode desmobilizar de tentar entender os acontecimentos, com base nas informações que tem acesso.
    No meu caso, estou reduzido àquilo que os orgãos de comunicação difundem. Não me passeio pelos bastidores onde se desenrolam as acções, não conheço se existem ou não segundas intenções, ou engenhosas "jogadas" politicas.
    No entanto, faço tudo o que está ao meu alcance, para não ser enganado.

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  17. A sua última sentença, caro Bartolomeu, está cheia de sabedoria - exactamente o que os americanos usam dizer "Do your best and leave the rest"!
    É o que a todos cumpre fazer e, se assim for, as coisas poderão por certo melhorar...

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  18. A sua última sentença, caro Bartolomeu, está cheia de sabedoria - exactamente o que os americanos usam dizer "Do your best and leave the rest"!
    É o que a todos cumpre fazer e, se assim for, as coisas poderão por certo melhorar...

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  19. Em boa verdade, meu caro Amigo, permita-me a liberdade de o considerar assim, não existe nada mais saboroso, pedagógico e edificante, que ter o privilégio de trocar opiniões com a sua pessoa, mesmo que dissonantes em alguns pontos.
    O meu obrigado, sincero!
    PS: Estou a passar uns dias em Figueiro dos Vinhos, mas, como o hotel tem internet, não perco a "pedalada"
    ;)

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  20. Louvo-vos, Bartolomeu e TM, pela troca cordata de pontos de vista, a qual tenho acompanhado com satisfação. Abraço a ambos.

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  21. Apesar do calor que se faz sentir, aqui pelo centro do país, um abraço continua a ser um bem com um valor não quantificável, caro Joshua!
    A cordialidade que o meu Amigo nota na "relação" entre mim e o Dr. Tavares Moreira, advem do respeito a que ambos nos votamos.
    Defender pontos de vista diferentes é saudável, quando não estão outros desejos em jogo, tal como vaidade, ou subservilismo.
    O Dr. Tavares Moreira, é uma pessoa com imenso saber e a qualidade de pródigamente o passar a quem o queira aceitar.
    Pela minha parte, apesar de não me achar merecedor, aceito-o com a maior satisfação.
    Um abração Joshua, agora vou pegar na trouxa e vou rumar até uma praia fluvial aqui do sítio.
    Good day for every body!!!
    ;)

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  22. Exactamente, caro Bartolomeu, a praia fluvial de Figueiró-dos-Vinhos...recordo-me do anuncio, há poucos anos ainda, desse modelar investimento público!
    O facto de o meu Amigo o poder disfrutar valoriza-o inegavelmente na perspectiva custo-benefício...
    Já agora, pode beneficiar-nos com informação actualizada acerca do sucesso desse projecto?

    Meus cumprimentos ao caro Joshua.

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  23. Creia, caro Dr. Tavares Moreira, que estes dias aqui passados têm estado a ser de alguma tristeza.
    O cenário que rodeia Figueiró dos Vinhos, é de uma imensa beleza. Como me dizia um médico com quem almocei hoje, por acaso, Senhor de bastante idade, muito conhecedor da região e detentor de uma grande sensibilidade; já notou que nos envolve um ambiente de extrema força? já notou que a natureza está aqui representada no seu máximo expoente?
    Concordei, que sim, e acrescentei; sabe? sinto-me desolado, tenho constatado com imensa estranheza por onde tenho passado, um enorme tolhimento. Reparo que as grandes empresas que tenho visto, se encontram todas fechadas, o comércio "às moscas" pergunto às pessoas o que se passa e todos me dizem; não ha dinheiro! e encolhem os ombros resignados. Encontro placas de "vende-se" por todo o lado, parece-me que as pessoas perderam a vontade de existir...
    Ficou uns momentos calado e acabou por me responder; sabe meu amigo? o problema é que, por causa da ganância dos bens, das quintas e dos negócios, desataram para aí a casar primos com primas, o resultado foi este, agora está tudo maluco, desorientado, sem iniciativa para mudar o rumo às coisas.
    -En tão o Senhor não é de opinião que a culpa é do governo?!
    Olhou-me "de ladécos", fungou e returquiu-me; oiça, note o que lhe digo, o Homem é um ser com vontade própria e tem sempre alternativas que pode seguir por sua iniciativa, não tem de ficar à espera de ser governado... governe-se!
    Concordei e mudei de conversa, porque o Senhor Doutor, pareceu-me ter ficado um tanto incomodado com a minha insistência.
    Mas, a propósito das praias fluviais, confirmo-lhe, caro Dr. Tavares Moreira, esta região é rica nesses recantos maravilhosamente bem aproveitados, tanto paisagisticamente, como inseridos em projectos simples mas muito agradáveis. Bons acessos, excelente qualidade de água, infraestructuras de apoio e como já referi, paisagens deliciosas.
    Um dos locais onde já estive, que mais me impressionou, foi "Fragas de S. Simão" um local onde a natureza se manifesta no seu máximo expoente, por cima deste local, exite um outro chamado "Casal de S. Simão" uma aldeia com umas 50 casas, todas em xisto, que foram restauradas, respeitando ao máximo a arquitectura original utilizando os materiais da região. Um verdadeiro assombro, pena é que as casas não estejam habitadas, creio que efectivos, só existem 3 ou 4 habitantes, e ainda, o restaurante estar só a "meio gás" só abre às 5ªs, 6ªs, sábados e domingos.
    Quando voltar para casa, irei publicar algumas fotos no meu blog.

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  24. Caro Bartolomeu,

    Extremamente interessante e pedagógica a forma como descreve essa experiência de contacto com a realidade social de Figueiró-dos-Vinhos, caro Bartolomeu...
    Creio que os responsáveis pelo País deviam prestar muita atenção a este tipo de informação, para terem a noção do ermamento económico em curso em tantas zonas...
    E que tenderá a agravar-se à medida que a crise das finanças públicas for requerendo sucessivas vagas de medidas racionalizadoras de estruturas excessivamente descentralizadas...veja-se o exemplo das escolas.
    Tenho a noção de que muitos concelhos do interior do País sobrevivem à custa de alguns serviços públicos que ainda resistem à vaga racionalizadora, mas lá há-de chegar a hora...
    Vai tudo voltar-se para o Turismo? E os turistas, onde vão capta-los?

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  25. Hoje percorri outras estradas, visitei outros locais e encontro o mesmo panorama em todos os sítios onde paro... tudo o que é pequeno comércio, ou fechado, ou "às moscas", tudo o que são zonas industriais, alguns de grande envergadura, abandonados.
    Perguntei em Pedrógão Grande, o que se estava a passar, responderam-me; sabe senhor? fechou tudo, olhe, até a casa dos pneus fechou já vai pra mais dum anos, não ha empregos, nem aqui, nem à volta. Qual era maior indústria da zona, perguntei em Figueiró dos Vinhos. Responderam que era a fábrica dos lanifícios, empregava 200 mulheres, fechou, e as serrações de madeiras, fecharam as quatro que havia.
    O Turismo, caro Dr. Tavares Moreira, também já não "rende" a tal ponto que até o posto de turismo se encontra encerrado.
    A meu ver, caro Dr. só resta uma forma de proteger e sustentar as populações; reduzir as importações de produtos correntes, regulamentar a produção interna, de forma a que se produza em cada zona aquilo para que ela reune melhores condições, criar circuítos de distribuição eficientes, criar uma política de preços equilibrada, capazes de evitar a especulação. É claro que para isso, terá de ser feito um boicote às redes de super e hiper-mercados que se espalham como cogumelos e ajudam a arruinar o pequeno comércio e o comércio tradicional.

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  26. É deveras impressionante o seu relato, caro Bartolomeu...
    De uma autenticidade e naturalidade que chocam verdadeiramente!
    E "nós" aqui no litoral urbano, tranquilamente sentados a assistir a esta política de ermamento económico...e diariamente expostos a ouvir as mais dilatadas baboseiras acerca dos (in)sucessos da política!
    Que País de contrastes tão violentos e com "responsáveis" tão pouco responsáveis!

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  27. Impressionante e confrangedor, caro Dr. Tavares Moreira, mais ainda porque olhamos à nossa volta e não enxergamos motivos suficientemente fortes que justifiquem aquilo que na prática, constatamos. Hoje, deixei Figueiró e rumei ao litoral, antes disso, passei pela Confeitaria Santa Luzia, para levantar a encomenda de pão-de-ló e castanhas doces que tinha feito. A confeitaria confecciona doces conventuais, de modo artesanal. Atendeu-me novamente a dona, uma senhora fransina mas muito activa e lúcida, apesar da idade avançada. Não resisti a uns "dedos de conversa" com a simpática anciã que me confidenciou os ingredientes que entram na confecção dos múltiplos doces que fabrica e comercializa. Quantos empregados tem a fábrica, peguntei-lhe depois de me ter dito com ar triste que só de meados de Agosto até quase ao fim, é que o negócio animou um bocadito... actualmente não tenho ninguem, só só eu, respondeu-me. Estranho, mas desculpe, insisti, este negócio já foi prospero, a fábrica parece-me ainda grandita...
    Já sim senhor, responde asenhora, mas sabe?! agora é só pelo Natal e na altura das festas e já não é nada do que era ha uns anos. Olhe, se tivesse empregados não fazia dinheiro para lhes pagar!
    Mas porque acha que as coisas mudaram tanto, perguntei-lhe.
    -Cá na terra (Figueiró) a maioria já são velhos, está tudo reformado, ou vivem da pensãozita, os novos vão-se embora à procura de trabalho, aqui fechou tudo e depois, aqueles lá em cima deram cabo d'isto tudo.
    - Aqueles lá em cima?
    - Sim, o Senhor ainda não foi lá cima, por cima da escola? Ha-de lá ir e ver, puzeram lá um super-mercado estrangeiro. Vendem mais barato... as pessoas não têm dinheiro, vai lá tudo, deixam o comércio cá de baixo morrer todo.
    Conversámos mais um pedaço acerca da origem dos doces, que estão relacionados com a existência do Convento de Nossa Senhora do Carmo. Depois de nos despedirmos da simpática Senhora, que nos desejou boa viagem e muita saúde, votos que retribuímos, a curiosidade, levou-me a conhecer o tal supermercado. Intermarché... só podia... estranjeiro.

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