Sempre ouvi dizer que quando alguém não se comporta com a mesma atitude perante situações idênticas é apodado de feijão-frade, porque tem duas caras. Coitado do feijão-frade que não tem culpa de ser usado para um fim destes, até porque é muito saboroso e saudável. Como é que algo nutritivo e agradável pode ser utilizado como algo negativo e logo com a falta de caráter ou caráter oscilante? Tem de ser arranjada nova expressão que não insulte tão importante leguminosa que faz as delícias de muitos. A mim faz.
Numa manhã de agosto, estranhamente enevoado, e até um pouco fresca, em contraste com os dias anteriores e subsequentes, e depois de ter lido os jornais, olho, com olhos cansados, já se vê, para a torre da igreja, a minha companhia matinal de férias. Que diabo! Será que estou a ver bem? A torre tem um relógio e dois mostradores, um virado a oeste e o outro a norte. No local onde costumo sentar-me visualizo ambos e verifico que um deles apresenta mais um quarto de hora que o outro. Quinze minutos de diferença! É muito? Para o mesmo relógio até é capaz de ser! Mas afinal qual dos dois estará certo? Olhei para o meu relógio de pulso e verifiquei que era o mostrador “norte”. Pus-me a pensar que - na eventualidade de ter um compromisso na localidade -, teria uma boa desculpa para explicar um eventual atraso. Para esse efeito orientar-me-ia pelo mostrador oeste. Mas não é o meu caso, porque tenho o hábito de não chegar a desoras, o que constitui um verdadeiro tormento e um desafio para os parcos cumpridores. O “normal” é chegar-se atrasado e, para o efeito, algumas pessoas, “entidades”, já costumam marcar os encontros e as reuniões meia hora, uma hora e até mais antes das suas “verdadeiras horas”. Este comportamento exaspera os cumpridores dos horários. Um insulto institucionalizado em muitas cerimónias públicas e partidárias. A este propósito, tenho de realçar que, de vez em quando, ainda aparece um governante cumpridor dos horários. A história de um amigo, na altura governante, que chegou a horas ao evento para as bandas de onde era natural, apanhou de surpresa os poucos presentes e, sobretudo, os não presentes, nomeadamente a filarmónica. Não sei se esta ainda foi a tempo de ensaiar algum corridinho no final da cerimónia, às tantas talvez tenha conseguido, mas já não estou seguro de tal. Uma partida destas feita por um secretário de estado não se faz! Pode ser que leia esta crónica e venha comentar o sucedido. Valia mesmo a pena!
Mas voltando ao relógio da torre da igreja da minha terra, pus-me a pensar que em tempos podia ter sido bastante útil. Na altura obrigavam-me ir à missa. Eu não apreciava muito, tenho de confessar, mas como quem manda pode, lá tinha de ir, um pouco contrariado. Se na altura os mostradores revelassem as horas como fazem hoje, eu tinha uma boa desculpa para chegar atrasado, e mesmo que a missa já estivesse “a santos” ninguém me podia chamar a atenção, porque a culpa seria sempre do relógio, ou melhor, de um dos mostradores. Obviamente escolheria o mais indicado para eu poder chegar atrasado.
Curioso. Só agora é que reparo que, tendo a mania de chegar sempre a horas, também fui, em tempos, mas era criança, um retardatário, uma espécie de “feijão-frade infantil”. Espero que não levem muito a sério este comportamento reativo da altura face à missa. Mas tirando esta situação, não consigo recordar de outras em que pudesse chegar atrasado, beneficiando do “relógio com duas caras”...
Numa manhã de agosto, estranhamente enevoado, e até um pouco fresca, em contraste com os dias anteriores e subsequentes, e depois de ter lido os jornais, olho, com olhos cansados, já se vê, para a torre da igreja, a minha companhia matinal de férias. Que diabo! Será que estou a ver bem? A torre tem um relógio e dois mostradores, um virado a oeste e o outro a norte. No local onde costumo sentar-me visualizo ambos e verifico que um deles apresenta mais um quarto de hora que o outro. Quinze minutos de diferença! É muito? Para o mesmo relógio até é capaz de ser! Mas afinal qual dos dois estará certo? Olhei para o meu relógio de pulso e verifiquei que era o mostrador “norte”. Pus-me a pensar que - na eventualidade de ter um compromisso na localidade -, teria uma boa desculpa para explicar um eventual atraso. Para esse efeito orientar-me-ia pelo mostrador oeste. Mas não é o meu caso, porque tenho o hábito de não chegar a desoras, o que constitui um verdadeiro tormento e um desafio para os parcos cumpridores. O “normal” é chegar-se atrasado e, para o efeito, algumas pessoas, “entidades”, já costumam marcar os encontros e as reuniões meia hora, uma hora e até mais antes das suas “verdadeiras horas”. Este comportamento exaspera os cumpridores dos horários. Um insulto institucionalizado em muitas cerimónias públicas e partidárias. A este propósito, tenho de realçar que, de vez em quando, ainda aparece um governante cumpridor dos horários. A história de um amigo, na altura governante, que chegou a horas ao evento para as bandas de onde era natural, apanhou de surpresa os poucos presentes e, sobretudo, os não presentes, nomeadamente a filarmónica. Não sei se esta ainda foi a tempo de ensaiar algum corridinho no final da cerimónia, às tantas talvez tenha conseguido, mas já não estou seguro de tal. Uma partida destas feita por um secretário de estado não se faz! Pode ser que leia esta crónica e venha comentar o sucedido. Valia mesmo a pena!
Mas voltando ao relógio da torre da igreja da minha terra, pus-me a pensar que em tempos podia ter sido bastante útil. Na altura obrigavam-me ir à missa. Eu não apreciava muito, tenho de confessar, mas como quem manda pode, lá tinha de ir, um pouco contrariado. Se na altura os mostradores revelassem as horas como fazem hoje, eu tinha uma boa desculpa para chegar atrasado, e mesmo que a missa já estivesse “a santos” ninguém me podia chamar a atenção, porque a culpa seria sempre do relógio, ou melhor, de um dos mostradores. Obviamente escolheria o mais indicado para eu poder chegar atrasado.
Curioso. Só agora é que reparo que, tendo a mania de chegar sempre a horas, também fui, em tempos, mas era criança, um retardatário, uma espécie de “feijão-frade infantil”. Espero que não levem muito a sério este comportamento reativo da altura face à missa. Mas tirando esta situação, não consigo recordar de outras em que pudesse chegar atrasado, beneficiando do “relógio com duas caras”...
É verdade, caro Prof., usamos nomes de hortaliças, leguminosas, legumes, frutas, para nos referirmos a características ou comportamentos menos positivos! : ) Porque será?
ResponderEliminarOra vejamos: “És uma cabeça de abóbora”, “De pequenino é que se torce o pepino”, “Ele está com um melão!”... e todos estes produtos são igualmente nutritivos tal como o saboroso feijão frade.
Compreendo a comparação com os animais irracionais: “ O ministro disse mesmo isso? Publicamente? Não posso! Mas que burro!” Coitado do animal parece não ser muito inteligente... ou a falta de inteligência do burrito não passa de um mito? E, devo acrescentar, não é minha intenção – com este exemplo - ofender qualquer entidade ministerial .
E relativamente a relógios e atrasos pois ... a falta de pontualidade não é uma das características dos países latinos? O conceito de pontualidade difere bastante entre as sociedades que funcionam e as que não funcionam! Para além disso o não cumprimento de horários reflecte uma falta de educação, uma falta de profissionalismo, de consideração pelos outros.
Nunca consegui estabelecer a relação de significado entre o chique e o atraso. Por que é que é chique chegar-se atrasado a uma festa?
Embirro com a falta de pontualidade!!
É sempre um prazer ler as suas crónicas, caro Prof. , qualquer que seja o tema escolhido. Bem haja. Sempre.
ResponderEliminarDesculpe, caro Prof. : ) ... é que me recordei de outra comparação mas desta vez parece ter uma conotação positivíssima. Milho. Comparar uma mulher com o milho! Esta associação também não entendo, principalmente, porque os portugueses não têm o hábito de comer maçarocas de milho como, por exemplo, os americanos. Grelhadas e barradas com manteiga são uma delícia, mas os portugueses não sabem disso... : )))))
ResponderEliminarObrigado Catarina. Despertou-me o apetite para "ensaiar" sobre alimentos e comportamento humano. O "gatilho" foi o comentário do milho...
ResponderEliminarFico a aguardar ansiosamente… : )
ResponderEliminarCaro Professor Massano Cardoso, já confirmou se por ventura o espaço que medeia entre o mostrador voltado a Norte e o outro, voltado a Oeste, não é atravessado por um meridiano qualquer? É que agora, são comuns as descobertas astrológicas, geográficas, antropológicas, etc.
ResponderEliminarQuem sabe, a torre da sua igreja, é atravessada por um meridiano misterioso, mantido no anonimato até aos dias de hoje?!
Boa observação Catarina!
ResponderEliminarMas deixe-me dizer-lhe; a comparação da qualidade feminina, ao milho, em minha opinião, faz todo o sentido, senão repare... o epíteto usual, é o «esta mulher, é boa como o milho»
Ora, todos sabemos que o milho, é doce, nutritivo, vitamínico, energético, etc. Assim, o milho, possui todas as qualidades, que de uma boa mulher se pretendem: doce cheia de energia, saborosa e... muito nutritiva...
E todo o homem que estas qualidades não entender, só pode ser um grande cabeça de nabo!
;))
:))))
ResponderEliminarAté já os relógios têm duas caras! Em que é que se pode confiar???
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