1. Foi esta semana notícia, nalguns media com esforçado alarido, um crescimento das exportações de mais de 15% no 2º trimestre do corrente ano.
2. Excelente notícia, disseram, a economia está a mexer, há sinais de recuperação nos sectores que trabalham para os mercados externos, parece que se confirmam as boas notícias do PIB para os primeiros meses do ano...
3. Depois, em letra mais pequena ou num tom quase inaudível, aparece o reverso da medalha – mas as importações também subiram bastante, mais de 13%, do que resultou um agravamento do défice comercial, em termos homólogos, de cerca de € 436 milhões...
4. Para o 1º semestre do ano, verifica-se igualmente um agravamento do défice comercial em cerca de € 400 milhões, o que significa que o desequilíbrio externo e o endividamento, como aqui temos repetidamente afirmado, não tem ainda fim à vista – bem pelo contrário deverão este ano manter um nível idêntico ao dos últimos anos (se não for superior), prolongando uma evolução que destacados comentadores têm apelidado de INSUSTENTÁVEL.
5. Temos aqui um bom exemplo de como uma notícia que no essencial é (com muita pena) negativa – o facto de não conseguirmos contrariar a tendência de agravamento do défice externo e do consequente endividamento é algo que nos deveria incomodar seriamente - é convertida, por força de uma máquina de propaganda obcecada em fantasiar a realidade, numa história de sucesso.
6. É claro que numa análise “ceteris paribus” um crescimento das exportações de 15%, num trimestre num semestre ou num ano, é bem melhor do que um crescimento de 10 ou de 5%...
7. Mas o problema é que nestas análises a condição “ceteris paribus” nem sempre é válida – concretamente, na situação em que nos encontramos seria bem melhor um crescimento das exportações de 10 ou de 5% com redução do défice, do que um crescimento de 15% com agravamento do défice!
8. Mas andamos nisto, parece que o folclore infelizmente é que conta, tudo serve para tentar dar a impressão de que as coisas vão bem quando na realidade assim não é...até que as incontornáveis más notícias acabam por interromper a ilusão e voltamos ao início da história!
Enquanto não for construído o mono-carril que faça chegar as àrvores da montanha em alta velocidade até à mina, de forma que os monges não "topem" nada... vamos continuar aos baldões, sem que se consiga acertar passo nenhum.
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=zpOAnWEyzt8&feature=related
;)))
Eu acho que nos está a escapar o aspecto mais positivo de tudo isto. É que um dia pára! E nesse dia, as moscas, as pulgas, as baratas, o PS, o PSD e outras coisas rastejantes libertam-nos porque o dinheiro acaba.
ResponderEliminarE esse dia não é um dia positivo para todos? Claro que é...
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ResponderEliminarDubium sapientiae initium...
ResponderEliminarDa explicação acanhada,
desses números relativos,
surge a mancha entranhada
de salpicos imprecativos.
Essa análise redutora,
após uma leitura simplista,
revela-se assaz impostora
de uma visão irrealista.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarMais um mui sagaz post. Partilho a posição da primeira à última linha.
Ainda relativo ao tema, a grande desvantagem de pertencer a uma zona monetária estável, como a do euro, é abdicar do efeito disciplinador do mercado em situações de formação de défices externos patológicos.
Agora que toda a gente já sabe a verdade do nosso défice externo, o problema continua a ser perpetuado pela política monetária extremamente acomodatícia do BCE.
Caro bartolomeu,
ResponderEliminarConsta que a obra desse mono-carril já se encontra na fase de abertura de concurso, uma vez que o financiamento para a sua constrção está agora facilitado pelo crescimento das exportações!
É pois e apenas uma questão de tempo...e teremos a obra!
Caro Tonibler,
Mais um brilhante pensamento para juntar a uma já extensa colecção!
Apenas uma ligeiríssima correcção: será um dia positivo, ou mais propriamente um diapositivo?
E qual a utilidade desse diapositivo?...
Caro M. Brás,
Quantum sapiens, na sua poesia...
Caro Dr. Brandão de Brito,
Registo com satisfação a sua concordância, não deixando de notar essa especial referência a um BCE por ora acomodatício...
Até quando será o BCE acomodatício e o que poderá acontecer a esta nossa gente quando o BCE deixar um dia de o ser?
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarA utilidade desse diapositivo?? Ora, que maior monumento se pode erguer à estupidez humana? Os meus netos podem aprender sobre o tempo em que havia nobres e servos da gleba, e sobre o tempo em que havia socialistas e papalvos.
Ora aí está, caro Toniber: nos seus comentários, de modo algo semelhante ao de uma famosa lei da física, "nada se perde, tudo se transforma/aproveita"...basta por vezes um pequeno ajustamento!
ResponderEliminarE tem toda a razão em equiparar os fenómenos sociais dessas duas épocas históricas: ao contrário do que alguma boa gente pensará, elas estão muito próximas, tão próximas que...os servos da gleba de ontem são os papalvos de hoje!