segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Reprivatização do BPN - algumas reservas...

1. Foram anunciadas há dias as condições para a aguardada (re)privatização do BPN, depois da polémica nacionalização consumada há quase dois anos, no auge da crise financeira internacional.
2. Esta decisão veio por em evidência o que há muito se tinha percebido, ou seja que não era viável a alienação da estrutura comercial do Banco com todos os seus activos e passivos (sobretudo estes últimos, de montante muito superior aos activos)...a quem comprasse o banco em tais condições, o Estado teria que pagar uns € 2,5 mil milhões pelo menos, operação certamente bizarra...
3. A solução para a privatização passa então, segundo o comunicado oficial, pela constituição de 3 Sociedades detidas pelo Estado – que bem poderiam ser denominadas HMC’s (Hole Management Companies) 1, 2 e 3 – as quais herdarão os activos problemáticos do BPN e, sobretudo, uma gorda fatia da enorme dívida que desequilibra por completo as contas do Banco – qualquer coisa como € 2,5 mil milhões, pelo menos.
4. Mas isso significa que se vão criar 3 Sociedades, de capitais exclusivamente públicos, que logo à nascença vão apresentar a comum característica de estarem virtualmente “falidas”, uma vez que o seu passivo deverá ser várias vezes superior ao activo...
5. Assim, vamos ter mais 3 sociedades de capitais exclusivamente públicos arrastando desde o dia da sua constituição uma situação de falência técnica – um exemplo pouco edificante que o Estado estará dando - com passivos absurdamente elevados, acumulando prejuízos enormes ano após ano, dedicadas à tarefa inglória de conseguir vender alguns activos que mal darão para pagar os juros da dívida herdada.
6. Confesso que não parece nada brilhante esta ideia.
7. Teria sido certamente preferível, por muito que isso custasse, o Estado assumir desde já o passivo em excesso, emitindo dívida pública para pagar parte da dívida à CGD – terá de o fazer, mais tarde ou mais cedo e quanto mais tarde pior – e fixando às sociedades em causa um prazo máximo para a liquidação dos activos, 3 a 5 anos seria adequado.
8. Estas virtuais comissões liquidatárias tenderão a arrastar o processo de recuperação e de liquidação dos activos degradados que lhes foram confiados, com isso adiando a assunção pelo Estado de uma dívida que desde já lhe pertence por inteiro e que parece não querer assumir apenas para não engordar excessivamente a dívida pública directa...
9. Até que alguém, na C.E. ou noutra instância internacional diga que já chega de dissimular, toca a assumir essa dívida, meus senhores...

14 comentários:

  1. Caro Tavares Moreira

    Apenas uma pequena adenda:

    No seu ponto 9 a diferença de taxa de juro que se paga, para as emissões de dívida a uma e cinco anos, face à Alemanha já revela o que os credores sabem onde está o défice.
    A descida da procura dos nossos títulos enuncia o futuro que nos espera.
    Ainda se aceitam apostas para o milagre que todos esperam: que a situação internacional se normalize e possamos voltar à nossa vidinha...parece que, para estas pagam 1/36.
    Já para a Crise:
    nos próximos 3 meses 1/8
    de 3 a 6 meses 1/6
    de 6 a 9 meses 1/4
    em 12 meses 1/2

    Cumprimentos
    joão

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  2. Infelizmente, e como é hábito, querem dourar a pílula...

    Esses activos degradados
    são matéria mui gordurosa,
    que ficar-nos-ão liquidados
    numa factura dolorosa.

    Com uma linha depurada
    de passivos tão gordurentos,
    a factura aprimorada
    esconde factos bolorentos.

    Foram gastos muitos milhões
    para lavar a perversão,
    trucidando os mexilhões
    sem qualquer titubeação.

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  3. Anónimo18:25

    Caro Tavares Moreira, parece-lhe que chegará o dia em que a UE obrigará os Estados a assumir o passivo das 1001 empresas criadas para o esconder e desorçamentar despesa?

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  4. O grande escândalo está em que sabemos vagamente as decisões que o governo vai tomando, mas o contribuinte ainda espera que toda a informação relevante sobre este caso seja dada a conhecer.
    Os "espertos" escondem a verdade para debaixo do tapete, chutam as responsabilidades para a frente e aguardam a oportunidade de passar a bola a outro.
    Os inteligentes, pelo contrário, apuram os prejuízos, reflectem-nos nas contas e mudam de vida.

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  5. Caro Tavares Moreira,

    A proposta do governo parece destinada a lançar a confusão, a não ser que conheçam algum grupo de investidores colombianos, com interesses no mercado dos químicos, que estejam interessados em actividades de lavagem.
    É que há para responder a pergunta que tenho vindo a fazer sem que ninguém me sabe responder. Porque é que alguém que roubou 6oo milhões de euros do BPN vai preso e alguém que deu cabo de 4 mil milhões de euros do estado com a nacionalização continua a sorrir na televisão.

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  6. Caro Tavares Moreira:
    Voltamos à concordância, o que não é de estranhar.
    Trata-se de engenharia financeira viciosa e ruim, para não ter que evidenciar prejuízos no imediato, dizer que a operação foi virtuosa, dar a imagem de exemplar gestão e assim enganar o cidadão.
    O Governo está a fazer tudo numa óptica de curto prazo e quem vier que feche a porta. O próximo Governo, qualquer que seja, terá que contabilizar o prejuízo e emitir dívida, sem dúvida mais cara.
    Entretanto, todos já esqueceram o que se passou. E até apostaria que alguns dos fautores da situação actual ainda irão criticar quem vier a resolver definitivamente o buraco.
    Oxalá me engane quanto a tudo o que escrevi. Mas não creio.

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  7. Caro João,

    Sua mesa de apostas deve estar fervilhando de jogadores, numa azáfama nunca vista...e que interessantes são os benchmarks do mercado de apostas que nos revela!

    Caro M. Brás,

    Uma descarga político-social, em verso, de se lhe tirar o chapéu!

    Caro Zuricher,

    Creio que não será propriamente um dia, mas muitos dias, numa sucessão dolorosa, em que a UE dirá: agora vamos limpar isto, amanhã corrigimos aquilo, vamos lá a por mais ordem nessas contas, acabem lá com a técnica do tapete!

    Caro Tonibler,

    Admito que essa pergunta, deveras angustiante, que enuncia de forma tão penetrante, deva ser dirigida, prima facie, ao PGR ou à Rainha de Inglaterra!

    Caro Pinho Cardão,

    Ora aí está - quem sabe se a estrutura deste negócio não foi arquitectada exactamente na óptica do "who comes behind shall close the door", conhecidíssimo ditado inglês?!

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  8. Caro Dr Tavares Moreira

    Ao PGR ou à Rainha de Inglaterra?
    Já que chamou o tema da actualidade, porque não a Sua Excelência o Presidente da República? Não é suposto que o PR é o responsável pelo regular funcionamento das Instituições?
    Não haverá no Palácio de Belém ou na Praia da Coelha nenhum assessor que faça ver ao Sr Silva que ele já devia ter intervindo?

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  9. Caro Fartíssimo,

    Há que respeitar as jurisdições de cada entidade...este caso que o Tonibler denuncia com grande veemência é tipicamente da jurisdição do PGR ou de HM The Queen - a que propósito então submetê-lo à apreciação do PR?
    A César o que é de César, não conhece esta máxima?

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  10. De SAR o PR? Não sei se é completamente. Afinal, o Presidente Jorge Sampaio correu com o Vara por muito menos. Uma palavrinha do PR num discurso e tínhamos Constãncio e Teixeira dos Santos exactamente onde deveriam estar, na fila do IEFP.

    De qualquer forma, estive a dar uma vista de olhos nas contas do BPN e, ou a minha contabilidade é diferente da Deloitte (muitas vezes acho que sim, portanto...), ou a administração que a CGD lá colocou conseguiu fazer num ano muito pior em resultados que aquilo que em 2008 os próprios disseram ajustar em nome do rigor de 2007 e 2008 (tiveram 250 mios negativos com 260 positivos de desmobilização de imparidades), para além de terem reduzido os clientes depositantes a metade (METADE!) e terem um rácio de crédito vencido de quase 25%.

    Ou seja, aquilo que há a privatizar é uma carteira bancária subprime, só com os clientes maus, e com uma administração que, com rigor, consegue fazer pior que a anterior que roubava! É razão para perguntar "quanto é que me dão para ficar com aquilo???"

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  11. Caro Dr Tavares Moreira
    Eu bem sei que o caso BPN não deve ser submetido à "jurisdição" do PR. Ainda se fosse a SLN...
    Mas eu referia-me ao silêncio ruidoso de Sua Excelência o Presidente da República sobre a instituição Ministério Público, encabeçada pelo PGR ou, se quiser, pela «Rainha de Inglaterra». E não é o Presidente da República o garante do regular funcionamento das instituições?
    Será que a instituição Ministério Público funciona de modo regular?
    Por menos do que isso, o Senhor Silva interrompeu as férias dos portugueses, há pouco mais de um ano!

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  12. Caro Tonibler,

    Ora aí está um tema quentíssimo para o debate político, se os políticos se dessem ao trabalho de esmiuçar os dossiers sem a preguiça típica da época estival...veremos no que é que isto ainda vai dar...

    Caro Fartíssimo,

    Não quer reagir ao último comentário do nosso "companheiro de armas" Tonibler?
    Aí teremos por certo um tema bem mais desafiante do que este de discutir se quem deve ser chamado à liça é o PGR, o PR ou HM The Queen...
    Não lhe parece? Quid juris?

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  13. Caro Dr Tavares Moreira
    Com muito gosto: corroboro tudo quanto escreveu o nosso comentador Tonibler. Geralmente estou de acordo com os seus posts.

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  14. Caro Fartíssimo,

    Ora então ao trabalho! Até porque este assunto ainda nos deverá ocupar amiúde, se não me engano...

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