sábado, 18 de setembro de 2010

Cérebro e informação

Lutar contra as falsas crenças, através de informação correta e verdadeira, é um imperativo que esbarra, frequentemente, contra um cérebro “escondido” que escolhe a que deve sobreviver e mata a que não deseja.
Em indivíduos normais a obtenção da informação sofre modificações ao mesmo tempo que modula a maneira de pensar. Se este fenómeno de influência recíproca ocorrer, então, é muito provável que se possa evitar manipulações do tipo propagandístico, baseadas em falsos conceitos, mentiras e deturpações. Na prática, no dia-a-dia, não é isso que verificamos. Informações corretas, verdadeiras e úteis não são assimiláveis, são filtradas, são bloqueadas, são deturpadas, são alteradas de forma a não beliscar o cérebro da pessoa. Uma recusa muitas vezes inconsciente. Como explicar que as mentiras nazis tivessem entrado no cérebro de muitos alemães? O mesmo se pode dizer do estalinismo e de muitas outras ditaduras baseadas na propaganda. Mas não é só no campo político, o campo religioso também é dado a estes comportamentos, como o desportivo e até o médico. Crendices de todo o género são um tormento com consequências terríveis a todos os níveis.
São poucas as pessoas que, face a novas informações corretas e de qualidade indiscutível, mudam a forma de pensar.
Um falso conceito predomina na população. Prova-se até à exaustão que o mesmo é errado. Apresentam-se provas irrefutáveis do mesmo, mas na prática recusam aceitá-las e persistem no erro, no preconceito e no mau juízo.
O cérebro humano é muito esquisito. Algumas pessoas têm um cérebro desprovido de plasticidade, rígido até dizer basta, incapaz de ser moldado pela informação que lhes chega a toda a hora, mesmo a mais correta. Não há nada ou muito pouco a fazer. Socorrendo-me de Vedantam, autor de The Hidden Brain (Cérebro Escondido), é como se o cérebro de uns fosse uma espécie de savana e de outros como a região ártica. Se a informação for um “leão” adapta-se naturalmente ao “cérebro da savana” mas não sobrevive no “cérebro ártico”. Se a informação for do tipo “urso polar” observa-se o oposto. Esta forma de reagir, inconsciente, determina muitos comportamentos e problemas, alguns dos quais afligem-nos neste momento. A maioria dos cérebros dos políticos dos diferentes quadrantes funcionam sem a adequada plasticidade à informação correta e verdadeira. Distorcem-na, bloqueiam-na, adulteram-na e sabe-se lá que mais. Uma mente dotada de plasticidade é aquela que, embora possa perfilhar uma determinada ideologia como fio condutor da forma de estar e ser na vida, sabe aceitar uma informação correta e verdadeira venha ela donde vier, acabando por modificar a sua opinião e forma de pensar. Enquanto os responsáveis, e o cidadão comum, não adotarem esta forma de ser, não é previsível grandes soluções, antes pelo contrário, iremos observar uma radicalização e extremismos que não são aconselháveis, para falar apenas do “cérebro escondido”, porque o outro, o consciente, esse já é de outro domínio, do caráter, da honestidade e dos princípios...

3 comentários:

  1. "E não há nada ou muito pouco a fazer", conforme vamos confirmando...

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  2. Cérebro e a nossa memória selectiva...

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  3. Também neste aspecto a Escola deveria ter um papel mais activo.
    Um exemplo:
    Como se pode pedir a um jovem de 18 anos que vá votar, em consciência, se, num debate em que se discute a subida ou diminuição de impostos aos ricos e/ou aos pobres, não sabe o que é um IRS, IRC, e, por consequência, o que do seu aumento/diminuição advém? Como discernir das consequências de tais medidas? Como evitar a fácil aceitação de um discurso facilitista?

    A disciplina de Formação Cívica deveria intervir mais neste ponto, para que os jovens consigam ser mais impermeáveis à frase da propaganda.
    Claro que o esforço por entender também deve ser próprio, mas não considero que a Escola faça o suficiente para que o jovem tenha ferramentas com que decidir.

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