Lá diz o povo: não há pior cego do que aquele que não quer ver. Um dito que se aplica por inteiro a quem nos (des)governa. De facto, ainda hoje, o Executivo veio culpar o maior Partido da Oposição, o PSD, pela desconfiança dos investidores em relação às contas públicas do país. E isto porque, de acordo com um comunicado do Ministério das Finanças, “as permanentes hesitações e ameaças da Oposição quanto à viabilização do próximo Orçamento têm efeitos prejudiciais graves na percepção dos investidores externos sobre a situação financeira do país e, igualmente, sobre o agravamento do custo da dívida pública. A cada um as suas responsabilidades”.
E portanto, para o Governo, o facto de Portugal ser, dos quatro países do euro com problemas orça-mentais, o único em que quer o défice público quer a despesa pública subiram no corrente ano – ao contrário do que sucede em Espanha, na Grécia, ou na Irlanda – não teve nenhuma influência sobre os investidores!... Nem o facto de a despesa corrente primária do Estado Central estar a crescer pratica-mente ao dobro do orçamentado. Convenhamos: é preciso ter lata!...
Dois exemplos são sintomáticos.
Ainda numa nota de research hoje publicada, que esteve em grande destaque nas principais agências financeiras internacionais (Reuters e Bloomberg), seguidas em todo o mundo, o gigante banco norte-americano JP Morgan refere muito explicitamente que Portugal parece não estar a conseguir ser bem sucedido na consolidação orçamental: ““Espanha e Irlanda parecem estar a conseguir os seus objecti-vos orçamentais para este ano”; a Grécia mostra “algum adormecimento” e, em relação a Portugal “a situação parece um pouco mais preocupante, com a falta de progressos orçamentais reflectidos num crescimento mais célere da despesa, o que é inconsistente com o objectivo orçamental”. Sobre qualquer hipotética polémica à volta do Orçamento do Estado para 2011 (OE’2011)… nem uma palavra.
E também há dois dias atrás, Michael Meister, membro do Governo Alemão da Chanceler Angela Merkel, afirmou que “Portugal não está a fazer o suficiente para evitar o futuro da Grécia e necessita de mais medidas para animar a sua economia”. Se calhar, junto eu, ajudava se não se tentasse resolver sempre o problema orçamental à custa de mais e mais impostos (liquidando a economia) e sim cortan-do na despesa pública, como há tanto tempo se exige. Mas também aqui, nem uma palavra sobre qualquer pseudo-questão relacionada com o OE’2011…
Como o comunicado do Executivo bem refere, “a cada um as suas responsabilidades”. Desgraçado do País em que quem governa e não faz aquilo que deve, tente atirar as culpas para cima de quem as não tem. Atirando igualmente areia para os olhos dos Portugueses.
É verdade: não há mesmo pior cego do que aquele que não quer ver.
Caro Miguel,
ResponderEliminarSe pudesse, dava-lhe umas palmadinhas nas costas e com um ar pesaroso dava-lhe toda a minha compreensão, mas pergunto-lhe meu caro Dr. Miguel, investeria o seu dinheirito aqui?
Um ambiente económico, financeiro e fiscal que é absolutamente estrangulador para os pequenos e médios empresários portugueses, vai ser bom para os outros?
Eu - neste momento - não abriria uma empresa aqui nem que me pagassem! Nem que me dissessem que estava isenta de pagar impostos durante 5 anos! Ou então fazia o que muitos fazem, ficava aqui durante 5 anos e depois deslocalizava-me.
Eu compreendo os parceiros sociais, tanto os empregadores como os trabalhadores e posso garantir que isto não vai lá com pensos rápidos.
Pois, é isso mesmo: teria muita dificuldade em fazê-lo... E também penso que não é com pensos rápidos que lá vamos - como tantas vezes já escrevi no passado...
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