1. Decorrem desde sábado último, como é público, negociações entre representantes do Governo e do PSD para tentar encontrar uma plataforma de entendimento quanto ao conteúdo e estrutura do chamado “pacote de austeridade” que permita a “viabilização” da proposta de OE/2011.
2. Uma diferença se torna desde já nítida: enquanto do lado do PSD se regista uma grande reserva quanto aos problemas que estão em aberto (ao que não será estranho o estilo discreto e cauteloso da pessoa que encabeça a equipa de negociadores), do lado do Governo sucedem-se os “leaks” e os avisos quanto ao tema...
3. Trata-se sem dúvida de uma marca indelével ou talvez melhor de uma doença incurável desta governação: estar permanentemente com a “boca no trombone”, normalmente para tentar iludir a realidade ou para tentar confundir a realidade com a fantasia, como estamos cheios de saber...
4. Uma das mensagens mais curiosas por parte da equipa governamental é o aviso de que o Governo “não cede no objectivo de redução do défice”...pretendendo sugerir, para a opinião pública, que o PSD quererá um agravamento do défice mas que o Governo – qual incansável bastião da disciplina orçamental – nesse ponto VITAL não pode ceder...
5. Sabendo nós o que se tem passado nestes últimos anos em matéria de objectivos orçamentais – com sistemáticos, sucessivos e graves incumprimentos das metas para o défice, sempre negados até se tornarem indesmentíveis - este solene aviso do Governo só pode ser tomado (na melhor das hipóteses e com muito boa vontade) como uma bela piada...
6. Como se fosse necessário fazer cedências ao PSD para que o objectivo de redução do défice venha a sair furado...direi que neste caso o Governo subestima a sua própria capacidade de incumprimento de metas do défice, desvaloriza injustamente uma qualidade que lhe é universalmente reconhecida!
7. “Governo não cede na redução do défice”...uma boa piada, sem dúvida!
Aparentemente ninguém reparou, mas o Ministro Silva Pereira disse há dias que os dados da execução orçamental apresentados representavam "o essencial dos números" (de memória). Por aqui já podemos aferir da boa fé e seriedade destas negociações, em que o ponto de partida é mais ou menos conhecido, conforme um boletim que tem o essencial, não o todo. E na diferença entre o todo e o essencial é que está o que o Governo quer omitir.
ResponderEliminarO Governo fala do défice como se fosse uma grandeza autónoma. Como se sabe, trata-se de uma diferença entre dois valores, pelo que o PSD devia devolver a questão ao Governo (em público, para que constasse) perguntando-lhe em qual dos valores é que o Governo não quer ceder : na receita ou na despesa?
ResponderEliminarUma diferença de forma, caro Tavares Moreira, que dificilmente se traduzirá numa diferença de conteúdo. No fim, lá estará um "submarino" para cada um.
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarComo lhe aludi no comentário ao seu anterior post, este PM e o MoF usam com enorme mestria as palavras.
Claro que o governo não cede na questão do défice, nem sequer é importante, só para consumo indígena.
O que o governo (?) não diz é que não sabe se pode cumprir as metas no que ao saldo primário se refere.
O governo aprendeu uma variante da frase de Horácio.
A frase do filósofo era que nunca se tinha arrependido de estar calado, mas bastas vezes se tinha por falar.
O governo, como não pode, nem consegue, estar calado, tentará não ser acusado de mentir, se bem que não se possa livrar de ser acusado por não dizer toda a verdade....
O PM e o MoF, não sendo juristas comportam-se como tal...
Cumprimentos
joão
Não há diferença nenhuma, de forma. O que há é de conteúdo:
ResponderEliminarFoi o PSD que nos últimos dias, e pela voz do seu capo, que veio dizer que "talvez fosse melhor...reavaliar com Bruxelas o défice para o próximo ano"...
Isto sim seria um golpe mortal nas nossas contas e nos juros a pagar aos especuladores...
Deixem-se de tretas!
Estão encurralados no beco onde se meteram e vão ter de escolher entre a espada ou a parede!
Ou sim, ou sopas!( pode ser de leite achocolatado, se preferirem...)
Caro flash gordo,
ResponderEliminarTem razão em chamar a atenção para esse "detalhe" da diferença entre Todo e o "Essencial".
Sobretudo quando o "Essencial" tem significado equivalente a "Conveniente"...
Caro Jorge Oliveira,
Será que esqueceu a terceira componente para a determinação do défice, para além da receita e da despesa?
E que não é menos importante: o martelo!
É o precioso martelo que garante a autonomia do défice, concorda?
Caro Tonibler,
Não sei se haverá diferença de conteúdo...não disponho de dados para tal juízo.
Mas a diferença de forma (na sua versão)também não me parece assim tão pequena...
A incontinência comunicacional, sobretudo quando visa, sistematicamente, confundir ou entorpecer as mentes dos destinatários, será assim tão desvalorizável, meu caro?
Caro João,
Não deixo de notar a distinção que estabelece entre o que o Governo diz e não diz...e que me parece judiciosa.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarNão tenho grandes dúvidas de quem será o grande derrotado destas negociações - eu. Por isso sou relativamente insensível às diferenças de forma. A não ser que o outro prometa penhorar as retretes do Dragão e aí, quem sabe, eu comece a ver algumas vantagens.
Caro Tavares Moreira.
ResponderEliminarSim, o martelo, para lhes enfiar pela goela abaixo a parte da despesa devidamente cortada pela foice...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarÉ também pelas razões que expõe que bem temo que Pedro Passos Coelho tenha cometido (mais) um erro de avaliação, ao aceitar "negociar" o Orçamento, que lhe poderá custar bem caro a ele e ao país.
Depois do que se passou, se vier a viabilizar o orçamento, Passos Coelho ficará refém do governo pois será visto como co-autor da brutal austeridade que irá desabar sobre os portugueses; em caso contrário, o governo diabolizará o PSD pela subida dos yields, pelas restrições ao crédito e, por fim, pela inevitável entrada do FMI.
Parece-me assim que o governo conseguiu um win-win para seu exclusivo crédito. Espero bem estar enganado.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarNão seriam necessárias estas negociações para a sua e minha derrota...há muito que estamos derrotados e bem derrotados.
Se me permite a desafinação, estas negociações acrescentam nada à nossa derrota...
Estas negociações, coitadas, poderão, quando muito, tornar essa derrota mais visível...para quem ainda tivesse dúvidas que não é manifestamente o meu caso - e espero que não seja tb o seu, claro está!
Caro Jorge Oliveira,
O martelo, se me permite o esclarecimento, tem a função valiosíssima de comprimir a despesa até ao ponto em que, sendo dada uma receita (maior ou menor), produz o défice-objectivo...
O martelo é pois a variável de ajustamento descoberta pelos superiores pensantes que nos dirigem com uma incontestável lucidez!
Quanto à foice...foi-se!
Caro Eduardo F.,
Estar afastado da actividade política tem a vantagem, não despicienda, de nos permitir olhar para esses efeitos colaterias com alguma frieza...
Não estou tão convencido das consequências ou riscos políticos que enumera, entendo que o trabalho de esvaziamento dos cérebros dos cidadãos a que os incumbentes têm dedicado grande parte do seu esforço, terá entrado na fase da curva em que os rendimentos marginais são negativos...
A-ver-vamos, quando chegar a ocasião...
Quando o dilema é saltarmos juntos ou sermos empurrados, receio bem que o caro Tonibler tenha razão, como bem diz o Tavares Moreira.
ResponderEliminarE se até às 20 horas de hoje, não for encontrado consenso entre Eduardo Catroga e Teixeira dos Santos... que argumentos apresentará Cavaco Silva para anunciar a sua recandidatura?
ResponderEliminarCara Suzana,
ResponderEliminarO panorama é mesmo negro...Estamos entalados, encurralados, encharcados em dívidas até aos ossos...a escolha é mesmo entre o mau e o péssimo - sendo que a continuidade nos oferece pelo menos a segurança e a garantia do péssimo!
Caro Bartolomeu,
Argumentos são o que menos falta...se não houver acordo até lá existirá pelo menos a esperança de um acordo - e quanto mais difícil de obter, mais saboroso!
Nesse caso, caro Dr. Tavares Moreira, será reeditado o "imperativo de consciência"... a oeste, nada de novo...
ResponderEliminarNada com mais lata, caro TM, que a engrenagem comunicacional socratista.
ResponderEliminarPALAVROSSAVRVS REX
Se me permite, caro Bartolomeu, eu sugeriria em vez disso a reedição do Inferno, de Dante, que me parece mais próximo da(s) etapa(s) que se segue(m)...
ResponderEliminarCaro Joshua,
Mais lata e imensos recursos aplicados, pagos ontem, hoje e amanhã do nosso bolso...que lástima!
Talvez não seja um cenário impossível, caro Dr. Tavares Moreira...
ResponderEliminarImpossível, caro Bartolomeu?
ResponderEliminarBem mais viável, infelizmente, do que o famoso OE/2011 cuja "viabilidade" necessária os comentadores de serviço não se cansam de apregoar em nome de um obscur(íssim)o interesse nacional!
Obscuríssimo, caro Dr. Tavares Moreira?!
ResponderEliminarOu... pretendia ter escrito clientelíssimo?
Sigo atentamente a vossa discussão e não consigo resistir a perguntar se sou só eu, ou existe mais alguém aqui que acha que tanto o orçamento como as negociações são uma palhaçada?
ResponderEliminarPor favor não me interpretem mal, nem levem a utilização do termo "palhaçada" como má-educação. Considerem-no antes como uma manifestação, pura e dura, de honestidade.
Deixem-me contar-vos a minha interpretação genérica de toda esta temática que é assim:
Imaginem que está um círculo desenhado no chão e dentro desse círculo estão vocês, com um punhado de amendoíns na mão. Vocês olham para os vossos amendoíns e dizem: "os meus amendoíns são muita bons!" e cada um diz isto em relação aos seus amendoíns. Mas quando vêem os amendoíns uns dos outros, aquilo que dizem é que os vossos amendoíns são melhores que os amendoíns dos outros e justificam porquê. Uns porque estão mais tostadinhos, outros porque não têm casca, outros porque têm mais sal, outros porque têm menos. Na verdade, todos têm razão porque cada um gosta dos amendoíns à sua maneira, mas estão todos tão entretidos a discutir as específicidades dos vossos amendoíns que se esquecem de que existe uma relação directa entre o consumo de amendoíns e o aumento do colestrol.
Se, no imediato, tiverem uma vontade doida de comer amendoíns, vocês estar-se-iam bem nas tintas para o colestrol e para o detalhe do amendoín. Quereriam, pois, era satisfazer a vontade de comer amendoíns porque é isso que vos traz um beneficio imediato e ao fazê-lo, escolhem ignorar as consequência negativas do médio e longo prazo.
Em relação ao OE2011 é a mesma coisa, mas um bocadinho pior; De repente o governo descobriu que se viciou em amendoíns e agora está a "ressacar" porque não os tem e precisa deles para satisfazer uma necessidade imediata. A "ressaca" é tão grande e a urgência em ter amendoíns é tanta, que estão dispostos a sacrificar o que quer que seja para os ter, o PSD aquilo que foi fazer foi apenas discutir o detalhe do amendoín. Tal como vocês estão a fazer.
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ResponderEliminarCar'ANTHRAX, no meu ponto de vista, toda esta "fantochada" a que assistimos, não tem a ver com amendoíns, mas sim, com falta de "tomates".
ResponderEliminarFalta de "tomates" para cortar onde ninguem tem dúvidas que é fundamental que se corte e que, se se cortar, serão atingidos os objectivos que é necessário que o país atinja.
Isto, claro está, numa optica convergente com o ponto de vista de cooperação que o candidato Aníbal Cavaco Silva, apresentou ontem no anúncio da sua recandidatura.
Mas se, os objectivos forem manter tudo como está e andar a fingir que o pai é cego... então este é o caminho certo.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarNeste contexto em que nos movemos -caudaloso em palavras e pantanoso em conceitos - consegue encontrar sinónimos mais perfeitos do que "obscuríssimo" e "clientelíssimo"?
Cara Anthrax,
Essa dos amendoins é mesmo muito maldosa...é que nos faz associar imediatamente a ideia dos macacos - e macacos me mordam se não é assim!