sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Como a beleza pode ser bela...

Hoje cruzei-me na rua com um homem velho que pedia, em tom baixinho, com um chapéu na mão, ajuda a quem passava. Tão discreto estava que era grande a indiferença daqueles que passavam, que não alteravam por um segundo o seu passo para prestar um segundo de atenção àquele homem velho. Notei nele uma beleza rara, mas não a beleza da juventude que a velhice lhe roubara. Era a beleza, depois pensei, do seu olhar grande e profundo…
Na verdade todas as idades têm a sua beleza. Mas a beleza sendo um processo vai-se alterando e assumindo diversas formas e expressões, para quem a tem e para quem a vê. Este homem velho causou-me impressão, mas também a satisfação de nele ter admirado a beleza eterna.
A fotografia que acabei por encontrar na National Geographic (“A Wrinkle in Time” by nikki krecicki) expressa de forma quase perfeita o que os meus olhos hoje sentiram…

4 comentários:

  1. Que sensibilidade, cara Margarida.
    Terá família esse senhor? E se a tem, onde estarão os filhos, os sobrinhos, os primos...? Quando me deparo com pessoas de mãos estendidas, mendigando, principalmente as mais velhas, como eu gostaria de saber o que lhes aconteceu; que tipo de vida tiveram; ou se mendigar foi uma “forma de estar na vida”. Por vezes, nota-se, sem muito esforço, que se trata se uma encenação: farrapos, crianças ao lado; outras, não se tem tanto a certeza.

    A propósito desse rosto enrugado, tenho aqui um livrinho na minha frente onde se lê:
    “As rugas deveriam apenas indicar onde estiveram os sorrisos.” Mark Twain

    “As rugas dos sorrisos nunca deveriam ser retiradas pela cirurgia. As marcas do afecto têm mais valor do que o vazio de uma falsa juventude.” Pam Brown.

    Bom fim de semana, cara Margarida. : )

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  2. Olá Drª Margarida Côrrea de Aguiar
    venho devolver-lhe o seu "belo olhar", à-la-Bartolomeu...

    Cruzei-me na rua, um dia
    Com um Homem que pedia
    Não era pobreza que eu via
    Mas a tristeza que ele sentia

    Apesar dessa tristeza
    O seu olhar era profundo
    Reflectia toda beleza
    Que ele já vira no mundo

    Sensibilizou-me o sossego
    Que senti naquele olhar
    E que vi no olhar cego
    Dos que passavam sem parar

    Pedia esmola baixinho
    por vergonha ou ironia
    Pois era rico o Velhinho
    Rico, o olhar que exibia

    ;)

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  3. Cultiva-se hoje apenas a beleza da juventude, a perfeição física, ainda que conseguida à força de bisturi. Ficamo-nos pelo superficial e já quase não sabemos ver para além desse modelo, é bom alguém vir lembrar que é possível encontrar o belo num rosto velho e marcado pela privação. Como dizia o Principezinho "o essencial é invisível aos olhos".

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  4. Cara Catarina
    Muitas destas pessoas não sabem como podem ser ajudadas nem a quem recorrer. Têm dificuldades em se orientar nesta realidade complexa. É o caso deste homem. Precisava de ser ajudado por uma instituição com condições de com ele conversar e verificar como pode ser efectivamente apoiado.
    Este homem terá tido ao longo da sua vida momentos de alegria e muitos sorrisos. Talvez que algumas das rugas sejam a expressão da parte boa da sua vida passada, mas algumas delas serão a marca das dificuldades, sabe-se lá com que dor e sofrimento. A dor e o sofrimento não superados e incompreendidos, vividos na solidão, levam muitas vezes a um alheamento da vida e a uma certa "demência" que funcionam como mecanismos de auto-defesa. Isto foi-me explicado, um dia, por um médico.
    Boa semana, Cara Catarina.

    Caro Bartolomeu
    Como eu gostaria de ter escrito o "belo olhar" em poesia. Falta-me essa veia...

    Suzana
    Nada se vê bem sem o coração...

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