quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"Difícil é Educá-los"

A leitura que fizemos da evolução do sistema educativo português permitiu-nos identificar os problemas fundamentais. Temos mais educação, não temos melhor educação. O modelo de organização revela algumas inconsistências e, se favoreceu a concretização da escolaridade obrigatória de nove anos, não se traduziu em maior sucesso escolar nem em maior equidade. Com base neste balanço, podemos concluir que o investimento realizado pela sociedade portuguesa não teve o retorno esperado, em grande parte devido às diversas insuficiências, entre as quais se destaca, pela sua relevância, o modelo de formação, recrutamento e progressão na carreira do pessoal docente que, pela sua rigidez, dificulta uma boa gestão desses activos.
Destacámos igualmente a progressiva inadequação do modelo centralizado do Estado Educador às novas realidades sociais e às perspectivas de desenvolvimento nas próximas décadas. É um modelo que se encontra perto do esgotamento, não só porque acumulou inércia, não respondendo de forma adequada aos novos desafios, mas também porque reproduz os factores de atraso.”

Este texto é uma passagem retirada do Livro “Difícil é Educá-los” do Prof. David Justino, recentemente publicado. O Prof. David Justino apresenta neste Livro, graças ao seu profundo conhecimento, um retrato objectivo da educação em Portugal.
Ajuda-nos a reflectir sobre os problemas que explicam o nosso “atraso educativo” e lembra-nos que “o que queremos da educação em Portugal” é uma pergunta decisiva que não está respondida e para a qual é urgente encontrar uma resposta.

11 comentários:

  1. O título do livro do Sr. Prof. David Justino, abrange o vasto universo da educação. Este "educá-los, abrange desde o ministro da educação, aos pais dos alunos. Difícil é Educá-los.
    Mas, as políticas exigiram que a quantidade se sobrepusesse à qualidade na educação. Os objectivos que foram propostos, atingiram o mesmo resultado; mais quantidade, menos qualidade.
    Os métudos adoptados, permitiram que estes resultados não sofressem qualquer tipo de contestação.
    A interrogação que coloca “o que queremos da educação em Portugal”, cara Drª. Margarida, é pertinente. É uma tomada de consciência que urge, face à situação calamitosa em que a educação Portuguesa se encontra.

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  2. Como diz o director da escola onde trabalho:

    "deixem a escola pública continuar a correr para o abismo, permitam que o Ministério da Educação continue a normalizar tudo, permitam que os "cientistas", "especialistas", "psicólogos", "sociólogos" e outros sem nada mais que fazer continuem a mandar na formação de professores, sindicatos, e organismos de decisão, continuem com a carreira única de professores, continuem a pagar o mesmo a um professor do 1º Ciclo e a um professor do ensino secundário, continuem a pagar mais a um professor reformado com o antigo 5º ano do que a um professor doutorado na sua área científica, continuem a promover a escola do Maio de 68, continuem sem castigar pais e alunos, continuem a transformar o professor numa mistura genética entre um professor, um ideólogo, um sociólogo, um burocrata, um psicólogo, um animador, e um marketeer. Deixem-nos continuar, porque só assim poderemos continuar a ter cada vez mais e mais candidatos para a nossa instituição..."

    Portanto de hoje em diante não falarei mais nos centros de entretenimento e guarda de crianças e jovens, vulgo "escola" pública, porque é do meu interesse de curto e médio prazo que este modelo se cimente...

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  3. Caro Bartolomeu
    A educação dos mais velhos é muito mais difícil. O mal já está feito e corrigi-lo é tarefa muito complicada. Já diz o ditado "De pequenino se torce o pepino"!
    Se “a missão do ensino e da educação é a de formar pessoas”, não apenas na componente profissional mas, também, na dimensão da cidadania, então precisamos de fazer um exercício prospectivo. Este exercício tem falhado, como aliás aconteceu, também, noutros domínios. Veja-se, por exemplo, a falta de médicos e a falta de disciplina. Situações que não aconteceram por acaso. Na sua origem, está, no primeiro caso, a falta de prospectiva e planeamento, e, no segundo caso, uma visão errada, a meu ver, dos valores que devem orientar o comportamento das pessoas. Será que a sociedade tem a consciência de que o Caro Bartolomeu fala?

    Caro Fartinho da Silva
    É o “Estado Educador” a funcionar. Vejo-o muito pessimista Caro Fartinho da Silva. Não podemos desistir de acreditar no que é melhor para superarmos o "atraso educativo".

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  4. Cara Margarida, recorda-se do ditado: “Quem espera desespera.”?
    Por quanto mais tempo podem os cidadãos portugueses viver neste ambiente de positivismo forçado, de esperança de melhores dias? Quantas reformas já foram feitas no ensino e quantas falharam? Vai haver cortes orçamentais no ensino; na saúde. Não são estas áreas duas das mais importantes para que um país esteja numa posição em que possa competir com os outros países desenvolvidos? Todos sabemos como é importante investir na educação... é tão óbvio que até parece ridículo, descabido, estar sempre a bater na mesma tecla. O programa “Educação para todos” deverá ser ainda mais abrangente – talvez alguns elementos do ME devam nele participar tanto como docentes como discentes para terem uma visão mais concreta e uma experiência hands-on acerca do que se passa no mundo real da educação (com sentido activo).
    Por vezes tenho esta vontade de me candidatar a Ministra – o género feminino existe!!! – da Educação e logo, logo todas as engrenagens entrariam nos eixos – embora saiba que não teria o voto do Caro Pinho Cardão! : )

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  5. «Será que a sociedade tem a consciência de que o Caro Bartolomeu fala?»
    Pois aqui reside uma grande parte do problema, caraDrª Margarida.
    Do meu ponto de vista, uma parte da sociedade, sim. Outra, não faz a mais pálida ideia. Inclusivé do lado de quem tem a responsabilidade de legislar e de establecer programas educativos.
    Tal como a cara Drª muito bem refere, a superior missão do ensino tem de assentar na formação de pessoas, de as encaminhar e formar no sentido lato de formar verdadeiros cidadãos, plenamente conscientes das suas responsabilidades e dos seus direitos, inteiramente participativos e cooperantes na vida do país a que pertencem. A formação de bons cidadãos, é aquilo que poderá conduzir o país de uma forma consistente, à recuperação tanto económica, como social, e permitir-nos acreditar num futuro promissor, estável e sustentável.

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  6. "é uma pergunta decisiva que não está respondida e para a qual é urgente encontrar uma resposta"

    é respondido por

    "inadequação do modelo centralizado do Estado Educador"

    Isto é, urgente é não encontrar resposta porque essa resposta está errada. Que tal, finalmente, deixarmos as pessoas encontrarem elas mesmo as respostas???

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  7. Cara Catarina
    Não sei se as pessoas têm consciência de como é importante investir na educação. Se assim fosse, estou convencida que não teríamos chegado a este estado.
    Não temos um modelo de desenvolvimento. Não há um rumo definido sobre o que queremos, como o queremos fazer para lá chegar. E a educação não é diferente, insere-se nesta incompetência de sermos incapazes de nos governarmos. Não sei sinceramente o que mais nos terá que acontecer para percebermos que está esgotado este modelo de país, a começar pelos valores que temos assumido como referência para as nossas condutas. A confiança na classe política está minada e a descrença num futuro finalmente melhor instalou-se nas pessoas. O cansaço é grande porque estamos sempre com os mesmos problemas e as mesmas receitas, a lembrar aquela máxima do "vira o disco e toca ao mesmo". Só que a música, neste caso, já está riscada. Mas a verdade é que os portugueses que trabalham por esse mundo fora são competentes e bons cidadãos. Porque não o são cá dentro?
    Pegando na sua generosa oferta, já me tem ocorrido que poderíamos fazer uma espécie de "outsourcing" de governantes, pagando bem, é claro, porque a tarefa é herculeana. Mas sem dinheiro, nem vale a pena pensar mais no assunto...

    Caro Bartolomeu
    Mas a parte da sociedade do "sim" é, acho que não estou enganada, muito pequena. Será que as pessoas da parte do "não" seriam capazes de responder ao desafio de identificarem as razões do nosso "atraso educativo"?

    Caro Tonibler
    Os seus comentários são verdadeiros desafios à inteligência, à minha pelo menos. No bom sentido, é claro!

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  8. Cara Margarida,

    Não estou nem optimista nem pessimista, decidi apenas que devo aproveitar as oportunidade de mercado oferecidas pelo caos criado neste sector. Como trabalho num colégio privado onde o pragmatismo impera e onde o lirismo é deixado para os centros de entretenimento e guarda de crianças e jovens, é do meu interesse que estas diferenças se continuem a cimentar.

    Não sei se olhou para a evolução dos rankings, mas o consulado de Maria de Lurdes Rodrigues foi fantástico para nós. Neste sector vai passar a haver uma divisão temporal importante: antes de MLR e depois de MLR. Graças a esta antiga ministra, o fosso entre os melhores colégios privados e os melhores centros de entretenimento e guarda de crianças e jovens aumentou de forma espantosa. Posso acrescentar que nunca me passou pela cabeça que o fosso aumentasse de foram tão drástica e em tão pouco tempo.

    Por isso, acho que os melhores colégios privados deveriam entregar uma medalha de honra à senhora pelo contributo excelente que deu à causa do status quo.

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  9. Caro Fartinho da Silva
    É o resultado do nivelamento por baixo, com perda de qualidade do ensino público e pior educação e com um custo mais elevado que no privado.
    Li hoje que o ME vai fazer cortes no apoio financeiro a escolas do sector privado com as quais tem contratos de associação, num universo que abrange 500 escolas, 80 mil alunos e 10.000 empregos.
    Questiono-me, se o Estado tem condições para receber os 80 mil alunos, num cenário hipotético que seja, se aquelas escolas fechassem as portas e se era capaz de o fazer com igual ou melhor qualidade de ensino e educação e com igual ou menor custo.
    Será correcto que o ME apoie essas escolas a preços inferiores ao custo suportado na rede pública, leia-se Estado?
    É que a bem dizer não há informação - deveria ser publicada pelo ME - que permita conhecer com rigor os custos do sector público e os custos do sector privado e estabelecer comparações.
    Afinal o que é que está em causa?
    Caro Fartinho da Silva
    É capaz de me ajudar a descodificar o problema? Obrigada.

    Notícias publicadas sobre este assunto:
    http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/governo-quer-fazer-cortes-nos-apoios-ao-ensino-privado_1464381

    http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1703527

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  10. Cara Margarida,

    Esses cortes não terão qualquer impacto no nosso colégio, porque não dependemos do Estado para coisa nenhuma. O ME tem sido um enorme empecilho na nossa actividade porque está sempre a tentar colocar em causa aquilo que fazemos. Vou dar um pequeno exemplo, segundo os burocratas que por lá trabalham:
    - os nossos alunos não deveriam andar fardados, porque transmitem uma ideia de elitismo;
    - todas as turmas deveriam ter estudos e com todos os alunos, porque todos deveriam ter as mesmas oportunidades;
    - os estudos deveriam ser acompanhados por um único professor, porque não podem existir escolas de primeira e de segunda;
    - deveríamos ter reuniões sobre tudo e mais alguma coisa, porque a escola deve ser democrática;
    - etc.

    Esquecem que somos nós que pagamos os salários aos nossos professores e são os pais que pagam as propinas e esquecem ainda que as escolas por eles geridas não são propriamente algo de que o país se possa orgulhar...

    Enfim. O ME ficou parado no tempo. Os burocratas que por lá trabalham e os órgãos conselheiros que ouvem ainda vivem no PREC, o problema é que o resto do mundo vive em 2010 e numa enorme competição...

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  11. Caro Fartinho da Silva
    Ainda bem que a sua escola não é atingida. A medida está a gerar preocupação e já há quem afirme que o objectivo é defender a escola pública, fragilizando o sector privado.

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