segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Estatuto de Pedinte Internacional, para fim de festa?

Estatuto de Pedinte Internacional fica-nos muito bem, para fim de festa?...

1. Confesso que me impressionou muito mal a notícia ontem divulgada aventando a possibilidade de Timor-Leste vir a adquirir dívida pública portuguesa...
2. Um país que depende da ajuda internacional, que tem tudo para realizar em matéria de infra-estruturas, extremamente sub-desenvolvido, que tem por tudo isso muito mais que fazer ao dinheiro que vier a receber das concessões petrolíferas, dispõe-se a emprestar dinheiro a Portugal? Quando ainda há muito poucos anos para lá enviávamos ajuda (ainda enviamos provavelmente)?
3. E não foi estimulante ver o grande estadista Ramos-Horta dissertando pomposamente sobre o tema, em estilo de titular de qualquer reino das Arábias, admitindo dar uma ajuda a Portugal mediante a aplicação em dívida pública portuguesa de uma parte das reservas do Fundo que vai gerir as receitas do petróleo do país...
4. Mais lamentável, muito mais lamentável, foi verificar a reacção aparentemente feliz de alguma comunicação social doméstica, como se de um grande feito se tratasse aparecermos agora em Timor, de mão estendida, a pedir dinheiro...não têm mesmo cura estes inefáveis génios da comunicação!
5. Cabe notar que Timor aparece na lista de credores potenciais a seguir à China, a países árabes, a Macau, num cerimonial de mão estendida a que parece estarmos agora votados com grande pompa, depois de termos gasto tudo o que tínhamos para gastar e de nos termos endividado até mais não poder...
6. Só falta mesmo o camarada Hugo proclamar que a Venezuela está disposta a comprar dívida pública portuguesa, para nos salvar das garras dos especuladores internacionais...pese embora o facto de o camarada Hugo mostrar mais aptidão para celebrar contratos-promessa de compra (sem prazo, de preferência...) e não propriamente para comprar...
7. Em resumo, estamos a criar um sólido e distintíssimo estatuto de Pedinte Internacional, estendendo a mão a qualquer “bicho-careta” que nos apareça pela frente admitindo que está disposto a comprar dívida pública portuguesa...será para fim de festa?...
8. Em curioso contraste, parece que fugimos como “o diabo da cruz” quando nos falam em pedir ajuda ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira/FMI...como entender este paradoxo no quadro da política de mão-estendida?...

20 comentários:

  1. Anónimo12:55

    E pensar que nem há muito tempo era um País...

    ResponderEliminar
  2. Mas o Sô Presidente da República concordou. E até invocou as conversas que disse ter tido com Ramos Horta!
    Em que ficamos? O Sr. Silva desafinou ou é o autor do post que discorda do candidato que apoia?

    ResponderEliminar
  3. De qualquer modo, parece-me que o povo de Timor-Leste, deixou de ser governado pela ditadura militar Indonésia, passando a ser governado por uma ditadura hortícula...
    Ainda ha pouquíssimos dias, Ramos Horta afirmava que Timor ainda carecia muitíssimo de escolas e de saúde...
    Cada vez acredito mais, na teoria Einsteiniana dos mundos paralelos!

    ResponderEliminar
  4. Anónimo14:55

    Meu caro Tavares Moreira, se eu contraí uma dívida perante outrém, e entretanto me surgir a oportunidade de adquirir dívida daquele em condições favoráveis de remuneração, confesso que me verei tentado a comprar. É que, ficando na posição de credor/devedor, a compensação de créditos far-se-à em condições naturalmente mais favoráveis do que se me mantiver unicamente como devedor e tiver de solver a minha dívida. Não será esse o caso de Timor?
    Acresce que não nos devemos admirar destes gestos de países que carecem de afirmação nacional e internacional. Uma antiga colónia ter a possibilidade de surgir aos olhos do mundo, ou mesmo da potencia regional (Austrália) como credor do Estado que a colonizou, é uma oportunidade que poucos, na posição de Timor, rejeitarão.
    O mesmo estímulo terá Angola se para aí estiver virada ou se não achar preferível continuar com a estratégia de compra de activos nacionais, como tem paulatinamente acontecido em muitos sectores da economia, como é sabido.
    São Tomé e Principe é que ainda não começou a beneficiar do quinhão no petróleo da sua plataforma. Mas ali pertinho existe um País, parceiro de São Tomé na partilha dos réditos do petróleio, certamente disposto a comprar a sua entrada na CPLP por razões que, sendo diferentes das de Timor, também têm que ver com a necessidade imperiosa de afirmação internacional. Só que do líder desse Estado parecem ter-se esquecido, apesar de ele já ser capaz de manter um conversa telefónica em português, ao que dizem. Ou então não se esqueceram, e um destes dias teremos a reedição do episódio passado na última cimeira da CPLP do entra-que-não-entra-agora-que-parece-mal-mas-adiante-logo-vê, porventura com uma atitude mais complacente e compreensiva para a postura do tal País perante os direitos fundamentais.
    Complacência que, de resto, é de esperar de uma nação nas lonas, obrigada ao pragmatismo de não recusar estender a mão a quem tem e lhe pode emprestar. Pragmatismo que faz ver que, nos últimos tempos, não nos temos dado mal com ditaduras e ditadores, todos eles mais impressionáveis com as nossas maravilhas tecnológicas - como o Magalhães ou as eólicas -, do que a chanceler alemã com a nossa arte para, pelos nossos meios, sairmos do buraco onde nos enfiámos.

    ResponderEliminar
  5. A diferença entre o FMI e os outros é que o FMI não se dispõe a levar com os muito prováveis calotes que nós iremos ferrar.

    ResponderEliminar
  6. Caro Zuricher,

    Era um país altamente endividado o há pouco tempo...
    Agora é um país sobreendividado...
    Antes, agora e sempre um devedor insaciável!

    Caro Faríssimo,

    O autor do Post não mandatou ninguém para dizer em quem vota...

    Caro Bartolomeu,

    Se falarem ao povo de Timor Leste em dívida pública portuguesa, devem perguntar quem é esse senhor...

    Caro F. Almeida,

    Olhe que por este andar ainda vamos receber a notícia, com júbilo, de que a Guiné-Bissau e S. Tomé se perfilam para investir em dívida pública portuguesa...

    Caro Tonibler,

    Nós não ferramos calotes...
    Poderemos reestruturar dívida, que é uma designação bem mais elegante e um conceito bastante avançado.

    ResponderEliminar
  7. Tem razão, caro Dr. Tavares Moreira, a lembrar aquela anedota muito velhinha, em que o reporter pedia ao presidente Américo Tomaz, a opinião acerca de Almada Negreiros e ele respondia lacónico; Almada, 1 - Negreiros, 0.

    ResponderEliminar
  8. Anónimo20:09

    Caro Tavares Moreira, expressei-me claramente mal. O meu "pouco tempo" não era há 4 ou 5 anos. Era há 15-20.

    ResponderEliminar
  9. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  10. Caro Zuricher,

    Expressou-se muito bem, com certeza!
    Eu é que resolvi introduzir algumas variações, em "juro maior", para hiperbolizar a saga do endividamento luso...

    Caro Paulo, Se os piratas somalis detiverem reservas importantes, porque não darem uma mãozinha e aplicarem uma parte em dívida pública lusa?
    Apesar de piratas e fora da lei, quem sabe se não poderão vir a revelar-se credores menos exigentes que os demais, distraídos como andam nas acções de pirataria?...

    Caro Bartolomeu,

    Histórias como essa podem contar-se às dezenas...mas já passaram à história...
    Esta história, que estamos a viver no presente e que nos vai acompanhar pelos anos afora como um pesadelo permanente, tem cores bem mais sinistras...

    ResponderEliminar
  11. Caro Tavares Moreira
    Eu não disse que o autor do post votava no Sô Presidente da República. O que eu disse é que o autor do post o apoiava. O que faz toda a diferença. Estamos sempre a tempo até botar o papelinho na urna.

    Caro Bartolomeu, essa do Almada,1 - Negreiros,0 ainda hoje tem actualidade, acredite!

    ResponderEliminar
  12. Incrívelmente actual, caro Fartíssimo, deplorávelmente actual!

    ResponderEliminar
  13. Muito bem visto esse detalhe, caro Fartíssimo do S (tem a vantagem de dar para dois pelo menos...), mas permita-me acrescentar que o autor deste Post tb não mandatou ninguém para dizer que candidato apoia...

    ResponderEliminar
  14. Foi uma presunção "juris tantum", caro Tavares Moreira!

    ResponderEliminar
  15. Mais uma vez se comprova a fragilidade das presunções "juris tantum", caro Fartinho do Sócrates (só para variar, aproveitando as potencialidades do S, espero que não me leve a mal - se levar diga, que eu corrijo)...

    ResponderEliminar
  16. Isso do "juris tantum" não é o que o especuladores da economia de casino nos querem cobrar nas OT's???

    É que eu quando vejo uma expressão em língua morta já sei que vou ser lixado...:)

    ResponderEliminar
  17. Caro Tavares Moreira
    Levo lá agora a mal! Já deve ter visto que também estou fartíssimo do sô Pinto de Sousa. E ainda bem que a presunção é "juris tantum". Mas, como sabe, esta presunção é ilidível, admitindo prova em contrário, prova que, julgo poder concluir, o autor do post acaba de fazer.

    Caro Tonibler
    Infelizmente, não é. Para nosso mal, a presunção é outra: "jure et de jure". Ou seja, não é ilidível...

    ResponderEliminar
  18. Pois, eu bem me parecia que a culpa era minha...

    ResponderEliminar
  19. Corrijo: "juris et de jure". Desculpem-me o lapso.

    ResponderEliminar
  20. Caro Fartíssimo do (Silva + Sousa),

    A presunção em que fundou o juízo emitido - de apoio do autor do Post a um candidato presidencial - é ilidível pela própria natureza das coisas.
    É que tendo-a emitido ao abrigo de um mandato espontâneo - gerado apenas pela imaginação do mandatário - a simples declaração do suposto mandante de não reconhecer legitimidade ao exercício em causa retira-lhe ipso facto qq efeito prático...que jurídico já não tinha...
    como vê, estamos a entrar num terreno que já se distancia bastante do tema do Post...
    Quanto a este, convirá apenas aditar que o Tesouro Português emitiu hoje dívida a 1 ano, tendo sido obrigado a pagar uma taxa de juro média de 4,813%, mais de 1,5% acima da última colocação...
    Moral da história: ainda não são visíveis os efeitos da compra de dívida pública portuguesa por Timor-Leste...
    A menos que ao Estado Português tivesse lembrado a espantosa originalidade de prolongar o programa de asistência a Timor mediante o pagamento de um juro excepcionalmente elevado na dívida por este adquirida...o que não tenho por provável, nem um poucachinho...

    ResponderEliminar