Não costumo ligar muito a certas mensagens, entre as quais algumas apresentações, enviadas por correio eletrónico. De qualquer modo, de vez em quando, a curiosidade leva-me a dar uma rápida vista de olhos. Foi o que aconteceu da última vez. Começei a ler e verifiquei uma apreciação crítica a determinadas atitudes relacionadas e desencadeadas pela política.
Não vou transcrever a apresentação que começa precisamente pela seguinte: “O irregular e promíscuo funcionamento dos poderes públicos é a causa primeira de todas as outras desordens que assolam o país”. Nas seguintes é posto em causa os partidos e fações políticas como sendo responsáveis de conspirações e de defenderem os seus militantes mais ativos. O Presidente da República é posto em causa, assim como o Parlamento, que “oferece constantemente o espetáculo do desacordo, do tumulto, da incapacidade legislativa ou do obstrucionismo, escandalizando o país com o seu procedimento e a inferior qualidade do seu trabalho”. Ministérios sem rumo, Administração Pública desorganizada, ineficiente e despesista que, aliados à crise económica e financeira, contribuem para a florescente indústria de corrupção generalizada. Esta descrição não é novidade para muitos portugueses. Mas o melhor estava para vir quando o autor desta apresentação diz que os conceitos e frases foram retirados de uma obra intitulada “Como se levanta um Estado” de Salazar.
Fiquei de boca aberta. Não pela “profundidade” das frases, mas por ter terminado com a origem das mesmas, atribuídas ao ditador em 1936.
Sabendo como as coisas andam, más, e a velocidade com que se transmitem certos conceitos, tais como os que analisei, tem de haver algo por detrás. Nestes momentos de crise, ou melhor, de crises, há quem veja interesse e aproveite a oportunidade para “vender” as suas ideologias ou doutrinas, não compatíveis com a democracia. Não me admira nada que haja por aí quem pretenda aproveitar-se da situação, para impor outros interesses, que, como é fácil de compreender, poderão limitar o espírito da democracia. Assusta-me tais comportamentos, assim como a vinda para a praça pública de denunciantes serôdios da péssima situação nacional. Agora falam! Mas deveriam ter falado antes, muito antes.
O que está em causa é o afastamento progressivo dos melhores da vida pública. Quais as razões para o afastamento? Muitos motivos. Não estão para se chatear, querem mas é ganhar a vidinha, temem saborear os incómodos decorrentes da vida pública e não querem andar na boca do mundo ou nas mandíbulas da comunicação social, porque é algo que os perturba. Outros, que por lá andaram, com sentido cívico, acabaram por ser corridos, devido aos incómodos que provocavam nas “elites” da política. Elites?! Tirando meia dúzia, o restante não merece muitos comentários.
Num romance sobre “Aristóteles e Alexandre”, a autora, Annabel Lyon, descreve uma passagem que merece ser transcrita. Na corte macedónica, em guerra contra Atenas, o filósofo teve a coragem de afirmar que Atenas é o estado ideal. Alexandre contrapõe que é a Macedónia. O seu percetor explica-lhe, enquanto “se ouve o som de vinte pajens que se esqueceram momentaneamente de como se deita o ar fora”, tamanha foi a ousadia, de que no “estado ideal, todos os cidadãos participam na vida da polis, no poder judicial, na promoção do bem e do que é justo”.
Mas em Portugal onde está esse sentido? São poucos os que se atrevem a dar o melhor de si para o bem-estar da sociedade. Nem nos pequenos fora, nem em relação aos dirigentes políticos locais, administrativos e chefias profissionais têm coragem de criticar ou dizer o que deveriam dizer, muitas vezes com razões de sobra. - Porque é que não faz essa queixa? Porque não chama a atenção para o erro? Mas no local certo! A resposta a estas perguntas tem num número excessivamente elevado de adeptos que optam pela seguinte: - Nem quero pensar nisso! O “não querer pensar nisso” pressupõe de imediato que nem conseguem esboçar uma ação. Medo? Receio de represálias? Insegurança? Tristeza! Povo manso, demasiado manso, que deixa bandos de gentalha pouco escrupulosa à solta, esperando de que lhe enfiem valentes farpas no lombo. Mansos!
Não vou transcrever a apresentação que começa precisamente pela seguinte: “O irregular e promíscuo funcionamento dos poderes públicos é a causa primeira de todas as outras desordens que assolam o país”. Nas seguintes é posto em causa os partidos e fações políticas como sendo responsáveis de conspirações e de defenderem os seus militantes mais ativos. O Presidente da República é posto em causa, assim como o Parlamento, que “oferece constantemente o espetáculo do desacordo, do tumulto, da incapacidade legislativa ou do obstrucionismo, escandalizando o país com o seu procedimento e a inferior qualidade do seu trabalho”. Ministérios sem rumo, Administração Pública desorganizada, ineficiente e despesista que, aliados à crise económica e financeira, contribuem para a florescente indústria de corrupção generalizada. Esta descrição não é novidade para muitos portugueses. Mas o melhor estava para vir quando o autor desta apresentação diz que os conceitos e frases foram retirados de uma obra intitulada “Como se levanta um Estado” de Salazar.
Fiquei de boca aberta. Não pela “profundidade” das frases, mas por ter terminado com a origem das mesmas, atribuídas ao ditador em 1936.
Sabendo como as coisas andam, más, e a velocidade com que se transmitem certos conceitos, tais como os que analisei, tem de haver algo por detrás. Nestes momentos de crise, ou melhor, de crises, há quem veja interesse e aproveite a oportunidade para “vender” as suas ideologias ou doutrinas, não compatíveis com a democracia. Não me admira nada que haja por aí quem pretenda aproveitar-se da situação, para impor outros interesses, que, como é fácil de compreender, poderão limitar o espírito da democracia. Assusta-me tais comportamentos, assim como a vinda para a praça pública de denunciantes serôdios da péssima situação nacional. Agora falam! Mas deveriam ter falado antes, muito antes.
O que está em causa é o afastamento progressivo dos melhores da vida pública. Quais as razões para o afastamento? Muitos motivos. Não estão para se chatear, querem mas é ganhar a vidinha, temem saborear os incómodos decorrentes da vida pública e não querem andar na boca do mundo ou nas mandíbulas da comunicação social, porque é algo que os perturba. Outros, que por lá andaram, com sentido cívico, acabaram por ser corridos, devido aos incómodos que provocavam nas “elites” da política. Elites?! Tirando meia dúzia, o restante não merece muitos comentários.
Num romance sobre “Aristóteles e Alexandre”, a autora, Annabel Lyon, descreve uma passagem que merece ser transcrita. Na corte macedónica, em guerra contra Atenas, o filósofo teve a coragem de afirmar que Atenas é o estado ideal. Alexandre contrapõe que é a Macedónia. O seu percetor explica-lhe, enquanto “se ouve o som de vinte pajens que se esqueceram momentaneamente de como se deita o ar fora”, tamanha foi a ousadia, de que no “estado ideal, todos os cidadãos participam na vida da polis, no poder judicial, na promoção do bem e do que é justo”.
Mas em Portugal onde está esse sentido? São poucos os que se atrevem a dar o melhor de si para o bem-estar da sociedade. Nem nos pequenos fora, nem em relação aos dirigentes políticos locais, administrativos e chefias profissionais têm coragem de criticar ou dizer o que deveriam dizer, muitas vezes com razões de sobra. - Porque é que não faz essa queixa? Porque não chama a atenção para o erro? Mas no local certo! A resposta a estas perguntas tem num número excessivamente elevado de adeptos que optam pela seguinte: - Nem quero pensar nisso! O “não querer pensar nisso” pressupõe de imediato que nem conseguem esboçar uma ação. Medo? Receio de represálias? Insegurança? Tristeza! Povo manso, demasiado manso, que deixa bandos de gentalha pouco escrupulosa à solta, esperando de que lhe enfiem valentes farpas no lombo. Mansos!
São os mansos os mais complicados de lidar...
ResponderEliminar«Agora falam! Mas deveriam ter falado antes, muito antes.»
ResponderEliminarComparo esta observação, com duas situações típicas: uma, a do fulano que entra espavorido no café e relata um encontro com seres extra-terrestres, quando percorria o caminho do trabalho para casa.
Perante isto, os amigos riem-se, chamam-lhe louco, perguntam-lhe quantos copos bebeu, ou se anda a consumir drogas.
Outra, a do combatente que se encontra na última fila do exército e, assim que o comandante dá ordem de "ataque", o fulano atrasa-se, e esconde-se até ao final da batalha. Quando esta termina, ele sai do esconderijo e junta-se aos colegas na comemoração da vitória.
Em comentários antigos a postes colocados neste blog, escrevi que em minha opinião, a saída para a crise que se vive, passava por revitalizar as pescas e a agricultura, apostar na formação profissional especializada, reduzir as importações e preferir os produtos produzidos no nosso país, regulamentar os preços e optimizar a distribuição desses produtos pelos mercados.
Desde ha 15 dias atrás, tenho ouvido o Sr. Presidente da República, em ocasiões diferentes, defender precisamente as mesmas medidas...
Ha coincidências...
Este comentário remonta a um post (22.12.09) da «Jeune». (É, portanto, narcísico). E, também a Jeune, imatura, põe em causa o PR, respeito apenas a sua eleição em democracia representativa…
ResponderEliminarSei que não é suficiente, mas aquilo que era próprio dos antepassados e da sociedade grega arquetípica, como na República de Platão, era indagar por uma definição de "justiça" (dikaiosyne) que partia da asserção de (novamente) "justiça" como "a saúde da alma". Por sua vez, esta afirmativa originava a discussão de como seria organização da polis como um macroanthropos e da alma do homem como uma micropolis. Obviamente que a este método ("deficiente") acabaria por se chamar: «dialéctica». Partira de uma hipótese para mostrar que "ela" levava a uma contradição, apresentando assim, um elenchos. Ora, se o elenchos fosse bem sucedido e, se chegasse à contradição, então, a hipótese era refutada. Isto significa o quê? Que a corrupção era motivo de reflexão filosófica e, que era essencial discutir argumentos. (…) Aristóteles no Livro V da Ética a Nicómaco: "A justiça (dikaiosyne) é a virtude que nos leva a desejar o que é justo (dikaion)". No sentido comum: dikaion pode significar tanto o legal (nomimon) como o igual (ison), uma dicotomia manifestada na linguagem popular – legal/igual que marca dois modos de se estabelecer o que é devido a outrem: pela lei ou pela igualdade...
No fundo Aristóteles pedia uma «justiça» que entenda a disposição do carácter a partir da qual os homens agem justamente (mas, veja-se: o pensamento aristotélico é altamente discriminatório). Seria o fundamento das acções justas e o que as faz ansiar pelo que é justo. Ao contrário, a injustiça seria a disposição do carácter a partir da qual os homens agem injustamente. Ou seja, o fundamento das acções fará, também, ansiar pelo injusto. Ora: "Povo manso, demasiado manso, que deixa bandos de gentalha pouco escrupulosa à solta, esperando de que lhe enfiem valentes farpas no lombo".
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ResponderEliminarPaulo
ResponderEliminarEu sei disso. De qualquer modo, os conceitos estavam lá e eram praticados. Também as mulheres só muito recentemente é que adquiriram o direito de voto e de participação cívica mais de 2.000 anos depois de Atenas como "estado ideal". E quanto à escravatura, bom, também só foi abolida no século XIX e continua a existir por aí. O que eu pretendia dizer com Atena "estado ideal" era realçar os princípios que hoje continuamos a procurar mas que já tinham sido idealizados naquela época.
Quanto aos mansos, bom, irritam-me. Falam,falam, falam, escrevem, escrevem, mas não falam e escrevem onde deviam...
Agradeço o comentário