sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

As reformas...que afinal não são reformas...

1.Passada a turbulência da discussão e votação do OE/2011 – deixou-se de falar nele, como se já estivesse tudo resolvido - entramos agora numa fase da política económica em que uma enorme confusão de ideias e um mediatismo exacerbado parecem ser as notas dominantes.
2.Torna-se cada vez mais visível que vamos perdendo todos os graus de liberdade na definição da política económica, incluindo as políticas sectoriais, à medida que “Bruxelas” – os nossos parceiros da zona Euro sobretudo – se vão apercebendo da dificuldade ou incapacidade dos dirigentes nacionais para tomar as medidas que uma situação próxima da ruptura financeira impõe.
3.Assistimos ao espectáculo curiosíssimo de os Ministros – cabendo ao das Finanças a parte de leão, imagino as insónias que deve sofrer – apanharem duras reprimendas de “Bruxelas” por não fazerem o trabalho de casa, voltando ao País vergados à penosa indicação de tomar medidas de ajustamento...que, com visível dificuldade, vão balbuciando e negando logo de seguida.
4.O que se passa em matéria de revisão das leis do trabalho é paradigmático desta fase de confusão e de atabalhoamento que as reprimendas de Bruxelas provocam nos dirigentes nacionais.
5.Num dia apregoa-se a adopção de medidas (difíceis, claro está)– despedimentos e suas indemnizações, por exemplo - no dia seguinte vira-se tudo do avesso, já não se mexe nos despedimentos...
6.Num dia anuncia-se a necessidade de mexer em pontos importantes do Código do Trabalho, no dia seguinte nega-se tal necessidade, diz-se que a aplicação do Código apenas tem de ser dinamizada (??)...
7.Ao mesmo tempo promove-se uma campanha mediática fortíssima, até à exaustão, para saudar o sucesso nas exportações, isolando deliberadamente os dados do 3º Trimestre - como se o ano se reduzisse a esse período - omitindo que os últimos dados globais divulgados pelo BdeP até Setembro evidenciam um aumento do défice comercial no corrente ano (pequeno, de € 12,8 para € 13 mil milhões, mas é aumento)...
8.E anuncia-se o lançamento de uma ambiciosa “agenda do crescimento” - criatura certamente das agências de comunicação - como se fossemos finalmente descobrir a "pólvora" do crescimento e, com um clique, por a economia de velas enfunadas num ritmo de expansão sem paralelo, de fazer inveja aos “maus" de "Bruxelas"...
9.Como diria o outro, “estamos cada vez mais na mesma”...optimismo para dar e vender...

8 comentários:

  1. Vai perdoar-me caro Dr. Tavares Moreira, mas... essa alusão às "velas enfunadas" é claramente um plágio àquela parte do post do Sr. Professor Massano Cardoso, onde ele refere a tatuágem no peito do marinheiro que viu um dia no Porto, ou no porto... não sei ao certo.
    (this is a joke do not get me wrong) ;)
    Agora a sério:
    O seu post, caro Dr.T M, deixa-me suspeitar, se Portugal, à semelhança de outros tempos passados, continua a esperar por um D. Sebastião, uma manhã de nevoeiro e um cavalo branco.
    Todas estas voltas e reviravoltas a que assistimos, são tambem, penso eu, fruto de pressões externas que ainda não fui capaz de perceber qual o efectivo objectivo que pretendem alcançar.
    Como por exemplo, a "vigilância" que a agência de notação financeira, Moody's anunciou ir colocar os bancos portugueses. Mas afinal... estamos a reinar, ou o negócio desta gente é fazer chover no molhado?! É que, para nos dizerem que coxeamos, não é preciso a vigilância da Moody's, ou da Poor's, ou do Zé dos Plásticos, porque já ninguem tem dúvidas, nem o Banco Central Europeu, que nos empresta o "arame". Aquilo que precisamos é de clareza, de transparência e justiça nas políticas fiscais. Aquilo que precisamos é que o estado cobre os impostos com justiça e que diga claramente aos pagadores, onde, quando e quanto, gastou o "guito".
    Agora esta conversa de andarmos a navegar de acordo com os ventos internos e externos... deixa a todos "mareados", menos à Sô Dona Merkel... Angela... digo eu... em grêgo!
    Agora... se todas estas
    exchange, visarem uma change que benificie as eleições eleitorais... ficamos muito próximo da estória da WikiLeaks, da prisão do Sr. Julian Assange, acusado, segundo me parece, do crime de manter relações sexuais com senhoras maiores de idade, sem recorrer ao uso do preservativo.

    ResponderEliminar
  2. Propaganda e mistificação. Começou assim, continuou assim e assim vai acabar. Em doses sucessivamente crescentes.

    ResponderEliminar
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  4. Caro Bartolomeu,

    Longe de mim a intenção de plagiar o nosso formidável contador de histórias Prof. Massano!
    se existe algum ponto de contacto entre este post e o que ele escreveu, é simples coincidência...

    Caro Eduardo F.

    E tanto dinheiro gasto nessas actividades sem valor acrescentado...pago pelos nossos impostos, ainda doi mais!

    Caro Paulo,

    Creio mesmo que segue, militantemente, a conhecida máxima "Evite a ressaca, continue a beber!"...

    ResponderEliminar
  5. Caro Tavares Moreira

    Uma "achega" ao seu comentário:
    No ponto 7, haveria que acrescentar o seguinte: os últimos dados das exportações indiciam que as mesmas não irão continuar em aumento no último trimestre mas, estagnar. Este comportamento está em linha de conta com os indicadores para o PMI, referente ao quarto trimestre, da Alemanha; ainda não tenho os dados das encomendas para o primeiro trimestre de 2011, pelo que não se pode determinar em que sentido irão, as exportações, comportarem-se.
    O comportamento seguido pelo Governo, descrito no seu post, apenas aumenta as hipoteses de acudirmos ao FEEF. Na Europa do Norte a linguagem corporal é tão importante como as declarações, algo que o "pessoal" do burgo não tem, sequer, consciência.
    Cumprimentos
    joão

    ResponderEliminar
  6. Caro João,

    Registo a sua achega, esclarecedora como é hábito.
    Eu tb não sei o que vai acontecer às exportações no último trimestre de 2010 e no 1º de 2012, o que sei é que este tipo de festejos antecipados - agravados pela manipulação desajeitada de dados estatísticos -invariavelmente acaba mal...
    O que mostar que os "nossos" dirigentes não sabem aprender com a experiência, incorrem sistematicamente no mesmo erro!

    ResponderEliminar
  7. Caro Tavares Moreira

    Nem de propósito; há pouco mais de uma hora que o Bundesbank anunciou via web, que a economia alemã iria experimentar um abrandamento considerável no primeiro trimestre de 2011....
    Recebi num destes sites que seguem os dados relevantes, neste caso é o Forex dailly

    Cumprimentos
    joão

    ResponderEliminar
  8. Caro João,

    Aguardemos tranquilamente o devir dos acontecimentos...para já sabemos que o cenário MACRO subjacente ao OE/2011 aponta para uma taxa de crescimento do PIB de 0,2%, sustentada num crescimento "heroico" das exportações líquidas.
    Veremos se existem condições para esse cenário se materializar, creio que até Maio/Junho de 2011 já teremos uma boa noção da sua exequibilidade.

    ResponderEliminar