História de um pedaço de pão
Certo dia andando a passear por uma escura viela ouvi uns gemidos lamentosos que vinham do chão.
Olhei. Só vi um pobre pedaço de pão duro. Qual não foi o meu espanto ao ver que os gemidos vinham da tal nesga de pão.
Agachei-me e com espanto disse em voz alta:
- Parece que estou a sonhar, pois deu-me a impressão que ouvi uma voz que vinha deste pedaço de pão.
Nisto ouvi uma voz fina que me dizia:
- Não estás a sonhar, meu caro, ou não sabias que nós também falamos e temos os nossos padecimentos?
Ainda com mais espanto perguntei-lhe:
- E que dores tens tu? Eu julgava que o pão não sofria…
Logo a seguir o pão respondeu-me:
- Sim, sofremos. Olha tu, homem, queres ouvir a minha desditosa história?
Cada vez mais estupefacto respondi-lhe que sim.
O pão começou a falar.
- Certo dia, depois de ser vendido numa padaria, fui levado por uma criada que brutalmente me meteu dentro de um saco. Depois, qual não foi o meu espanto, quando vi que ia fazer parte de um lanche de anos da pequenita da casa.
O pão fez uma pausa.
Cada vez mais interessado disse-lhe:
- Continua, por favor, meu pedacito de pão.
O pedacito alegre com as minhas palavras continuou.
- Quando a mesa estava posta vi aparecer um grupo de crianças que logo se atiraram a tudo. Por dificuldade fiquei nos restos e fui parar à caixa do lixo.
Quando ia para o camião dos despejos fiquei no chão.
Nisto passou por ali um pobre que me apanhou para fazer parte da sua pobre refeição.
Muito contente fiquei quando o velhinho disse que era um manjar vindo do céu.
Mas nisto, quando estava quase a ser comido, bateu à porta alguém. O velhinho foi abrir. Fiquei admirado quando vi entrar um rapazito andrajoso.
O velhinho deu-lhe um beijo e logo fiquei a saber que era seu neto. O menino parecia cheio de fome e o pobre homem escolheu-me a mim para lhe dar.
Mais uma vez fui transportado, mas desta vez em bolsos quase rotos. Ao pé de mim estava uma moeda pequena.
O rapazinho corria como uma flecha e com os solavancos caí.
O pedaço de pão parou de falar. Depois disse-me:
- E aqui me encontro desde ontem à tarde sem ninguém me ligar nenhuma.
Eu respondi-lhe:
- Ó Senhor Pedaço de Pão, tem muita razão e desde hoje, fica dentro de uma caixinha na minha casa. É só pedir e eu dou-lhe tudo o que quiser porque compreendo a sua dor.
E, assim, eu e o pedaço de pão fomos para casa.
*
Este conto foi escrito pelo meu amigo JM, pessoa com um coração grande. Este conto é uma manifestação da sua enorme generosidade e bondade, que os amigos de verdade tiveram a sorte de conhecer.
Ao ler o conto lembrei-me do pão de Santo António e da bela lenda que lhe está associada. Às tantas esse pedacinho de pão deveria ser o “pão de Santo António”. E perante a situação que vivemos bem precisamos de belas lendas para alimentar o espírito e de pão para o corpo...
ResponderEliminarCerto proverbio diz: "Guardado está o bocado (de pão?), para quem o ha-de comer".
ResponderEliminarOntem, para grande espanto meu, não foi encontrado consenso para aumentar o ordenado mínimo em 10 euros.
Este esforço representaria um encargo de cem euros mensais, para um empresario que tenha a seu cargo 10 empregados, de mil euros, para uma empresa com 100 empregados e de dez mil euros, para uma empresa que empregue 1000 funcionários, que aufiram mensalmente o vencimento mínimo.
Esta falta de entendimento entre sindicatos, e empresas, demonstra que não somos somente pobrezinhos por força do destino, não. É mesmo por vontade própria!
Caro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarPrecisamos de lendas que nos inspirem a ser mais solidários, todos, governantes e governados.
Caro Bartolomeu
Devemos reflectir como ainda é possível que existam empresas que funcionam sem terem condições para viabilizar um aumento de 25 euros e logo venham os sindicatos dizer que se não puderem então o Estado tem que arranjar subsídios para as compensar.