Este fim-de-semana desloquei-me à farmácia para aviar um medicamento que tomo com regularidade mediante receita médica. Olhei para a embalagem, para confirmar a dosagem e verifiquei que na etiqueta de barras o preço de venda estava pintado a preto. Questionei a farmacêutica porque razão o preço não estava indicado. Respondeu-me na ponta da língua com um decreto-lei do governo e foi dizendo que também ela não percebia porque razão o utente tinha deixado de ter o direito a ler o preço na embalagem.
Estive a ler o dito decreto-lei e francamente que não consigo entender o que li:
"Finalmente, o presente decreto -lei permite que seja eliminada da embalagem de medicamentos a indicação dos preços de venda ao público, apenas nos casos dos medicamentos sujeitos a receita médica comparticipados, quando o utente beneficie da comparticipação. Nestes casos, garante -se ao utente a correcta informação sobre o preço dos medicamentos no momento de dispensa nas farmácias, em que é emitida a factura. (...) A prossecução de todas estas medidas visa, no fundo, a sustentabilidade do SNS, através de um sistema de comparticipação do Estado nos medicamentos mais adequado e que garanta a efectiva acessibilidade dos cidadãos com menos rendimentos a medicamentos de qualidade, eficazes e seguros e a custos comportáveis."
Com mais ou menos comparticipação ou sem ela, a informação do preço é um direito elementar dos consumidores. Numa altura em que há uma preocupação crescente de defesa dos direitos e interesses dos consumidores, que são sempre o elo mais fraco da cadeia de valor, designadamente o direito à informação sobre os preços e as condições de venda dos bens e serviços, não se compreende a decisão do governo, nem tão pouco os seus argumentos. Acresce o facto de o medicamento não ser um produto qualquer. Pelo contrário, é um produto com exigências económicas, técnicas e éticas especiais, consumido por milhões de pessoas e que movimenta uma factura de centenas de milhões de euros. Sem preço não é possível a comparabilidade de preços e não resulta claro o nível de comparticipação e o custo final para o consumidor. Esconder o preço interessa a quem?
Muito pertinente a questão que a cara Dra. Margarida Aguiar aqui realça.
ResponderEliminarEu acho que devia ser obrigatório indicar o preço, não só nos medicamentos mas em todos os artigos, sob pena de sermos vítimas de oscilações de preços nada razoáveis, conforme a conjuntura, e até as quadras festivas.
Ainda a semana passada comprei uma pequena embalagem de pinhões (juntamente com passas, sem grainha, faz um arroz delicioso), e qual não foi o meu espanto quando ao ver a conta reparei que tinha sofrido um aumento de €3,00 o espaço de 15 dias!?
Ora, fiquei passado...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Paulo:
ResponderEliminarOs meus pinhões também teriam ficado se eu não me tivesse distraído, só em casa é que verifiquei a fatura...
É, os pinhões são caros mas podemos deixá-los na caixa, os remédios também são casos mas temos que os comprar sem sequer termos direito a saber os preços! Li não sei onde que sai carissimo estar sempre a alterar os preços e o valor das comparticipações, assim acaba-se com o problema...eliminando a informação, tipo totoloto.
ResponderEliminarCaro jotaC
ResponderEliminarNão há justificação para não colocar o preço nos medicamentos. É que não se percebe a quem interessa esta omissão. A falta de transparência é sinal de subdesenvolvimento. E por cá é coisa que não falta.
Caro Paulo
Tem toda a razão na sua observação. É muito importante que os utentes conheçam quanto custam os produtos e serviços de saúde, sejam medicamentos, internamentos hospitalares, cirurgias, elementos auxiliares de diagnóstico, etc. e como é que os custos são distribuídos por utentes, SNS ou outros sistemas de saúde, seguros, etc.
Os utentes que beneficiam do SNS ou de outro sistema de saúde deveriam receber periodicamente um extracto dos produtos e serviços utilizados, dos preços pagos, com discriminação das comparticipações.
Suzana
É uma justificação que não colhe. Uma desculpa que não se pode aceitar.
Reporto-me à primeira parte do comentário da Dra. Suzana Toscano, para reconhecer que o meu comentário deveria ter terminado exactamente assim:
ResponderEliminar-"É, os pinhões são caros mas podemos deixá-los na caixa, os remédios também são casos mas temos que os comprar sem sequer termos direito a saber os preços!"...
Claro que os remédios são imprescindíveis...