1.Muito já se disse sobre o resultado da dupla emissão de dívida ontem colocada pelo Tesouro Português: dívida a 4 anos (€ 650 milhões) e a 10 anos (€ 599 milhões).
2.E muito do que se disse foi dito – sobretudo nos meios do poder ou a este ligados – em tom de grande regozijo pelos resultados conseguidos nas emissões, ou melhor pelo resultado conseguido na emissão a 10 anos, curiosamente a de menor montante…
3.O PM foi o mais exuberante, proclamando, alto e bom som, que esta colocação de dívida demonstra que não vamos precisar da ajuda externa – coisa que não deveria ter dito pela simples razão de que não se pode concluir daqui nem que vamos nem que não vamos precisar dessa ajuda…
4.Não esquecendo a ajuda, preciosa, que já recebemos do BCE, sem a qual nem dívida haveria...
5.Atentando nos resultados das duas emissões, chega-se a uma conclusão bizarra: em relação às últimas colocações de dívida, nos mesmos prazos, o juro na emissão de 4 anos subiu de 4,0% para 5,4% - 154 pontos base, +35% - enquanto que na emissão a 10 anos baixou muito ligeiramente, de 6,80% para 6,712% (9 pontos base)...
6.Como explicar que em duas emissões de dívida realizadas no mesmo dia se tenham verificado comportamentos tão divergentes das taxas de juro? E que a taxa de juro mais favorável tivesse sido a da emissão a 10 anos, que envolve em princípio maior risco?
7.Sabemos, é claro, que a dívida a 10 anos concitava as atenções do mercado, para saber se ultrapassava ou não a fasquia dos 7%...tendo-se formado um consenso na comunicação social (errado, na minha análise) de que seria inevitável o recurso à ajuda externa, vulgo FMI, caso aquela fasquia fosse excedida.
8.Assim, as atenções concentraram-se quase exclusivamente na dívida a 10 anos, cujo juro não subiu, omitindo-se praticamente a dívida a 4 anos, cujo juro encareceu e muito.
9.Assim a dívida ontem emitida, no seu total, saiu bastante mais cara, mas a leitura política e de muitos comentadores foi no sentido inverso, de que saiu mais barata...
10.O prestidigitador Luís de Matos não teria feito melhor trabalho...
11.Continuamos na senda de preferir a ficção, procurando iludir a realidade - não nos queixemos pois das “surpresas” desagradáveis com que temos sido e iremos ser frequentemente defrontados.
O mais preocupante é que o endividamento de curto prazo com um panorama de recessão e perspectiva mais do que realista de incapacidade muito prolongada de gerar riqueza significativa indicia algo muito semelhante a um comportamento deseperado a levar-nos para uma espiral de crédito, se é que não é exactamente isso que nos está a acontecer. Não estou a ver como é que daqui a ano e meio vamos cumprir com as despesas correntes mais o pagamento de empréstimos e juros a 4,5%, a menos que haja um milagre em final de curso. Concordo totalmente com aqueles que pensam que o PM está simplesmente a endividar-nos para minimizar o desastre eleitoral do partido, isto é, que está a colocar o PS à frente de Portugal. Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas e infelizmente o passado de mentiras descabeladas favorece muito esta teoria.
ResponderEliminarAcho que as taxas praticadas podem reflectir o pensamento e a
ResponderEliminarracionalidade do mercado.
A emissão a 10 anos já fica com taxa suficientemente alta. Em caso de uma eventual reestruturação da dívida, ela começará pela referente ao prazo menor (no cado a emissão a 4 anos). Aquele a que correspondeu maior crescimento das taxas. Os mercados vão-se salvaguardando.
Mas isto é uma mera observação...não me vão acusar de querer cá o FMI...
O “sucesso” da operação resultou, ao que nos dizem, no simples facto de existem ainda “investidores” capazes de comprar a dívida portuguesa. Omitem em seus juízos o juro faraónico a que obrigam o estado português, referenciando tão só, a constatação da existência de compradores. Desgraçado do país em que os seus governantes se contentam com tão pouco.
ResponderEliminarEna, desconfianças sobre o mercado?...
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarBem visto. Como calculava, a "rapaziada" local foi atrás do Luís de Matos.
Um prémio de risco superior para um endividamento a curto prazo, versus, um de longo é, como muito bem anota Pinho Cardão, uma avaliação que o risco de uma reestruturação é superior antes de quatro anos do que depois de quatro anos.
Naturalmente que, supomos que as condições de emissão foram todas iguais em ambos os prazos.....
Isto de comparar taxas de juro de dívida com igual prazo, sem curar dos montantes que estão envolvidos é como comparar débitos de água, sem ter em conta a secção do tubo.
Espanha emite a dez anos, sensivelmente, seis vezes mais do que nós; o que se passaria, a dez anos, se emitissemos na proporção do tamanho das duas economias???
Cumprimentos
joão
Acho que andamos demasiado preocupados com o preço do dinheiro e pouco preocupados com as razões desse preço.
ResponderEliminarPorque carga de água o governo português prefere que o país pague mais por dinheiro chinês que aquilo que paga por dinheiro europeu (leia-se "ajuda solidária dos parceiros europeus por via FMI")? Que custo adicional tem este dinheiro que faça o ministro das finanças andar a lamber as chinelas dos nossos camaradas do extremo oriente para eles nos comprarem dívida acima dos juros que os nossos companheiros da construção europeia nos pediriam?
Medo do Passos Coelho não deve ser, porque daqui a 2 anos já ninguém se lembrava disto. Portanto, que custo adicional tem para Portugal esse dinheiro? Isto parece-me bem mais preocupante que mais 1%, menos 1%.
Caro Flash Gordo,
ResponderEliminarJulgo que não anda longe da verdade: o endividamento galopante a que se assiste (espero em próximo Post apreciar a explosão do endividamento em 2010)tem uma finalidade bem simples: ganhar tempo, sobreviver a qq custo...já não existe - se é que existiu - nenhuma estartégia económica...
Caro Pinho Cardão,
Não estou certo de que tenha sido essa a história real deste "leilão" de dívida...julgo que algo de mais sofisticado se terá passado...
Caro ruy,
Compreendo o seu estado de espírito e o desânimo que evidencia...
Caro CMonteiro,
Tiro fora do alvo esse, o porta-aviões não estava no lugar em que pensou! Não estamos a discutir se o mercado funciona ou não, mas simplesmente a repor a verdade sobre o resulatdo efectivo, real e não fictício, de um leilão de dívida pública...
Boa observação, caro João, essa da comparação aos débitos de água em tubos de diâmetros diversos...
caro Tonibler,
Tem muita razão, a meu ver...mas anda para aí "toda a gente" (os do costume...) feliz e contente com a ideia de nso hipotecarmos a chineses & Ca - aí já não existem os riscos dos especuladores nem das agências de rating, apesar de as condições de financiamento serem bem mais gravosas...
Parece estar tudo "doido", meu Caro...
Ninguém é tão doido. Isto tem mais que aquilo que está a ser dito e não deve ser pequeno.
ResponderEliminarPorque é que se anda a gastar tanto dinheiro para colocar os media internacionais a falar da inevitabilidade do recurso aos fundos europeus? E porque é que gastamos tanto dinheiro a fugir a isso?
Caro Tonibler,
ResponderEliminarAdmito que só mesmo Hercule Poirot fosse capaz de desvendar os enigmas (bem pesados) que estão por detrás das suas interrogações!
Não sei no Tribunal de Contas existe um Hercule Poirot luso capaz de tal trabalho - e, mesmo admitindo que sim, se teria "equipamentos" adequados para o realizar...
Pois é,...
ResponderEliminarNesse campo da fantasia
continuamos bem brilhantes,
essa baixa hipocrisia
traz resultados humilhantes.
Serão muitos anos para pagar
esse buracão embrutecido,
será um desprezível enrugar
de um regime entontecido.
Depois de tamanha brincadeira
com tanto dinheiro emprestado,
chegará essa vil choradeira
do nosso regime embestado.
Caro M. Brás,
ResponderEliminarSeja bem-vindo, já era sentida a falta da sua poesia de intervenção!
Apenas um problema na segunda quadra, quando diz "Serão muitos anos para pagar..." - não serão muiutos nem poucos meu Caro pois essa dívida nunca mais será paga!
O que vai acontecer então? Perguntará talvez estupefacto...
A minha resposta só pode ser: o que vai acontecer depois não sei...só sei que nunca, mas nunca mais pagaremos esta dívida.
E nunca pagaremos pela razão elementar que ela nunca deixará de crescer...