Ontem, dia 5 de Janeiro, Portugal emitiu pela primeira vez dívida pública em 2011, tendo colocado 500 milhões de euros num prazo de seis meses, a uma taxa de 3.686%. A procura foi 2.6 vezes superior à oferta.
Para o Secretário de Estado do Tesouro, Costa Pina, “o resultado reflecte a confiança dos investidores, nacionais mas sobretudo dos investidores estrangeiros (…) nas medidas do Governo de consolidação orçamental”.
E para o Secretário de Estado do Orçamento, Emanuel dos Santos, a taxa de juro de 3.686% paga por Portugal para emitir 500 milhões de euros em bilhetes do Tesouro a seis meses, foi “muito alta”, tendo em conta a maturidade. Mas destacou que “tivemos procura para colocar mais de mil milhões de euros”, “não obstante o preço ter subido.”
Dá vontade de perguntar: perdão?!... Importam-se de repetir?!...
A questão é esta: Portugal não conseguirá pagar taxas a este nível se elas perdurarem no tempo Depressa se percebe porquê: Ainda há cerca de um ano, para o mesmo prazo, o juro foi de 0.592%; e mesmo em Setembro último, também para uma emissão a 6 meses, a taxa foi pouco superior a 2%.
Ou seja, face a Setembro (nem vale a pena comparar com o sucedido há cerca de um ano…), o custo de financiamento para o Estado agravou-se em mais de 80%. Sim, não há engano: 80%. Claro que com os juros a este (elevadíssimo) nível, a procura só podia ser... robusta!... pudera!... Mas pior: a taxa paga está na vizinhança do que, aqui ao lado, Espanha pagou para se endividar… a 3 anos em Dezembro (para o prazo de 6 meses, o juro pedido aos espanhóis foi de 2.597% há duas semanas)!...
Tendo em conta que teremos que emitir cerca de 46 mil milhões de dívida em 2011, como será, sobretudo, quando tivermos que emitir em maturidades maiores, por exemplo a 5 e 10 anos? Que níveis de juros iremos pagar?!...
… Na próxima semana já saberemos: o IGCP anunciou hoje que tentará colocar dívida a 3 e 10 anos na próxima quarta-feira, dia 12. Mas independentemente do que vier a acontecer, o que é lastimável é a falta de bom senso e de adesão à realidade dos dois responsáveis políticos do Ministério das Finanças.
Não, não é preciso ser miserabilista, nem trágico ou catastrófico… Trata-se apenas de ter a dose necessária de realismo que é sempre tão necessária a quem exerce o poder e tem responsabilidades políticas. Porque só dessa forma será possível mostrar aos nossos credores (esses terríveis “mercados”) que percebemos o que se passa e estamos, por isso, aptos a apresentar soluções. Agora, reacções daquelas, bem que todos as dispensávamos…
Isto não é um comentário, é um pedido de esclarecimento.
ResponderEliminarPara o cidadão comum, geralmente leigo na matéria, este tipo de declarações presta-se a algumas interrogações:
1ª. Se a procura excede 2,6 vezes a oferta é porque os juros pagos são demasiado aliciantes. Pergunta: Porque é que não é possível ajustar os juros até ao ponto de equilíbrio entre a oferta e a procura?
2ª. Por esta andar, a situação tornar-se-á asfixiante e deixa de ser possível continuar a enrolar a manta. Pergunta: Porque é que não se começa desde já a renegociar as condições do reembolso da dívida?
3ª. "Trata-se apenas de ter a dose necessária de realismo que é sempre tão necessária a quem exerce o poder e tem responsabilidades políticas."
Pergunta: Em que é que consiste esse realismo para além, evidentemente, do termo da imitação supérflua do Dr. Pangloss?
O que se está a passar, meus caros, é que decorre uma tenebrosa e secreta conspiração, aparentemente contra Portugal e a sua economia.
ResponderEliminarEu explico;
Portugal é conhecido do mundo pelo seu espírito de pioneirismo. Todos os povos conhecem a diáspora Lusitana, a tenacidade e a capacidade que nos caracterizam e nos conduzem para as soluções - quantas vezes milagrosas- de problemas que mais ninguem consegue.
O mundo atravessa um periodo generalizado de crise económica, sicial, ambiental, religiosa, ética, etc.
A solução que o "mundo" encontrou, para resolver essa(s) crise(s), foi precisamente a de "bombardear" Portugal com todos os problemas do "mundo", na esperança derradeira que daqui brote, como de fonte rasgada na penedia, a solução cristalina, líquida que irá salvar o mundo.
E se não for Portugal a fazê-lo...o "mundo" estará perdido!
(Claro que não estou a brincar... é só dar tempo ao rempo, verão!)
Caro Rui Fonseca:
ResponderEliminarComo sabes bem o que se passa, a tua 1ª pergunta é apenas retórica.
Pergintas "se a procura excede 2,6 vezes a oferta...por que é que não é possível ajustar os juros até ao ponto de equilíbrio entre a oferta e a procura?".
Simplesmente, porque a procura real não excede 2,6 vezes a oferta.
O meu amigo já não viu notícias de que até nas salas de Mercado dos Bancos Operadores do Mercado Primário (OMP) é voz corrente que os Bancos vêm sido sensíveis aos apelos do governo no sentido de incrementarem a procura, mesmo que a taxas proibitivas, para que rácios como o indicado possam ser apresentados publicamente?
Portanto, o raciocínio do meu prezado amigo seria correcto, caso a lei da oferta e da procura funcionasse livremente. Mas quando se violenta a procura, a lei deixa de poder ser aplicada.
Obrigado, António.
ResponderEliminarContinuo, no entanto, com a mesma dúvida: Se a procura é artificial por que é que não é denunciada e a mentira contida? Por que é que continuam a fazer das pessoas um rebanho de pategos?
Já agora, só mais um favor: Esclarece-me acerca das duas outras questões já que o nosso deputado deve ter mais que fazer do que responder a perguntas de um leigo.
Caro Rui: ´
ResponderEliminarEstás a ver os Bancos a anunciarem as pressões do Governo ou do IGCP? Oh Rui!...
Quanto às outras questões, o melhor é aproveitar outro post e perguntar novamente ao nosso amigo deputado. De certeza que ele terá honra e prazer em responder.
Abraço
Como gostaria que em meu Brasil houvesse pessoas com tamanha consciência para expor até em blogs a situação fiscal de nosso pais.
ResponderEliminarSendo mais sonhador, adoraria ver pessoas respondendo ao imaginado post, tal qual seus leitores.
Ás vezes representa que só esqueceram de nos ensinar a termos sentimento de posse pela nossa pátria.