Londres, 15 de Agosto de 1885
Minha Senhora
A sua carta não diz “nem de mais nem de menos”. E se bem interpreto a sua natural e delicada reserva ela exprime um consentimento que me enche de uma incomparável felicidade e da mais absoluta gratidão. E, neste momento, no meio desta grande emoção que me causa a repentina possibilidade que se unam os nossos destinos, eu só posso responder sem mais palavras ofertando-lhe a afeição e a dedicação de uma vida inteira.
Londres, 30 de Setembro de 1885
(…) Aqui está, minha querida amiga, o que é uma mulher lidar com homens de imaginação! Eles vibram facilmente demais, e são de uma natureza tempestuosa. Ah, se eu fosse mulher eu bem sei que homem escolhia! Escolhia-o grave e fleumático, tão meticuloso nas suas palavras como no arranjo das suas gravatas, sem a menor possibilidade de exaltação nem a menor pontinha de ideal, medindo os sentimentos a compasso, correcto, ligeiramente majestoso e leitor embevecido dos artigos de fundo do Ilustrado. Tal seria o meu doce bem-amado. Que lhe parece? Não me arrebataria ao céu nas rajadas da sua paixão, bem sei; nem me faria jamais palpitar divinamente de emoção. Paciência! Mas também não me arrastava pelos cabelos através dos caprichos da sua fantasia, nem me sacudia o coração a ponto de mo quebrar, nem disparatava por causa de subtilezas de sentimento. E talvez não deixasse de haver felicidade nessa apática e morna tranquilidade. Ora se eu fosse como um noivo ideal não lhe teria escrito ontem num tom arrebatado e un peu tragique. É verdade que, por outro lado, também, não a adorava com a mesma adoração. E esta é a moral do caso: é que me impressionei tanto com as suas menores palavras – porque a adoro. Et il faut toujours pardonner bien à qui nous aime bien. (…)
Londres, 30 de Setembro de 1885
(…) Aqui está, minha querida amiga, o que é uma mulher lidar com homens de imaginação! Eles vibram facilmente demais, e são de uma natureza tempestuosa. Ah, se eu fosse mulher eu bem sei que homem escolhia! Escolhia-o grave e fleumático, tão meticuloso nas suas palavras como no arranjo das suas gravatas, sem a menor possibilidade de exaltação nem a menor pontinha de ideal, medindo os sentimentos a compasso, correcto, ligeiramente majestoso e leitor embevecido dos artigos de fundo do Ilustrado. Tal seria o meu doce bem-amado. Que lhe parece? Não me arrebataria ao céu nas rajadas da sua paixão, bem sei; nem me faria jamais palpitar divinamente de emoção. Paciência! Mas também não me arrastava pelos cabelos através dos caprichos da sua fantasia, nem me sacudia o coração a ponto de mo quebrar, nem disparatava por causa de subtilezas de sentimento. E talvez não deixasse de haver felicidade nessa apática e morna tranquilidade. Ora se eu fosse como um noivo ideal não lhe teria escrito ontem num tom arrebatado e un peu tragique. É verdade que, por outro lado, também, não a adorava com a mesma adoração. E esta é a moral do caso: é que me impressionei tanto com as suas menores palavras – porque a adoro. Et il faut toujours pardonner bien à qui nous aime bien. (…)
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(Eça de Queiroz a sua noiva, Emília de Castro) in Cartas de Autores Portugueses coligidas por José Ribeiro da Fonte, ed. CTT
Óh que palavras eloquentes e sublimes para exaltar o amor...
ResponderEliminar:)))
caro jotac, por isso mesmo as escolhi ;)
ResponderEliminarQue belo namoro!
ResponderEliminarA paixão e o amor não têm épocas, mas o modo de o exprimir altera-se com os tempos...