Como referido no post anterior, em Julho de 1993, Mario Conde deslocou-se a Lisboa, para dar conta ao 1º Ministro, Cavaco Silva, de que o Banesto possuía, directa ou indirectamente, 50% do Banco Totta & Açores, à revelia do limite estabelecido pela lei da privatização lhe permitiria ter apenas 10%.
"Terça-feira, 20 de Julho, reuni-me com o 1º Ministro português. Recebeu-me frio…altivo orgulhoso distante, soberbo".
-Veja, disse Cavaco, o Banco Totta & Açores é uma jóia de Portugal, uma peça-chave do sistema financeiro português. Não vamos deixar que se vá. Não o privatizamos para que acabe em mãos espanholas.
"Mau começo, pensei. Este homem não fica pela rama. Quando inicias uma conversa com semelhante intróito, as possibilidades de sair ileso, financeiramente falando, são absolutamente nulas. Não obstante, disse:
- Entendo-o. Mas para nós também é uma jóia e por isso o comprámos. Sabemos que é português, mas estamos no Mercado Único…"
Cortou-me logo a exposição, com um tom de agressividade pelo menos igual à anterior.
-Veja, uma coisa é falar de Mercado Único, outra é viver a política cada dia. A mim, são os portugueses que me pagam e eu vou fazer o que é bom para Portugal.
-Mas os políticos falam de eliminar fronteiras, de mercados únicos…
-Insisto: as palavras são uma coisa, os actos, outra.
Aguentei o temporal como pude, expondo com voz suave e terminologia de compromisso umas ideias força: não os entendo, já que por um lado enchem a boca com o mercado único e por outro aparecem os vestígios históricos de um nacionalismo sem sentido…
Mas para Cavaco isso tanto lhe dava como se lhe deu. Despediu-me com a mesma frieza com que me havia recebido… "
Continua. Mario Conde recorre ao Presidente da República Mario Soares
"Terça-feira, 20 de Julho, reuni-me com o 1º Ministro português. Recebeu-me frio…altivo orgulhoso distante, soberbo".
-Veja, disse Cavaco, o Banco Totta & Açores é uma jóia de Portugal, uma peça-chave do sistema financeiro português. Não vamos deixar que se vá. Não o privatizamos para que acabe em mãos espanholas.
"Mau começo, pensei. Este homem não fica pela rama. Quando inicias uma conversa com semelhante intróito, as possibilidades de sair ileso, financeiramente falando, são absolutamente nulas. Não obstante, disse:
- Entendo-o. Mas para nós também é uma jóia e por isso o comprámos. Sabemos que é português, mas estamos no Mercado Único…"
Cortou-me logo a exposição, com um tom de agressividade pelo menos igual à anterior.
-Veja, uma coisa é falar de Mercado Único, outra é viver a política cada dia. A mim, são os portugueses que me pagam e eu vou fazer o que é bom para Portugal.
-Mas os políticos falam de eliminar fronteiras, de mercados únicos…
-Insisto: as palavras são uma coisa, os actos, outra.
Aguentei o temporal como pude, expondo com voz suave e terminologia de compromisso umas ideias força: não os entendo, já que por um lado enchem a boca com o mercado único e por outro aparecem os vestígios históricos de um nacionalismo sem sentido…
Mas para Cavaco isso tanto lhe dava como se lhe deu. Despediu-me com a mesma frieza com que me havia recebido… "
Continua. Mario Conde recorre ao Presidente da República Mario Soares
Fantástica, esta sua forma de nos levar a visitar episódios da nossa história recente, aproveitando das suas leituras, muito obrigada pelo trabalho!
ResponderEliminarDr. Pinho Cardão
ResponderEliminarRecordo-me bem do dossier Totta/Banesto. O episódio que nos conta também nos mostra como são por vezes contraditórios os compromissos assumidos nos diversos planos políticos e como evolui no tempo a perspectiva dos interesses em jogo. A política tem muito destas coisas...