1.O reputado economista Vítor Bento, que tenho na conta de um dos que analisam de forma mais lúcida as fragilidades da economia portuguesa – e apontado soluções para a política económica – disse ontem, em intervenção pública a que os “media” deram bastante eco, que precisamos de reduzir a dívida externa bem mais do que reduzir o défice orçamental e a dívida pública.
2.Bento recordou e bem que a dívida externa portuguesa, cujo valor bruto ultrapassa 230% do PIB e em termos líquidos excede 110% do mesmo PIB, constitui a maior ameaça ao desenvolvimento da economia, que vai ficando asfixiada pelas limitações de financiamento.
3.Essa asfixia é já hoje bem visível nas imensas dificuldades de acesso a crédito bancário por parte de um grande número de empresas e no extraordinário encarecimento desse mesmo crédito: “spreads” de 4%, 5%, 6%, 7% e mais, são hoje comuns, agravando pesadamente os custos financeiros das empresas e pondo em risco a competitividade das que se encontram expostas à concorrência externa.
4.Esta situação, que é relativamente recente e que tende a agravar-se, é resultado da escassez de financiamento por parte dos bancos, que para além dos depósitos de residentes, têm grande dificuldade em aceder aos mercados monetário e de capitais externos – porque o endividamento externo ultrapassou os limites que os mercados consideram aceitáveis.
5.V. Bento tem pois razão, ao apontar o dedo a este problema que representa hoje, sem dúvida, o maior constrangimento que a actividade económica enfrenta - embora o Governo faça todos os possíveis por disfarçar, assobiando para o ar...
6.O grande problema está em saber como se pode reduzir o endividamento externo, numa altura em que ele continua a subir ao ritmo de quase 10% do PIB ao ano (estamos pois a falar de qualquer coisa como € 17 mil milhões/ano, quase € 50 milhões/dia)...
7.O próprio V. Bento reconhece que se trata de uma tarefa dificílima, embora acrescente que é tão difícil quanto indispensável e inadiável. E fez questão de notar que desde 1960 mantemos um défice anual da balança comercial nunca inferior a 5% do PIB, (sendo actualmente da ordem de 10% do PIB), pelo que a correcção deste desequilíbrio requereria uma revolução na estrutura da economia portuguesa.
8.Mas a maior dificuldade que hoje se coloca resulta de, em cima desse crónico e histórico défice comercial termos criado, por irresponsabilidade política sobretudo, em pleno século XXI, um novo défice - dos Rendimentos – o qual se aproxima rapidamente de 5% do PIB e que consome a totalidade do “superavit” dos Serviços (2/3 do qual é do Turismo) e das Transferências Unilaterais (vulgo Emigrantes).
9.A partir de 2011 o défice dos Rendimentos – que é uma consequência directa do nosso endividamento ao exterior - deverá mesmo exceder 5% do PIB, sendo pois um novo e pesadíssimo constrangimento a acrescentar ao “velho” défice comercial.
10.Como sair disto? Se Vítor Bento dissesse que só emagrecendo o Estado em qq coisa como 40%, iria certamente ser acusado de PRECONCEITO IEDOLÓGICO...mais vale pois, sem preconceitos ideológicos, manter o défice externo que nos vai asfixiando...
Juntando os spreads a que faz referência, os prazos de pagamento de clientes, a justiça incapaz de fazer cobrar dívidas a tempo, as estreitas margens comerciais que se aplicam em alguns pequenos e micro-negócios, os impostos e as taxas e preços proibitivos de alguns factores essenciais (gasolina, electricidade, etc), tiro o chapéu a quem consegue abrir a porta do negócio todos os dias pela manhã sem levar com uma rajada de metralhadora que quem governa vai disparando ao acaso. Faz lembrar um tipo que está na trajectória de um meteoro gigante que cai do céu e em vez de fugir desata a tirar fotografias para depois recordar.
ResponderEliminarEis o fruto da longa noite socialista de quase 40 anos..37 anos ? não é ?
ResponderEliminarQuase 40 anos de longa noite socialista dá estes frutos !!!
São estes ..senhores ..são estes ..
E agora querem soluções ?
Precisa-se um ANTI MARIO SOARES (com tudo o que isso significa )!!
Alguém que acredite no individuo e esteja disposto a tudo para o proteger!!O INDIVIDUO ...NÃO O COLETIVO !!
Enquanto isto não fôr ensinado nas creches ..nas escolas ..nas universidades ..na tv ..na radio .. na internet ..na musica..
Onde em Portugal iria aparecer uma banda a tocar as virtudes de um microcapitalista..??
http://soundcloud.com/amnesiadiscos/acredite-em-suas-acoes
É que é com nuvens de microcapitalistas que um país floresce ..enriquece ..
Bem. uma coisa que ajudava era que os economistas começassem a adaptar a sua linguagem no sentido de, pelo menos, se conseguir dar algum valor àquilo que dizem.
ResponderEliminarClaro que a resposta ao "como?" não pode aparecer quando a única coisa que fazemos é olhar para métricas agregadas do sistema, ainda por cima sem sequer acertar nelas. E isto é uma crítica que faço, com todo o respeito, a todos os economistas, quase sem excepção.
O PIB é uma primeira derivada, só faz sentido físico comparar com outra primeira derivada de alguma coisa. Por exemplo o juro da dívida, não com a dívida. Muito menos comparar uma segunda derivada, o crescimento do PIB, com uma primeira derivada, o juro, como ouvi outro dia fazer um presidente de uma ilustre escola de economia de Lisboa(o que também explica o sucesso dos professores da matéria a mexer no nosso dinheiro).
Parece que estou a ser picuinhas mas, concordando com o Vitor Bento, o facto é que as justificações não fazem qualquer sentido.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarEm épocas de crise as soluções que encontramos ou mais precisamente, as que se equacionam, por força das circunstâncias, devem ser, ou poderão ser heterodixas ou, mesmo, iconoclastas.
Vamos a um par delas:
a) A maioria dos cidadãos portugueses podem suportar os custos de casa própria?
Naturalmente que não. Qual o problema de promover a concentração da propriedade urbana e, en passant, promover o investimento?
Vamos simplificar: assegurar ao arrendor um retorno pelo menos igual ao rendimento real e líquido da dívida soberana a dez anos?
E..tornar fiscalmente apelativo, ao arrendatário, o valor pago pela renda, de tal modo que, para os escalões mais baixos seja mais rentável o arrendamento.
b) Podemos suportar os serviço das PPPs nas condições contratualizadas? Claro que não. O que falta para, por motivo de alteração de circunstãncias, renegociar os termos, por forma a permitir que o "fardo" seja amenizado?
c) Podemos continuar a ignorar que temos uma economia subterrãnea que, de acordo com alguns estudos, atinge 25% do PIB? O que estamos à espera para criar as condições em que a denúncia cívica possa ser remunerada e incentivada?
d) Vamos continuar a considerar que, alguns factores de produção pode continuar a ser rígidos, mesmo que isso signifique perder quota de mercado? Claro que não, então porque não flexibilizamos a remuneração, "atrelando" (ao menos numa parte significativa) ao rendimento da entidade em que prestamos serviço?
Como vê, não é necessário "gastar" dinheiro.
Claro que nõa esgotei o tema, apenas pretendi ser "incorrecto" face ao opressivo pensamento único que nos oprime, como os impostos...
Cumprimentos
joão
Sublinho a parte final do seu post. Ai de quem procure demonstrar que o caminho está na recondução do Estado às funções de regulação, de soberania e de estrito interesse público! Há uns tempos atrás seria apelidado de tenebroso neo-liberal. Depois das receitas aplicadas pelos governos dos partidos que a si mesmo se apelidam de socialistas que ainda governam na Europa - curiosamente, ou não, Espanha, Grécia e Portugal - defender a devolução de recursos à economia pelo emagrecimento do Estado é preconceito ideológico.
ResponderEliminarNão haverá forma de acabar com o preconceituoso respeito para com estes delírios de Nero enquanto Roma arde?
Caro Flash Gordo,
ResponderEliminarO que refere é pertinente, a escassez de financiamento e o seu súbito encarecimento não são os únicos problemas das empresas, longe disso, infelizmente - mas são agora os que mais as preocupam, como revela um inquérito entretanto (hoje salvo erro) divulgado.
Caro Caboclo,
Pois é, pois é, mas o problema é o tal PRECONCEITO IDEOLÓGICO para que a academia socialista nos vem alertando e contra o qual o indomável M. Alegre tanto lutou e sofreu...uma barreira intransponível, por ora, à tomada de decisões racionais, necessa´rias e indispensáveis...
Caro Tonibler,
Lamento estar desta vez em aberto desacordo com o meu caro...o PIB, sendo uma grandeza diferencial - não sei bem se é uma derivada, talvez não seja - serve muito bem para perceber até que ponto um País está ou não a exceder-se em dívidas..
Medindo o valor acrtescentado bruto em cada ano, faz bastante sentido que a montanha de dívidas que acumulamos, por exemplo, seja medida em relação à nossa capacidade de produzir valor...
Porque essa montanha de dívidas está agora "parindo" não um rato mas um fluxo negativo de rendimentos que´o PIB terá de suportar...ou não poderá suportar como parece mais provável...
Que inveja eu já tenho do Mississipi, meu caro...
Caro João,
O problema com as suas propostas é de natureza semelhante ao do que já mencionei a Caboclo, o do PRECONCEITO IDEOLÓGICO...olhe que a academia socialista anda mesmo muito atormentada com essa visão fantasmagórica das reformas necessárias...e estará disposta mesmo a dar o peito às balas, se necessário comandada, de novo, pelo indomável M. Alegre!
Magnífica a sua conclusão final, caro F. Almeida, parece que neste caso Roma terá mesmo de arder até final...o combate ao PRECONCEITO IDEOLÓGICO é prioritário!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarClaro que pode medir tudo relativamente ao PIB. Mas tem os comentadores da vida a pegar nesses mesmos argumentos para demonstrar que o Mississipi, esse modelo de gestão macroeconómica, com os mesmos rácios vive muito melhor ou muito pior. E nem sequer se pode dizer que não tenham razão.
Claro que se meter o activo contra a dívida(impossível), o PIB contra o juro(em cash), o crescimento do PIB contra o crescimento do juro(em %) as coisas começam a fazer algum sentido e a ganharem um carácter intemporal(os físicos fariam logo este exercício). É porque dizer que temos um défice de 5% desde 1961 significa que estamos falidos desde 1980 ("para aí"). Como não estamos, todo o raciocínio está errado. Como todo o raciocínio está errado, então o raciocínio do Sócrates que me diz que devo gastar mais para viver melhor começa a fazer mais sentido que aquele que está manifestamente errado. E acabamos a dizer as mesmas coisas...
Claro que o Victor Bento tem razão. Só que dar os argumentos errados continua a ter razão por muito tempo e o Sócrates a faze-la.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEntramos em clara fase de divergência, desta vez - mas sempre amigável, como é timbre de bons desportistas (até o "miúdo" e o "graúdo" parecem capazes de se reentender, nós, por maioria de razão, divergimos mas não nos desentendemos...).
Quando V. Bento refere o exemplo histórico de uma balança comercial com um´défice de 5% do PIB ou mais (nos últimos anos mais de 10%...), é exactamente e apenas para enfatizar que uma alteração deste padrão de comportamento do comércio externo é um objectivo quase utópico...
É evidente que durante muitos anos esse défice comercial não constituiu qq problema - sendo por isso deslocado falar em falência por alturas de 1980 ou coisa parecida - uma vez que esse défice foi por longo tempo compensado pelo superavit dos serviços (leia-se turismo) e das tansferências unilaterais...
Agora esse paradigma mudou completamente com a emergência do novo défice, dos Rendimentos, que absorvendo totalmente aqueles superavits, deixa o défice comercial completamente nú...
Em abono da tese do Post devo dizer-lhe que, precisamente neste momento, o ambiente a nível empresarial (excluindo 1/2 dúzia de empresas com mercado cativo) é de verdadeiro alarme quanto ao súbito agravamento das condições de financiamento...
Não estamos pois a apontar o dedo a qq coisa que se possa iludir ou contornar por mais tempo: o vulcão entrou mesmo em actividade, depois de muitos anos e meses de ameaça, assobiar para o ar já nada disfarça...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarAs pessoas não procuram a verdade voluntariamente, elas seleccionam os dados que corroboram uma opinião que já têm ou que vai de encontro aos seus interesses de curto prazo. Por isso é que os jornais se alinham com um partido ou com um clube, para serem lidos pelos respectivos adeptos. Se as pessoas procurassem a verdade, afastar-se-iam dos jornais tendenciosos.
Isto para falar no que é evidente. Não é evidente. Nada é evidente num sistema cujas métricas mais importantes são latentes. Por exemplo, o défice comercial americano é muito maior e eles vivem bem, logo o Sócrates é que tem razão ao dizer que o estado me deve continuar a subsidiar o meu enorme intelecto e assim vamos ser mais ricos que os dinamarqueses.
Podemos ver as cosias ao contrário, claro que o vulcão já entrou em actividade e a evidência vai surgir daí. Mas não surgiu antes porquê?
O pior é que vou ter que aturar os meus amigos economistas todos a dizer que "era óbvio...." que tudo se deve à gula, à desregulação, a.... Porque é que os economistas não mostram as evidências de facto?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarA evidência não surgiu antes pela simples razão de que surgiu agora...com esta é que o meu amigo não contava, esta é mesmo de economista encartado e "ordenado" (embora não seja "ordenado", devo esclarecer)!
Quanto aos pobres economistas que por aí pululam - eu tenho pelo menos a vantagem de nem chegar a se-lo, foi por acidente de percurso que enveredei por esta carreira, podia ter-me dado para pior - deixe-os em paz com as suas virtuosas e arriscadas previsões de factos passados...
Eles têm que justificar o que ganham, são como os quiromantes que acertam uma em dez, e nem dispõem do equipamento bola de cristal, coitados!
E há-os bem famosos, como sabe, pagos a peso de ouro e que nem uma acertam!
Caro Paulo,
Eu não disse tal coisa, nem a isso me atreveria pois seria acusado de PRECONCEITO IDEOLÓGICO e tenho um enorme pavor que me atribuam tal aleivosia!
Eu apenas admiti, mesmo assim temerariamente devo confessar, a possibilidade de V. Bento sugerir tal hipótese, embora advertindo que, caso o fizesse, seria igualmente apodado desse estigma político-social!
O Estado é sagrado, com ele temos a garantia de bater no fundo, financeiramente asfixiados, mas em estado de felicidade!
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarDeixe o Alegre em paz! Perdeu as eleições e já não faz comichões. Concentre-se no Cavaco, com a sua "magistratura activa". Ele é o actor político number one...
Caro Fartíssimo dos SS,
ResponderEliminarOra ainda bem que está de regresso, cheguei a recear que tivesse ficado completamente KO após a vitória eleitoral de C. Silva!
E de regresso em força, pelos vistos, solicitando-nos que deixemos Alegre em paz...
Certamente que não será por nossa causa, pobres 4R, que M. Alegre não terá paz, meu caro!
Sugiro-lhe como alternativa, porventura mais eficaz, indagar, pesquisar ( arduamente se necessário) outras causas da presumível falta de paz de que estará padecendo M. Alegre - a fazer fé nas suas palavras, claro!
Será o desmoronamento do Estado social que os seus camaradas estão empreendendo com invulgar determinação e destemor?...
Aqui tem uma primeira pista para o trabalho de investigação que aqui, amigavelmente, se sugere...
Crise ? quem será que compra disto em Portugal ?
ResponderEliminarMais algum gestor de mais uma empresa publica ??
http://edition.cnn.com/2011/TECH/innovation/02/03/jetpack.jetlev.water.sports/index.html?hpt=C2
força aí...
é que pelos vistos as encomendas chegam do Dubai e Portugal !!!!!
ResponderEliminarNunca fico KO, caro Tavares Moreira. É uma questão de fair play. Mas acho pouco próprio falar dos "vencidos" com petulância e arrogância, seguindo as pisadas do chefe. Mas o que sucede agora é que o caro Tavares Moreira dispõe de alguém que diz exercer uma "magistratura activa". A ver vamos. Quando falar do sr. Pinto de Sousa terá de falar também do Senhor Silva! A responsabilidade também é de quem está no poleiro. Ou não será? Talvez não seja porque o Presidente da República está, sempre esteve e sempre estará fora da política... Já nasceu assim! Está ungido!
ResponderEliminarCaro Fartíssimo,
ResponderEliminarVerifico, desolado, que ficou mesmo K.O. por força do resultado das eleições...a sua resposta denota-o à saciedade!
Mas não era motivo para tal, caro Senhor! Há mais vida para além das eleições, como agradavelmente acabará por concluir!
Ânimo, Homem!