1.Um notável artigo do colunista Martin Wolf, publicado na edição do F. Times de 11 do corrente, deixou claro que a reestruturação da dívida da Grécia, agora tema de moda, deixou de ser questão de saber “se” mas apenas de “quando e como” vai acontecer.
2.Wolf apresenta alguns cenários do comportamento da economia e das finanças públicas gregas para que o País conseguisse estancar a subida do nível da dívida pública que se situa actualmente em cerca de 160% do PIB.
3.Admitindo um nível de taxa de juro de 6%, em vez dos 16% que a dívida grega de longo prazo teria actualmente de pagar no mercado, e com a economia a crescer 4% ao ano em termos nominais, seria necessário que a Grécia gerasse um excedente orçamental primário (antes de juros) de 3,2% do PIB para que a dívida pública deixasse de aumentar...
4.Dentro dos mesmos pressupostos de taxa de juro e de crescimento do PIB, para que a dívida descesse até 2040 para o limite estabelecido no Tratado de Maastrich, de 60% do PIB, seria necessário que o País gerasse todos os anos um excedente orçamental primário de pelo menos 6% do PIB...
5.Basta enunciar estes cenários e conhecer a realidade das finanças públicas gregas, com um défice superior a 11% do PIB em 2010 apesar das duras medidas de austeridade adoptadas desde Maio desse ano quando negociou um acordo de resgate com a EU/FMI, para se perceber que tais cenários mais não são do que uma miragem...
6.A conclusão é óbvia: a dívida pública da Grécia não poderá ser paga nas condições actuais, o País irá entrar em “default” mais cedo ou mais tarde, quanto mais tarde mais penosa será a insolvência para os credores e para o País.
7.Daí que Wolf enuncie duas teóricas soluções: (i) a primeira é a totalidade da dívida pública grega ser assumida pelas instâncias oficiais, FMI e Mecanismo de Estabilidade Europeu (que deverá substituir o Fundo de Estabilização Financeira em 2013), por tempo indefinido; (ii) a segunda é uma reestruturação da dívida, tão rapidamente quanto possível, em termos que permitam o seu cumprimento futuro.
8.A primeira hipótese está excluída por ser politicamente inviável: não é imaginável que os restantes países europeus queiram aceitar uma solução com uma tal dose de “moral hazard”, e que os membros não-europeus do FMI estivessem dispostos a aceitar uma intervenção do Fundo em tais termos.
9.Resta pois a reestruturação, mas se esta não tiver uma componente (significativa) de “hair-cut”, atingindo todos os detentores de dívida incluindo os privados, de pouco valerá, pois significará apenas um adiamento do problema...
10.Mas mesmo essa reestruturação não garante a solução do problema económico da Grécia pois a economia padece de uma enorme perda de competitividade que a redução da dívida pública não corrigiria como é evidente...anos sucessivos de deflação seriam ainda necessários...
11.Depois de um período de negação sistemática, os responsáveis europeus começam agora a admitir a necessidade de reestruturação da dívida grega – mas apenas uma reestruturação do tipo “soft”, alterando o perfil temporal da dívida, sendo proibido falar em “haircut”...
12.Transcrevo uma das considerações finais de Wolf: “The saga is most unlikely to end with Greece. Other peripheral countries – Ireland and Portugal for example – are also likely to find themselves locked out of markets for a long time...”.
13.Só espero que Martin Wolf não tenha razão quanto a este último aviso...
«com a economia a crescer 4% ao ano»
ResponderEliminarFazendo e produzindo o quê?
Com quem?
«uma componente (significativa) de “hair-cut”»
Que remédio,mas mesmo assim.
Tudo previsível.
Desde que se abriram as fronteiras orientais.
Enquanto, mesmo com declínio populacional, se mantiver a situação provocada pelo progresso material: 'excesso' de população.
As guerras do século XX, acabaram por ter tiveram um efeito 'regulador' nas demografias dos países atingidos.
No presente futuro, afinal com o crescente fosso de rendimentos entre dirigentes e dirigidos, fruto da economia e da 'sua' política,
espere-se pelo resultado: algo como as lutas sociais numa certa potência da antiguidade.
Aguarde-se pela experiência grega.
E nós, caro Dr. Tavares Moreira? E nós? Não está bom de ver que, no futuro próximo da Grécia, podemos ver o nosso, eventualmente não muito longínquo?
ResponderEliminarE nós?
Caro Tavares Moreira, estes processos de "salvação" lembram-me inevitavelmente a história da Cinderela, quando pede à madrasta para ir ao baile. Claro que sim, diz a madrasta, desde que laves a roupa, limpes a casa, incluindo o sótão, as escadas, as paredes e os tectos, desde que dês banho aos cães e comida às galinhas e, claro,desde que tenhas um vestido, sapatos e jóias para te apresentares na festa. Então sim, minha filha, poderás ir ao baile connosco hoje, às 8.00 em ponto. Sabe-se a história, só mesmo com fada madrinha e mesmo assim acabou a mágica à meia noite.
ResponderEliminarCaro BMonteiro,
ResponderEliminarProduzindo o quê, compete aos helénicos responder...
Já o crescente fosso de nível de bem-estar entre os(péssimos) dirigentes e os dirigidos - que é aquilo a que estamos a testemunhar entre nós - considero-o um problema muito sério, potencialmente.
Caro AF,
Quanto a nós, Martin Wolf o disse...limitei-me a acrescentar que espero que a sua profecia não seja cumprida.
Cara Suzana,
É muito interessante que tenha evocado a história da Cinderela, pois M. Wolf, no seu texto, começa por evocar uma outra velha história, a de um condenado à morte a quem o rei concedeu a "graça" de viver mais um ano e de, ao fim desse ano, ser restituído à liberdade desde que, durante esse prazo, fosse capaz de ensinar o cavalo de estimação do rei a falar...
Quando lhe perguntaram porque razão aceitou tal desafio respondeu: "Durante este ano muita coisa pode acontecer, o rei pode morrer, eu posso morrer, e até o cavalo do rei pode aprendera falar...".
Wolf compara a Grécia ao condenado e os responsáveis da zona Euro ao rei que concedeu ao seu subdito a graça de viver mais um ano e depois muitos mais, desde que cumprisse a original condição...
Pois eu, gosto muito da Grécia e em Junho vou lá dar um pulinho, quanto ao resto, é claro que vai sobrar para nós! Para nós e para o resto da malta toda, ou acham que a UE vai sair do meio disto tudo sem mazelas? É o vais!
ResponderEliminarNós estamos aqui a olhar para o nosso umbiguito e a ver como é que vamos resolver o problema, mas o que se passa neste 3 países tem consequências ao nível da UE e se a Espanha não conseguir controlar a sua situação, aí sim é que vai ser o fim da macacada.
Do meu ponto de vista, caro Dr. T. Moreira, o futuro da Grécia, passa pela Turquia e a entrada desse pais em pleno, na UE.
ResponderEliminarMas... tal como com o condenado a quem o rei concedeu um ano de pena em stand-bay... também a UE pode morrer, ou a Turquia... ou a Grécia pode ser reanexada à Turquia. Os estados aprenderem a falar, é que me parece mais difícil...
Cara Anthrax,
ResponderEliminarFaz muito bem em gostar da Grécia ou não fosse a Grécia um dos berços da civilização ocidental!
Se não conheceainda Creta,tomo a liberdade de lhe recomendar uma visita, vale bem a pena!
Quanto ao resto, com as mazelas da UE que refere, eu até posso bem, com as nossas é que tenho mais dificuldade...
Já agora convém não esquecer a famosa "crise internacional" que os nossos clarividentíssimos incumbentes não se cansam de proclamar...apesar de já ter desaparecido do mapa há um ror de tempo!
Caro Bartolomeu,
Está-nos a dar uma excelente sugestão...
Uma possível fusão (eventualmente por aquisição, amigável ou hostil, tanto faz)entre a Grécia e a Turquia pode ainda vir a ser a chave da solução para este imbróglio em que a Grécia está metida!
Caro Tavares Moreira, não li o artigo de MW mas acho que é um sentimento que resulta do senso comum, avaliar as condições impostas e a sua razoabilidade prática, o problema não é sobretudo de quem não as cumpre mas de quem as impõe sabendo perfeitamente que pede o impossível. Desde que, evidentemente, cada "salvado" faça o esforço que pode e deve para se redimir, tudo o resto é uma questão de bom senso.
ResponderEliminarcara Anthrax, já somos duas, eu gosto imenso da Grécia,desejo-lhe um belo passeio e sobretudo que não apanhe muito calor.
Ó Dr. TM, a propósito da "crise internacional" ainda estou à espera da sua análise sobre a Islândia.
ResponderEliminarRelativamente à relação "Sinhor Inginheiro" / "crise internacional", o homem pode dizer o que quiser, agora não pode é apagar anos de governação irresponsável e delapidação do erário público.
No que respeita à Turquia, mmmmm... não me parece que os gregos comecem a fazer olhinhos aos otomanos assim tão depressa.
Subscrevo o apelo feito pela Anthrax, em relação a um possível artigo do Dr. Tavares Moreira sobre a Islândia.
ResponderEliminarAnthrax, caso siga a sugestão, cuidado com o labirinto, não se esqueça do cordelinho, pelo sim pelo não ;) Ele acho que há pra lá uns bichos um bocado puxados... não, não, é mesmo bichos, não estou a falar de Mikonos :)
Quanto aos gregos e turcos ... não me parece ... desde aquela brincadeira em Termópilas que os tipos não se gramam!
Ó meusss caross amigossszz, eu não vou passear.
ResponderEliminarVou trabalhar.
Mas já sugeri à Comissão que começassem a descentralizar estas reuniões para as ilhas gregas, que isto de ser sempre ali na Macedónia grega às tantas já aborrece, é quase como se estívessemos em casa não fosse a sinaléctica ter uns caractéres estranhos.
Caros Anthrax e AF,
ResponderEliminarTêm toda a razão, no que se refere ao artigo/Post sobre a Islândia podem bem dizer que estou a ficar como os incumbentes, prometo e não cumpro...
Vale que não quantifiquei a promessa sobre o calendário...
Mas pelo menos reconheço a dívida e estou deveras disposto a cumpri-la, dêem-me só um pouquinho mais de tempo para ver os próximos passos da novela islandesa...
...ainda Cara Anthrax,
Mas olhe que em Creta trabalha-se a sério, ainda me recordo, daí a minha sugestão!