quarta-feira, 18 de maio de 2011

Também se pode falar da "antiga" classe média

Diziam os jornais há dias que uma em cada sete famílias não consegue cumprir os compromissos financeiros que assumiu, dizem os jornais todos os dias que fecham empresas umas atrás das outras, diz toda a gente que os jovens querem é ir-se embora daqui logo que possam. A vida real chega pesada, a palavra insolvência passou a integrar as conversas, ao princípio envergonhada, não se falava mas havia sinais, agora já sem rodeios as pessoas explicam o que aconteceu, sabes da fulana? Insolvente. Sabes de cicrano? A empresa faliu, estão a vender tudo. Outros não esperam pelo desfecho anunciado, assistem impotentes à redução de clientes, à crescente dificuldade em manter actividade, passam pela dura prova de ter que despedir colaboradores de sempre, desistem e vão-se embora. Um amigo anunciou a sua partida em breve para um longínquo ponto do globo, algures em África, tive que ir ver ao mapa a cidade de que me falava, vais para tão longe, é preciso coragem, tenho sorte, disse-me ele, não sou dos últimos a saír, os outros que demorarem mais nem isso vão conseguir. Outra amiga do grupo ouvia em silêncio, o marido arranjou emprego em Angola, ela ficou cá com os filhos e juntam-se no skype para enganar as saudades. Por quanto tempo? Suspiro profundo, sabe Deus, nem vale a pena pensar nisso, cinco anos pelo menos, até lá é tudo para pagar as dívidas enterradas na fábrica de família, várias gerações a ergueram, duas gerações se afundaram com ela.
O Expresso de sábado passado conta-nos vários casos de pessoas que tiveram que tirar os filhos do colégios, outras que tentam vender as casas com prejuízo e livrar-se dos encargos que subiram como a maré alta e quase os afogam. Há muitos, muitos casos. Não são jovens, são pessoas que fizeram carreira, que criaram ou fizeram crescer empresas, não são ladrões nem vigaristas, nem oportunistas, são pessoas comuns, pessoas de bem, que acreditaram que tinham chegado ao auge das suas vidas, conquistado algum desafogo e segurança, que tinham assumido cargos de responsabilidade e confiavam poder encarar a meia idade com orgulho e dignidade. Agora, a meio da vida, com filhos adolescentes que os olham estarrecidos, com pais idosos que contavam com o seu apoio, fazem as malas e partem para reiniciar a vida, deixam os lugares de director, de quadros no topo de carreira, ou de patrão e voltam a ter chefes, vão ter que voltar a provar, passar dificuldades de principiante, integrar-se em meios que não conhecem e onde nunca ninguém os viu. É preciso muita coragem para não desistir, é preciso muita força para segurar os laços que se teceram e que são postos à prova quando tudo o mais se desfaz.
Quanto à política, aguarda-se que o documento da troika comece a ser traduzido em português, se façam os estudos rigorosos para “calibrar” a TSU, se decida quem é que de certeza não governa com quem. Aguarde-se, pois e, lembrando os velhos tempos, "o último a sair que pague a luz".


Adenda: Não reparei logo no lapso da frase que cita a velha máxima anarquista que ficou célebre no PREC "o último a sair que apague a luz". É caso para dizer que me fugiu a mão para a verdade actual. A conselho de um comentador atento, não vou corrigir o lapso, mas não quero ficar com um mérito humorístico que resultou apenas do acaso.

22 comentários:

  1. Quando ha poucos anos atrás um comentador desconhecido, que se identificava com o nick de Bartolomeu, previa que chegaríamos a uma situação muito semelhante à que se vive actualmente, julgaram-no de espírito delirante.
    Quando o mesmo comentador apontava a usura bancária e o espírito insaciável do capitalismo, como responsáveis pela falência que iria inevitávelmente ocorrer neste país, julgaram-no profeta do fim do mundo.
    Hoje, verificamos que se perdeu o tempo de agir, Portugal está falido, insolvente. Os bancos e o capitalismo continuam como sanguessugas, agarrados ao cadáver exangue dos portugueses, tentando chupar-lhes a última gota de sangue. Hoje, o FMI, a UE e o BCE, transfundem-nos sangue. Um sangue contaminado que irá em breve tempo, liquidar-nos por completo e transformar aqueles que partem para o exterior, em apátridas, em angustiados errantes, em zombies que irão vaguear sem rumo pelo mundo, um mundo que se auto-contamina do mesmo virus... o capitalismo.

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  2. Puxa Suzana, que post tão triste :(

    No entanto, tudo o que diz é verdade.

    Sabe, eu como sou um bocado perturbada das ideias, tenho a mania de ver os aspectos positivos das coisas más. Não o faço por falta de alternativa, até porque opções teria várias. Faço-o por uma questão de atitude, mesmo quando as situações são extraordinariamente difíceis e nos deixam prostrados.

    Há anos que me pergunto a mim mesma, o que diabos ainda aqui estou a fazer? Sinceramente, ainda não encontrei uma resposta, nem sei se algum dia encontrarei. Mas sei que desistir não é a resposta que eu quero e a partir daqui já se pode fazer qualquer coisita.

    Espanta-me que seja apenas 1 família em cada 7 que não consiga cumprir com os seus comprimissos financeiros, pensava que a esta altura já fossem mais. Mas não há problema porque havemos de lá chegar. Com isto não pretendo ser - de modo algum - irónica, isto é real pelos motivos que o Bartolomeu indica.

    Nessa altura, sim, eu quero ver o que é que os bancos vão fazer porque, convenhamos, o negócio deles é dinheiro. Não é, propriamente, a gestão imobiliária ou a venda de viaturas em 2ª mão. Por isso, aquilo que vai acontecer é que vão ter nas mãos uma enorme quantidade de bens que, não só, vão conseguir transformar em dinheiro, como também, no caso em que consigam vendê-los, vão perder dinheiro.

    Olhe, não querendo ser o arauto da destruição (embora neste caso em particular isso me divirta), o futuro próximo para as instituições bancárias parece um bocadito negro. Eles apenas têm de decidir se querem perder muito, ou se querem perder pouco. Se querem perder pouco, optam por renegociar as dívidas com as pessoas, se querem perder muito... olhe ficam com as bicicletas todas e façam o que quiserem com elas.

    Enfim, olhe vamos ver.

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  3. É isso, cara Anthrax.
    Até porque no fim, os bancos nunca perdem, deixam é de ganhar o previsto inicialmente. Até porque, ao venderem as bicicletes, já têm em caixa aquilo que emprestatram a alguém, para as poder adquirir.
    Mas, se houvesse um governo de jeito neste país, assim que a crise de empregos começou a aumentar e as pessoas começaram a ficar com dificuldade em satisfazer as suas obrigações, o governo deveria ter reunido com a banca e deveríam ter feito os impossíveis para travar a subida dos juros e sobretudo dos spreads e ainda, a impossibilidade de despejar aqueles que devido a desemprego, ou outro motivo de força maior comprovada, se viram forçados a interrormper o pagamento das prestações.
    Nesta situação, o governo nada fez deixando que a avidez da banca aumentasse o estado de desespero de todos os que de um dia para o outro se viram impossibilitados de pagar os empréstimos, e mais, o governo permitiu que os bancos dessem início a mais um negócio de usura, ao colocarem a leilaão as casas retomadas, pelo valor do capital em dívida, e ainda, permitir que os bancos continuem a cobrar prestações até prefazer o capital emprestado mais os juros, se o valor pelo qual o imóvel for vendido em leilão, não prefizer o total.
    Á vista disto, o sherif de Notingahm, era um santo!

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  4. Ah sim, e esqueci-me de referir uma coisa acerca da tsu.

    Eu não acredito que vá ter qualquer efeito prático nas PME's (que toda a gente sabe que são a espinha dorsal da economia portuguesa), uma vez que qualquer que seja a redução na mesma, acaba por ser um bocado fictícia porque aquilo que eles não gastam com o trabalhador vão posteriormente gastar com uns outros mecanismos fiscais, altamente, inteligentes e que padecem de alguns problemas técnicos ao nível contabilístico.

    Portanto, relativamente à tsu e à forma como ela está explicada no Programa eleitoral do PSD, isto é só uma questão de tirar de um bolso (o da s.s) e pôr no outro (o da DGCI). Mais nada.

    A esta conclusão (boa ou má, concordem ou não concordem), cheguei eu sozinha, mas sei que é partilhada por algumas outras pessoas que, por acaso, até são gestores de PME's (até porque andei a perguntar-lhes).

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  5. Caro Bartolomeu :)

    Bem verdade e como com o Robin dos bosques, já lá não vamos. Agora terá de ser à laia de pirataria.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Olho para este post como se olhasse para uma pintura figurativa, em que a realidade apresentada não é corrompida da visão e da emotividade da autora…
    De facto a nossa auto-estima como nação “una” chegou ao ponto mais baixo a que podia ter chegado, pois que, aceitamos ser admoestados, reprimidos, ignorados, explorados, falados nos corredores como coitadinhos, como indigentes inimputáveis… E o caricato da situação é que chegamos aqui em rebanho, docemente, por quem o sabia fazer bem; quem alertou foi dado como pessimista, como velho do restelo, talvez porque era gente de fora do sistema…
    Como alguém já disse o povo morre, o país continua…Julgar agora os responsáveis era destruir muitos relvados... Vamos dar a volta, temos de dar a volta!

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  8. Cara Suzana Toscano,

    Não sei se foi lapso ou propósito, mas a expressão "o último a sair que PAGUE a luz" está absolutamente genial. É que é mesmo isso. Deixe acesa, se quiser, mas pague.

    Se foi lapso, por favor, não corrija :)

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  9. Ah ah ah ah ah :D
    Pois é! :)

    Mas está bem na mesma.

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  10. ...por acaso li apague no entanto, face á realidade atual, estou com o caro AF, fica genial "pague"...Mas tenho para mim que este "pague" não é inofensivo, mas antes mais uma subtileza brilhante da Dra. Suzana...

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  11. Cara Suzana,

    ...e não se pode dizer que não seja exactamente aquilo que "escolhemos". Como gosto de repetir, as letras não eram pequenas.

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  12. Caro AF, fartei-me de rir, veja lá que li o texto várias vezes à procura de gralhas e não reparei no "pague"! Tem razão, já estamos tão viciados em pagar tudo e mais umas botas que a palavra vem a propósito. Teve graça mas não teve arte, paciência, vou seguir o seu conselho e não corrijo!:)
    Caro bartolomeu, tudo isso e mais umas quantas asneiras bem escusadas deram este lindo resultado, o difícil não é encontrar explicações, pelos vistos há muitas, o diabo agora é sair deste sarilho sem que fiquemos todos a viver como antes da electricidade chegar às casas.Quanto à banca, duvido que fosse possível fazer diferente, no panorama internacional que havia e, receio bem, ainda há, e também não acredito que lhes sirva de muito vender casas a granel, que esta coisa dos grandes números (75% dos portugueses têm casa própria, pelo que ouvi) também pode ser a favor dos devedores apanhados desprevenidos.
    cara Anthrax, um pouco deprimida, sim, é muito triste ver ir embora os amigos por desespero, e não por esperança. Veremos, como diz, tsu incluida.
    Há dias esqueci-me de lhe perguntar, que é feito do Virus e da Crack?
    Caro Miguel, ninguém é bom profeta na sua terra,lá diz o povo, esse de que fala com tanto acerto.Mas acho que sim, que havemos de passar este mau bocado, também não há-de ser amanhã a véspera de nos cair o céu em cima da cabeça :)
    Caro Tonibler, não posso dizer que escolhemos, embora pareça que sim e apeteça imenso achar que, portanto, agora podemos corrigir.Não sei se viu o documentário Inside Job, aí perguntam "se está a dar lucro porque é que havemos de parar?" e essa é a resposta, porquê mudar se as promessas eram tão risonhas?

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  13. Cara Suzana,

    Há algum tempo que não sei nada do Crack, sei que se reformou, que teve alguns problemas de saúde que entretanto foram ultrapassados, mas não sei o anda a fazer de momento. Está, no entanto, viva porque vai actualizando o seu blogue.

    Relativamente ao Virus, deu asas à imaginação e decidiu que queria ser piloto de aviões já que a gestão não era para ele. Foi uma boa iniciativa, embora atribulada e assombrada por um fantasma muito semelhante ao da dívida soberana portuguesa. Mas vai indo.

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  14. Obrigada, cara Anthrax, os meus cumprimentos aos dois e que o caro Virus consiga vencer a crise soberana dando força às asas!

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  15. Obrigada, cara Anthrax, os meus cumprimentos aos dois e que o caro Virus consiga vencer a crise soberana dando força às asas!

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  16. Olá olá..

    1º - A Suzana se engana ao dizer que se emigra por desespero e não por esperança.Quem emigra tem muita coragem e quem tem muita coragem tem muita esperança .Tem muita autoconfiança..confia no taco..Eu sei isso por experiência própria! .Claro que poderia estar razoavelmente em Portugal ..só que não nasci para ficar razoável.Nasci para muito mais do que isso !

    2º Os subtis Antraxa e Bartolomeu desviam a hiper ultra péssima administração socialista de décadas, atirando a culpa para o capitalismo. Que esperteza saloia ..pior é muito dificil ..e se entretêem nos blogs só lançando simpáticos faitdivers ..fumarolas ..fogo pela boca ..e aí ..e tal ...e mais e tal ..

    4 º O que nem o Bartolomeu nem a Antraxa percebem é que não é uma crise financeira ..é muito pior ..é uma crise económica ..o tecido produtivo sublima-se como naftalina..em leis do jurássico..etc..etc..etc..em breve entrará em falência multipla de orgãos ..e depois ..só um renascimento ..de cinzas ..

    A isso nos obriga o resultado de décadas de administração socialista ultra hiper destrutiva..

    E podia ser lindo ..

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  17. Oi, estimado Caboclo, tudo légau cum ocê?
    Olhaí cara... num querendo tincomodar, mais indo já tincomodando, fala pá mim; qué que ocê entendji como captálismo, qual é para ocê à djifinição dje captálismo, ou seija, dji que modo coloca o Caboclo o captálismo, funcionando à par com a sóciedadji, ou mélhori, como acha o Caboclo que o captálismo podêra contribuir para a sustentábiuidade e o progresso dà sociédadji?
    Hein?
    Fico ansiosamente esperando pela sua réspoista, tá legau?!

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  18. Só faltou o "Me liga, vai..." :D

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  19. :D :D :D
    Com um pouco de boa-vontade e muita distração...

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  20. Poxa véi..situnumsabeuquiéocapitalismocomotufalasobrele?
    Ainda por cima atirando as culpas ..Maquivel ensinava como distrair os otários ..criando inimigos exteriores..e nada melhor que uma coisa vaga como o capitalismo para levar com as culpas de tudo ..não é Bartolinho ?
    É que estás ligado que se não fosse o capitalismo não terias sequer electricidade ..

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  21. Eu me entusiasmo e depois me expulsam ..
    Mas só umas coisa, não estimado Bartolinho, ..eu te explico tudo isso ..mas tens que pagar ..de graça nem pensar ..prefiro ir sambar..aliás agora é S. João agora é forró ..uiui aiai..paunascoxas.. é assim que dizem aqui na surdina ..uiui aiai...ahahaha

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  22. Ora ai está uma excelente decisão, Caboclo!
    Vai lá intão no forró, tchi djiverte, tá?!

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