Uma entrevista a ler sobre o mar.
(…) Diz que Portugal virou as costas ao mar, em ruptura com o passado, para nos deslumbrarmos com a Europa. A culpa foi da adesão à Europa? Temos a tendência de atirar as culpas para cima dos outros. Nesta questão do mar dizemos que a culpa de não termos as pescas, de não termos indústria marítima, é da Europa. A Europa não nos obrigou a nada, fomos nós que tomamos as nossas decisões. Avançamos nestes desígnios europeus, começamos a vermo-nos como o território onde a Europa acaba e não onde o mar começa. Não percebemos que estávamos a desprezar a nossa geografia, que é uma das mais marcantes de toda a Europa (somos dos poucos países com apenas um vizinho), pusemo-nos numa situação com menos opções de recursos de desenvolvimento.
Mas deslumbrámo-nos com a Europa ou não? Poderia ser de outra maneira? Sem dúvida que nos deslumbrámos, embarcámos na tese do bom aluno. O que não é censurável, é até compreensível. Nós afastámo-nos durante centenas de anos da cultura europeia, do desenvolvimento europeu. O que acho que é crucial hoje é que, passados 30 anos de adesão à União Europeia, continuamos a não ser a sociedade europeia desenvolvida que almejávamos.
Porque acha que tal aconteceu? Por causa da enorme ausência de estratégias, de visões. A situação actual não poderia ser menos positiva. A nossa economia do mar é apenas uma economia em vias de desenvolvimento. Falta uma visão de geografia, uma visão de que não poderemos continuar sem explorar os nossos recursos naturais. E o maior desses recursos naturais é o mar, que Portugal desconhecia que tinha. (…)
Será que é desta que vamos ter uma política do mar?
(…) Diz que Portugal virou as costas ao mar, em ruptura com o passado, para nos deslumbrarmos com a Europa. A culpa foi da adesão à Europa? Temos a tendência de atirar as culpas para cima dos outros. Nesta questão do mar dizemos que a culpa de não termos as pescas, de não termos indústria marítima, é da Europa. A Europa não nos obrigou a nada, fomos nós que tomamos as nossas decisões. Avançamos nestes desígnios europeus, começamos a vermo-nos como o território onde a Europa acaba e não onde o mar começa. Não percebemos que estávamos a desprezar a nossa geografia, que é uma das mais marcantes de toda a Europa (somos dos poucos países com apenas um vizinho), pusemo-nos numa situação com menos opções de recursos de desenvolvimento.
Mas deslumbrámo-nos com a Europa ou não? Poderia ser de outra maneira? Sem dúvida que nos deslumbrámos, embarcámos na tese do bom aluno. O que não é censurável, é até compreensível. Nós afastámo-nos durante centenas de anos da cultura europeia, do desenvolvimento europeu. O que acho que é crucial hoje é que, passados 30 anos de adesão à União Europeia, continuamos a não ser a sociedade europeia desenvolvida que almejávamos.
Porque acha que tal aconteceu? Por causa da enorme ausência de estratégias, de visões. A situação actual não poderia ser menos positiva. A nossa economia do mar é apenas uma economia em vias de desenvolvimento. Falta uma visão de geografia, uma visão de que não poderemos continuar sem explorar os nossos recursos naturais. E o maior desses recursos naturais é o mar, que Portugal desconhecia que tinha. (…)
Será que é desta que vamos ter uma política do mar?
É uma área em que muito se podem potenciar novas actividades relacionadas com transportes e logística. Incidentalmente o anterior governo conseguiu dar uma machadada de leão nas veleidades do uso do porto de Sines para várias actividades mais além daquelas que desempenha hoje (e lucrativas!) bem como na diminuição fortissima nos custos da sua utilização e expansão do hinterland.
ResponderEliminarNo que toca aos portos de Leixões e Aveiro pequenas alterações nas suas acessibilidades poderiam fazer muito pela sua valia embora aqui, claro, o grande, grande salto apenas possa ser dado com a futura linha ferroviária Aveiro - Vilar Formoso.
Há muito, muito por fazer (até mesmo pequenas coisas) na potenciação da frente Atlântica da Républica. Algo que me lembrei agora quando estava quase a terminar o comentário, há uns anos (da última vez que olhei para isso) o quadro legal que regulava a carga e descarga de navios nos portos Portugueses era obsoleto e vinha ainda dos tempos em que se movimentavam as cargas a pouco mais que pau e corda. Não sei se isso foi modernizado entretanto e, em caso negativo, seria uma alteração bem vinda que permitiria a redução de custos.
O aproveitamento da fachada Atlântica é algo onde tanto e tanto está por fazer e o potencial é tão vasto que com muito pouco pode fazer-se facilmente a diferença.
Talassocratas versus Epirocratas. É uma questão antiga Dra. Margarida.
ResponderEliminarNós somos talassocratas, os gregos são talassocratas. A Espanha e a Alemanha - por exemplo - são Epirocratas. Padecem de um complexo cerco e isto faz com que os seus povos sejam agressivos. O facto de nós sermos mais passivos tem a ver com o facto de sabermos que existe sempre uma possibilidade de fuga, enquanto que quem está cercado tem de lutar porque não pode fugir.
Sempre que Portugal adoptou políticas continentais a coisa falhou olimpicamente, pensava que isso era de conhecimento geral. Para além disso, o Prof. Hernâni Lopes andava a dizer isso há anos, o Prof. Adriano Moreira diz isso há anos, logo a ideia não é novidade nenhuma.
O que parece ser uma novidade é o timing, que constitui uma oportunidade de re-centrar as prioridades estratégicas nacionais de acordo com aquilo que nos é natural. Por isso também é que - em termos militares - não sou contra a aquisição de submarinos, fragatas e afins.
Caro Zuricher
ResponderEliminarTem muita razão no que diz em relação aos portos e à sua ligação por ferrovia à Europa. Muitos se questionam porque insistimos nos TGV em lugar de investirmos no transporte ferroviário de mercadorias para permitir o desenvolvimento, por exemplo, do porto de Sines. O desenvolvimento da logística portuária e das infra-estruturas ferroviárias e a sua articulação são componentes muito importantes para a competitividade.
Cara Anthrax
É doentio que haja assuntos de extrema importância para o nosso futuro que sistematicamente estiveram "omissos" de uma estratégia.
Aproveitemos o estado de necessidade para corrigir a inércia passada e aproveitar com mão firme os nossos recursos.
Cara Margarida,
ResponderEliminarNa PPP1 já assinada e em curso, além da linha de Alta Velocidade do Caia ao Poceirão está incluída a linha convencional de mercadorias de Évora ao Caia que é o prolongamento do itinerário já existente desde Sines. Ficar-se-á então com uma linha de mercadorias de Sines ao Caia. Dá-se é o absurdo de que entre São Bartolomeu da Serra e o Caia a linha permite o transporte de carga sem restrições de peso mas... do porto de Sines a São Bartolomeu restringe-se a cerca de 2/3 dado o traçado. Estava prevista uma linha por um traçado mais directo, do porto de Sines a Grândola que acabava com estas restrições, linha essa que foi atirada para o contentor do lixo.
Ou seja, num itinerário de 200 e qualquer coisa km, onde foi e tem sido investido muito dinheiro ir-se-á ficar com uma restrição imposta por míseros 19km. Foi esta a machadada de leão dada nas acessibilidades ao porto de Sines.
Muito obrigada, Caro Zuricher, pelo esclarecimento. Não tinha presente todo o detalhe, mas tão somente a percepção de que a ligação não vai funcionar. Ou vai?
ResponderEliminarVai, sim. Mas muito aquém do potencial que fica instalado em todo o restante trajecto, por um lado, e de forma muito mais cara do que podendo aproveitar-se tudo o resto que existe plenamente. Há uma sensivel diferença nos custos por tonelada transportada entre transportar uma dada quantidade ou apenas 2/3. Os custos são, podemos assumir, os mesmos (a diferença é tão pequena que podemos desprezar).
ResponderEliminarObrigada, Caro Zuricher. Entendi.
ResponderEliminarCara Margarida, no post anterior cometi um erro que, claro, tenho que rectificar sob pena de não ser suficientemente explicito. Os preços por tonelada transportada são diferentes quando se transporta uma dada quantidade ou apenas 2/3 dela. Os custos do transporte é que são praticamente os mesmos.
ResponderEliminarE, já agora, pormenorizando um pouco mais a questão, o itinerário Sines - Caia (com seguimento a Madrid por Badajoz, Merida e Puertollano) em territorio Português é composto pelos troços de Sines a Ermidas-Sado, daí a Poceirão, desta a Évora e daqui ao Caia. O troço de Sines a Ermidas pode dividir-se em dois sub-troços, de Sines a São Bartolomeu da Serra e daí a Ermidas-Sado.
As restrições são de Sines a São Bartolomeu. Daí em diante todas as intervenções estão feitas (renovação da linha, electrificação, sinalização e adaptação do layout das estações) até Bombel. Daí até Évora estão neste momento em curso empreitadas que visam estender os mesmos parâmetros até Évora incluindo construção de estações de triagem com dimensão razoavel em Vendas Novas e Casa Branca. A linha de Évora ao Caia está incluída na PPP1. Do lado Espanhol a linha de Badajoz a Mérida já está apta para os parâmetros superiores e de Mérida a Puertollano estão em curso trabalhos para esse fim. De Puertollano a Madrid não há necessidade de trabalhos. Ou seja, por míseros 19km que exigem restrições pesadas há um fortissimo acréscimo nos custos.
A tal linha que foi atirada para o contentor tinha ainda o bónus acrescido de poupar 40km (80km em cada ida e volta) entre Sines e o Caia embora para transporte de mercadorias isto não seja o mais relevante.
Caro Zuricher, :O!!!...
ResponderEliminarUauu! Já tinha ouvido falar nessa questão relacionada com o porto de sines e a propósito de plataformas logísticas, mas nunca com esse grau de conhecimento. Gostei da explicação. :)