Segundo li no El País, o cruel e frio assassino norueguês chamava os jovens da ilha dizendo “Venham jogar comigo, não fujam, venham jogar comigo”, matando-os um a um à medida que eles se aproximavam, confiando na enganosa farda de polícia e não lhes ocorrendo, como não ocorreria a ninguém, que uma mente pudesse ser tão perversa que engendrasse semelhante selvajaria. Dizem também os jornais que este monstro vivia em alienação permanente, ora inventando personagens que encarnava como um herói, empunhando espadas ou armas de guerra, ora jogando videojogos horas a fio, provavelmente inspirando-se nos enredos que assim lhe eram proporcionados. E dizem também que terá treinado a sua estratégia em videojogos.
Chamar louco a quem assim age é manifestamente pouco, de repente deparamo-nos com a pobreza do nosso vocabulário para enquadrar semelhante criatura, procuramos molduras de crime que abarquem o horror dos seus actos, e o modo como os perpetrou, longamente, sucessivamente, sem vacilar, sem remorso, sem emoções, sem qualquer tipo de sensibilidade em que pudessemos reconhecer um ser humano, mesmo que malévolo. Procuramos no seu gesto, na expressão dos olhos, no rito da boca, um vislumbre que nos dê uma pista para o seu espírito e nada, vemos uma máquina, um robot, detecta-se talvez, com redobrado terror, um laivo de orgulho, uma espécie de antecipação demente do prazer que lhe darão as notícias que hão-de correr e relatar os seus feitos, o seu nome uma e mil vezes repetido, escombros, morte e assombro e ele talvez a pensar, inventei um jogo e ganhei, correu tudo como planeado.
Há tempos soube-se que tinha sido criado um videojogo que reproduzia o ataque a uma escola nos EUA por um indivíduo armado que matou a eito todos os que lhe apareceram pela frente. A realidade transposta para o virtual, quantas vezes será o virtual confundido com a realidade? Tenho a vaga ideia de que foi um grande êxito e que terá sido proibido, como espero, o que não impediu que mentes anónimas e oficialmente sãs tenham decidido ganhar dinheiro à custa desse drama e dessa violência incompreensíveis. A banalização do horror como um desafio à imaginação pode estimular espíritos dementes que confundem a ficção com a realidade. Desgraçadamente para quem se cruza com eles pelos caminhos do azar, o preço a pagar é bem real, e não há, ainda, palavras suficientes para o qualificar.
Vale a pena fixar as palavras do Primeiro Ministro norueguês, as suas corajosas e desesperadas palavras em defesa da liberdade e da tolerância tão caras ao seu País: “O Mal pode atingir uma ou várias pessoas, mas não podemos permitir que atinja um País inteiro”. Não ceder ao medo será já uma imensa coragem.
Chamar louco a quem assim age é manifestamente pouco, de repente deparamo-nos com a pobreza do nosso vocabulário para enquadrar semelhante criatura, procuramos molduras de crime que abarquem o horror dos seus actos, e o modo como os perpetrou, longamente, sucessivamente, sem vacilar, sem remorso, sem emoções, sem qualquer tipo de sensibilidade em que pudessemos reconhecer um ser humano, mesmo que malévolo. Procuramos no seu gesto, na expressão dos olhos, no rito da boca, um vislumbre que nos dê uma pista para o seu espírito e nada, vemos uma máquina, um robot, detecta-se talvez, com redobrado terror, um laivo de orgulho, uma espécie de antecipação demente do prazer que lhe darão as notícias que hão-de correr e relatar os seus feitos, o seu nome uma e mil vezes repetido, escombros, morte e assombro e ele talvez a pensar, inventei um jogo e ganhei, correu tudo como planeado.
Há tempos soube-se que tinha sido criado um videojogo que reproduzia o ataque a uma escola nos EUA por um indivíduo armado que matou a eito todos os que lhe apareceram pela frente. A realidade transposta para o virtual, quantas vezes será o virtual confundido com a realidade? Tenho a vaga ideia de que foi um grande êxito e que terá sido proibido, como espero, o que não impediu que mentes anónimas e oficialmente sãs tenham decidido ganhar dinheiro à custa desse drama e dessa violência incompreensíveis. A banalização do horror como um desafio à imaginação pode estimular espíritos dementes que confundem a ficção com a realidade. Desgraçadamente para quem se cruza com eles pelos caminhos do azar, o preço a pagar é bem real, e não há, ainda, palavras suficientes para o qualificar.
Vale a pena fixar as palavras do Primeiro Ministro norueguês, as suas corajosas e desesperadas palavras em defesa da liberdade e da tolerância tão caras ao seu País: “O Mal pode atingir uma ou várias pessoas, mas não podemos permitir que atinja um País inteiro”. Não ceder ao medo será já uma imensa coragem.
Se não me engano, li há uns tempos que um dos estados dos USA proibiu a venda a menores de um jogo de vídeo com imagens (animação, claro) de uma mulher a ser puxada pelas pernas e rasgada em dois. Proibição essa que foi levantada pelo tribunal por violar o direito à livre expressão...
ResponderEliminarEnfim, devem andar a recrutar juízes das escolas portuguesas...
Suzana
ResponderEliminarNão há capacidade humana para entender esta monstruosa selvajaria.
É aterrorizador admitir que existem criaturas à face da terra capazes de contornar todas as seguranças e defesas dos Estados levando por diante o inconcebível.
Meus caros,
ResponderEliminarOs videojogos são o bode expiatório da moda. Já houve uma altura em que era a banda desenhada, depois o cinema, depois a televisão.
Se pensarem na quantidade de imagens bárbaras, REAIS e não simuladas, que todos os dias nos entram pela televisão adentro...
Se pensarem na quantidade colossal de filmes e séries verdadeiramente violentas e que abordam de forma requintada os temas mais chocantes...
Sempre houveram lunáticos, sempre vão haver. Mesmo quando não existiam videojogos. Mesmo quando não existia televisão.
Quanto ao facto do lunático em questão "treinar" com videojogos, é manifestamente falso. É dito pelo próprio, ou melhor, escrito, no pequeno documento de 1500 páginas, que ele usava os videojogos como desculpa para poder ter determinadas conversas e comportamentos, sem chamar a atenção que doutro modo despertaria. Aliás, não é por um indivíduo querer muito, que vai tornar-se um expert em matanças, a jogar Call of Duty ou outros jogos "violentos". E consta que o indivíduo jogava mais World of Warcraft. (sobre isso a cara comentadora Anthrax poderá ter umas palavrinhas a dizer)
Aliás, asseguro-vos, eu sou um "Condecorated Veteran" de um violento jogo de guerra (Killzone), e nunca me passaria pela cabeça matar ninguém.
E reparem ... se os jogos influenciassem assim tanto os comportamentos, a minha geração, que jogou PacMan que se fartou, às tantas agora era viciada em andar em locais escuros com luzes psicadélicas, com música repetitiva de fundo, a saltar e engolir pastilhas ...
oh wait...
Caro AF, não deixa de ter razão nos seus argumentos, de facto sempre houve e haverá filmes e jogos que exploram a violência e estimulam a imaginação bélica. E realmente, mal seria se assim se multiplicassem os assassinos. Mas também é um facto que se vive hoje um fenómeno de massificação no acesso fácil e interactivo desses jogos, ou seja, já não é simplesmente assistir, como espectador, ao desenrolar de uma trama diabólica, mas sim o dar-se a ilusão de que se é actor, protagonista e, muitas vezes, o criador dessas mesmas tramas. Não será indiferente, sobretudo quando se convive desde a infância com esses jogos e se participa nesses grupos de acção. O virtual pode confundir-se com o real e isso, associado a uma mente doentia que aspira ao "estrelato" como um herói, pode facilitar muito essas tendências. Será possível impedir? Acho que não, que é impossível, mas isso não nos permite ignorar esse facto e essa influência, pelo menos para não nos admirarmos com estes fenómenos que nem sabemos bem como qualificar dentro dos cânones que conhecemos.As inovações e os avanços tecnológicos, como acontece sempre, não são apenas progressos, também trazem novos riscos.
ResponderEliminarCaro Tonibler,eu vi há tempos uns garotos pequenos a jogar um jogo em que o objectivo era matar polícias,quem matasse mais em menos tempo ganhava. Fiz um breve comentário dizendo que me escapava o sentido formativo ou pedagógico daquilo e responderam-me que todos jogavam, estava na moda, e que os miúdos tinham a percepção clara de que era uma brincadeira.
ResponderEliminarMargarida, não acredito que seja possível criar um sistema de segurança contra este tipo de coisas, totalmente ilógica e fora de qualquer sentido do limite ou do medo do risco. É como os ataques dos homens bomba, não querem escapar, querem matar, mesmo morrendo eles também.
Cara Susana Toscano,
ResponderEliminarEu compreendo bem como é fácil cair na tentação de buscar um apoio nas coisas mais diversas, na tentativa de entender o horror de eventos como o de Oslo. Especialmente quando são coisas "novas", e que não compreendemos bem a sua mecânica e abrangência.
Mas considere o seguinte: se o factor de "interactividade" (que, honestamente, e digo-o com conhecimento de causa, mesmo a nível profissional, é francamente exagerado) fosse assim TÃO importante, ao longo da história, todos os actores que executaram peças e filmes sobre assasínios e torturas e tantas outras barbaridades, ainda que estatisticamente, deviam ter dado origem a um muito maior número de "transposições" para a vida real.
Outro argumento que lhe deixo: não é por existirem facas nas cozinhas que alguns tarados as usam para cometer homicídios (e esses, há-de convir, são em muito maior número que o chocante atentado); antes, é por existirem homicidas que as facas de cozinha, às vezes, são armas.
Mas acima de tudo, gostava que ponderasse bem, mas mesmo bem, o exacto ponto que nos trás neste post. Havendo um tão grande número de pessoas a jogar tanto os famigerados "videojogos", não seria, por isso mesmo, de esperar um aumento exponencial de actos bárbaros? Não acha que a realidade desmente categoricamente a hipótese? (posso-lhe dizer, a título de curiosidade, que o número de utilizadores da Playstation Network ronda os 70 milhões, e que a idade média do jogador-tipo é de 37 anos)
E peço desculpa por mais um comentário gigantesco :)
Caro AF, os seus comentários são muito bem vindos, aqui o que conta é a qualidade :)Por um lado, os seus argumentos tranquilizam, considerada a estatística que propõe e que desmente a relação proporcional entre o número e divulgação dos jogos violentos e o aumento dos crimes que possam inspirar. Por outro, é cedo para nos pronunciarmos, descartando essa hipótese, porque é um fenómeno recente e que influencia sobretudo as gerações mais jovens, como diz.O facto de aceitarmos que essa influência possa, de algum modo, explicar a motivação e a forma de actuar da criatura (e talvez de muitas outras menos espectaculares)dá-nos uma pista para a nossa perplexidade, mas não nos dá grandes esperanças de podermos impedir ou limitar sequer essa consequência, resta-nos confiar que a grande, a esmagadora maioria das pessoas continuará, por muitos jogos que façam, a distinguir razoavelmente o Bem do Mal, o virtual do real. Se não conduzirmos as nossas perplexidades para esse campo,porém, ficaremos ainda mais longe de qualquer explicação para aquilo a que assistimos, na dimensão que teve e na circunstância em que ocorreu. E, de certa forma, sentimo-nos muito mais indefesos, porque não haverá nada contra o que reagir...
ResponderEliminarConcordando desde já com a lógica dos argumentos apresentados pelo caro AF, atrevo-me no entanto a colocar a questão: Sabendo-se que a existência de filmes de vídeo e outros, influenciam a personalidade de alguns individuos, levando-os a transpor as cenas mais violentas para a vida real, deve ser permitido que os mesmos continuem a ser produzidos?
ResponderEliminarOu deverá ser tentado interremper o círculo "pescadinha-de-rabo-na-boca" eliminando os objectos que possam influenciar essa alteração de personalidade, sem que produzam outro benefício para a sociedade?
A menos que consideremos filmes violentos como um medicamento que, apesar de nos provocar nauseas, ou diarreia, teremos imperterívelmente de o tomar, para debelar um mal maior...
AF,
ResponderEliminarEsse é o argumento a favor do direito de possuir armas. Claro que jogar não implica matar. Mas ajuda. Não são os jogos que produzem os malucos, mas ajudam os malucos. Em termos estatísticos, tem toda a razão. 99% das pessoas que usam jogos, ou armas, ou pornografia extrema não são assassinos ou violadores. Mas também não temos 99% de malucos. Este Norueguês era um em milhões, mas o efeito da sua maluquice resultou em 100.
Isto para dizer que a nossa intuição se dirige para as pessoas e, estatisticamente, a perda (geração de malucos) é baixa face a limitação do direito a jogar. Aquilo a que a nossa intuição não nos leva é às consequências de cada maluco, que já não são pequenas.
E, não me lixem, os jogos não têm que ser mulheres a serem rasgadas ou "head shots".
Como de costume, um comentário certeiro, com a mistura de repulsa e sensibilidade que obriga a partilhar a situação.
ResponderEliminarA divulgação exaustiva de notícias sobre este tipo de acontecimentos cria a sua própria dinâmica de dementes copycats e celebrity seekers. A banalização de filmes e jogos baseados na violência gratuita, pode apagar as fronteiras entre a fantasia e a realidade, nas mentes mais débeis e imaturas.
A capacidade racional de distinguir entre o bem e o mal desaparece nas franjas das sociedades mercantilistas, onde a moral e os freios sociais são substituídos pelas ideologias imediatistas de auto-satisfação e pelo trunfo da frivolidade. Depois, aqueles que seriam até há pouco les idiots du village, pegam em armas e tornam-se idiotas assassinos... e tristemente famosos.
Meus caros,
ResponderEliminarEste é um tema controverso.
Vou tentar responder aos vários argumentos colocados, sem me alongar muito.
Susana Toscano,
Um pequeno apontamento, só pra lhe dizer que os números que coloquei dizem respeito apenas aos utilizadores de uma das actuais consolas no mercado; não conto com os utilizadores da Xbox, Wii, nem sequer com os de PCs.
Quando diz que estamos perante um fenómeno recente, permita-me discordar. O que se verifica é que recentemente, como com tantas outras coisas, parece haver um aproveitamento mediático desmesurado, uma tentativa de encontrar "culpados", normalmente apelando aos instintos mais básicos do ser humano. Primeiro foram logo os "islâmicos". Melhor faríamos se, em vez de darmos ouvidos a argumentos fantasiosos, por medo ou falta de conhecimento, olhássemos para razões bem mais ponderosas na formação e motivação deste (e doutros) indivíduo.
Bartolomeu,
Eu percebo o seu comentário, e mais uma vez vejo nele o medo e a tentativa de eliminarmos as possíveis fontes desse medo. Mas quem é que define quais são esses objectos de que fala? É que, seguindo essa linha de acção, posso desde já propôr que se proibam as mini-saias, já que todos bem sabemos como estas podem influenciar sobremaneira as mentes de alguns indivíduos mais fracos, não sendo de descartar a possibilidade destes depois virem a cometer uma violação!
Tonibler,
Permita-me discordar. Este não é o argumento a favor da posse de armas, assunto que aliás comentei há bem pouco tempo noutro blog, obviamente manifestando-me contra.
É apenas o argumento a favor da posse da mini-saia, ou do filme de terror, ou da faca de cozinha.
Uma arma é uma arma. Podemos porventura usá-la para partir nozes com a coronha, mas uma arma tem o fim específico de disparar projécteis mortais.
Um jogo não mata ninguém. Mesmo que o atiremos com muita força a alguém.
Agora, se formos pela hipótese das possíveis influências de algo em possíveis indivíduos que possivelmente irão fazer coisas possivelmente nocivas, bem ... comecemos então a cortar. Mas onde paramos? O meu amigo pode desde já nomear os videojogos "violentos". Eu nomeio, a contragosto, a mini-saia. Podemos prosseguir por erradicar eventualmente mais de 75% das séries televisivas da moda, bem como um numero não menos significativo de filmes. Portanto, onde paramos? É um pouco como a irracionalidade que se segui ao 11 de Setembro. Vamos colocar todos os aviões em terra? Vamos obrigar todas as mães a provar o leite que levam nos biberons dos próprios filhos?
AF, no mesmo sítio onde paramos a mini-saia.
ResponderEliminarTonibler,
ResponderEliminarE isso é exactamente onde?
Note que estamos a falar de uma actividade privada, não pública.
Tal como dizia o AF parece-me oportuno dizer algumas palavrinhas a propósito do tema (que só vi agora).
ResponderEliminarEu já sou - praticamente - uma veterana no World of Warcraft. Tenho cerca de 22 personagens (mais ou menos)e divirto-me à brava a jogar cada uma delas, porque todas têm uma forma de jogar diferente. No entanto, certamente que não me verão no meio da rua a dizer que sou um gnomo e com um lança chamas na mão para fingir que posso lançar "fireballs".
Com aquele jogo, em particular, e com os jogos, em geral, pode aprender-se muita coisa. O que se faz com o que se aprende fica ao critério de cada um. Por outro lado, todos os jogos violentos estão assinalados como tal e só compra quem quer. O AF tem toda a razão quando diz que culpar os videojogos é muito "fashion" nos tempos que correm.
Pergunto-me quantos videojogos terá jogado o Charles Manson? Ou quantos videojogos teriam disponíveis em Waco? Devem ter sido bastantes.
Os psicopatas e os sociopatas são pessoas altamente inteligentes. Dizer que treinam ou são influênciados por videojogos é, no mínimo, insultuoso.
AF, há leis que impediram a mini-saia de ser mais mini. Não especificamente para ela, mas deixaram a mini-saia no ponto em que o público aceita a actividade privada de mostrar pernas em público. Há leis que impedem pornografia de passar sem codificação e os menores de comprar tabaco. É querer.
ResponderEliminarCaro AF, eu não defendo que as mini-saias, as facas de cozinha, os martelos e até os machados, devam ser eliminados, ou retirados do mercado, porque eles servem fins úteis, apesar de poderem ser utilizados como armas. Mas os filmes violentos e de caracter sexual extremo, os jogos de violência extrema, que fim de utilidade sociológica, poderão servir?
ResponderEliminarVai dizer-me certamente que muitas pessoas assistem a esse filmes, jogam esses jogos e durante toda a sua vida são incapazes de cometer um acto violento. Concordo, mas a verdade é que, esses filmes influÊnciam outras pessoas, cuja estructura psicológica não lhes garante o descernimento suficiente para separar ficção de realidade. E essa fragilidade não detectável, nem previsível, nem controlável, poderá levar 1 indivíduo em mil, ou 1 num milhão, ou 1 num bilião, a cometer um acto semelhante ao que acaba de suceder na Noroega e a outros que têm sucedido nomeadamente na América.
As estatísticas não importam se estiverem em causa vidas humanas, sobretudo sem possibilidade de defesa.
Pois Tonibler, praticamente tudo o que diz se aplica no caso dos videojogos. Há leis que regulamentam a sua publicação, bem como classificação ainda mais detalhada que a dos cinemas ou TV, e proibição de venda de jogos "M-Rated" a menores. Portanto, por aí, já as coisas estão efectivamente acauteladas. Se os pais se ausentam do seu dever de educação, é um problema dos pais, e não dos videojogos. Creio não ser justo impedir-me a mim, por exemplo, um adulto "maior e vacinado", de jogar os jogos que bem entendo, em privado, só por causa do medo que as criancinhas que não são acompanhadas pelos pais possam eventualmente ser influenciadas de forma negativa. Mulheres rasgadas, pessoalmente não aprecio ... agora headshots, já é outra história :)
ResponderEliminarAgora uma coisa que não percebi foi a "actividade privada de mostrar pernas em público". Mostrar as pernas em público é uma actividade pública. Existe legislação que abrange isso. Mais ou menos liberal, púdica aos olhos de uns, terrivelmente libertina aos olhos de outros. Outra coisa é a esfera privada. Acha que se deveria regulamentar o uso privado (entre portas, por pessoas maiores) da mini-saia?
No entanto, afastamo-nos do tema principal.
Portanto, para recentrar, vou citar as palavras da autora do post, que por sua vez cita o PM Norueguês, e peço que as apliquem ao contexto do receio do "papão" videojogos: " “O Mal pode atingir uma ou várias pessoas, mas não podemos permitir que atinja um País inteiro”. Não ceder ao medo será já uma imensa coragem."
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarNa minha modesta opinião, é preciso ter alguma cautela com essas classificações de "extremos". Olhando para os comentários do comentador Tonibler, por exemplo, jogos onde existam "headshots" já passam os limites. E nesse caso, a resposta à pergunta do Bartolomeu, qual o fim útil de jogos desses, respondo "para me divertir". Tão somente isso. O meu caro poder-me-á dizer que não partilha da minha opinião, o que é perfeitamente normal. Não podemos todos gostar das mesmas coisas. E quando diz que alguns jogos ou filmes podem influenciar mentes mais sensíveis, nas crianças, presumo eu, eu até poderei concordar, mas para isso existem leis, e acima de tudo, deveriam existir pais preocupados com a educação e acompanhamento dos filhos. Agora, o que há a acautelar, está acautelado por lei. Mas isso não vai nunca, no caso dos videojogos, ou noutro caso qualquer que possa imaginar, garantir que não vai haver um maluquinho que vai ser negativamente influenciado por seja o que for. Isso é simplesmente impossível, salvo se instalarmos um chip em cada um de nós, nos deixarmos monitorizar 24/7... e mesmo assim tenho dúvidas.
Mas o mais engraçado disto tudo, é que esta polémica toda poderá bem ter nascido de uma tradução/interpretação errada por parte do jornal; em Noruegês não sei como é, mas em Inglês, por exemplo, "Come play with me" não quer obrigatoriamente dizer "Anda jogar comigo" ... muito mais rapidamente significa "Anda brincar comigo". O que me parece enquadrar-se muito melhor no perfil de um indivíduo destes.
Aghhh, desculpem mais este "testamento"
Sim caro AF, compreendo perfeitamente que não haja infalibilidades e que caiba em primeiro lugar aos pais e às famílias, educar e zelar pela saúde física e mental. No entanto, cabe também à sociedade, criar meios para se proteger. E os chip's, não serão ainda a solução mas, num futuro, a aumentar a frequência de actos imprevistos e com a magnitude do que acabou de suceder na Noroega, não me admiro e não se admire o caro AF, que a sociedade se obrigue a adoptar métudos bem mais repressivos e de privação da liberdade de individuos que apresentem sinais mesmo que ténues, de desiquilíbrios emocionais.
ResponderEliminarMas, Bartolomeu, a questão é mesmo essa! Não aumentaram coisíssima nenhuma! Actos destes, e doutros tipos de loucura, sempre existiram, sempre existirão! O que aumentou foi a chinfrineira mediática, a voragem dos milhentos especialistas nisto e naquilo, a pressa em arranjar bodes expiatórios.
ResponderEliminarSe reparar, das várias causas que terão levado este anormal a cometer os actos que levou a cabo, há tantos outros factores realmente ponderosos! A falta de uma família, o envolvimento com movimentos políticos estranhos, o fascínio com ideologias históricas deturpadas... Mas não, vamos antes preocuparmo-nos com os videojogos! Resolver a maluqueira Europeia que cada vez mais contribui para alienar os seus próprios cidadãos, não! Cuidado é com os jogos!
Anthrax,
Peço desculpa por não ter comentado o seu comentário antes, mas se apenas os argumentos já enchem linhas e linhas... Mas 22 characters no WoW é obra!
Olhe, como eu dantes jogava Warhammer, e há um tipo de exército que se chama Knights Templar, às tantas começo a ficar receoso que ainda me venham bater à porta... ;)
Bom, caro AF, para a análise que apresenta se entender melhor, é preciso dissecarmos a sociedade e, compartimenta-la.
ResponderEliminarQuando colocamos na equação a causa, maluqueira europeia, estamos a admitir uma incógnita, impossível de se lhe achar um valor.
Contudo, essa incógnita existe e concordo que é a causa de uma onda que causa alienação.
Mas onde pretendo chegar, é à conclusão (inconclusiva); se vamos de causa em causa, de motivo em motivo, de alienação em alienação, não deixamos de andar à roda, sem saír do mesmo sítio. E nessa roda, incluem-se também os casos extremos de violência, causadores de mortes inocentes e de maior instabilidade emocional, de aumento da insegurança geral e de tomada de medidas exageradamente discriminatórias e limitadoras da natural liberdade das sociedades.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarClaro que sim. Não podemos evidentemente ceder a esse "andar à roda". Por isso mesmo, deixemo-nos de tentar encontrar "culpados" onde eles não existem, se realmente atentarmos à esmagadora evidência dos números.
Já agora, dou-lhe um exemplo actual, sobre uma coisa que afecta a mente das "pobres crianças".
Já reparou que andam para aí uns maluquinhos a tourear automóveis? Já viu o dano que essa coisa, quando corre mal, tráz para os próprios, e para os desgraçados que apanham por tabela? Que fazer? vamos parar os automóveis? Claro que não! Vamos acabar com as touradas? Também não me parece justo! (isto aqui entre nós, que o Caboclo não nos está a ouvir, é claro que há bastantes motivos para acabar com as touradas, na minha opinião, mas não isto). Vá lá que ainda não aconteceu nenhuma tragédia tipo choque em cadeia.
Em suma, sejam os jogos, os carros, as touradas, as ideologias políticas ... vai sempre haver algo que desestabiliza a mente de alguns indivíduos. Mas, em última instância, isso é incontornável.
E há um factor que eu penso ser decisivo nesta nossa pequena discussão: eu aposto que, à excepção de um ou outro comentador (Anthrax por exemplo), a grande maioria está a falar do que realmente não conhece, e provavelmente nem tem ideia da tal "interactividade" e "realismo" que falam. Mas obviamente, não os censuro por isso. Eu também falo de algumas coisas que, no fundo no fundo, não domino :)
Sim, destruir os automóveis e acabar com as touradas, também sou de opinião que não eliminaria o problema. Mas, sensurar e sansionar a colocação arbitrária de vídeos no youtube e outros, seria sem dúvida, uma medida que iria resultar positiva.
ResponderEliminarAfinal, existem provedores para tudo e mais alguma coisa... e a política de utilização do youtube resume-se a restringir imágens de carácter pornográfico?!
Meu caro,
ResponderEliminarMais uma vez, espero que entenda e aceite como honesta e sincera a correcção que lhe vou fazer.
Se o meu amigo acha que esses videos não deverão estar disponíveis no Youtube, basta que os reporte como atentatórios das regras de conduta do site. No caso em concreto, assim logo de repente, violência gratuita, acidentes chocantes ... Se tiver fundamento, e se um número suficiente de pessoas o fizerem, garantidamente este será removido.
Deixo-lhe, já agora, as "Regras de Comunidade" do Youtube.
http://www.youtube.com/t/community_guidelines
Estes "takedown" tem recuros, pelo que se forem fruto de uma "campanha" ilegal ou movida por motivos dúbios (por exemplo, perseguição política) é sempre possível "recorrer".
Portanto, meu caro Bartolomeu, estas "evoluções" não são más em si. O grande problema é que a maior parte das pessoas usa, "lê em diagonal e assina de cruz", e depois, claro, a única solução quando há problemas acaba sempre por pender pra um "provedor" ou outra tentativa de solução centralizada, imposta e eventualmente causadora de problemas maiores do que os que se propõe solucionar.
Sendo assim, está o caro AF a dizer-me que o sancionamento de publicação e exibição de vídeos de carácter "perigoso" só poderá efectivar-se se os user's do serviço denunciarem esses filmes, num número capaz de sensibilisar o sentido crítico dos administradores do site?
ResponderEliminarSabe bem que não é "só" assim que as coisas se processam.
Os administradores do site têm esse dever e têm de ter esse critério e essa acção.
Agora, se me diz que a exibição destes clipes, dado o número de visionamentos que gera, lhes rende e esse rendimento, atira com os critérios de selecção para o "trash"... bem podem chover denúncias.
Não, Bartolomeu, o que eu estou a dizer é que o meu amigo está a ver a coisa ao contrário. Não existe nenhum sancionamento de publicação, nem critério de selecção a priori. Existem algumas ferramentas automatizadas de scan, mas creio que servem mais pra prevenir infracções de copyright. Agora, para além disso, compete aos interessados promover a não exibição de determinados conteúdos que achem inadequados. E tem todas as ferramentas para o fazer, sem restringir a priori e de forma cega e indiscriminada as liberdades dos demais. E acredite-me, há toneladas de videos que são retirados quase imediatamente.
ResponderEliminarAgora, se os videos das auto-touradas geram receitas mais elevadas, e se não há ninguém que os queira efectivamente tirar do ar ... bem, isso também nos diz algo sobre a verdadeira atitude dos utilizadores do site, que somos todos nós.
Cara Suzana Toscano,
ResponderEliminarAlgures no início dos anos 30, por alturas da falência de um banco que ecoa o recente Lehman Brothers, e em plena depressão como a que se aproxima, um matemático publicou uns teoremas perturbantes.
Mostrou que qualquer matemática mais complexa (como a utilizada na construção de pontes e torres) teria teoremas impossíveis de demonstrar de "dentro" dessa matemática. Era como se no labirinto do conhecimento existissem salas impenetráveis seguindo qualquer caminho no labirinto. Só com labiritintos mais complexos se ganharia o acesso a essas salas com o custo da criação de muitas outras inacessíveis.
A tragédia recente é como se de repente nos fosse dado penetrar numa dessas salas mas é-nos impossível perceber. E ainda mais complicado é tentar encaixar qualquer solução satisfactória num quadro de estado de direito.
É impossível fazer justiça face a este crime.
Há umas semanas atrás depois de ter terminado a Argonautika continuei com uma tradução "recente" da tragédia Medeia. Originalmente escrita há mais de 2500 anos também ela nos dá acesso a essas salas impenetráveis. Naquela altura ainda havia o conforto do destino e da vontade divina.
Hoje em que a humanidade se habitua à solidão na Via Láctea estas janelas horríficas relembra-nos que compreendemos muito pouco o Mundo.
Cumprimentos,
Paulo
Caros AF e Bartolomeu, um diálogo bem vivo e interessante donde me parece que poderemos concluir que é impossível proibir, ainda que essa pudesse ser a solução mais simples, mas proibir o quê, e até onde? como classificar níveis "intoleráveis" de violência e quem os classificaria, enfim, andamos à roda, como diz o caro bartolomeu.E terá que ser cada um de nós, principalmente, atomar conta de si e dos seus, como bem lembra o caro AF, ninguém pode esperar ser protegido o tempo todo de tudo e mais alguma coisa.Os desenvolvimentos desta tragédia também têm permitido concluir que a parte dos jogos, treinos e uso das tecnologias eram puramente instrumentais e não "inspiradores" dos actos em si mesmos. A criatura terá mesmo considerado uma canseira o envio, por mail, do seu "manifesto" a um milhar de destinatários, foi muito mais eficiente um morticínio aleatório para "obrigar" à divulgação mundial dos seus escritos. Ele tinha a certeza de que, à procura de explicar o inexplicável,iriam ter ao documento, chamar-lhe ideologia,o iriam divulgar, escalpelizar, ler e reler, comentar e, dessa forma, propagá-lo até ao infinito, coisa que ele, sozinho, não conseguiria.Os actos abomináveis seriam apenas uma táctica para cumprir a sua estratégia demente.
ResponderEliminarcaro Paulo, excelente comentário, como é habitual, de facto o qu enos horroriza é essa constatação de que não há medida para punir tal crime, ele escapa ao previsível e ao compreensível, entra naquela margem sinistra do que não é possível prevenir sem qeu nos tornemos todos uns paranóicos. Tal como os noruegueses logo perceberam, é preciso continuar a normalidade e confiar que não poderá acontecer de novo, que foi um caso "evil", diabólico, parte desse labirinto desconhecido de que fala.
Cara Susana Toscano, caros comentadores,
ResponderEliminarEstive offline estes últimos dias, pelo que não pude responder.
De qualquer forma, embora se pudesse ainda escalpelizar bastante o tema, o comentário anterior resume e finaliza de forma brilhante esta excelente discussão.
Os meus melhores cumprimentos :)
Também para si, caro AF!
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