sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Papeis trocados: empresas financiam os bancos...

1.De acordo com dados esta semana divulgados no Boletim Estatístico do BdeP, constata-se um fenómeno muito curioso:
– Os créditos concedidos (e outros activos detidos) pelo sistema bancário nacional às (sobre as) empresas não financeiras, no período de Junho/ 2010 a Junho/2011, caíram 1,8%, de € 142.506 milhões para € 139.921 milhões;
- Os depósitos das mesmas empresas nos bancos aumentaram, no mesmo período, de € 29.743 milhões (20,87% dos créditos) para € 31.229 milhões (22,7% dos créditos).
2.Estes dados revelam uma notável inversão de papéis entre a banca e as empresas: enquanto que em condições normais são os bancos que financiam as empresas, em Portugal e neste período em particular, são as empresas que financiam os bancos: e financiaram em nada menos que € 4.071 milhões (diminuição no crédito+aumento dos depósitos), ou seja quase 2,4% do PIB...
3.Esta anómala inversão nas relações entre o sistema bancário e as empresas é o resultado de uma anomalia ainda maior no funcionamento da economia portuguesa, ao longo dos últimos 15 anos, em que o recurso ao financiamento bancário, por parte de particulares e de empresas foi feito sem conta nem medida – muito por responsabilidade dos próprios bancos...
4.Esse descontrolo na concessão de crédito conduziu ao excesso de endividamento de empresas e de particulares, bem como à secagem das fontes de financiamento dos bancos que não conseguem crédito no exterior (com a excepção do apoio do BCE).
5. Caberá perguntar, nesta oportunidade, se este é também o “brilhante” resultado das inúmeras e fabulosas linhas de crédito, envolvendo centenas de milhões de Euros, com que o consulado socrático nos inundou (de anúncios, pelo menos), abrangendo todos os sectores de actividade, desde a agricultura até aos serviços, numa exibição de “luxúria” financeira poucas vezes vista...
6.O que se sabe é que os bancos se encontram sob forte necessidade de reduzir o nível de “alavancagem” (rácio entre “crédito concedido+activos” e “depósitos”), que no sistema bancário nacional andará ainda por 150%...
7.Mas isso está a custar muito à economia, sobretudo às empresas que se deixaram embalar nas facilidades de crédito e que agora se encontram sob fortíssima pressão dos bancos para reduzirem os níveis de exposição, enquanto vão suportando taxas de juro (mais uma pletora de comissões) que não raro excedem os 10%...
8...Enquanto as empresas mais solventes aproveitam (e bem) as altas taxas de juro com que os bancos remuneram os seus depósitos, o que explica a subida global dos depósitos...denotando uma preferência por “cash”, quem sabe mesmo se em detrimento de novos investimentos...
9.As empresas financiando os bancos...quem diria que chegaríamos a este ponto!

6 comentários:

  1. Partindo do presuposto que as contas do BdP não estão erradas e que as empresas que estão a encher os confres bancários de dinheiro em depósitos, não devem aos fornecedores nem ao fisco, só posso concluir que têm estado a brincar ao baillie...
    http://www.youtube.com/watch?v=_gePEIFgdYM

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  2. No dia em que tivermos um governo que diga "vamos cortar x nas despesas porque vão ser x1 em salários, x2 em obras, x3 em juros" pode ser que as pessoas, sejam elas empresas, sejam elas particulares, olhem para o futuro e possam gerir aquilo que gastam, investem ou poupam. Como só temos governos que a única coisa que sabem fazer é destruir, é natural que todos se resguardem para o que aí vem.

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  3. Pois, caro Tavares Moreira, temos que nos ajudar uns aos outros...

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  4. Caro Bartolomeu,

    Sua conclusão não é de todo ilógica, não senhor...

    Caro Tonibler,

    Num ponto tem carradas de razão: se fosse possível (porque não, perguntará) reduzir o Estado a metade daquilo que é consumindo 50% dos recursos que consome, a economia portuguesa entraria numa fase de prosperidade imparável...
    A conclusão é que fomos nós quem deixou criar por acção ou omissão -as condições que garantem a estagnação ou o retrocesso da economia...

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  5. Tem razão, porque não? É só começar por tirar de lá 50% do dinheiro. O resto dos recursos desmobiliza por si.

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  6. Caro Pinho Cardão,

    Exactamente, e neste caso os que precisam aos que podem, seguindo a boa hermeneutica ROSA...

    Caro Tonibler,

    Tem razão, só tirando-lhe o dinheiro é que a situação poderá ser corrigida...enquanto formos "engolindo" o agravamento de impostos, estamos a contribuir para o agravamento indefinido do problema económico português...

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