1.Não foi há muito tempo que entre nós se ouviram vozes de forte indignação contra a decisão das agências de notação financeira (vulgo rating) – com a Moody’s em mira privilegiada – de reduzirem o rating da dívida pública portuguesa...
2.Ouviu-se de tudo, com destaque para uma conjura americana, bem urdida nos bastidores da política e da alta finança, visando desestabilizar a Europa e o Euro em especial, servindo-se da colaboração “sórdida” das famigeradas agências de rating...
3.Nunca alinhamos nesse coro de protestos, que nos pareceu mais uma desculpa para os nossos próprios e graves erros de política económica, acumulados ao longo de pelo menos 15 anos e que nos conduziram a uma situação financeira insustentável cujos contornos se vão tornando a pouco e pouco mais visíveis – e ainda não vimos tudo, certamente...
4.Pelo contrário, encontramos até motivo para comparar essa vaga de “indignação nacional” às manifestações de desagravo típicas dos anos 60 com as quais o antigo regime mobilizava apoio popular contra a actuação dos “inimigos externos” que pretendiam colocar em causa a coesão nacional e a unidade da Pátria...
5.Chegou agora a vez de os USA verem o rating da sua dívida corrigido pela mais prestigiada das agências de rating americanas, a Standard & Poor’s, acontecimento histórico uma vez que a dívida federal americana gozava de rating máximo desde 1917
6.Cabe pois perguntar aos indignados de há um mês como deveremos avaliar a conjura americana para atingir o Euro à luz deste novo dado? Será que a redução do rating da dívida “lá de casa” constitui mais um elemento dessa conjura? Ou será que enfrentamos agora uma conjura chinesa para desestabilizar o mundo ocidental, tendo em conta que a agência de notação chinesa também baixou o rating da dívida USA?
7.Muito curiosa a declaração do Presidente Obama em reacção à decisão da S&P: qualquer que seja a opinião das agências de rating, os USA serão sempre “triple A”...
8.Assim é que é falar: é o próprio devedor que define o nível de risco da sua dívida, não importa a opinião de terceiros por muito especializados que sejam na matéria...
9.Se a moda pega, qq dia teremos a opinião sobre as demonstrações financeiras das empresas a cargo dos respectivos Conselhos de Administração...
10.Os credores que se acautelem...
Na minha humilde opinião, caro Dr. Tavares Moreira, temos de "separar as águas", para que possamos avaliar esta matéria com clareza.
ResponderEliminarConcordo inteiramente quando o caro Dr. refere a má política económica que tem sucessivamente, ao longo de vários anos, contribuido para o descalabro actual. Mas essa política mantem-se, por exemplo, ainda no domingo passado, fui aboradado no Colombo por duas "funcionárias" de um banco, ou ao seu serviço, que tentaram "impingir-me" um cartão de crédito, aliciando-me com a isenção de despesas de manutenção e mais uma quantidade de pseudo-benefícios.
Numa época em que a economia não avança porque os cidadãos perderam poder de compra, porque perderam os empregos, porque acumularam diversas dívidas, etc. permite-se em nome da avidez bancária, que o cidadão continue a ser aliciado a contrair mais crédito. Afinal, existe ou não, crédito mal parado, que é preciso eliminar, resolver para que os bancos tenham liquidez e capacidade de eles próprios contrair empréstimos no exterior, para emprestar às empresas e aos que pretendem iniciar um negócio?!
É ou não fundamental evitar que os cidadãos ao contrário de contrair mais créditos, aforrem e capitalizem o produto do seu aforro, por exemplo, em títulos do tesouro?!
Não compreendo, caro Dr. Tavares Moreira, como é que os sucessivos governos não encontram formas de proteger a estabilidade económica e financeira dos seus cidadãos, não permitindo certos métodos de angariação e persuasão, deixando ficar tudo "ao Deus-dará".
É um "Salve-se quem puder"!
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarO episódio que nos relata é deveras impressionante e deveria incomodar muita gente...mas não incomoda, pelos vistos!
Depois de aplicarem travões às 4 rodas no financiamento da economia produtiva, negando empréstimos às empresas expostas à concorrência ou penalizando-os com "spreads" proibitivos sobre as taxas Euribor - não raro a rondar os 10%, pasme-se - há bancos que ainda se entretêm a "brincar" ao crédito ao consumo como esse episódio ilustra bem...
E depois queixam-se que não têm dinheiro para apoiar a economia, querem exigir que o Estado lhes pague "o que deve" antes mesmo do vencimento, etc, etc.
Há qualquer coisa que não está a funcionar, fez muito bem em chamar a atenção...
Os vícios do passado são bem mais difíceis de abolir do que muitas vezes se pensa, sabe?
Neste caso, parece-me mais subjugação política ao poder financeiro, que falta de vontade política, caro Dr. Tavares Moreira.
ResponderEliminarEu estou para ver, com quem é que os bancos pensam fazer negócios, daqui a mais 5 anos.
A capacidade de endividamento dos particulares está esgotada e as possibilidades de investimento são cada dia mais escassas, desde ha bastante tempo que aumenta o número de falências e o número de novas empresas diminui, com a paqrticularidade que as poucas novas empresas são de dimensão familiar, criadas por pessoas que se acharam no desemprego e que decidiram lutar pela subsistência, recorrendo aos subsídios de desemprego adiantados.
Tudo isto me parecem ser sinais mais que evidentes, que aquilo que é absolutamente necessário nesta altura, é apoiar as iniciativas privadas, numa acção concertada entre os empreendedores, os financiadores e o estado. É necessário apoiar financeiramente, mas também, técnicamente e empresarialmente. É importante que a iniciativa privada cresça apoiada e regulada, para que não se corra o risco de entrar numa nova fase de falências, empresariais e sociais.
Dou-lhr uma boa dose de razão naquilo que propõe, caro Bartolomeu.
ResponderEliminarAinda quero ver como é que o Estado vai emagrecer...porque até agora, de concreto, não vi praticamente nada...bem sei que passou pouco tempo, mas começo a ficar impaciente...
E sem isso, nada há ou muito pouco há que possa valer às empresas expostas à concorrência e que têm potencial de exportação/substituição de importações...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarA opinião da S&P é, sempre será e sempre foi, uma opinião. Quem fez dessa opinião uma lei foi, na realidade, a fúria socialista da regulação que ao embirrar com o "poder do capitalismo selvagem e dos especuladores da economia de casino" resolveu arranjar "entidade idóneas"(e não tenho razão para as julgar de forma diferente) cuja opinião é lei. Não deixo de notar o ridículo, para não dizer pior, dos comentadores de economia deste país que falavam que só os mais distraídos é que não viam os interesses geoestratégicos no downgrade do estado português. Curioso como o mercado da opinião não provoca urticária em ninguém, se calhar por ser visto num estágio moral superior àquele que envolve trabalho e suor...
Até agora sempre achei que a opinião das agências era justificada enquanto tal, é uma opinião. E nessa opinião têm sido fieis aos seus modelos de analíticos. Certos ou errados, são aqueles. Nesta ocasião, a posição do Obama não só a acho correcta como até acho que é a mais fiel ao modelo da S&P que a da S&P. E passo a explicar a minha opinião.
Rating é uma classificação gradativa de carácter relativo. Só a fúria reguladora é que transformou um rating numa probabilidade de incumprimento que, penso eu, as agências de rating nunca o fizeram. Isso significa que há um grau que é o melhor de todos e um que é o pior de todos. Aqueles que são melhores que o pior tem classificações intermédias, tal como aqueles que são piores que o melhor de todos. Tal como na gradação Celcius de temperatura, há dois pontos de referência.
Ora, um default dos EUA não pode ser irrelevante para a Suiça, o Canadá, ou para a Alemanha, ou mesmo para a Apple. Na realidade, faça-se aquilo que se fizer num sistema gradativo de risco, em termos económicos que é isso que vale no fim do dia, há um grau a que a água ferve e esse grau são os EUA. Se há um AAA ele é, e vai ser sempre enquanto a economia mundial andar atrás dele, o estado federal americano. Pelo mesmo modelo que faz a S&P baixar o rating dos bancos gregos, devia baixar todos os outros estados atrás dos EUA e atrás destes as companhias, ou seja, deixava de haver AAA.
Quanto a opinião a cargo das demonstrações financeiras a cargo dos CA's, ela existe sempre como o meu caro bem sabe. Por vezes vale pouco face a outras, por vezes vale muito mais que as outras. Outro "bom" resultado da fúria reguladora foi o Sarbarnes-Oxley Act que limitou de tal forma as "boas opiniões" sobre demonstrações financeiras que hoje acredito tanto nelas como na palavra de um político...
Radical, mas coerente, do meu ponto de vista, caro Tonibler!
ResponderEliminar;)
Caro Tonibler,
ResponderEliminarNo tocante à forma como aprecia o trabalho de notação das agências, de acordo - é, como diz, uma opinião.
Uma opinião fundada sobre imensa informação, quase exaustiva informação, bem como em critérios mais ou menos objectivos de a tratar, ma suma opinião.
Quanto à transformação dessa opinião em lei - a sacralização do rating" - diz que foi "trabalho" dos reguladores...não direi o contrário, acrescentarei apenas que não só dos reguladores mas tb de uma miríade de investidores institucionais (II) que, para procurando proteger a qualidade dos seus activos elevaram a opinião das agências a critério de selecção dos seus investimentos...
E, com essa "harmoniosa" combinação de sacralização pelos reguladores e critério de escolha dos investimentos pelos II se chegou até aos nossos dias...
Já me permito discordar da sua conclusão segundo a qual uma eventual baixa do rating dos USA deveria implicar igual movimento dop rasting das dívidas dos demais soberanos...
Isso poderia ser assim há 50 anos, hoje parece-me bem que não, muitos dos outros soberanos poderão resistir, por muito tempo (indefinido?), a uma perda acentuada de qualidade da dívida americana...
A menos que quando refere "estados atrás dos EUA" esteja a referir-se aos estados da Federação/União Americana e aí já terei de admitir a lógica da sua conclusão...mas com uma excepção.
Essa excepção é o Mississipi que, como sabe, por mais vicissitudes que a Federação/União possa sofrer, estará sempre a coberto de uma crise provocada pelo excessivo endividamento, tal como Portugal...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarquem dá essa importância toda à economia americana não sou eu. Por motivos pessoais ontem fui seguindo atentamente a evolução do mercado de futuros sobre acções que rola em 24/24h e, depois de uma noite desgraçada no oriente e de uma abertura catástrofe na Europa. Enquanto a América dormia, tudo se apresentava em forte queda. De repente, fez-se dia em Nova Iorque e Chicago e tudo ficou verde passadas poucas horas.
Ou seja, há um domínio e esse domínio não é chinês, nem japonês, nem europeu.
Ah, e os investidores institucionais seguem aquilo que os reguladores lhes disserem para seguir. O que não deixa de ser curioso depois da crise do subprime em que quase os reguladores levaram quase todos à ruína(sim, estes, ao contrário das agências de rating, emitem leis e não opiniões, embora o anterior gov. do BoP ainda me fizesse duvidar algumas vezes).
ResponderEliminarDr.Tavares Moreira:
ResponderEliminarAcabei agora mesmo de ler o seu PROCESSO INDECENTE!
E acredita que não fiquei nada surpreendido com o que lhe fizeram?
Quem como eu conhece o snr.Constâncio e toda a sua "entourage",ficaria muito admirado que não tivesse este comportamento!Espantou-me o dr.Marta!Tinha-o noutra conta de pessoa mais vertical!Mas enfim,acabou por se render a ordens superiores!
O que ali é demonstrado,é uma autêntica conspiração contra a sua honorabilidade;contra a sua posição política;em suma,é um ataque soez,perpetrado com "constância"por um verme! A que a "In-justiça" deu cobertura!
Uma pergunta inocente:e não é possível AINDA reverter toda esta tramóia?
Cumpre-me agradecer a sua amabilidade em ter-me enviado aquele exemplar!
Faço votos para que AINDA consiga fazer valer os seus direitos,inclusive judicialmente,pois os danos que lhe foram causados,não se compadecem com apoios morais!
Um abraço do sempre amigo
Albérico Lopes
Caro Tonibler,
ResponderEliminarEstamos certamente de acordo quanto à aprecição que faz da influência do comportamento dos mercados financeiros USA nos restantes mercados por esse mundo fora...
Em particular, recordo a "canção" conhecida "quando a América espirra a Europa apanha uma gripe"...se não é exactamente esse o título da melodia, deve andar perto...
Mas a questão que levantei tem mais a ver com o impacto de um "downgrade" da dívida dos Yankees no rating de outras dívidas soberanas...
Tenho a percepção de que os USA podem ainda vir a sofrer novos "downgrades" sem que isso afecte os ratings de Alemanha e seus pares, por exemplo, e de alguns asiáticos...
Caro Albérico,
ResponderEliminarCreia que muito me sensibilizam suas palavras amigas. Manifestações de amizade como a que ora me testemunha - e tantas e e tantas recebi - são para mim bem mais importantes do que as decisões das instâncias judiciais.
Sem prejuízo de reconhecer que em sede de justiça ganhei tudo o que havia a ganhar, nomeadamente na razão que me foi dada pelos diferentes Juízes quando apreciaram o teor do livro que o meu Amigo agora leu!
Reconheceram a minha sinceridade e a convicção da verdade do que escrevi!
Quanto à política, meu Caro, não estou mesmo interessado!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarTenho a percepção de que os USA não vão deixar que agência nenhuma de rating volte a pronunciar-se sobre o assunto...
Salvo a chinesa, caro Tonibler, salvo a chinesa...
ResponderEliminarPerdão, já esquecia a futura Agência de Rating Europeia (ARE), a constituir por capitais públicos, gerida por um Alto Comissário nomeado pelo Conselho Europeu, totalmente independente para emitir notações de "rating" sobre dívidas soberanas europeias desde que em obediência à opinião do emitente...
...Essa ARE, logo após a sua criação e como primeiro acto, não deixará certamente de baixar o rating da dívida USA...olho por olho, dente por dente!
Uma agência de rating chinesa faz-me lembrar do dia em que estive em trabalho no Cairo e que me serviam água de Evian fabricada no Egipto... Acredito que seja da mesma qualidade, mas fico sempre a pensar que saiu da torneira.
ResponderEliminarA agência Europeia, por outro lado, tendo a chancela dos Profs. José Reis, José Pureza e Prof. Frei Anacleto estamos na Champions no que a análise de risco diz respeito e teremos a garantia que o único AAA vai ser dado às árvores que, como toda a gente sabe, é de onde cai o dinheiro.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarSe a água do Cairo fosse mesmo de torneira, não teríamos já o gosto de ler os seus sempre inspirados comentários....
Era Evian certamente, quando muito num suave blend com águas do baixo Nilo...
Quanto à Agência de Notação Europeia, por que todos tanto ansiamos, considero o seu comentário simplesmente sublime!