Ofereceram-me há dias maçãs e uns pêssegos acompanhados da seguinte recomendação: são naturais, são biológicos, não foram utilizados quaisquer produtos químicos. A satisfação do ofertante era mais do que evidente. Passado um tempo, a mais que esperada pergunta escondia-se numa esquina; - Então, senhor doutor, que tal? Sorri, perante um ritual que se vem mantendo com os mais variados produtos. - Verdadeiramente deliciosos, valeu a pena, disse-lhe, e agradeci, mais uma vez, a gentileza. Só não lhe contei as sensações despertadas pelo cheiro e sabor, tantas a ponto de cavalgarem umas sobre as outras. A memória olfativa e gustativa é a mais poderosa de todas. Não me fiquei pelas deliciosas recordações do passado, fui obrigado a dissertar para mim próprio sobre as vantagens deste tipo de agricultura, sustentável, que preserva o ambiente e os próprios produtos de inúmeras agressões químicas, que vão desequilibrando, infelizmente, o delicado sistema ecológico e atacando os nossos organismos. Não são só as qualidades sápidas e olfativas que estão em jogo, mas também outras propriedades que contribuem para o bem-estar e saúde dos humanos, evitando ou diminuindo muitas afeções que atacam as crianças e os menos jovens. Mas há mais, a promoção da agricultura biológica acompanha-se de rituais e comportamentos mais saudáveis e é promotora de um maior respeito pelo ambiente e favorece as relações pessoais.
Vale a pena respeitar a nossa saúde, vale a pena proteger o ambiente, vale a pena desfrutar certos prazeres, e vale a pena alimentar a alma, o corpo e a própria natureza, uma cumplicidade única ao nosso alcance.
Quando saborearem, por exemplo, um morango ou um pêssego produzidos nestas circunstâncias, cerram os olhos e deixem-se ir embalados pelo prazer ao encontro da natureza...
O primeiro terreno que adquiri, tinha vinha e perto de setenta macieiras de diferentes espécies.
ResponderEliminarQuando visitei esse terreno, antes de o comprar, as árvores encontravam-se tão carregadas de fruta, que alguns ramos estavam partidos com o peso.
Depois de o terreno ser meu, chamei lá um vizinho para podar as árvores. Quando terminou o trabalho, esse vizinho olhou para mim e disse-me; você vai ter de tratar as árvores com... e passou logo ali um receituário de uns três venenos diferentes.
Sorri-me e respondi-lhe que não fazia ideia de aplicar nenhum tipo de veneno nas árvores.
Encolheu os ombros, voltou-me as costas e enquanto foi andando, sentenciou: nesse caso não vai comer uma única maçã.
Na verdade, não comi. Ainda verdes e pequenas, caíam da árvore como se desistissem de prosseguir o seu natural percurso.
Quando adquiri o terreno onde vivo actualmente, plantei algumas árvores de fruto, as quais, desde que foram postas, nunca conheceram qualquer tipo de veneno. Na verdade, duas ou três não resistiram, mas as restantes, lá vão prosperando, lenta, mas sólidamente. E os frutos que vão dando, são tal e qual como aqueles que o caro Professor descreve; carnudos, saborosos, perfumados e aguentam-se tempos infinitos depois de colhidos, sem apodrecer.
O mesmo acontece com os legumes. As batatas por exemplo, têm osabor e textura de que me recordo, quando em criança ía para a aldeia passar um período de férias.
No entanto, interrogo-me, se este procedimento poderá ser mantido por muito mais tempo. A tendência actualmente, é para eliminar o uso de químicos e optar por produtos que combatem as pragas, mas que são classificados de ecológicos.
Do meu ponto de vista e da minha experiência, basta seguir os ciclos da natureza e uzar aquilo que ela coloca ao nosso dispor. Por exemplo; quando lavro, aparecem imediatamente uns passarinhos muito engraçados que saltam de torrão em torrão enquanto vão catando uns bichinhos, que só eles conhecem. E penso; a terra está saudável, uma vez que nela se criam bichos. E se os pássaros os comem, é porque os bichos também estão saudáveis. Estando os bichos e os pássaros e a terra saudáveis, aquilo que nela for criado, será também saudável. E um corpo saudável e forte, resiste melhor às agressões externas. Para ajudar, utilizo um fertilizante produzido num decompositor, onde vou colocando os restos de tudo o que é biológico.
Depois, basta esperar que o clima; o sol e a chuva, o vento, o frio, cumpram a sua parte.
;)
Não é possivel, de forma nenhuma, alimentar 7 000 000 000 de humanos neste planeta sem usar fertilizantes e fitosanitários. Não são os economistas que ainda querem que a população aumente?
ResponderEliminarMas quem é que disse que se pode alimentar o planeta desta forma? Nem assim, nem assado, basta ver os que morrem à fome. Foi um pequeno apontamento que vale o que vale. Pelo menos, espero que não seja objeto de qualquer imposto amalucado e totalitário. Já agora, aproveito para dizer que não há alimentos maus, nem tão pouco "alimentos lixo" como ouço frequentemente e que considero uma obscenidade. Até estes produtos, "diabolizados", poderiam ajudar a matar a fome dos que morrem por estarvação. O fomento da agricultura biológica deve ser encorajada e preservada por razões óbvias, que não se reduzem a qualquer tipo de fundamentalismo...
ResponderEliminarCaro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarCada vez gosto mais de sabores sem corantes nem conservantes. Beber uma limonada com uns limões acabadinhos de apanhar de um limoeiro centenário é um privilégio. E que tal acompanhar com uma broa acabada de sair do forno de lenha e um queijo fresquíssimo de umas cabras que pastam na montanha ao alcance dos nossos olhos? Local, ontem à tarde na minha Beira. Não são produtos biologicamente fabricados, são produtos verdadeiramente naturais.
É um facto que, em boa parte, já nos esquecemos dos deliciosos sabor e cheiro da fruta "verdadeira", apanhada da árvore e sem produtos químicos. Mas, tal o caro Bartolomeu, também vejo como é incerta essa produção, é quase uma questão de sorte (e sabedoria que não tenho, é certo) e as colheitas são muito caprichosas. Mas, quando se conseguem, que maravilha! Deram-lhe um belo presente, caro Massano cardoso, e que lhe tenha feito bom proveito!
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