Na cerimónia de despedida de Jean Claude Trichet como Presidente do Banco Central Europeu, o ex chanceler alemão Helmut Schmitd proferiu um notável discurso sobre a Europa e os problemas de hoje e o que prevê no futuro.
HS afirma que o BCE foi a única instituição capaz de dar alguma resposta à crise financeira de 2008, - recusando-se a dar ouvidos a alemães e a franceses – e só por isso foi possível evitar uma depressão global. Na altura, os Governos do G7, a China e outros, aceitaram, conscientemente, a inevitável consequência do aumento excepcional dos níveis de endividamento e os líderes dos bancos centrais tomaram medidas excepcionais para assegurar a liquidez dos mercados financeiros.
Este facto, diz, torna ainda mais dramático o falhanço político das instituições europeias, incapazes por sua vez de agir, e a discussão sobre a “crise do euro” é apenas conversa fiada de políticos e jornalistas.
Esta crise de capacidade política europeia para agir é uma ameaça muito maior para o futuro da EU do que os níveis de endividamento dos países na zona euro. É certo que não se criaram, ao longo destes 20 anos desde Maastricht, as regras económicas e jurídicas necessárias à moeda única. Foi também a ausência de regras adequadas que permitiu à Alemanha e à França violar o Pacto de Estabilidade e Cumprimento muito antes da Grécia.
Não será possível, diz, modificar estas questões estruturais mudando os Tratados, mas tal não significa que se possa, de forma alguma, usar essa desculpa para incumprir as obrigações de mútua solidariedade e subsidiariedade com as quais estamos moral e juridicamente comprometidos através dos Tratados.
Lembrou o Plano Marshal, o Plano Shuman e a Conferência de Londres sobre a Dívida Externa Alemã, todos dos anos 50, e não deixou de referir que, “curiosamente”, a Alemanha só no ano passado é que acabou de pagar ou seja, beneficiou então de um longo prazo na sequência da reestruturação da sua dívida!
Quanto à perspectiva de longo prazo, Helmut Schmidt avisa que será mais efectiva a cooperação entre o BCE, a Reserva federal e o Banco Central da China e que, dentro de duas décadas, haverá três divisas globais: o dólar americano, o euro e o renminbi chinês. Com ironia, diz esperar que, por essa altura, já a Europa tenha sido capaz de tornar efectivo o que acertou há 3 anos quanto à transparência e regulação das instituições financeiras, porque não se pode permitir os políticos continuem reféns da classe financeira.
Salienta que a Europa está a encolher e a envelhecer. A longo prazo, a Europa será cada vez mais irrelevante do ponto de vista demográfico e, em 2050, toda a EU pesará apenas 10% do valor acrescentado global. Não se entende como é que, perante isto, ainda haja países que considerem que podem valer alguma coisa sozinhos, com base na sua moeda própria ou contando com o seu prestígio nacional. Se o fizerem, estão a actuar contra o seu interesse estratégico e ficarão marginalizados na arena global.
Por isso, diz HS, o sucesso da Europa é do interesse nacional de todos, e os que estão agora temporariamente mais fortes devem, com certeza, ajudar os que são mais fracos.
HS afirma que o BCE foi a única instituição capaz de dar alguma resposta à crise financeira de 2008, - recusando-se a dar ouvidos a alemães e a franceses – e só por isso foi possível evitar uma depressão global. Na altura, os Governos do G7, a China e outros, aceitaram, conscientemente, a inevitável consequência do aumento excepcional dos níveis de endividamento e os líderes dos bancos centrais tomaram medidas excepcionais para assegurar a liquidez dos mercados financeiros.
Este facto, diz, torna ainda mais dramático o falhanço político das instituições europeias, incapazes por sua vez de agir, e a discussão sobre a “crise do euro” é apenas conversa fiada de políticos e jornalistas.
Esta crise de capacidade política europeia para agir é uma ameaça muito maior para o futuro da EU do que os níveis de endividamento dos países na zona euro. É certo que não se criaram, ao longo destes 20 anos desde Maastricht, as regras económicas e jurídicas necessárias à moeda única. Foi também a ausência de regras adequadas que permitiu à Alemanha e à França violar o Pacto de Estabilidade e Cumprimento muito antes da Grécia.
Não será possível, diz, modificar estas questões estruturais mudando os Tratados, mas tal não significa que se possa, de forma alguma, usar essa desculpa para incumprir as obrigações de mútua solidariedade e subsidiariedade com as quais estamos moral e juridicamente comprometidos através dos Tratados.
Lembrou o Plano Marshal, o Plano Shuman e a Conferência de Londres sobre a Dívida Externa Alemã, todos dos anos 50, e não deixou de referir que, “curiosamente”, a Alemanha só no ano passado é que acabou de pagar ou seja, beneficiou então de um longo prazo na sequência da reestruturação da sua dívida!
Quanto à perspectiva de longo prazo, Helmut Schmidt avisa que será mais efectiva a cooperação entre o BCE, a Reserva federal e o Banco Central da China e que, dentro de duas décadas, haverá três divisas globais: o dólar americano, o euro e o renminbi chinês. Com ironia, diz esperar que, por essa altura, já a Europa tenha sido capaz de tornar efectivo o que acertou há 3 anos quanto à transparência e regulação das instituições financeiras, porque não se pode permitir os políticos continuem reféns da classe financeira.
Salienta que a Europa está a encolher e a envelhecer. A longo prazo, a Europa será cada vez mais irrelevante do ponto de vista demográfico e, em 2050, toda a EU pesará apenas 10% do valor acrescentado global. Não se entende como é que, perante isto, ainda haja países que considerem que podem valer alguma coisa sozinhos, com base na sua moeda própria ou contando com o seu prestígio nacional. Se o fizerem, estão a actuar contra o seu interesse estratégico e ficarão marginalizados na arena global.
Por isso, diz HS, o sucesso da Europa é do interesse nacional de todos, e os que estão agora temporariamente mais fortes devem, com certeza, ajudar os que são mais fracos.
Vale bem a pena ler atentamente este discurso.
Notável, de facto. Para quem tem dúvidas sobre a consistência das lideranças atuais em comparação com outros dirigentes de outros tempos, aqui está um bom exemplo...
ResponderEliminarSem dúvida, Suzana, um discurso notável, reconfortante numa época em que os discursos se banalizaram em palavras de incerteza e promessas adiadas. Um discurso lúcido, com um apelo há necessidade de a Europa trabalhar melhor em conjunto do que tem feito no presente. Assim a Europa tenha líderes à altura.
ResponderEliminar... I think the current problem is everyone being seated on a "golden chair" called «supposing». Or... should i call it... "golden share"?!
ResponderEliminar;))
Excelente síntese de excelente e lúcido discurso! Parabéns Dra. Susana!
ResponderEliminarBelo discurso de um homem de Estado!
ResponderEliminarOntem, tivémos uma exibição mais prosaica:
"Ni Mme Merkel ni moi n'étions en fonction lorsqu'on a décidé de faire rentrer la Grèce dans l'euro. Disons les choses comme elles sont : ce fut une erreur".
Sim, sabe mesmo bem encontrar de vez em quando alguma coisa que vale a pena ler...!
ResponderEliminar