1.Existe entre nós um respeitável grupo de personalidades, de brilhantismo variável mas em geral bem-falantes e acérrimos defensores da (sua) Europa que, seguidos de perto por uma numerosa corte de comentadores mediáticos, se têm entregue nos últimos tempos à nobre missão de desancar os líderes europeus – por vezes mesmo lançando sobre estes algumas farpas de sonante agressividade.
2.Consideram suas excelências que estes líderes europeus não são como os anteriores, ou os anteriores dos anteriores, faltando-lhes uma “visão da Europa”, uma “noção estratégica” do projecto europeu, não têm modo de captar o verdadeiro “interesse europeu”, sucumbindo ao “império do mercado”, vergados a uma agenda “neo-liberal”...sem estatura, em suma, para responder ao desafio para que o projecto europeu os “convoca”...tudo muito lamentável, certamente!
3.Na clarividente análise destes “teólogos” da Europa, os líderes europeus actuais, exactamente pela falta dos atributos atrás mencionados, têm demonstrado uma confrangedora inabilidade para ultrapassar um problema cuja solução se afigura, afinal, de “lana caprina”: a constatação de que a zona Euro deixou de funcionar adequadamente, decorridos 12 anos da sua fundação, em resultado da manifesta e reiterada incapacidade de alguns dos seus membros em adoptar políticas económicas e financeiras consistentes com as exigências duma zona monetária de moeda forte...
4.Para estes mesmos “teólogos” da Europa, é inexplicável que um problema destes, cuja solução é de grande simplicidade, não tenha sido já resolvido e de uma penada: emitiam-se eurobonds para financiar os défices dos países mais endividados e mais deficitários, estes apresentavam uns programinhas de correcção das políticas, “home-made”, repletos de referências estratégicas e prometendo um excelente ritmo de crescimento económico...e pronto, assunto resolvido, como não pode deixar de ser entre amigos!
5.Se daqui a 2 anos se viesse porventura a verificar que estava tudo na mesma ou ainda pior, que era necessário repetir a dose, qual o problema? Emitiam-se mais uns eurobonds, fazia-se uma revisão dos programas “home-made” e a caravana seguia em frente, tudo muito europeu e muito estratégico!
6.Quando finalmente se concluísse que nada resultava, que a situação se agravava cada vez mais e já não havia outra solução que não fosse a implosão da zona euro, os nosso “teólogos” da Europajá cá não estariam, teriam procurado refúgio nalguma economia emergente, onde as suas virtudes oratórias e a sua visão estratégica seriam certamente muito bem acolhidas!
"à nobre missão de desancar os líderes europeus".
ResponderEliminarNão há de facto maior facilidade, do que criticar os outros,
descurando uma coisa muito simples:
Que fariam eles, no lugar do outro?
É aliás como o que se tem passado aqui: algumas poucas almas penadas que tiveram o desplante de apontar o óbvio (MedinaC há muito, FerreiraL recentemente).
Talvez resulte de um drama dos altos cargos e pesadas responsabilidades. Registei de alguns antigos generais chefes do Exército, que não tinham tempo para pensar.
Pergunto-me, caro Dr Tavares Moreira,
se algum destes 'teólogos' ainda não percebeu o óbvio.
Do meu ponto de vista, que o país não caminha para a banca rota. Já lá está.
Com 'austeridade' em vez de 'empobrecimento' tipo português suave.
Meu caro Tavares Moreira, terá o meu estimado Amigo muita razão, mas a dimensão da crise não é só economico-financeira. Infelizmente. É política, é institucional e a dificuldade em traçar um rumo é uma evidência dessas outras vertentes que poem em risco muito mais do que a qualidade de vida em termos materiais. Vale a pena meditar nas reflexões de Habermas sobre esta Europa - http://www.presseurop.eu/pt/content/article/1106151-juergen-habermas-esta-em-jogo-democracia
ResponderEliminarCaro BMonteiro,
ResponderEliminarPara estes "teólogos", o óbvio é que refere é algo que se situa no plano contabilistico-financista...
Eles situam-se no plano estratégico, da grande visão da Europa, dos "desafios" globais, não têm tempo nem feitio para as minudências...
Caro F. Almeida´,
Com todo o respeito que a sua opinião sempre me merece, tenho a noção de que este é, na sua origem e essência, um problema económico e financeiro...
Adquiriu uma dimensão política inegável por se tratar de um assunto entre Estados que, pretendendo professar ideias comuns quanto à forma de gerir a economia e as finanças públicas, base fundamental para a partilha da mesma moeda, acabam, muito tardiamente, por concluir que existem enormes diferenças entre eles, e diferenças que são susceptíveis de por em causa a dita partilha em condições pacíficas...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarGostaria de conhecer a sua opinião (se para tal tiver pachorra), sobre a hipótese do BCE como autêntico banco central ou seja como "lender of last resort". Evidentemente que isto das eurobonds é mezinha com pouco futuro.
Caro Wegie,
ResponderEliminarO BCE já funciona,em termos práticos,como "lender of last resort"...
Como bem sabe, sem a ajuda financeira do BCE, os bancos portugueses (e não só)já há muito que não teriam conseguido cumprir as suas obrigações e a economia, se não está nada bem por causa da compressão do crédito bancário, estaria de rastos...
Pretender mais do que isto, não sei o que será...