Estou nos Açores, em Ponta Delgada, chove pouco e de vez em quando muito, sabe-me bem estar sentado à espera da partida. Uma visita rápida, vim ontem à noite e regresso daqui a pouco. Vim fazer uma conferência. Já se tornou um hábito, agradável e desafiante, porque tenho oportunidade de falar de "coisas" que gosto e, sobretudo, fugir à ortodoxia científica. Sabe bem. Para aproveitar o tempo, e não "perder" o texto, o que é muito comum, lembrei-me de o colocar no "Quarto da República", uma espécie de arrecadação. Vejo, agora, que ninguém coloca nada desde janeiro. É obra!
Desta vez deu-me para "embirrar" com Wiliam Ockham. Ele não se deve importar. Reconheço estar perante um notável teólogo, uma espécie de "pai" da ciência em plena idade média. Utilizei os seus conceitos para fazer uma abordagem diferente da diabetes.
Navalha de Ockham e Diabetes
Não consigo localizar com precisão o momento em que li pela primeira vez a frase “Navalha de Ockham”. Sei, apenas, que foi num artigo científico qualquer e incomodou-me, não só porque não entendi de imediato o seu alcance, mas, também, porque a própria palavra “navalha” me cortou o pensamento. Navalha? Mas a propósito de quê? Navalha serve para cortar, para matar ou para curar, o seu significado intrínseco é violento, presumo que todos comunguem desta ideia que lhe está associada. Ainda me recordei dos velhos barbeiros a afiar e a passar a lâmina pelo pescoço e pelas carótidas dos clientes, uma simples distração e o outro mundo ficava de portas escancaradas. Talvez seja por isso que sempre respeitei e temi os barbeiros, para não falar de alguns grupos étnicos cuja cultura se fazia a torto e a direito com navalhas de ponta e mola. Mas vamos ao que interessa, afinal o que é a “Navalha de Ockham” e o que é que tem a ver com a diabetes.
Começo por descrever, ainda que sucintamente, o significado da “Navalha de Ockham”. Trata-se de um princípio lógico que contribuiu de forma elegante e eficiente para o desenvolvimento da ciência. William de Ockham é um dos lógicos mais importantes da idade média, frade, viveu no século XIV e, como muitos outros da altura, deveria preocupar-se mais com a lógica, a filosofia, a matemática e a reflexão do que propriamente com as almas do seu rebanho, e ainda bem. Segundo este princípio, devemos eliminar todas as premissas exceto as absolutamente necessárias à explicação de um fenómeno, princípio também designado por Lei da Parcimónia. Parcimónia que, segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, tem como significados: Ato de poupar, de economizar, de despender moderadamente. Economia; sobriedade...
É verdade, meu caro Professor. Temos uma assoalhada quase devoluta. Temos de animar O Quarto da Republica.
ResponderEliminarMas nao há uma contradição entre o principio da "Navalha de Ockhan" e a definicao/significado de parcimónia?!...
ResponderEliminarNão creio que haja, porque o princípio vai nesse sentido.
ResponderEliminarÉ mais frequente a expressão "Rasoura de Occam".
ResponderEliminarRetira a carga mais agressiva de "navalha" e fica bem porque "rasoura" tanto dá a ideia de cortar como de desbastar para nivelar.
Além disso aproxima-se notoriamente da designação em inglês "Occam's razor".
A proximidade à ortografia inglesa, em que cerca de 50% das palavras provem do latim, é um objectivo que vale a pena preservar. Pelo menos para quem tem formação académica e acompanha os artigos científicos e os jornais do mundo anglo saxónico.
Não sei se é ou não mais frequente.
ResponderEliminarQuanto à "rasoira", havia uma na cozinha da minha avó. Era eu que cortava ou rachava pequenos troncos com a rasoira e, comparativamente à "carga agressiva", não sei qual das duas, a navalha ou a rasoira, é capaz de fazer mais estragos. Pela minha experiência, a última é um instrumento muito mais agressivo capaz de aparar a cabeça de qualquer um...
Ainda bem que me lembrou a palavra, há muito que não a utilizava, mas fez parte do meu glossário infantil, antes mesmo de saber ler. Neste fim de semana, vou ver se a encontro entre o espólio dos herdeiros da minha avó.