quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Para quê a criação de um "sad bank"?

1.Tem sido aventada, nos últimos dias, a hipótese, ao que consta inspirada por alguns banqueiros e pela APB, visando a criação de um novo “banco”, um tal “bad bank”, para o qual seriam transferidos – SEM QQ PERDA, presume-se... – os créditos detidos pelos bancos sobre o sector público, em especial o empresarial - estatal, regional e autárquico...
2.Á guisa de comentário histórico, devo notar que estes mesmos bancos que agora mostram tanta pressa em verem-se livres dos créditos sobre as entidades públicas, estiveram extremamente activos, ao longo dos últimos 10 ou 15 anos – muito fortemente nos últimos 6, certamente - na concessão desses créditos, não constando que alguma vez se tivessem mostrado contrariados com tal política de generosidade creditícia...
3.Ainda no mesmo plano histórico, estamos ainda recordados das opiniões expressas em público por banqueiros de grande notoriedade e influência, apoiando, sem reservas, a política de promoção de grandes obras públicas do anterior governo, subscrevendo o notável argumento de que esses “investimentos” eram benéficos para o desenvolvimento económico...como agora abundantemente se comprova, de resto...
4.Acresce que, tanto quanto sei (posso não saber tudo) o Estado não tem incumprido as suas obrigações financeiras para com os bancos, pagando-lhes os juros e o capital das suas dívidas a tempo e horas...prática que, como bem se sabe, não tem seguido em relação a muitíssimas empresas não financeiras, causando-lhes os maiores transtornos com os atrasos de pagamento em que incorre...
5.Sinto assim alguma dificuldade em perceber esta súbita preocupação dos banqueiros exigindo que o Estado lhes pague o que deve...porque será que de uma política de total abertura e generosidade no apoio creditício às entidades públicas, especialmente empresas, passaram para esta posição de exigir que essas entidades paguem o que lhes devem, e até o façam antes do vencimento?
6.Essa preocupação vai ao ponto de “recomendarem” ao governo a criação do tal banco novo, para armazenar "crédito velho" de que pretendem ver-se livres, utilizando para realizar o capital desse novo banco os € 12 mil milhões consignados no acordo com a “troika” para aumentos do capital de bancos carecidos...
7.Um banco que seria assim detido a 100% pelo Estado para conceder crédito ao próprio Estado? Será que isto faz sentido?
8.E que créditos sobre o Estado (nos seus diferentes níveis) seriam transferidos para esse novo banco – só os detidos pelos bancos portugueses? Bancos como por exemplo o Dexia não teriam tb direito a ceder a este novo banco os seus créditos sobre o sector autárquico português? Convém lembrar que, segundo a “recomendação”, o capital deste banco seria constituído por capitais internacionais...
9.Não me parece muito adequada a expressão “bad bank” para caracterizar a nova instituição financeira supostamente recomendada pelos banqueiros...permito-me por isso sugerir a de “sad bank”, que traduz melhor uma ideia não muito feliz, bem mais triste que feliz...

6 comentários:

  1. E ao ceder o "lixo" a esse Banco recebem títulos que vão trocar ao BCE para financiar a economia.
    Será que Constâncio vai nessa?
    (agora já não está o amigo Sócrates no leme).

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  2. Continua a discussão do sexo dos anjos.
    Não nos bastam as "Estamos" do regime.
    Que falta a esta gente, para perceber a realidade lusitana, de um país pobre, endividado e com um longo 'purgatório' pela frente?
    Tanta conversa p.ex. sobre o OE 2012.
    O resultado de termos tido o Estado ocupado pelas tribos dos pp (PSD/CDS e PS), onde muitos não faziam a mínima ideia do que era um "orçamento".
    Agora, aturem (aturemos) os financiadores.

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  3. Serve aqui de meditação exemplo da crise bancária sueca do início dos anos noventa. O Estado sueco, sob governo conservador por sinal, criou um "banco mau", englobando aí todos os activos "tóxicos", mas, como contrapartida, nacionalizou boa parte da banca. Não foram os bancos, mas sim o Estado, a decidir o que fazer dos seus balanços, promovendo assim outro comportamento do sector. A Suécia conseguiu sair rapidamente da crise e os seus "activos tóxicos" nem sequer foram fonte de grandes perdas, graças à melhoria da capacidade de pagamento que uma economia adquire em tempos de crescimento económico. Obviamente não serve para Portugal que não tem moeda própria...

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  4. O default é a única saída. Até moralmente.

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  5. Eu sugeria a criação de um "bad country" onde se colocaria os activos tóxicos do país. Já tem governo, PR, media, associações, instituiçõs, justiça, etc... Depois empacota-se e mete-se na zona franca da madeira.

    Depois, estamos livres...

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  6. Caro Tavares Moreira:
    Por uma vez, divirjo do meu amigo.
    Poderia comentar aqui porquê. Mas, dada a importância do tema para a economia, irei explicitar em post as razões da minha amigável divergência.
    E, também por uma vez, aqui teremos dois autores do 4R em animada oposição. Sobre um tema específico, claro está!...

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