1. Em post intitulado “Para quê a criação de um “sad bank”, o meu amigo Tavares Moreira insurge-se contra a aventada ideia passar os créditos detidos pelos bancos sobre o sector público para um novo Banco ou veículo financeiro, desfazendo-se assim desses “activos”.
Por uma vez, alguma teria que ser, aqui amigavelmente divirjo do meu amigo Tavares Moreira. E, dada a importância que o tema assume para o financiamento da economia e das empresas, decidi fazer um post de resposta, e não um simples comentário.
2. É certo que os Bancos apoiaram em crédito a política keinesianeira (nem lhe chamo keynesiana, por respeito a Keynes) levada a cabo pelos governos de Sócrates, de investimentos em megalómanas e desnecessárias obras públicas, PPPs, etc e tal, que conhecemos.
3. É também certo que foi essa colossal despesa pública que levou aos colossais défices, à colossal carga fiscal e à colossal dívida pública. E certo é ainda que foi essa colossal dívida pública que levou às contínuas baixas de rating da República.
4. Certo é também que essas baixas de rating foram automaticamente replicadas nos Bancos, um dos motivos que levou a que o mercado, depois de se fechar à República, também se tivesse fechado aos Bancos. A única fonte de liquidez, neste momento, é o BCE, aliás cada vez mais difícil porque a baixa do rating da República afecta o valor das contra-garantias, em Obrigações do Tesouro, que os Bancos têm que prestar.
5. Daqui resulta que a Banca não tem liquidez para financiar a economia.
6. Acresce a este facto que os Bancos foram obrigados pelos Reguladores europeu e nacional(B. Portugal) a diminuir o rácio Crédito/Depósitos de 150% para 120% até ao fim de 2013. Isso leva a que não haja, nem um cêntimo, para financiar as empresas, a não ser alguma migalha que possa resultar de um lento aumento dos depósitos ou de um não menos lento movimento de redução do crédito.
7. Assim sendo, faria todo o sentido que o Estado pagasse as dívidas que as empresas públicas deficitárias nunca conseguirão pagar e que o Estado tem que assumir, ou já assumiu, através de avales prestados. E que atingem, segundo notícias públicas, cerca de 40 mil milhões de euros.
8. Este reembolso permitiria reduzir o numerador do rácio citado, libertando, assim, fundos para acudir às necessidades das empresas.
9. Como será difícil ou impossível o Estado fazê-lo já, nasceu a ideia de criar o tal veículo ou Banco, para onde sairiam as dívidas do sector público, libertando fundos para a economia real.
1o. Caso uma ou outra das alternativas não seja concretizada, quem sofre são as empresas, que não conseguem qualquer crédito dos principais Bancos. E, no fim, a economia e o emprego.
11. A linha de recapitalização, se aumenta a solvência dos Bancos, não vai influir em nenhum dos termos do rácio Crédito/Depósitos, pelo que é de nulo efeito para o financiamento da economia. E a falta de financiamento é o principal estrangulamento actual das empresas.
12. Pelo que, em termos de efeito benéfico para a economia, a ideia não é insensata, nem insensata é a ideia de alterar o destino dos 12 mil milhões de euros de recapitalização para reembolso de dívida do estado e sector empresarial.
Por uma vez, alguma teria que ser, aqui amigavelmente divirjo do meu amigo Tavares Moreira. E, dada a importância que o tema assume para o financiamento da economia e das empresas, decidi fazer um post de resposta, e não um simples comentário.
2. É certo que os Bancos apoiaram em crédito a política keinesianeira (nem lhe chamo keynesiana, por respeito a Keynes) levada a cabo pelos governos de Sócrates, de investimentos em megalómanas e desnecessárias obras públicas, PPPs, etc e tal, que conhecemos.
3. É também certo que foi essa colossal despesa pública que levou aos colossais défices, à colossal carga fiscal e à colossal dívida pública. E certo é ainda que foi essa colossal dívida pública que levou às contínuas baixas de rating da República.
4. Certo é também que essas baixas de rating foram automaticamente replicadas nos Bancos, um dos motivos que levou a que o mercado, depois de se fechar à República, também se tivesse fechado aos Bancos. A única fonte de liquidez, neste momento, é o BCE, aliás cada vez mais difícil porque a baixa do rating da República afecta o valor das contra-garantias, em Obrigações do Tesouro, que os Bancos têm que prestar.
5. Daqui resulta que a Banca não tem liquidez para financiar a economia.
6. Acresce a este facto que os Bancos foram obrigados pelos Reguladores europeu e nacional(B. Portugal) a diminuir o rácio Crédito/Depósitos de 150% para 120% até ao fim de 2013. Isso leva a que não haja, nem um cêntimo, para financiar as empresas, a não ser alguma migalha que possa resultar de um lento aumento dos depósitos ou de um não menos lento movimento de redução do crédito.
7. Assim sendo, faria todo o sentido que o Estado pagasse as dívidas que as empresas públicas deficitárias nunca conseguirão pagar e que o Estado tem que assumir, ou já assumiu, através de avales prestados. E que atingem, segundo notícias públicas, cerca de 40 mil milhões de euros.
8. Este reembolso permitiria reduzir o numerador do rácio citado, libertando, assim, fundos para acudir às necessidades das empresas.
9. Como será difícil ou impossível o Estado fazê-lo já, nasceu a ideia de criar o tal veículo ou Banco, para onde sairiam as dívidas do sector público, libertando fundos para a economia real.
1o. Caso uma ou outra das alternativas não seja concretizada, quem sofre são as empresas, que não conseguem qualquer crédito dos principais Bancos. E, no fim, a economia e o emprego.
11. A linha de recapitalização, se aumenta a solvência dos Bancos, não vai influir em nenhum dos termos do rácio Crédito/Depósitos, pelo que é de nulo efeito para o financiamento da economia. E a falta de financiamento é o principal estrangulamento actual das empresas.
12. Pelo que, em termos de efeito benéfico para a economia, a ideia não é insensata, nem insensata é a ideia de alterar o destino dos 12 mil milhões de euros de recapitalização para reembolso de dívida do estado e sector empresarial.
E é o que se me oferece dizer. E esta de dois autores do 4R, ainda por cima amigos de há 40 anos, estarem em oposição? E, logo, pública!...
Nem outra atitude poderíam os fieis frequentadores do "quarta" esperar, das altas competências dos dois... não lhes chamarei contendores, mas sim interlocutores.
ResponderEliminarContudo, o esclarecimento para aqueles que como eu, não "vêm boi" deste assunto, fica incompletíssimo.
A mim, surge-me de imediato uma dúvida; qual será o rating que a Moody's (por exemplo) irá atribuir a esse novo banco?
Terá este novo banco investidores privados?
E depositantes?
A que tipo de negócios se irá dedicar?
Será somente um banco dedicado a cobranças?
E os lucros, serão capitalizados? De que forma? Em benefício de quem?
Poderei abrir conta neste novo banco e... subscrever aplicações financeiras... com que risco?
Hmmmm...
Não quero ser pessimista, nem crítico sobre aquilo que desconheço mas, á partida, parece-me negócio de cascas de alho, ou, uma forma dissimulada de colocar o esfarrapado contribuinte, a pagar aquilo que outros gastaram em proveito próprio.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarMas para isso pega-se nos 12 mil milhões e paga-se aos bancos. Porquê utilizar uma licença bancária? Para enganar mais alguns incautos? Ou, na verdade, para fingir que se paga 120 mil milhões e não 12 mil milhões?
Eu não acho a ideia má mas para o estado inteiro. Faz-se um "bad country", cria-se um bantustão no perímetro do aeroporto de Beja e as troika que se amanhe com "Bejogal, o 28º membro da UE" com o governo, com o PR, com o PGR, com os TC, com o.... a gente nem se importa que as tranches de ajuda vão todas para lá. Até se poderia fazer a "região autónoma do fim da pista" para o Jardim fazer uns carnavais.
Caro Pinho Cardão
ResponderEliminarDesculpe o desbafo mas, esta "conversa" sobre banco sim, banco não tem um ligeiro travo a puericultura: o menino(a) deve ou não usar chucha?
Os bancos ao proporem essa soluçao o que dão em contrapartida? Quais são os efeitos sobre a economia? Como podem as empresas beneficiar e quando?
O resto, desculpe mas o que interessa?
Não estou sequer a questionar os argumentos que aduz em favor da solução mas, a indagar o que oferecem os bancos em troca; há uma parte desta nossa sociedade que pede mas, por razões que, ainda, desconheço, não apresenta o que dá em troca, como e quando.
Cumprimentos
joão
Leio e releio este teu comentário e não entendo como é que se transferem créditos sem que alguém os pague.
ResponderEliminarCito-te: "...a ideia de criar o tal veículo ou Banco, para onde sairiam as dívidas do sector público, libertando fundos para a economia real..."
(Só agora descobriram que há economia real ... mas adiante...)
Sairiam, como? Deixariam de fazer parte dos balanços dos bancos por contrapartida de quê?
Por contrapartida de uma (bad) participação financeira no tal bad bank, reduzindo disfarçadamente o montante do crédito concedido?
E as margens conseguidas ao longo dos anos com a intermediação desses empréstimos continuariam embolsadas pelos bancos?
Grande negócio!!!
Caro António,
Os banqueiros fizeram trinta por uma linha e agora, de calças na mão, pedem socorro. O habitual.
O "moral hazard" sem tirar nem pôr. Realizaram lucros proclamadamente fabulosos, embolsaram prémios, bónus e outras formas de embolsar e agora, que a maré baixou e o lodo tresanda, querem que os desatasquem.
Não tenho dúvidas que não temos alternativa senão pagar por isso e a carga fiscal (que tu tanto abominavas mas que teria sido preventiva), aí está, pesada como nunca. Mas era bom que trocássemos umas ideias acerca do assunto.
É tempo de prestação de contas neste País que estiola à míngua de justiça.
Os casos BPN, BPP onde páram?
A operação furacão por onde anda?
Quem, na Caixa, concedeu o crédito para fins especulativos a Berardo e outros compadres?
A quanto montam as dívidas duvidosas aos bancos
por créditos a compras de acções outros títulos?
Quantos milhões se encontram aplicados em offshores pela banca nacional?
Por que não intervêm os bancos no repatriamento dos fundos em fuga aos impostos?
Por que não reforçam os banqueiros os capitais próprios dos bancos com as remunerações soberbas (mas afinal ilegítimas) de que se apropriaram promovendo operações incobráveis?
Etc, etc., etc.
Ontem afirmava um banqueiro (por sinal aquele que ainda me merece algum respeito) que há uma "pobreza intelectual" por parte de quem devia decidir a tempo e não decide, e atirava-se à Comissão Europeia e ao FMI.E isto porque os banqueiros são rápidos e os políticos lentos. Pudera: os banqueiros contam sempre com a rede "moral hazard"!
Só que, caro António, eles sabiam, eles tinham obrigação de saber que a rede por vezes, quando os tombos são fortes e frequentes, cede e abre buracos. Quando aquele mesmo banqueiro (que, repito, é o que me merece ainda alguma confiança) fala em pobreza moral, de que falará ele se o confrontarem com o facto de ter intermediado empréstimos à Grécia que custarão ao banco (ele o confirmou) entre 300 e 500 milhões?
Ele não sabia para onde ia a Grécia? Foi a primeira vez que ocorreram problemas de insolvência de dívidas soberanas? Carmen Reinhart e Kenneth S. Rogoff, em "This Time is Different" incluem uma lista longa.
Voltando ao bad bank. Com ele ou outra "inovação financeira" qualquer (sempre que há inovação financeira alguém vai ser enganado)não nos livramos de pagar a conta. O que deveríamos, no mínimo, exigir, se fôssemos um país de gente colectivamente consciente, era que a factura fosse discriminada e fazer pagar algumas das parcelas a quem comeu o que nós vimos comer.
Robert Happé, andou pelo mundo, estudou civilizações e hoje, sentado no sofá da sala, conclui:«À 2.000 anos atrás, tivemos um grande Homem chamado Jesus, que expulsou os cambistas do templo e disse: "Estes são o pior dos piores, não volteis a deixa-los entrar, porque eles vão destruir o mundo" ... mas eles entraram... porque nós deixámos...
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=3pH2TdAt1t8
Caríssimos Bartolomeu, Tonibler, João Jardine, Rui Fonseca:
ResponderEliminarComeço por um comentário geral e depois irei a cada um dos meus amigos em particular.
Quero, em primeiro ligar, recordar que terminei o meu post da seguinte maneira, e transcrevo: “…pelo que, em termos de efeito benéfico para a economia, a ideia (da criação de tal banco) não é insensata…”. Nunca disse que era a solução, muito menos, a melhor solução. Mas, não sendo insensata a ideia, como me parece, merece que se lhe dê atenção. Para devidamente a enquadrar, abandonar ou melhorar.
Acontece que nenhum dos meus amigos contestou a lógica e a argumentação. Limitaram-se a não aceitar, sequer, a ideia. “Negócio de cascas de alho, ou, uma forma dissimulada de colocar o esfarrapado contribuinte, a pagar aquilo que outros gastaram em proveito próprio”, chamou-lhe o Bartolomeu; ideia “para enganar incautos”, refere o Tonibler; “desconhecem-se “os termos de troca”, diz o João Jardine; ou porque “com ele (o novo Banco…) ou outra "inovação financeira" qualquer (sempre que há inovação financeira alguém vai ser enganado)não nos livramos de pagar a conta”, finaliza o Rui Fonseca.
No fundo, os meus amigos metem a cabeça na areia, ficam-se nos erros passados e não admitem discutir soluções de futuro. Entretanto, atribuem culpas aos pérfidos banqueiros. Situação, aliás, usual: no mundo ocidental, as culpas ou são dos judeus ou dos banqueiros, nunca dos políticos ou dos governos, das más políticas e das leis que fazem ou da justiça que permitem.
O que foi mal feito, mal feito está e não é possível corrigir. O problema presente é o do financiamento da economia; sem financiamento, não há recuperação possível. E esse não é um problema dos banqueiros, ou dos Bancos, mas do país.
A criação do tal veículo, se viável, que não sei, permitiria dar liquidez à Banca. A ideia não é, pois, insensata, e é uma alternativa a estudar, como muitas outras.
No fim, fico com uma estranheza enorme: alguns dos meus amigos criticaram as agências de rating pela avaliação da dívida pública, contestando as notas de rating. Agora, vêm dizer que o contribuinte é que tem que pagar. Então, em que é que ficamos?
Continuando...
ResponderEliminarCaro Bartolomeu:
Não me peça para responder às suas interrogações, que não sei. Mas sei que muitas delas terão que ser respondidas se a ideia se concretizar. Aliás, se os Bancos com ela concordarem, o que não é líquido. O que é bom para a economia pode não ser bom para os Bancos. E alguns poderão preferir continuar a ter o Estado como devedor.
Caro Tonibler:
Claro que os 12 mil milhões poderiam ser reconvertidos em pagamentos dos créditos. Seria uma solução para a economia. Acontece que os Reguladores europeu e nacional exigem rácios de solvabilidade para os Bancos portugueses mais elevados dos que os exigidos a outros Bancos e a Troika quer manter esse valor como reserva para tal efeito. Melhor do que ninguém, dadas as suas actuais investigações, o meu amigo julgará sobre a prioridade que deve ser conferida, no momento, aos rácios de capital ou à liquidez.
Caro João Jardine:
O que é que os Bancos dão em troca? Não creio que os Bancos, de per si, tenham vantagem em trocar dívida do estado por liquidez e, depois, reciclar essa liquidez para o sector produtivo. Para mim, a grande vantagem é para a economia. A não ser que se parta do princípio de que dívida do Estado é dívida perdida…
Caro Rui Fonseca:
Haveria muito para dizer. Pelo que me cinjo à tua primeira questão: não entendes como é que se transferem créditos sem que alguém os pague. Mas, claro, que o tal eventual veículo teria que os pagar, ao valor nominal ou a desconto. Para tal, o veículo, ou Banco teria que ter capital e accionistas. Teria que ser montado. Donde viriam os fundos? Não me compete responder por quem teve a ideia. Mas poderei pensar, com certa lógica, que poderiam ser os Bancos e o Fundo criado pela EU para apoiar os países em crise. Com um capital adequado, o veículo poderia endividar-se, por exemplo, junto do BCE, para obter os valores necessários para comprar a dívida aos Bancos. Isto sou eu a pensar, sem procuração de ninguém. Claro que os Bancos teriam que ver se uma deterioração dos rácios de capital derivada da aplicação de capital em tal veículo era compensada por uma melhoria do rácio proveniente da alienação dos activos emergente da operação. É apenas uma ideia, penso eu, a estudar. E nunca a deitar fora à primeira impressão.
Penso eu de que…
Mmm, bancos... figurinhas aterradoras... primam pela falta de criatividade e originalidade. São cinzentões... quem os vê, a usar aquelas gravatinhas todas apertadinhas ali à volta do pescoço, só pode deduzir que o resultado final seja uma oxigenação cerebral deficitária.
ResponderEliminarSabe Dr. PC, gosto muito de si mas não percebo nada de bancos. Posso dizer-lhe que há uns que têm uns edifícios bonitos, outros têm um nome giro e que impõe algum respeito (sim, há nomes que impõem algum respeito só de serem pronunciados, são nomes fortes) e depois têm um bando de pessoas cinzentonas que lá trabalham dentro... desde cima até abaixo. Falta-lhes personalidade. Uma identidade que os caracterize e os distinga daquela grande nuvem cinzenta. São uma espécie de "Maria vai com as outras", seguem o resto do rebanho como se fossem criaturas acéfalas.
Mas que eu acho, realmente, trágico é aquela capacidade que têm em fazer as asneiras e depois esperar que os outros resolvam, como se as suas acções prévias estivessem cobertas por um manto de ingenuídade.
Subscrevo o comentário do Rui Fonseca e mais correcto do que a designação de "bad bank", é a designação de "sad bank". É tudo muito "sad", de facto.
Cara Anthrax:
ResponderEliminarPronto, a culpa é dos Bancos, essa malandragem, ainda por cima sem criatividade, bandos de cinzentões, judeus sem emenda...Deviam já ser todos expulsos. No século XVI, fogo com eles, no Largo de S.Domingos.
Malandros! Fascistas! Exploradores do povo! Reaccionários! Sabotadores! Ainda por cima, com má figura!
E não haver quem lhes faça engolir uns pòzinhos de anthrax para os envenenar de vez!...
Caro Dr. Pinho Cardão, tenho um amigo de infância que administra uma área de um grande banco.
ResponderEliminarDesde que casámos (cada um com a sua respectiva esposa, evidentemente) passámos a visitar-nos com relativa frequência. Nessas visitas, passámos longas horas a conversar acerca das evoluções e alterações que estavam a ser introduzidas nas gerências bancárias, as quais, na sua maioria, importadas de modelos estranjeiros. Era a tendência de mercado, dizia-me o meu amigo.
Ha uns bons anos, ainda os nossos filhos eram pequenos, passaram 15 dias, sem que o meu amigo aparecesse. Quando me dirigi a sua casa, receoso que algum problema de saúde o tivesse afectado, atendeu-me a esposa. Exibia um ar pesaroso e quando lhe perguntei pelo marido, respondeu-me evasivamente que se encontrava fora, em trabalho, mas que quando regressasse falaria comigo.
Percebi imediatamente que um grave problema estaria a passar-se e, limitei-me a oferecer a minha ajuda para aquilo que precisassem.
Quando finalmente tive oportunidade de me encontrar com o meu amigo, ele estava já num processo de depressão, devido às pressões que a presidência do banco exercia sobre os seus funcionários, começando pelas administrações, a ponto de serem "enclausurados" em hoteis de luxo, afastados das cidades, onde eram sujeitos a um horário militarista e a reuniões, sobre reuniões o dia inteiro, com a finalidade de lhes incutir um "espírito" agressivo e competitivo de conquista de objectivos, os quais, assim que alcançados, se tornavam mais exigentes.
Esta política que na altura me deixou absolutamente estupefacto, porque só a poderia imaginar a ser praticada em países como a China ou a Indonésia, deu o resultado a que agora estamos a assistir: produtos tóxicos d'embarda!
E de que maneira propõem os banqueiros "reciclar" esses produtos, caro Dr. Pinho Cardão?
Lançando-os para uma auto-clave onde, por "obra e graça" se irão transformar em reluzentes títulos de dívida soberana de países que entretanto vão compôr um novo globo, não no final da pista de Beja, como profetiza o caro Tonibler, mas provávelmente, na estratosfera.
Entretanto, os nossos grandiosos banqueiros, continuarão plácidamente a ser aguerridos às custas da parolice-geral, porque se souberam camuflar sob a capa que o nosso amigo Robert Happé, refere... ninguém conhece ao certo para quem deve dirigir as suas queixas a es suas reclamações.
Tenho a certeza que ha soluções mais equilibradas, caro Dr. Pinho Cardão. Uma delas, no meu ponto de vista, passa pela distribuição dos prejuízos, deduzidos dos lucros.
Assim haja vontade!
;)
Ah!
Cumpre-me ainda, agradecer-lhe a resposta ao meu comentário.
Na sequência do post e de alguns comentários acima, deixo aqui o link para um artigo que considero muito interessante, onde o autor não só analisa os problemas, mas propõe soluções.
ResponderEliminarhttp://www.oftwominds.com/blogoct11/making-a-living-Zeus-pt1.html
(o facto do autor se chamar Zeus é só por si auspicioso :D )
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarSe há coisa que nunca me tinham dito era que eu fazia dos banqueiros os maus da fita:) E não estava a criticar os banqueiros, apenas o negócio. Acho que me expliquei mal.
Os banqueiros querem ver-se livres dos créditos ao estado. Isso parece-me óbvio e necessário. Para eles e para nós. Como é que isso passa a ser justificativa para um banco "especial" para absorver esses créditos é que me escapa.
A não ser que os créditos que há para deitar fora sejam, não de 12 mil milhões, mas sim de 120 mil milhões. E aí faz sentido o que me diz dos rácios de solvabilidade, metem-se os 12 mil no capital vai-se buscar mais 108 mil sabe-se lá onde e absorvem-se os 120 mil.
O meu problema com isto tudo é que vigarice se vai arranjar (e não vem dos banqueiros de certeza) para os 108 mil milhões que têm de entrar nos passivos do "banco lixeira" que se vai formar. Daí a minha questão: porque é que não se pagam os créditos directamente?
Caro Tonibler:
ResponderEliminarClaro! Essa seria a solução. O problema é como.
E como ainda não se chegou a ela, à solução mais simples, impera a criatividade. O que não é insensato.
Caro AF:
Vou ver.
Caro Bartolomeu:
Será uma excepção, pois não creio que seja regra martirizar assim os colaboradores...Mas, se for, nesse Banco, cadeia com eles!...
Quanto ao resto, distribuição dos prejuízos, por quem? Se vão ser distribuídos, não tenha dúvida, ainda todos pagaremos mais.
Dr. PC... :)))
ResponderEliminarNem todos podem ter alma de artista... :) Apesar de que a minha é um bocado mais exuberante.
Os cinzentões também são necessários para um equílibrio saudável do ecossistema. Se eu fosse um banco, trabalhasse num banco ou fosse dona de um banco, tenho a certeza que a minha perspectiva seria outra.
Sabe qual é o aspecto mais positivo que eu vejo nas crises? É a busca pelas soluções. É aquele processo que nos conduz a procurar as diversas alternativas para ultrapassar um ou vários obstáculos. Isto é algo que considero absolutamente fascinante. No entanto, o verdadeiro toque de génio está na capacidade de encontrar uma solução que resolva o problema, mas não ponha em causa o equílibrio.
Presumo que o Dr. PC conheça a teoria dos jogos e a minha única crítica é que a forma como descreve os benefícios da criação de um "bad bank", no limite, parece que estamos perante um jogo de soma zero e os jogos de soma zero, por norma não têm um resultado equilibrado.
O ideal seria procurar um jogo de soma diferente de zero, para que os ganhos de uns não correspondam, necessariamente, às perdas dos outros e isso só pode ser alcançado através de um comportamento cooperativo. Eu não vejo nenhum laivo de comportamento cooperativo na criação de um "bad bank", mas isso também pode ser porque não tenho informação suficiente sobre os mesmos.
Competição, cooperação. Eficiência, resiliência. Quando se dá exagerado ênfase a apenas um dos lados, a coisa descamba (eventualmente).
ResponderEliminarCaro Pinho Cardão
ResponderEliminarVai-me desculpar mas não podemos avaliar uma medida pelo que supomos que será o comportamento racional dos intervenientes, em especial quando o "cadastro" anterior é, no mínimo, sui generis.
Era de esperar que os bancos, demonstrando um comportamento racional, não assumissem os riscos que assumiram ao comprar, nas quantidades que compraram, dívida da republica.
Assim sendo e porque não lhe "maço" mais com minudências, em face da proposta dos bancos, é legítimo e racional, antes de decidir, indagar qual a contrapartida para esse pedido; convenhamos que, a boa vontade, paciência e confiança anteriores estão, naturalmente, abaladas; ao ponto de, ser prudente e de bom pater familias, evitar de "oferecer cheques em branco".
Como vê, sem a promessa publica dos bancos (acho que a palavra ainda vale), o modo como "isso" se faz é, naturalmente, indiferente; sair deste registo é, como disse antes, entrar em matérias de puericultura.
Cumprimentos
joão