terça-feira, 25 de outubro de 2011

Resgate financeiro:ex-PM estava cheio de razão?

1.Ainda nos recordamos da cena “gaga” daquela noite em que o ex-PM apareceu nas câmaras da TV, com fisionomia estranha, acompanhado de uma “múmia” quase fantasmagórica, anunciando o excelente Memorando de Entendimento negociado com o FMI e a União Europeia, tendo por objecto o resgate financeiro do País...
2.Sabemos que a negociação desse resgate financeiro não foi nada pacífica, que o ex-PM resistitu até ao fim à sua negociação e que o ex-Ministro T. dos Santos concluiu a negociação praticamente à revelia do PM, pressionado pela Banca entre outros agentes compressores...
3.Por vontade do ex-PM o resgate financeiro teria pois sido adiado “sine die”, do que iriam resultar dois cenários possíveis:
- Num 1º cenário, o País continuava a cumprir o serviço da dívida pública, juros e amortizações, para que os credores não nos fechassem a porta e não entrássemos em imediata bancarrota;
- Num 2º cenário, o País deixava de cumprir o serviço da dívida pública (e outra), entrando em imediata bancarrota.
4.No 1º cenário, para pagar o serviço da dívida, o Estado teria de suspender, total ou parcialmente, (i) o pagamento dos salários da função pública, (ii) as transferências para o SNS e para a SS, além de outros serviços autónomos (Universidades, por exemplo), (iii) as transferências para as Regiões Autónomas e Municípios, (iv) os apoios financeiros às financeiramente decrépitas empresas de transporte público, etc, etc.
5.Não é difícil imaginar o que seriam as consequências do generalizado incumprimento das obrigações internas do Estado: (i) funcionários públicos na rua todos os dias, com tachos, panelas e outros utensílios reclamando pelo seu salário,(ii) hospitais semi-paralizados, (iii) transportes públicos totalmente desorganizados, (iv)greves gerais a cada 15 dias, (v)tumultos, (vi)assaltos a “hipers”, etc, etc.
6. No 2º cenário, entraríamos em imediata bancarrota, com o crédito externo totalmente cortado e sem qq ajuda dos organismos internacionais que neste momento financiam mais de 60% das Necessidades Brutas de Financiamento do Estado, corrida aos bancos que se veriam forçados a limitar os levantamentos das contas de depósito a € 100 ou €200/semana, começaríamos a ter falta de produtos importados como os combustíveis com formação de longas filas para o abastecimento e a emergência de um mercado negro...
7.Qualquer destes cenários não poderia durar mais de 2 a 3 meses pois seria acompanhado de uma violenta crise política, da tumultuosa queda do governo e...de um inevitável resgate financeiro, negociado em condições absolutamente dramáticas...
8. Quando, em tal cenário, o FMI e a U.E. viessem por hipótese informar que a tragédia em que o País tinha caído teria solução com algumas medidas de contenção como a suspensão dos subsídios de Natal e de Férias para os funcionários públicos e similares, com a redução das despesas de saúde, com a educação e outras funções do Estado bem como das transferências para as Regiões e Municípios...
9. ...Essa notícia seria recebida com alegria incontida, com enorme alívio, como se houvesse “caído do Céu”...a Troika seria aclamada como a salvadora da Pátria, o País mobilizava-se para as inadiáveis tarefas da recuperação...
10. Bastariam pois 2 ou 3 meses de experiência com a realidade que nos espera caso falhássemos - por culpa própria ou por falta de entendimento quanto ao essencial do que nos cabe fazer - o cumprimento dos objectivos estabelecidos no PAEF, para que o País considerasse o mesmo PAEF como uma solução redentora...
11. Por isso, quando agora assisto a estas intermináveis querelas e desacertos por causa dos inevitáveis cortes na despesa do Estado, concluo que estaria certo o ex-PM quando tentou até ao fim resistir ao resgate financeiro...e quem andou mal foram o ex-Min. Finanças+ bancos quando pressionaram a negociação desse resgate...

7 comentários:

  1. Nessa altura... ainda o conhecimento público de metade dos buracos financeiros, não se tinha dado. Quando a outra metade, aquela que ainda se desconhece, vier a público, serão o PM e o Ministro das Finanças actuais, capazes de salvar o país da bancarota?
    Vamos ver, caro Dr. Tavares Moreira, se ainda vamos ter tempo para almoçar...

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  2. Anónimo12:46

    Caro Tavares Moreira, o ser humano funciona assim. Aliás, veja como ainda persistem vindos de certos quadrantes os apelos a que o Estado Português simplesmente deixe de cumprir o serviço da dívida. Provar durante uns meses o que pedem talvez não viesse mal...

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  3. Caro Bartolomeu,

    Se as circunstâncias impuserem, almoçaremos às escondidas, trajando chapéu, óculos escuros e barba longa, aí para as bandas de Arruda...
    Sem almoço é que não poderemos ficar...

    Caro Zuricher,

    A brincar que o diga, não excluo que esteja cheio de razão...

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  4. Os pontos 2 e 3, deviam ser analisados no domínio da psiquiatria.
    Tendo presente a minha costela de antigo crente religioso e eleitor socialista.
    Como entender o acesso dos principais responsáveis políticos ao poder de PM?
    De Barroso a Sócrates, uma troika antecipada para desfazer um país.
    Com um peso esmagador do último:
    Infantilidade (?), Imaturidade (?), Ignorância (?), Desfaçatez (?).
    Sendo muito fácil ver agora o óbvio, não era assim tão difícil para alguns, constatá-lo na devida altura.
    Andava pelas conferências do país um velho com uma candeia acesa, à procura de um político honesto: MadinaC.
    Um mínimo de compreensão para o último 'biltre': ter dado seguimento às dinâmicas políticas dos seus antecessores.
    Agora, os culpados são os mercados.
    E este PM, que leva o país para uma "calamidade" como diz o camarada Jerónimo.
    Ingovernaveis,
    caro Dr Tavares Moreira.
    (bem aparecido na RTP-Info)

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  5. Caro BMonteiro,

    Registo o amável cumprimento. No que respeita ao seu ponto de procurar avaliar alguns destes comportamentos na plano psiquiátrico, admito que por aí se consiga alguma explicação para a anomalia verificada...
    Mas o que o seu reparo tb sugere é que o processo de escolha política, pelo menos para os cargos mais sensíveis e de maior responsabilidade orçamental, deveria ter estado sujeito, pelo menos a partir do momento em que aderimos à zona Euro, a escrutínio psiquiátrico...
    Como não esteve, agora pagamos a dobrar...

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  6. Caro Tavares Moreira,

    Concordo com tudo o que escreveu mas gostaria de saber se acha que o país poderá voltar a crescer continuando no Euro. Eu tenho sérias dúvidas que sem uma desvalorização cambial e uma queda significativa da carga fiscal possamos crescer e equilibrar as contas públicas.
    E porque não fazê-lo, se não com o apoio da UE, com o apoio do FMI como já foi aconteceu em muitos outros casos?
    Cumprimentos,
    Joaquim Gagliardini Graça

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  7. Caro Joaquim G. Graça,

    Espero estar a dirigir-me a um parente muito próximo do Mário G. Graça, velho amigo e condiscípulo na Fac. Economia do Porto.
    Se assim for, agradeço que lhe transmita um abraço de saudosa amizade.
    Sobre a complexa questão levantada, a desvalorização cambial, como sabe, não é possível em ambiente Euro...
    Para mudarmos desse ambiente, de forma voluntária ou forçada, teríamos de passar por situações que não creio que os portugueses com a sua actual mentalidade tivessem condições para suportar: uma delas seria a mais do que provável bancarrota...
    É possível, em ambiente Euro, corrigir o enorme desequilíbrio que a economia evidencia, se, sobretudo, o Estado for capaz de reduzir o exorbitante consumo de recursos a que actualmente se dedica com tanto afã...
    Será precisa muita persistência, porque o mais do que necessário emagrecimento do Estado vai exigir alguns anos...e os interesses instalados, como já percebemos, são poderosíssimos...

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