quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Equidade fiscal

Era uma vez dez amigos que se reuniam diariamente numa cervejaria para beber, e a factura era sempre de 100 euros. Solidários, e aplicando a teoria da equidade fiscal, resolveram o seguinte:
• os quatro amigos mais pobres não pagariam nada, o quinto pagaria 1 euro, o sexto pagaria 3, o sétimo pagaria 7; o oitavo pagaria 12; o nono pagaria 18 e o décimo, o mais rico, pagaria 59 euros.
Face à fidelidade dos clientes, o dono da cervejaria resolveu fazer-lhes um desconto de 20 euros. Ainda atendendo à equidade fiscal, resolveram dividir os 20 euros igualmente pelos 6 que pagavam, cabendo 3,33 euros a cada um, mas depressa verificaram que o quinto e sexto amigos, que pagavam 1 e 3 euros, ainda receberiam para beber. Gerada forte discussão que pôs em perigo o grupo, o dono da cervejaria propôs a seguinte modalidade que foi aceite:
• os cinco amigos mais pobres não pagariam nada; o sexto pagaria 2 euros, em vez de 3, poupança de 33%; o sétimo pagaria 5, em vez de 7, poupança de 28%; o oitavo pagaria 9, em vez de 12, poupança de 25%; o nono pagaria 15 euros, em vez de 18.
• o décimo, o mais rico, pagaria 49 euros, em vez de 59 euros, poupança de 16%. Cada um dos seis ficava melhor do que antes e lá foram bebendo. Certo dia, no entanto, começaram a comparar as poupanças.
-Eu apenas poupei 1 euro, disse o sexto amigo, enquanto tu, apontando para o décimo, poupaste 10…e não é justo que tenhas poupado 10 vezes mais…
- E eu apenas poupei 2 euros, disse o sétimo amigo, enquanto tu, apontando para o décimo, poupaste 10...e não é justo que tenhas poupado 5 vezes mais!…
E os 9 em uníssono gritaram que praticamente nada pouparam com o desconto. E de imediato concluíram: “deixámo-nos explorar pelo sistema e o sistema explora os pobres…”. E, passando à acção, logo rodearam o amigo explorador e maltrataram-no severamente.
No dia seguinte, o ex-amigo rico emigrou para outra cervejaria e não compareceu, deixando os nove amigos a beber a dose do costume. Mas quando chegou a altura do pagamento, verificaram que só tinham 31 euros, que não dava sequer para pagar metade da factura!...
Aí está o sistema de impostos e a equidade fiscal.
Os que pagam taxas mais elevadas fartam-se e vão começar a beber noutra cervejaria, noutro país, onde a atmosfera é mais amigável!...

David R. Kamerschen, Ph.D. -Professor of Economics, University of Georgia (tradução livre de A. Pinho Cardão)

11 comentários:

  1. Quando quiser contratar um PhD em Economia, contrate um da Georgia porque os da LSE não percebem nada disto...

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  2. http://fiel-inimigo.blogspot.com/2011/10/equidade-fiscal.html

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  3. Mui oportuna história, dr. Pinho Cardão.

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  4. Já conhecia, mas gostei de ler novamente e apreciar os pormenores e a actualidade da história, embora sabendo já o fim. É que é mesmo assim.

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  5. Ocorre-me comentar o seguinte:
    1º - os 10, não eram amigos, eram bêbados.
    2º - um fulano verdadeiramente rico, dificilmente beberia na companhia de 1 pobre, muito menos 2, menos ainda de 3, e definitivamente nunca, na companhia de 4.
    3º - o amigo rico, ao emigrar para outra cervejaria, deixou de ter a companhia dos restantes, ficou só, enquanto que os outros, ficaram na companhia uns dos outros e da sua pobreza.
    4º - moral da história; quem não tem guito, não tem equidade!
    ;)))

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  6. Excelente, Sr. Dr. Pinho Cardao! Face ah crescente emigração dos mais qualificados e mais dotados, foi mesmo de grande oportunidade relembrar esta história. Espero seja, também, de utilidade q.b., para os decisores politicos que "frequentem" o 4R...

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  7. O Dr. Eduardo Catroga, discorda da posição expressa pelo Presidente da República, que discorda dos cortes nos subsídios de Natal e de férias... diz o eminente fotógrafo-de-telemóvel que cabe ao povo, condenar os responsáveis pelo estado calamitoso das finanças do país...

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  8. Caro Tonibler:
    Também por cá há gente boa, só que não é ouvida pela nomenklatura.

    Caro Rio D`oiro:
    Agradecido pela menção

    Caro Eduardo F.:
    As histórias são para as ocasiões...

    Caro Freire de Andrade:
    Diz bem: o fim é mesmo esse...embora alguns ainda pensem que não!...

    Caro Bartolomeu:

    O meu amigo substitua "pobres" por "menos ricos" e já ficará apaziguado.

    Caro MM:
    Agradecido.
    Quanto aos decisores políticos, se os anteriores tivessem lido o 4R (duvidoso é que soubessem mesmo ler), por certo que os actuais não precisariam de fazer este Orçamento, nem seria necessário invocar equidades fiscais.

    Caro Bartolomeu:
    Permita-me que lhe diga que o Dr. Eduardo Catroga, aliando um percurso académico a um sólido percurso empresarial, tem a virtude de não falar de cor. Além de não alienar a sua independência, dizendo o que tem a dizer. E ainda bem que cultiva a arte da fotografia, mesmo que só no telemóvel...

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  9. Quanto à independÊncia do Dr. Eduardo Catroga, fica implícita na posição que assumiu publicamente. Quanto ao falar de cor... perdoe-me caro Dr. Pinho Cardão mas achei até arrogante, declarar perante as câmaras, que cabe ao povo a tarefa de condenar os responsáveis pelo actual descalabro das contas públicas.

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  10. Caro Pinho Cardão receio que a sua hipótese não contemple o caso de os menos ricos deixarem simplesmente de ir à cervejaria por não poderem contribuir com coisa nenhuma.Quanto ao Dr. Catroga, que muito admiro e estimo e que sei que não fala de cor, lembro-me que foi ele que afirmou, publicamente, que não iria ser necessário cortar os salários (ou despedir!) funcionários públicos. Creio que disse isso depois da fotografia...Agora, podia explicar melhor o que é que avaliou mal.

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  11. De certeza que a fábula foi escrita por um rico.
    (A história está muito incompleta. Porque é que um é rico e os outros não? Seria ele rico sem os pobres? Aí é que a história começa a ficar interessante.)

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