Em entrevista recente Patrick Viveret, filósofo e autor de várias obras, a última das quais “Reconsiderer la Richesse” acaba de ser publicada, reflecte sobre a actual crise e considera que a paz e a democracia estão ameaçadas.
Depois de elaborar sobre algumas formas teoricamente possíveis para impedir a especulação financeira, Viveret refere-se à destituição de Governos eleitos, na Grécia e em Itália, por pressão dos mercados. Considera que esta forma de “tranquilizar os mercados” é ao mesmo tempo ineficaz e perigosa, porque não tolera duas componentes essenciais do funcionamento democrático: o tempo, por um lado, a pluralidade e a divergência, por outro.
Esta lógica financeira ameaça, assim, os valores cardeais sobre os quais se construiu a Europa, a democracia e a paz, ameaça esta que é muito mais grave que a ameaça da dívida financeira.
Considera que a nomeação de Monti a um domingo, para acalmar a abertura dos mercados no dia seguinte não faz sentido, uma vez que estamos a tentar dialogar com autómatos, porque a maioria das transacções financeiras mundiais são hoje programadas e geridas ao segundo, ou ao nanosegundo, por robots (trading algorítimico) e o tempo democrático nunca é suficientemente rápido para eles. Dizemos “acalmar os mercados” porque ninguém acreditaria se disséssemos “acalmar os robots”, daí esta “novilíngua do jargão financeiro que, pela sua opacidade, tem um papel estruturante na negação da democracia”.
É preciso que as pessoas percebam quem se trata de “convencer” e a importância destes autómatos na “psicose maníaco-depressiva” em que se encontram os financeiros uma vez que, como dizia o Wall Street Journal em 1987, os mercados só conhecem dois sentimentos: o pânico e a euforia, constituindo hoje um problema de saúde internacional.
Já quanto à pluralidade de orientações e à gestão dinâmica das divergências, inerente à democracia, os mercados não a suportam, porque a sua lógica financeira vive de regras de ouro e de governos de união nacional dirigidos por tecnocratas. Citando Paul Krugman, Viveret diz que os programas de austeridade seguem a lógica sacrificial dos Maias que, baseados em puras crenças, tentavam apaziguar os deuses com sacrifícios humanos, hoje traduzidos em destruição de riqueza real e humana, pressionados para irmos sempre mais e mais longe nos sacrifícios e que, tal como com os Maias, não impedirão o afundamento.
Viveret considera que esta lógica sacrificial, levada longe demais, porá em causa não só a democracia mas também a paz, porque uma economia autónoma da política e da ética cria formas de guerra interiores, os germes da revolta social, mas também de guerras internacionais, porque a melhor forma de canalizar essas revoltas é construir inimigos, internos, como em tempos foram os judeus, ou externos, provocando conflitos graves. Segundo Patrick Viveret, as políticas económicas actuais são igualmente bombas ao retardador planetárias.
Depois de elaborar sobre algumas formas teoricamente possíveis para impedir a especulação financeira, Viveret refere-se à destituição de Governos eleitos, na Grécia e em Itália, por pressão dos mercados. Considera que esta forma de “tranquilizar os mercados” é ao mesmo tempo ineficaz e perigosa, porque não tolera duas componentes essenciais do funcionamento democrático: o tempo, por um lado, a pluralidade e a divergência, por outro.
Esta lógica financeira ameaça, assim, os valores cardeais sobre os quais se construiu a Europa, a democracia e a paz, ameaça esta que é muito mais grave que a ameaça da dívida financeira.
Considera que a nomeação de Monti a um domingo, para acalmar a abertura dos mercados no dia seguinte não faz sentido, uma vez que estamos a tentar dialogar com autómatos, porque a maioria das transacções financeiras mundiais são hoje programadas e geridas ao segundo, ou ao nanosegundo, por robots (trading algorítimico) e o tempo democrático nunca é suficientemente rápido para eles. Dizemos “acalmar os mercados” porque ninguém acreditaria se disséssemos “acalmar os robots”, daí esta “novilíngua do jargão financeiro que, pela sua opacidade, tem um papel estruturante na negação da democracia”.
É preciso que as pessoas percebam quem se trata de “convencer” e a importância destes autómatos na “psicose maníaco-depressiva” em que se encontram os financeiros uma vez que, como dizia o Wall Street Journal em 1987, os mercados só conhecem dois sentimentos: o pânico e a euforia, constituindo hoje um problema de saúde internacional.
Já quanto à pluralidade de orientações e à gestão dinâmica das divergências, inerente à democracia, os mercados não a suportam, porque a sua lógica financeira vive de regras de ouro e de governos de união nacional dirigidos por tecnocratas. Citando Paul Krugman, Viveret diz que os programas de austeridade seguem a lógica sacrificial dos Maias que, baseados em puras crenças, tentavam apaziguar os deuses com sacrifícios humanos, hoje traduzidos em destruição de riqueza real e humana, pressionados para irmos sempre mais e mais longe nos sacrifícios e que, tal como com os Maias, não impedirão o afundamento.
Viveret considera que esta lógica sacrificial, levada longe demais, porá em causa não só a democracia mas também a paz, porque uma economia autónoma da política e da ética cria formas de guerra interiores, os germes da revolta social, mas também de guerras internacionais, porque a melhor forma de canalizar essas revoltas é construir inimigos, internos, como em tempos foram os judeus, ou externos, provocando conflitos graves. Segundo Patrick Viveret, as políticas económicas actuais são igualmente bombas ao retardador planetárias.
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ResponderEliminar“(…) Viveret diz que os programas de austeridade seguem a lógica sacrificial dos Maias que, baseados em puras crenças, tentavam apaziguar os deuses com sacrifícios humanos (…)”
ResponderEliminarÉ um pouco forte, mas não deixa de ter consistência (!), pois não me é fácil compreender como é que países a concorrerem no mesmo mercado, a padecerem da mesma enfermidade, a cumprirem as mesmas medidas de austeridade, no final criem folga para o crescimento harmonioso de todos eles!?
Já noutro blog, mais ou menos a propósito do assunto, deixei os seguintes links:
ResponderEliminarAlgorithms take control of Wall Street
The Matrix, but with money: the world of high-speed trading
Quem, ao pensar nas "bolsas" e "mercados", imagina aquelas salas em NY cheias de tipos aos berros ... bem, leia. :)
quem manda aos estados terem que recorrer aos mercados ? Pq não param de se endividar ? vão se catar !!!Não gastem mais do que produzam e não precisam de mendigar .
ResponderEliminarO perigo das democracias não vem dos mercados vem de politicos com cerebros vazios que tomam decisões catastróficas ..com consequências catastróficas ..o perigo da democracia vem de dentro ...da tomada do poder por crápulas que não têm a mais infima preparação para semelhante tarefa ..
Quem advoga o contrário está a tirar o foco do essencial .
"Reconsiderar a Riqueza", só podia vir de um filósofo.
ResponderEliminarParece estarmos perante um contra senso humano, a ver pelo que vai no mundo.
Parece-me ser tanto contra a natureza humana, quanto considerei a teoria marxista na sua prática (URSS) como tal e como tal condenada.
Não há muitos anos, que os Estados se 'libertaram' do papel de emissores de moeda. Talvez esteja agora à vista o resultado, entregue à natural ambição humana pelo enriquecimento, menor ou maior.
O citar os Maias, não deixa de ser curioso. Com a queda demográfica e económica perante os BRIC, que podem esperar os europeus de bom?
Se um dos valores da Democracia é saber perder, poderia estar aqui uma oportunidade.
Que nenhum líder europeu estará disposto a encarar: empobrecer.
Pois "as políticas económicas actuais" bombas ao retardador, mas "que políticas alternativas" no hemisfério norte ocidental?
Suzana
ResponderEliminar"porque uma economia autónoma da política e da ética cria formas de guerra interiores" é bem verdade, mas a falta de política e a ausência de ética são as grandes responsáveis pela situação de desgovernação e desregulação a que se chegou hoje.
Hoje estive a jantar com um colega da Toscania (e outro italiano feito Professor num qualquer College medievo em Albion).
ResponderEliminarAparentemente segundo estes ilustríssimos colegas, Monti é o homem-a-dias que vai fazer o trabalho sujo com o qual os partidos não se misturam.
Os lixeiros também trabalham ao domingo.
Quanto às conversas de algoritmos sempre dão para ganhar dinheiro, quando mais não seja aos directores de tese (e respectivos alunos bolseiros), ajudam os escritores-filósofos a venderem alguns livros e os poucos que no mundo real sabem o que andam a fazer a ganhar algum dinheiro à custa dos nabos do costume.
Alguém terá de compensar a ruína dos Joões Proezas e dos Canários da Silva e já agora dos Espíritos Santos em salmoura, Marfins Gamançalves, sem esquecer o Zé Oliveira e Custa (e muito ao pagode contribuinte).
Por falar em 'robots'.
ResponderEliminarNão foi o papel de alguns, se não todos, desde que a revolução estabilizou (anos 80/XX), os demagogos tugas que andaram a fazer de PM do reino?
Com que visão para um País, com que independência de espírito, com que interesses pessoais misturados (mal) com o colectivo?
Agora, é tarde.