terça-feira, 29 de novembro de 2011

O que faltará ainda "combater"?

Ontem as televisões e jornais deram grande destaque à novidade: poderá ter que ser criada uma nova taxa, a taxa de entrada em Lisboa, para combater a poluição na cidade. Seria assim o trio maravilha, cumprimos as metas europeias e a cidade fica limpinha como o ar do Caramulo, os turistas, encantados com esta novidade, afluirão aos magotes às lojas e monumentos respirando a plenos pulmões e, claro, a Câmara de Lisboa arrecada umas receitas que talvez compensem o facto de o previsto aumento das taxas de IMI ter sido bloqueado na Assembleia Municipal.
Não deixa de impressionar o argumento da poluição, posto em cima da mesa agora no contexto de um novo plano para combater as alterações climáticas. Há tempos, um vereador da Câmara de Lisboa avançava com a ideia, mas associando-a à enorme vantagem de uns milhões de receita adicional. Agora, os decisores terão concluído que já está esgotada a paciência para mais urgências orçamentais, a do Estado, a das empresas públicas, a das Câmaras. É preciso um argumento melhor, venha então a urgência do combate à poluição, quem se atreverá a contestar tão nobre desígnio, sobretudo se invocada a “ambição europeia” de cortes drásticos nas emissões de carbono? Um combate urgente, pois claro. A acrescentar ao combate à dívida, ao combate ao défice orçamental, ao combate à dimensão do Estado, ao combate à falência do sector dos transportes, ao combate aos privilégios dos que ainda não estão no desemprego, ao combate ao desemprego, ao combate aos salários elevados, ao combate aos salários baixos, ao combate aos ricos, ao combate pelo apoio aos pobres. E podíamos acrescentar muitas mais frentes de combate activo, é só ouvir telejornais durante cinco minutos. Apesar da redução do número de automóveis provocada pela crise, confrontam-se agora os exércitos pagantes com a urgência de mais esta frente de luta, a da poluição nas cidades, pedindo-se-lhes a bravura de pagarem ainda mais. Haverá ainda alguma coisa que falte "combater" com novas taxas?

9 comentários:

  1. Falhas no Plano de combate ás alterações climáticas:
    a)Portagens nas vias de acesso e atravessamento do Parque de Monsanto em Lisboa.
    b)Acabar, a curto prazo, com o ministério do Ambiente, que desapareceu apenas aparentemente.
    Ponto de ordem - entradas em Lisboa:
    Mereciam um pequeno estudo e razoável investimento.
    Reforçar fortemente os meios de transporte colectivo;
    Criar parques de estacionamento automóvel nas imediações das vias de acesso.
    PS: acabar com a conversa da treta, justificar isto com o 'clima'.
    Apanhados do clima, é o que esta gente parece estar.

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  2. Acabo por ter de dar alguma razão ao Dr. Mário Soares, quando lança o aviso de que «estão a reunir-se as condições necessárias para que ocorra uma revolução».
    E ainda por cima os outros dois andam mortinhos por levar os "Chaimite" para a Praça Afonso Albuquerque e para o Largo de S. Bento...
    Em 25 de Abril, a adesão popular foi crescente mas de início, pouco convicta dos objectivos que se pretendiam atingir... hoje, penso que o "figurino" é radicalmente diferente e até sou capaz de admitir que 60 ou 70% da população, se lhe fosse feito um referendo sobre a necessidade e a utilidade de uma revolução... responderia muito provávelmente SIM!

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  3. Estou com o Bmonteiro.

    Desconfio que esta preocupação ambiental tem mais a ver com o passivo colossal acumulada pela CML do que com os asmáticos de Lisboa...

    Mas uma coisa há que reconhecer:-é preciso ser um(a) grande GÉNIO/A para na conjuntura atual, em que os cidadãos estão desesperados com a angústia do futuro incerto, esmifrados de impostos, cansados até ás entranhas da palavra austeridade e com o desemprego a rondar 13%, alguém pensar sequer(!) numa taxa desta natureza...Valha-me a santa paciência, há anos a esta parte que é dose!!!

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  4. Não penso que o que esteja em causa seja só, ou principalmente, a questão ambiental, embora me pareça muito conveniente que se reduza o nível de poluição que paira sobre Lisboa. Os níveis atingidos na Avenida da Liberdade são preocupantes e não são preocupantes apenas para os "taradinhos verdes."

    Para além, contudo, das questões ambientais, está, do meu ponto de vista, a redução da população residente no perímetro do município, por razões diversas, obrigando à entrada de muitos milhares de automóveis, aumentando para além dos custos poluentes, os custos de deslocação, os tempos de viagem, etc.

    Não conheço no mundo desenvolvido nenhuma outra capital onde haja tantas casas abandonadas, tantos prédios em ruínas, tanto terreno devoluto.

    Promessas para alterar este estado de coisas têm inflamado os discursos de muitos candidatos mas Lisboa continua a ser uma cidade que não cresce demograficamente. Repele em vez de atrair.

    O trânsito é caótico porque os carros não permitem uma circulação competitiva dos transportes colectivos.

    Quem conhece cidades europeias de dimensão idêntica não pode deixar de interrogar-se como conseguem eles o que nós não conseguimos.

    Eu sou habitual utilizador do IC19 e sei que a média de passageiros transportados em cada viatura ronda 1,2. Nos fins de semana sobe sensivelmente.

    Evidentemente, o problema não se resolve só com restrições à circulação de automóveis no acesso aos centros urbanos. Mas essa é também uma condição para atingir o objectivo de uma Lisboa mais populosa, mais jovem, mais viva.

    Faltam as outras? Pois faltam.
    E por que não se resolvem?
    Presumo que bastaria ver como roda a roda do vizinho.

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  5. Quer dizer, anda um país inteiro a pagar para uma autarquia e depois, essa autarquia, cobra dinheiro para as pessoas entrarem no sítio que paga. Bem, realmente é a história da república portuguesa, nem sei de que me queixo.

    Eu até tinha uma sugestão melhor para o presidente da edilidade. Uma portagem para quem quiser sair. E não era de 2 euros, era de 4 000 euros. Assim, fechava-se dentro da estrada da circunvalação a aristocracia toda que poderia funcionar em circuito fechado. O PR cobrava impostos ao governo que cobrava ao PGR que cobrava ao TC que cobrava à fundação Mário Soares, que cobrava ao PS, que cobrava ao Oceanário, que cobrava à CML, que... O país ganhava porque se via livre dessa gente toda, essa gente podia estar 24 horas a fazer a única coisa que sabe fazer - cobrar. Era uma solução maravilhosa.
    Para ter alguma receita, sempre poderiam exibir-se no Jardim da Laranjeiras e as pessoas de fora pagavam para ver.

    Tenho que começar a cobrar por estas ideias. Talvez fazendo um livro para a câmara me dar um apartamento no Chiado de renda reduzida....

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  6. Caro Tonibler
    Ainda o convidam para consultor criativo! O risco é não terem dinheiro para lhe pagar. Bem, pode ser que as ditas portagens ajudem.
    Suzana
    Só falta mesmo cobrarem o ar que respiramos. Aqui fica uma sugestão: quem respira ar puro paga mais, quem vive no meio do CO2 paga menos. Que tal?

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  7. O Nunes Saliva deve estar babado com esta idea. Amanhem-se ao Saliva vereador, ao Saliva Presidente e ao António Custa. Muito vai custar este toninho aos Lisboetas. Mas tal como o "papa"(1) Pinho de Sousa, e o outro do Boavista, só quando for apeado é que se verá o colosso entretanto cavado.

    (1) Para usar a terminologia Pinho Cardonesca.

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  8. "Haverá ainda alguma coisa que falte "combater" com novas taxas?"
    Claro que há, a estupidez!

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  9. Caro Massano, isso ia custar-nos uma fortuna incalculável, diria mesmo que não havia o que chegasse!!

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