1.Tal como tinha já feito por duas vezes na semana passada e com grande sucesso – para aproveitar a vaga da “catastrófica” Cimeira Europeia de 9 do corrente - o Tesouro espanhol voltou hoje ao mercado, desta vez para colocar dívida de curto prazo...
2....e os resultados não poderiam ter sido melhores, pois tendo anunciado um objectivo de colocar € 4,5 mil milhões de dívida, acabou colocando € 5,64 mil milhões e a taxas muit(íssim)o inferiores às das últimas colocações: € 3,72 mil milhões a 3 meses, taxa de 1,735% (anterior tinha sido 5,11%) e € 1,92 mil milhões a 6 meses, taxa de 2,435%, (anterior tinha sido 5,227%).
3.Pelo que se constata, a confusão está instalada nos mercados, dos tenebrosos especuladores de casino, que parecem desconhecer os altíssimos riscos decorrentes do espectacular falhanço da Cimeira do dia 9 e apostam na compra de dívida soberana, denominada em Euros, com o Euro na iminência de colapso...
4.Confesso-me surpreendido e esforço-me, em vão até agora, para descortinar as razões deste comportamento...
5.Estamos a terminar o ano 2011, os mercados estão quase a “fechar os livros”, o que nos reservará 2012? Será que vamos assistir à implosão do Euro ou à sua lenta agonia? Será que a jangada vai mesmo afundar?
6. Ou será que nada disso vai acontecer e afinal são os mercados que mostram estar do lado da razão? Mas se for assim, o que irá acontecer aos nossos sábios e proféticos comentadores?
7. Será que ainda os vamos ver em 2012 glorificando as virtudes do Euro? E reconhecer o seu enorme “potencial”, para reforço do projecto europeu? E, quiçá, destacar o papel fundamental dos mercados, convertidos de seres ignóbeis em criaturas muito respeitáveis?
8.Dos nossos sábios e proféticos comentadores tudo se pode esperar...como os exímios surfistas, é simplesmente uma questão de mudarem para outra vaga que na ocasião seja melhor para cavalgar...
Claro, caro Tavares Moreira, e serão novamente eles os grandes donos da razão. A memória das coisas não dura mais de um mês. E eles, os grandes pensadores, sabem disso. Estão sempre em cima da onda. Como a cortiça.
ResponderEliminarMeus caros, usando o exemplo desse grande economista de nome Nouriel Roubini que nos trouxe trabalhos seminais como o... qual era... o.... pronto, disse que ia haver crise em 2006, em 2007, em 2008, em 2009, em 2010, em 2011 e em 2012 e, sabe-se já com relativa certeza, acertou nalguns desses anos, nunca nenhum economista ficou conhecido por prever que no ano seguinte as coisas até poderiam correr bem. Portanto, todo o comentador que é comentador prevê anos muito difíceis daqui para a frente. Senão para amanhã, pelo menos para depois.
ResponderEliminarAgora, parece ter sido encontrada uma forma de enganar toda a gente durante algum tempo que, se for o suficiente, até pode dar um resultado que, curiosamente, consegue o consenso juntando tudo o que ninguém queria. Os alemães e demais ricos vão pagar a festa, mas ainda não sabem. Os espanhóis, italianos e franceses vão safar-se à rasca perdendo boa parte da soberania, mas ainda não sabem.
Há que reconhecer que os únicos que até agora tinham razão em tudo eram os ingleses e são eles que saem com tudo o que queriam.
Claro, Pinho Cardão, claro, por isso é que eu digo que eles lá estarão sempre, na crista da onda...
ResponderEliminarAinda que afirmando porventura o oposto, exactamente o oposto daquilo que hoje nos dizem/profetizam com toda a segurança, mas isso pouco importa pela razão simples de que detêm o exclusivo da opinião badalada...
Caro Tonibler,
Uma boa síntese, a do seu comentário...ainda que com algumas simplificações mas, no essencial, dizendo a verdade...
Quanto aos britânicos, eu não diria que eles saem...mas tb não entram, é certo, ficam como observadores embora com a possibilidade de recolher as vantagens se a jangada (de DSK, ressabiado) não se afundar...
Leio que a procura do leilão de amanhã no ECB de dinheiro a 3 anos a pagar 1% está estimada entre 300 e 400 mil milhões de euros.
ResponderEliminarSe fosse banqueiro e vivesse numa era em que é proibido falir, não se encheria também de dívida soberana a 3, 4 e 5% para lá ir depositar como colateral e ficar com a diferença...?
Cumps
Buiça
Caro Buíça,
ResponderEliminarEu não sei se é proibido falir ou não (bancos)- por alguma razão ganhou foros de verdade quase absoluta a expressão "too big to fail", embora o Lehman Brothers tenha qhebrado essa verdade - só sei que andam por aí umas criaturas muito instruídas e proféticas, arengando por todos os cantos que o Euro vai sossobrar, que a Europa está sem rumo, que a jangada está a afundar - e nada disso bate certo com esta renovada vontade dos investiodres em comprar dívida soberana de países da zona Euro considerados em stress financeiro...
É esse o ponto deste Post, que não outro...como terá certamente reparado.
O Buiça não deixa de ter razão, a regulação bancária europeia baseia-se no pressuposto de que os bancos não podem falir, o que é um absurdo económico que acaba por transformar os bancos em empresas públicas que é outro absurdo.
ResponderEliminarMas vá-se lá dizer que a regulação bancária europeia (e não só) é um absurdo que não falta quem diga que defendemos a selva capitalista e o salve-se quem puder, que é a versão sec. XXI do pisca o olho à direita, pratica a política do quero-posso-e-mando e está ao serviço dos Mellos e Champalimauds.
Só tentei explicar quem são esses "investidores" e para que é voltaram a comprar dívida pública. Não era de resto grande mistério.
ResponderEliminarEm todo o caso no limite não tenho nada contra em que se mantenha o sistema financeiro em funcionamento com estas ajudas, desde que a necessária regulação não seja esquecida. E aqui vou discordar do Tonibler que parece pedir desregulação.
Muitos bancos andam a prometer aos accionistas sucessivamente e há muitas décadas ROEs de 15, 20, 30%...
Ora isto é equivalente a dizer que cada um de nós tem o dinheiro depositado no casino.
É imprescindível separar-lhes as actividades e urgentíssimo tornar as gestões muitíssimo mais responsáveis (pessoalmente se for caso disso) pelos riscos que assumem.
Entre muitas outras medidas de regulação urgente que esperemos que não venham a ser toureadas pelo lobby financeiro tão facilmente como nos EUA tem sido.
Caro Buiça,
ResponderEliminarO mesmo argumento que é usado para os bancos é usado para qualquer outra empresa. A economia é feita de falências, senão seria um sistema físico impossível e não existiria. O nível de alavancagem a que se dá essas falências vai variando no tempo (por razões que seria demasiado complexo de explicar numa caixa de comentários). Quando a regulação bancária se baseia em níveis de alavancagem, como é em todo o mundo fora dos USA, basicamente está a dizer-se que não interessa o estado da economia envolvente, os bancos vão-se comportar da mesma forma.
Ora, isto não é uma questão de opinião, o que acontece é que os bancos vão mesmo à falência de facto, porque é esse o mecanismo natural. Pior, como as condições são mais apertadas e CONSTANTES, os bancos tendem a fundir-se formando aquilo que hoje está na moda chamar de "too big to fall", e o que acontece é que vamos ter estados a salva-los. Hoje não tenho grandes dúvidas de que só podem existir bancos europeus de duas formas, ou públicos ou tão grandes que são proto-estados.
Quanto aos depositantes, aqui tem uma lista da história dos bancos que falham nos USA
http://www.fdic.gov/bank/individual/failed/banklist.html
peço-lhe que tenha em atenção a coluna "Acquiring Institution" para entender que a dinâmica associada ao mercado financeiro não é diferente da dinâmica associada a qualquer outro negócio. A não ser que se meta uma regulação em cima para estragar a coisa.
A regulação bancária não é só uma questão ideológica. Hoje é mesmo a maior causa da crise que vivemos desde 2007 e não contrário, como os funcionários públicos do mundo inteiro gostam de apregoar. Aliás, a solução encontrada pela UE não é mais que mandar a regulação às urtigas durante um tempo.
Caros Tonibler e Buíça,
ResponderEliminarA argumentação do Tonibler faz sentido, na medida em que excessivo proteccionismo dos bancos - ilustrado na já citada "too big to fail" - pode ser um convite a uma gestão menos responsável e a custos sociais altíssimos, bem maiores do que os decorrentes da queda de algum banco.
Alguém hoje sustentará (aparte os inspirados autores, claro), por exemplo, que foi boa solução nacionalizar o BPN, com o custo gigantesco que essa operação terá envolvido para o Estado (talvez € 8mil milhões)? E qual o benefício social dessa operação, alguém o conhece?
O excessivo proteccionismo é fomentador do chamado "moral hazard", ou seja da adopção de práticas pouco responsáveis na gestão das instituições financeiras - com o sempre excelente argumento da busca de rentabilidade - uma vez que, no caso de se verificar um cenário de "stress" e consequentemente um problema de liquidez ou de solvência, no final haverá sempre quem acuda...
E é assim, muitas vezes, que grão a grão se vão formando bolhas especulativas.
O "moral hazard" tb é inimigo sério de uma concorrência mais sã, do funcionamento de um "level playing field", pois favorece, por regra, os bancos grandes em detrimento dos de menor dimensão...
Parece ping pong, agora tenho que concordar com o Tavares Moreira, vivemos em pleno moral hazard, por muito bonita que seja a teoria debitada pelo Tonibler, o facto ]e que os bancos nos USA foram salvos pelo governo e reserva federal e um pouco por todo o mundo foram novamente salvos pelo relaxamento das regras contabilisticas, pela alteração das regras dos vários reguladores, etc. etc. etc.
ResponderEliminarO Dr. Tavares Moreira com certeza é do tempo em que deixar os rácios de Capital (e falo com C grand,e não os "híbridos" e toda a tralha que hoje em dia é aceite para mascarar rácios) era severamente penalisado pelo regulador. Assim como algumas operações que quase são feitas na praça pública hoje em dia davam cadeia.
É muito claro para quem quiser olhar honestamente para as coisas que o sector bancário exagerou nos riscos que assumiu, durante muitos anos. E que quando acabou em dificuldades, as regras foram dobradas, alargadas, os soberanos vieram em socorro, os bancos centrais oferecem dinheiro de graça, etc. etc. etc. tudo para impedir que haja falências.
E sempre, sempre, sempre sob a ameaça do "risco sistémico".
Quando como muito bem diz o dr Tavares Moreira, até com o "risco sistémico" do BPN se enganam milhões de contribuintes, parece-me que está tudo dito.
Concluindo, a teoria é muito bonito, um banco não devia ser mais do que uma empresa e muitos pequenos bancos nos USA são de facto assim... mas os "sistémicos" não, e é desses que falamos. E todos os dias temos evidências disso.
Sobre como muitos e variados governos/reguladores ficaram reféns do sector financeiro e outros conseguem ainda hoje manter alguma separação, podemos falar noutra altura. É evidente que por trás da crise está a FALTA de regulação e supervisão, não o seu excesso.
Cumps
Buiça
CAro Buiça, os bancos que foram salvos pelos USA foram aqueles que estavam sujeitos às regras de regulação internacionais. Só são "sistémicos" (a palavra mais correcta seria "hub") porque são protegidos e porque as regras de regulação provocam a fusão entre bancos. Senão, em cada esquina de Wall Street se estaria a formar um banco por cada trader mais "entradote" que resolvesse sair.
ResponderEliminarMas... precisamente. A desregulação incessante dos últimos 25 anos permitiu-lhes adquirir essa dimensão "sistémica" que lhes permite chantagear o Estado (e um pouco o resto do mundo) cada vez que têm problemas. Começou com o fim da separação entre casas de investimento (JP Morgan, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Lehman Brothers, Bear Sterns, Merrill Lynch não eram bancos comerciais) e os bancos comerciais. Todos os nomeados eram sociedades fechadas em que os riscos eram assumidos e estavam limitados ao capital (e negócios) aportado por cada sócio. Passaram a poder comprar bancos e partir da base de capital destes para exponenciar os riscos que assumiam. Pelo caminho desregularam-se os produtos financeiros derivados que entretanto atingiram os $600 "trilions" de dólares e que nos USA são negociados em 95% por estas casa. Depois com as primeiras dificuldades os que ainda não tinham bancos puderam transformar-se em Holdings bancárias e ter acesso aos fundos do FED para as horas de aperto. Nesta fase dispersaram capital na bolsa obtendo uma pool de "novo" capital que lhes permitiu em alguns casos decuplicar o balanço. Todas as bolhas especulativas dos últimos anos tiveram origem nesta sucessão de desregulação e falta de capacidade dos supervisores para manterem os riscos de cada um dentro de limites aceitáveis. Quando rebentavam as bolhas, uns fundiam-se, um único faliu (por teimosia e viu-se os efeitos da onda de choque o que fizeram a todo o mundo), suspenderam-se regras contabilísticas de marcação a mercado dos seus activos, torceram-se todas as regras e mais algumas para os manter a funcionar e sempre, sempre em "crescimento"...
ResponderEliminarEnfim, escrevo apressada e resumidamente, mas as evidências estão por todo o lado.
Eu tenho bem clara a necessidade de bancos e do sector financeiro em cada economia, mas não me custa nada reconhecer a evidência de que em demasiados casos a ganância, o bullying financeiro e o mais elementar bom senso foram muitíssimo atropelados para chegarmos aqui.
Deste lado do Atlântico felizmente praticamente todos os Estados soberanos ainda são bem mais poderosos do que o conjunto dos seus bancos e um retorno à saudável regulação e supervisão ainda são muito possíveis. A desalavancagem dos bancos europeus vai ser difícil e dolorosa mas pode-se ir fazendo, ao contrário do que se passa na terra do tio Sam. Sei no entanto que num mundo globalizado deixar o sector financeiro Europeu exposto à manada desgovernada do sector financeiro Americano traz muitíssimos perigos e temo que a única maneira de resistir seja através de regras proteccionistas que podem levantar toda uma série de outros fantasmas.
Só para concluír que não é difícil entender qual o caminho certo, só que enquanto do outro lado não conseguirem eleger governos que tenham mão no sector financeiro, há uma desproporção de dinheiro muito grande do lado do caminho errado.
Será uma guerra bem difícil que espero não chegue a vias de facto ainda durante as nossas vidas.
Buiça,
ResponderEliminarDesregulação incessante????
Em 1986 não existia regulação global, apenas alguns países tinham regras. Em 1988 criou-se o primeiro acordo global apenas para risco de crédito, em 2004 fechou-se o segundo acordo, ainda mais restritivo e em 2010 o terceiro aumentando ainda mais os rácios de capital. Quer explicar com base em quê escreve "A desregulação incessante dos últimos 25 anos"???
Se há coisa que não existiu DE TODO na banca foi desregulação, pelo contrário.
Os bancos de investimento sempre estiveram separados dos demais bancos comerciais, tinham um estatuto semelhante ao que em Portugal se chamavam de "dealers" e não podiam tomar fundos de outros bancos na forma de depósito. O que aconteceu de diferente foi que passaram a poder tomar esses depósitos. Mas do ponto de vista regulamentar estavam bem melhor do que está hoje a CGD, por exemplo. O Bear Stearns tinha 10% de rácio de solvabilidade quando quebrou na liquidez.
O caminho a seguir é fácil de entender. Se vir as falências de bancos nos USA e comparar com as demais empresas vê que não há grande diferença nas curvas, os bancos prestam um serviço como qualquer outro e quanto menores forem as exigências de regulamentação (há vários trabalhos sobre este tema mostrando isso mesmo quer do ponto de vista teórico quer empírico) mais atomizado fica o mercado e mais seguro é o sistema.