terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Desequilíbrio externo e vendedores de ilusões...

1. A informação mais recente sobre as contas externas, cobrindo o período Janeiro a Outubro, mostra uma forte melhoria no saldo das balanças de Bens e de Serviços (ou Bens+Serviços).
2. Assim, e com referência aos primeiros 10 meses do ano, o défice conjunto de Bens+Serviços passou de -€ 9.084 milhões em 2010 para -€ 5.000 milhões em 2011, uma queda de 45%. Que se explica por:
- Redução do défice de Bens, de -€ 14.702 milhões para -€ 11.581 milhões (-21,2%);
- Aumento do superavit dos Serviços (com destaque para Turismo), de € 5.648 milhões para € 6.584 milhões (+16,5%).
3.Trata-se de uma melhoria muito assinalável, cabendo ainda referir, no tocante à redução do défice de Bens, que este resulta sobretudo do crescimento das exportações, de € 30.402 milhões para € 35.272 milhões (+16%), uma vez que as importações, apesar do arrefecimento da procura interna, ainda aumentaram passando de € 45.145 milhões para € 46.853 milhões (+3,8%).
4.Pelo andar da carruagem, caso as exportações de Bens e de Serviços mantenham um razoável ritmo de crescimento em 2012, poderíamos aproximar-nos de uma situação de equilíbrio no saldo conjunto Bens+Serviços, o que seria um enorme progresso no sentido da correcção do desequilíbrio externo, se não fosse...
5. ...uma outra componente da Balança de Pagamentos, a dos Rendimentos, cujo défice, em resultado do brutal crescimento da dívida ao exterior nos últimos anos (15 anos), disparou para valores quase astronómicos, tendo conhecido novo agravamento no corrente ano: de -€ 6.544 milhões em 2010 (primeiros 10 meses) para -€ 7.696 em 2011, devendo no final do ano exceder € 9 mil milhões ou seja cerca de 5,5% do PIB, nível máximo histórico...
6. Curiosamente, o défice dos Rendimentos será um dos poucos temas em que o Dr. Medina Carreira se tem mostrado optimista, pois ouvi-o afirmar há algum tempo que este défice era de tal monta que “levava a totalidade das receitas (líquidas) do turismo”...
7. ...quando a realidade é que este défice não “leva” só as receitas (líquidas) do turismo, “leva” também a totalidade das receitas líquidas dos demais Serviços e ainda “leva” a quase totalidade das remessas dos emigrantes...
8.Podemos assim concluir que, apesar da melhoria muito sensível das componentes da balança de pagamentos cuja evolução pode ser influenciada pela política económica (Bens+Serviços), isso não nos resolve o problema de desequilíbrio externo pois temos este pesadíssimo “ jugo” dos rendimentos a pagar ao exterior, resultante de um endividamento absurdo, um “jugo” que teremos de carregar não sei por quantos anos mais...
9.E lembrarmo-nos de que em 1996 o saldo dos Rendimentos era ainda positivo!
10.E lembrarmo-nos que nos disseram, há alguns anos, para não nos preocuparmos com o endividamento externo, agora que estávamos numa zona monetária como a do Euro não se justificava atribuir significado macroeconómico ao desequilíbrio externo...
11.Mas quem “nos” mandou dar ouvidos a vendedores de ilusões?! Ou será que ainda continuamos a dar?...

7 comentários:

  1. Pelo que se vai lendo, a "sabedoria" anteriormente manifestada vem-se revelando compensadora...

    ResponderEliminar
  2. Ai continuamos, continuamos! Basta atentar no "eco" que o último discurso do PR teve nos meios de comunicação social e não só! Como é possível que o Dr. Cavaco Silva, depois de ser conivente, pelo menos por não ter intervido em tempo útil, com o maior predador da nossa História recente, o Sr. José Sócrates, principal responsável pela maior taxa de desemprego, dívida externa e dívida pública do último século, entre outras "benfeitorias", venha agora, desculpem-me a ousadia, "cantar o fado da esgraçadinha que andava no gamanço p´ra mãezinha que era estrubaculosa" e ainda haja que lhe apare o jogo?

    ResponderEliminar
  3. Caro Tavares Moreira.

    parece-me que hipotecou definitivamente qualquer hipótese de ser nomeado para o Nobel da Economia com um post em que as grandezas são de facto comparáveis. Que dirão os os professores de Economia deste país se as pessoas começarem a juntar grandezas que são compráveis num assunto reservado ao disparate livre? Não pode ser...

    Eu acho muito bons números. A questão financeira, pronto. é o que é, não há nada a fazer. O próximo que fizer uma asneira destas, já sabe. Leva logo com uma vice-presidência de um BCE que é para aprender!

    ResponderEliminar
  4. Tenho guardada, numa prega bolorenta da memória, uma frase que li ha muito tempo num canhenho a que perdi o rasto: «O dinheiro não chega, para todas as esperanças da Humanidade».
    Sempre achei, que nestas coisas de capital, de economia e de progresso, se torna necessário dividir a humanidade, para que se consiga avaliar com mais rigor até que ponto cada um dos elementos toma parte activa.
    Assim, é imperativo que a divisão se faça em 3 partes, a saber; a céptica, a oportunista e a religiosa, cada uma delas bem alicerçada no seu pequeno dogma, sendo que, as 3 divisões, são passíveis de ser complementadas, ou subdivididas em várias outras, por exemplo: a céptica; em madraças, medrosos, invertebrados e cínicos. A oportunista; em economicistas, financeiros, capitalistas e corruptos. A religiosa, onde podemos perfeitamente incluir, a política, a clubística e as associações secretas.
    Nesta amálgama, que poderíamos considerar explusiva, caso houvesse uma quarta fatia da humanidade hipoteticamente vertical, homogénea, coesa e empenhada, coabitam e prosperam os que vendem ilusões, àqueles que julgam sonhar que um dia a Humanidade será capaz de construir uma sociedade equilibrada e séria, onde cada um será consciente e respeitará a identidade e a integridade do outro, sem sujeições à crueldade do capital.

    ResponderEliminar
  5. Caro Eduardo F.,

    Essa notícia é enganadora, como bem sabe os títulos das notícias são elaborados + ou - à vontade do freguês...
    Leia bem o texo subjacente e ficará a perceber melhor a história...

    Caro Pável Rodrigues,

    Compreendo o seu raciocínio e, até certo ponto, poderei subscreve-lo...
    No entanto, nessa questão da "conivência" ou da "não intervenção em tempo útil", quero chamar a atenção para o facto de as coisas não se passarem com essa aparente simplicidade....
    É bom recuarmos a essa época e revermos como a comunicação social era brutalmente manipulada, podendo transformar qq tentativa de intervenção do Presidente em autêntico "golpe de Estado" contra os mais lídimos interesses do País...
    Criando o ambiente necessário e suficiente para que a incompetência, a irresponsabilidade e o espírito de confraria mercantil então vigentes se tivessem perpetuado no poder por muito mais tempo do que veio realmente a acontecer...

    caro Tonibler,

    Como disse em resposta a um comentário seu em anterior Post, e agora confirmo, o humor caustico mas brilhante que o inspira entrou em 2012 com todo o fulgor...
    Faço votos para que assim continue...
    Quem sabe se ainda vai ter como prémio (que o 4R está a pensar instituir, assim consigamos patrocínios...) uma viagem ao Mississipi, para testemunhar ao vivo como funciona uma verdadeira União Monetária...

    ResponderEliminar
  6. Os argumentos utilizados como justificação para a "conivência" ou não intervenção do Dr. Cavaco Silva ("podendo transformar qq tentativa de intervenção do Presidente em autêntico "golpe de Estado" contra os mais lídimos interesses do País...", parecem-me razoáveis e até coerentes. Simplesmente, do meu ponto de vista, não colhem. Não me parece ter sido por tais motivos que o PR deixou a desgraça consumar-se. Basta lembrar as trapalhadas em que Belém se viu envolvido no caso das escutas http://www1.ionline.pt/conteudo/23659-cavaco-tera-pedido-assessor-divulgar-escutas-em-belem---video, meses antes das eleições. Caso que facilitou, e de que maneira, a vida do Sr. Pinto de Sousa.
    Foi o medo de poder vir a não ser reeleito que determinou o comportamento do Dr. Cavaco Silva. Ele é mesmo assim. De um tacticismo rasteiro é incapaz de correr o mínimo risco. Forte com os fracos e fraco com os fortes. Primeiro ele, depois ele, e sempre ele.

    ResponderEliminar
  7. Caro Bartolomeu,

    Sem prejuízo de considerar de grande interesse estratégico a sua análise tipológica da humanidade, sempre lhe digo que as ilusões poderão ser classificadas em 2 tipos: as que não afectam no essencial o nosso modo de vida(acreditar no Pai Natal, por exemplo) e as outras, que afectando esse modo de vida se podem tornar altamente tóxicas...

    Caro Pável Rodrigues,

    Ora aí tem um bom exemplo daquilo em que uma eventual intervenção mais alavancada do Presidente poderia ter resultado...
    Esse episódio das escutas, em que provavelmente até estaria cheio de razão, deu naquilo que deu...o controlo da comunicação social era feroz, não sejamos "meninos do coro"...
    Referi-me, como é óbvio, às segundas...

    ResponderEliminar