1. Estamos a assistir a um movimento de progressivo enfraquecimento do Euro, que nos últimos meses tem registado perdas em relação às demais divisas, mais visivelmente em relação ao USD.
2.Concretamente, desde um pico em Maio último, o Euro perdeu em relação ao USD 14% e 8% em relação às divisas dos principais parceiros comerciais, em média ponderada pelo valor das trocas comerciais (“trade weighted basis”).
3.Empiricamente, admite-se que uma desvalorização de 10% em “trade weighted basis” propicie um ganho de 1% no PIB da zona Euro...caso essa desvalorização seja duradoura, claro está.
4. As notícias mais recentes sugerem que o Euro tem vindo a ser utilizado para as conhecidas operações de "carry-trade", nas quais os operadores se endividam numa moeda considerada em tendencial desvalorização e com taxa de juro mais baixa, para a seguir aplicarem os fundos em activos expressos em moedas com potencial de valorização e vencendo taxas de juro mais elevadas (dólar australiano, por exemplo).
5.Supostamente, os famosos “hedge-funds” terão vindo nas últimas semanas a intensificar esse tipo de transacções, as quais pressionam o Euro para a baixa, e, com o Euro a baixar aumenta o incentivo para que mais operações dessas se efectuem...
6.Direi que estamos perante boas notícias neste início de 2012, que poderão contrariar os cenários mais pessimistas que para aí se vão desenhando em relação ao desempenho das economias do Euro no novo ano...
7.Paradoxalmente, estas boas notícias são “filhas” de más notícias, pois esta fragilidade do Euro decorre em grande medida da especulação que tem sido feita em torno da crise da dívida soberana e do próprio risco de desintegração da zona Euro...
8.Considerando a lista dos nossos principais 10 parceiros comerciais, que representam mais de 75% das nossas exportações, verificamos que existem quatro que não pertencem à zona Euro – Angola (4º), Reino Unido (5º), EUA (8º) e Brasil (10º) – para os quais se dirigiram 15,3% das nossas exportações no período de Janeiro até Novembro do corrente ano.
9.Temos aí um ganho directo significativo, embora não possamos ignorar que uma boa parte das nossas importações de matérias-primas minerais são expressas em USD...
10.Tudo ponderado, a fraqueza do Euro é uma boa notícia, em tempo de vacas tão magras de boas notícias...façamos votos para que os "carry-traders", sobretudo os temíveis especuladores dos Hedge-Funds, prossigam essa acção de bem-fazer e levem o Euro, se possível, até à paridade com o USD...
Caro Drº Tavares Moreira,
ResponderEliminarPartilho este vídeo " Compreender a dívida Pública", que achei bastante interessante.
http://www.youtube.com/watch?v=f7cJ_ZBiU-I
Bom ano para V. Exa.
Eu bem olho para a minha bola de cristal mas ela está tão baça que não consigo perceber se as noticias que vão chegando são boas ou más .
ResponderEliminarAinda ontem se soube que a Alemanha colocou divida com yields negativos ,como antes tinha acontecido com a Dinamarca ,a Holanda e a Suiça . Parece bom mas , por outro lado , talvez seja antes mau porque demonstra haver investidores tão desesperados com o futuro que até pagam para emprestar dinheiro a esses países .
Diz o Autor do post que espera que o Euro atinja a paridade com o dolar : Compreendo o desejo ,mas se considerarmos que o preço do crude em Euros (repito ,em Euros ) já está ao nivel de 2008 ,fico na dúvida angustiante se não será um pouco como saír da frigideira para caír no lume ...
manuel.m
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarNessa passagem da dívida em euros para a compra de activos em AUD porque alguém tem que pagar o swap, mesmo que este só seja feito na contabilidade...
Eu acho que a desvalorização tem uma justificação mais simples, a forma como o BCE tem feito a impressora funcionar sem que o eleitor alemão perceba. Por isso, não acho que sejam grandes notícias porque quanto mais desvalorizar mais provável é que os alemães acordem e digam "espera lá, andamos a pagar a dívida dos outros na mesma....". Bom, bom era que o Obama consiga por a impressora a funcionar também para que a desvalorização do euro face a moedas mais estranhas seja visto como uma fantástica performance dos países estranhos e não como o resultado da burrada geral.
Então, não poderá essa desvalorização do euro, poder vir a revelar-se letal para a Europa, caro Dr. Tavares Moreira!?
ResponderEliminarSe considerarmos o valor das moedas das economias mais fortes?
Desvalorizando o euro e aumentando as dívidas soberanas dos países da União, não aumentarão também as hipoteses de, por exemplo, os Chineses adquirirem as empresas nacionais de mair importância nos países e dessa forma serem eles a controlar a economia europeia? Um trampolim para o controle da economia mundial?
Caro Jota C,
ResponderEliminarAfradeço a sugestão do vídeo e retribuo os votos de boam ano...o V.Exa. parece-me a mais, todavia...
Caro Manuel,
Limitei-me a constatar a evidência que é o enfraquecimento do Euro nas últimas semanas/meses e a retirar daí algumas ilações em relação ao possível impacto desse fenómeno no comportamento das economias da zona Euro...
Quanto à possibilidade de o Euro atingir a paridade contra o USD, posso dizer-lhe que ainda ontem encontrei uma previsão da reputada agência de informação económica Capital Economics, apontando para uma taxa de 1€/1,1USD no final do corrente ano...
Como vê, não se pode falar propriamente de um desejo, mas de uma opinião bastante partilhada...
Caro Tonibler,
Nesta passagem de € para "aussies", o carry trader fica curto em Euros e longo em "aussies", esperando ganhar com a desvalorização do Euro em relação ao "aussie" e com a diferença de taxas activa e passiva...
Certamente, esta reputação que se está a espalhar de um BCE mais "mãos largas" do que nos tempos do bravo Trichet, ajuda a este cenário...
Caro Bartolomeu,
Já lá vai o tempo em que se podia ter "sol na eira e chuva no nabal"...
Nesta altura e no estado a que chegamos, ter uma dessas coisas já pode ser considerado "sorte grande"...
Pois sim caro Dr. Tavares Moreira, só que, neste caso, está-me a perecer que estamos a vender os anéis, mas a entregar os dedos juntamente...
ResponderEliminarE sem dedos, vejo poucas ou nenhumas hipoteses de conseguirmos reaver os aneis...
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminaros dedos somos nós, o resto é só dinheiro. E enquanto houver "nós" não vai ser o dinheiro que será problema.
Caro Tavares Moreira,
Admitindo que exista por aí alguma arbitragem, que não estou a ver, na velocidade do efeitos da moeda para a taxa de juro, o efeito deveria ser neutro no cambial. Estou curto numa moeda à vista mas estou longo a prazo e o contrário na outra, as diferenças entre os prazos deveriam estar compensados pelas taxas de juro. Mas admito que não esteja a ver o filme todo.
O seu ponto 9. também levanta uma questão interessante sobre a dimensão da velocidade da impressora. O aumento actual do petróleo é um aumento do petróleo ou uma desvalorização do USD? E se o euro está a desvalorizar face ao USD isso significa que a impressora do euro está a trabalhar a uma velocidade muito maior...
Olhe que vai, caro Tonibler... olhe que vai.
ResponderEliminarCom o desemprego e os impostos a aumentar e sem alternativas (excepto a emigração) em pouco tempo, os dedos deixarão de ter onde esgravatar.
A menos que o Governo decida colocar-nos o corpinho a render...
Ora aí está uma interrogação interessante - como quase todas as que coloca Tonibler -, cuja resposta não é indiferente ao cenário em que evoluirá uma economia como a nossa onde pesa substancialmente a fatura da importação do petróleo: o aumento actualmente verificado é um aumento da matéria prima ou uma desvalorização do $USD?
ResponderEliminarCaro Bartolomeu,
ResponderEliminarVender os dedos? Pode ser mais explícito? Vender os anéis compreendo e até certo onto aceito - as famílias arruinadas não têm outro remédio, também - mas essa de vender os dedos...tenho dificuldade em lá chegar, confesso...
Caro Tonibler,
O efeito no plano cambial não é neutro, pois neste caso existe pressão vendedora sobre o Euro...e compradora sobre a outra moeda do "carry-trade" (aussie ou qq outra)...
De forma semelhante à do "short-selling" de acções...
Quanto ao aumento do crude, nesta altura é mesmo aumento, ajudado pelo famoso estrategista Ahmadinedjad (?) não é fraqueza do USD, este até tem recuperado.