Nomes. É preciso dar um nome a tudo e a todos, sem nomes caímos no anonimato e com nomes morremos, geralmente, como anónimos. Afinal para que servem os nomes? Para criar a ilusão de que existimos, sem eles não seria possível viver ou fingir que se vive. Olho para o lado e vejo sede de nomes, todos têm um, ou mais do que um, mas para quê? Para escrever numa lápide, que o tempo se encarregará de apagar, gozando e desprezando as almas que acreditaram que viver valia alguma coisa. E se não for uma lápide, pode ser uma folha de papel, uma carta de amor ou uma crosta de uma árvore, todos desejosos de eliminar o que quer que seja, e conseguem-no. Os nomes foram criados para um destino fatal, serem esquecidos, e mesmo os que teimam em perpetuar-se não perturbam os seus donos, porque estes esqueceram-se de que um dia existiram.
Não há nada mais gratificante do que o desaparecimento de um nome. Quando isso acontece é como se nunca tivesse existido, e quem não existe saboreia uma felicidade impossível de descrever.
Nasce uma estrela e dá-se-lhe um nome. Descobre-se um calhau perdido no espaço e apressamo-nos a dar-lhe uma designação, seja compreensível ou não, mas é imperioso que a tenha, porque se não tiver não existe, logo, para existir é preciso ser-se batizado. O mesmo acontece com os humanos. Nasceu, tem de ter nome. Depois é uma questão de imaginação, de gosto, ou de o que quer que seja. Nome? Sem nome não há existência, apesar de ter havido momentos em que existiram seres sem nomes. Olhavam-se e reconheciam-se. Depois verbalizaram fonemas, e os "hugs" e "hogs" deram lugar à constelação galática dos nomes atuais.
Teve uma menina? Parabéns. Teve um menino? Parabéns. Quantos filhos tem? Como é que se chamam? Perguntas banalíssimas que nunca ficaram, até hoje, sem respostas. E, além de mais, propiciam uma nítida explosão de orgulho, basta ver o olhar e ouvir o timbre de voz que mudam radicalmente. Íris. Íris? Porquê é que escolheu esse nome? Andei a fazer pesquisas. Pesquisas? Onde? Na internet, claro. Queria escolher um nome pouco vulgar, que não andasse por aí aos montes, que fosse diferente, raro, que marcasse a diferença entre a minha filha e as filhas dos outros. Calei-me. Não comentei e prossegui nas minhas tarefas habituais. Não tenho nada contra o nome Íris, que me fez lembrar de repente, o olho, e quem, por acidente, a tivesse perdido e causado uma angústia ainda hoje não resolvida, ou o velho deus egípcio, Osíris, sim, os deuses para existirem, também, têm de ter nomes. Diferença? Ser-se diferente? E logo à nascença? Alguma tendência nobiliárquica que até os plebeus não conseguem esconder? Às tantas! Diferenças à espera de serem esbatidas, de adormecerem e, finalmente, acabarão por ser esquecidas..
Uma pequenina fração de tempo é mais do que suficiente...
o nome serve para segregar, para isolar, na unidade básica humana que é a família restrita e acima dela o clã...o nome serve para formar afinidades sociais
ResponderEliminarÍris, faz-me lembrar um outro. “Facebook”, nome que um casal pôs ao seu primeiro filho. Pobre criança que não tem culpa da falta de imaginação dos seus progenitores.
ResponderEliminarO cuidado com que alguns pais escolheram os nomes para os seus gêmeos também é digno de menção e de frustação. Kevin e Kyle. Anne Marie e Marie Anne. Distingui-los(as) não é tarefa fácil para os professores ou mesmo para os familiares!