domingo, 26 de fevereiro de 2012

Todos fazemos falta...

Idosos são úteis, capazes e fazem falta à sociedade”, uma verdade que as sociedades que se dizem desenvolvidas e modernas se têm encarregado de negar, promovendo desde os bancos da escola uma ideia negativa em relação à velhice, associando-lhe incapacidade, doença, inutilidade, incompetência. Com efeito, os valores das sociedades modernas alteraram-se e hoje o que se privilegia é a novidade, a inovação, a mudança, como sendo traços de juventude. Porque são os jovens, nas escolas e depois nos centros de investigação e nas empresas, que aprendem e constroem as tecnologias e fazem descobertas que mudam o mundo todos os dias. São um símbolo de energia e vitalidade que contrasta com o saber acumulado e a experiência da vida dos mais velhos que facilmente descartamos e queremos ignorar como se fosse possível prescindirmos desses valores. 
A ideia de que o futuro depende dos jovens - o que não deixa de ser verdade - assim dito desvaloriza a existência das pessoas mais velhas remetendo-as para pessoas improdutivas que estão a mais, que não são necessárias, olhadas como um fardo social e económico, esquecendo-nos que os jovens de hoje serão os velhos de amanhã e que passarão pela mesma discriminação se, entretanto, não formos capazes de mudar a forma como encaramos o envelhecimento. A quem aproveita esta lógica?
Curiosamente, o Japão, uma das sociedades mais industrializadas do mundo e tecnologicamente mais avançadas, adoptou activamente políticas que visam dar sentido e propósito à vida das pessoas idosas. As pessoas idosas no Japão são consideradas, são úteis à sociedade e têm graus de realização superiores aos que se verificam na Europa.
2012 é o Ano Europeu do Envelhecimento Activo. Envelhecer com qualidade, significa não apenas viver mais anos com saúde, mas deve significar uma participação positiva na actividade social e uma contribuição para a geração de riqueza. Há muito trabalho de sensibilização a fazer para que se alterem atitudes discriminatórias e estigmatizantes em relação às pessoas idosas. Mas há também que haver vontade política para valorizar o trabalho dos mais velhos, aceitando a aprendizagem ao longo da vida como um activo e encontrando formas que permitam a quem tem saúde e saber trabalhar e ser útil à sociedade por mais tempo. Um mundo dividido com jovens de um lado e velhos do outro é como um filme a preto e branco, antiquado, com falta de colorido, de vida...

4 comentários:

  1. Completamente de acordo, Margarida, embora me pareça que muitos e muitos jovens sabem bem o valor dos mais velhos, quando lhes confiam os filhos, quando lhes pedem conselho, quando contam com eles para imensas coisas essenciais ao equilíbrio da família e da vida profissional. Os mais velhos são hoje um mercado imenso para novos produtos, a adptação do mercado a esse manacial de consumidores é notável. Que, mesmo assim, ainda sejam desprezados como ativo social e económico é incompreensível.

    ResponderEliminar
  2. Cara Margarida,

    Na edição deste último fim-de-semana do F. Times encontra-se um texto muito interessante sobre a obra de Oscar Niemayer, no qual é lembrado que o famoso arquitecto, tendo completado 104 anos já este ano, está trabalhando em novos projectos, tendo vários em mãos com vista ao mundial de futebol de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016...
    Chamar-lhe velho? Velhos são mesmo os trapos...

    ResponderEliminar
  3. O papel das pessoas idosas, por exemplo dos avós, continua a ser muito importante no seio de muitas famílias, ajudam os filhos, tomam conta da casa e dos netos. No entanto, Suzana, a sociedade desvaloriza-os. Há um fenómeno de socialização que tende a ignorar o reconhecimento que é feito a nível individual e familiar pelas gerações mais novas na convivência directa com os seus mais velhos.

    Dr. Tavares Moreira
    Por cá temos quem "concorra" com o arquitecto Oscar Niemayer, estou-me a lembrar do realizador Manoel de Oliveira que tem 103 anos. São casos fantásticos, muito animadores.

    ResponderEliminar