1. Quem tenha lido a edição do F. Times de 17 do corrente terá certamente reparado no texto da página 25, “MARKETS & INVESTING”, no qual é feita uma extensa referência aos importantes progressos realizados nos últimos meses pela Irlanda, um dos 3 países da zona Euro forçados a negociar uma operação de resgate financeiro para evitar a insolvência do Estado e do sistema bancário.
2. Nesse texto é dada especial saliência à notável recuperação das cotações da dívida pública irlandesa: depois de as taxas de juro implícitas na cotação da dívida a 10 anos terem ultrapassado os 15% em Julho/2011, o valor da dívida começou a recuperar, situando-se a taxa de juro implícita já abaixo de 7% à data em que o texto foi publicado – a 1ª vez aliás em que a taxa de juro ficava abaixo de 7% desde a negociação do resgate financeiro (Novembro/2010).
3. A mesma taxa situa-se actualmente em 7,06%, inferior em 5,8% à taxa de juro implícita na cotação da dívida portuguesa para o mesmo prazo, que é de 12,86%.
4. Sucede que a Irlanda até já conseguiu voltar ao mercado obrigacionista, com uma emissão de obrigações ao prazo de 3 anos, realizada há cerca de 3 semanas, colocando cerca de € 3,5 mil milhões a uma taxa de juro de 5,25%.
5. Outros indicadores mostram que a recuperação da Irlanda não se limita à dívida pública: a economia cresceu mais de 1% em 2011 e deverá continuar a crescer em 2012 (+0,5%), segundo as previsões da C. Europeia divulgadas na semana finda, apesar desta mesma previsão apontar para uma contracção do conjunto da zona Euro, de - 0,3%...e das fortes contracções esperadas para Portugal e para a Grécia…
6. A economia irlandesa beneficia certamente do facto de os irlandeses terem resistido “estoicamente” ao aumento da tributação sobre as empresas, aquando da negociação do resgate financeiro, mantendo o seu “IRC” em 12,5% (aceitando, em contrapartida, maiores cortes na despesa pública...deviam estar loucos...), tendo conseguido atrair, em 2011, um volume muito elevado de investimento estrangeiro nomeadamente de empresas americanas…
7. A economia irlandesa beneficiou também de uma forte recuperação das exportações que mais do que compensou a quebra da procura interna decorrente do plano de austeridade adoptado, devendo notar-se que as exportações assumem um peso relativo na economia que é mais de 3 vezes o peso relativa das exportações na economia portuguesa…
8. A situação da Irlanda, não sendo isenta de riscos, oferece assim um contraste impressionante com a da Grécia, sendo também bastante diferente, para melhor, da situação portuguesa…a Irlanda é pois exemplo de que um programa de ajustamento associado à operação de resgate financeiro, quando executado com convicção, com toda a gente a “remar para o mesmo lado”, pode mesmo transformar-se num sucesso…
9. Pois bem, creio que esta é a principal razão pela qual o caso irlandês é quase ignorado em Portugal – o seu sucesso vai contra a corrente dominante da “inteligência” portuguesa, dominada pelos “papagaios” (com a devida licença de Medina Carreira) de serviço aos telejornais e noutros meios de comunicação…
10. Para esse exército de papagaios/opinadores, é AXIOMÁTICO que um programa de austeridade JAMAIS poderá dar bons resultados, como se vê com a Grécia (sobretudo) e tb com Portugal…é preciso crescimento e, para essa opinião dominante, crescimento é sinónimo de mais despesa do Estado, para “dinamizar a economia”…
11. Politicamente muito incorrecto falar sobre o sucesso da Irlanda, que me perdoem os nossos leitores…
2. Nesse texto é dada especial saliência à notável recuperação das cotações da dívida pública irlandesa: depois de as taxas de juro implícitas na cotação da dívida a 10 anos terem ultrapassado os 15% em Julho/2011, o valor da dívida começou a recuperar, situando-se a taxa de juro implícita já abaixo de 7% à data em que o texto foi publicado – a 1ª vez aliás em que a taxa de juro ficava abaixo de 7% desde a negociação do resgate financeiro (Novembro/2010).
3. A mesma taxa situa-se actualmente em 7,06%, inferior em 5,8% à taxa de juro implícita na cotação da dívida portuguesa para o mesmo prazo, que é de 12,86%.
4. Sucede que a Irlanda até já conseguiu voltar ao mercado obrigacionista, com uma emissão de obrigações ao prazo de 3 anos, realizada há cerca de 3 semanas, colocando cerca de € 3,5 mil milhões a uma taxa de juro de 5,25%.
5. Outros indicadores mostram que a recuperação da Irlanda não se limita à dívida pública: a economia cresceu mais de 1% em 2011 e deverá continuar a crescer em 2012 (+0,5%), segundo as previsões da C. Europeia divulgadas na semana finda, apesar desta mesma previsão apontar para uma contracção do conjunto da zona Euro, de - 0,3%...e das fortes contracções esperadas para Portugal e para a Grécia…
6. A economia irlandesa beneficia certamente do facto de os irlandeses terem resistido “estoicamente” ao aumento da tributação sobre as empresas, aquando da negociação do resgate financeiro, mantendo o seu “IRC” em 12,5% (aceitando, em contrapartida, maiores cortes na despesa pública...deviam estar loucos...), tendo conseguido atrair, em 2011, um volume muito elevado de investimento estrangeiro nomeadamente de empresas americanas…
7. A economia irlandesa beneficiou também de uma forte recuperação das exportações que mais do que compensou a quebra da procura interna decorrente do plano de austeridade adoptado, devendo notar-se que as exportações assumem um peso relativo na economia que é mais de 3 vezes o peso relativa das exportações na economia portuguesa…
8. A situação da Irlanda, não sendo isenta de riscos, oferece assim um contraste impressionante com a da Grécia, sendo também bastante diferente, para melhor, da situação portuguesa…a Irlanda é pois exemplo de que um programa de ajustamento associado à operação de resgate financeiro, quando executado com convicção, com toda a gente a “remar para o mesmo lado”, pode mesmo transformar-se num sucesso…
9. Pois bem, creio que esta é a principal razão pela qual o caso irlandês é quase ignorado em Portugal – o seu sucesso vai contra a corrente dominante da “inteligência” portuguesa, dominada pelos “papagaios” (com a devida licença de Medina Carreira) de serviço aos telejornais e noutros meios de comunicação…
10. Para esse exército de papagaios/opinadores, é AXIOMÁTICO que um programa de austeridade JAMAIS poderá dar bons resultados, como se vê com a Grécia (sobretudo) e tb com Portugal…é preciso crescimento e, para essa opinião dominante, crescimento é sinónimo de mais despesa do Estado, para “dinamizar a economia”…
11. Politicamente muito incorrecto falar sobre o sucesso da Irlanda, que me perdoem os nossos leitores…
Há dias um amigo enviou-me um texto de comparação da situação da Irlanda com a da Islândia, no qual se pretendia provar a tese da esquerda comunista de que o melhor para os países endividados é recusar pagar a dívida, já que a Islândia, que se terá recusado a pagar e a seguir a receita do FMI estaria muito melhor em termos de crescimento e desemprego do que a Irlanda, que segue a cartilha da austeridade, apesar desta última ser apresentada normalmente como o bom exemplo. Será que esta comparação tem alguma coisa de verdade? Em caso afirmativo, qual será a explicação?
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira
ResponderEliminarNão é apenas em Portugal que o caso da Irlanda é politicamente incorrecto.
No mundo dos anglos quer, do lado de cá quer, do lado de lá, a omissão, costuma ser, ululante.Ou, então, usam a costumada táctica de "enterrar" nas páginas interiores.
Dito isto, Caro Tavares Moreira, estas "polémicas" sobre a "bondade" das estratégias que estão a ser adoptadas, em grande medida não passam de enormes erros de paralaxe.
Porque, verdadeiramente, o que está em cima da mesa é a qualidade dos instrumentos que implementam as políticas não as estas últimas.
Mas isso, seria admitir que a Grécia é, na realidade um estado falhado porque não tem estado à altura e que, no que respeita a Portugal, ainda não existem certezas de qual é a real valia do nosso estado..
Ora, encarado deste modo, muita coisa, cá dentro e fora, pode ficar explicada...
Cumprimentos
joão
Caro Freire de Andrade,
ResponderEliminarEntre a Islandia e a Irlanda existe uma enorme diferença que consiste no facto de uma ter moeda própria, de valor ajustável pelos seus próprios meios, e a outra pertencer ao Euro sobre cujo valor não tem qq poder.
Em qq caso, a Islandia, depois de um período inicial em que enfrentou uma garve crise financeira de forma atabalhoada, recusando devolver os depósitos que grandes bancos ingleses e outros tinham feito, especulativamente, em bancos islandeses agora insolventes, acabou por deguir a cartilha do FMI, celebrando com este um programa de ajustamento que aplicou com rigor, tendo sofrido uma forte recessão em 2008 e 2009 mas recuperado em seguida.
Tanto quanto sei também fizeram um acordo com os credores para regularização das dívidas incialmente repudiadas.
A situação da Irlanda é bem melhor, na minha prespectiva,pois conseguiu gerir a necessária austeridade do Estado sem cair em excessos fiscais (o problema de Portugal, claramente), permitindo-lhe manter a actividade económica em crescimento, graças a um sector privado dinâmico e fiscalmente bem tratado.
Caro João Jardine,
Faço minhas, se me permite, as suas considerações...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarMuito obrigado pela resposta às minhas questões. Fiquei mais esclarecido. Acho muito importante seguir de perto o que se passa nos outros países para poder apreciar melhor o que acontece por cá.
Também concordo com o caro João Jardine, o que implica que cada cartilha seja ajustada àquilo que cada Estado demonstra ser capaz de fazer ainda que muito se esforce. Caro Tavares Moreira, foi noticiado que a Irlanda estava a negociar com a troika deles que uma parte da receita das privatizações fique consignada a investimento na economia, prar ajudar ao crescimento. Porquê essa vantagem apenas para a Irlanda?
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEspero que já tenha o dia 27 reservado na sua agenda para a cerimónia de doutoramento honoris causa do P Krugman por 3 universidades de Lisboa em simultâneo, honra que não foi dada ao Dalai Lama ou a qualquer um dos laureados com "Nobéis" a sério. Afinal, nenhum destes outros "besuntas" que nos visitaram se distinguiram tanto na luta contra o austeritarismo imposto pelo imperialismo capitalista e que faz com que profs. doutores, do melhor que a sociedade portuguesa tem, vejam os seus vencimentos reduzidos ao nível de gente sem cultura nenhuma.
Cara Suzana,
Se o investimento do estado no crescimento económico português fosse a solução para o nosso problema, teríamos que arranjar uma mentira para qual seria a causa. Não deixar o estado português mexer no dinheiro, não é bom para a troika, é bom para Portugal.
A redução do IRC (ou sua eliminação) é determinante. Quando seráisso entendido?
ResponderEliminarhttp://notaslivres.blogspot.com/2012/02/austeridade-se-manter-solteira-sera.html
Cara Suzana,
ResponderEliminarNão creio que o investimento que os irlandeses estão projectando realizar mediante parte dos recursos obtidos com as privatizações consista em (i) estádios de futebol, (ii) rotundas, (iii) auto-estradas para ninguém percorrer, (iv) pavilhões gimno-desportivos, (v) museus de tudo-e-mais-alguma-coisa, (vi) casas-da-música, (vii)centros culturais, (viii) arranjos urbanísticos ao estilo do programa POLIS e quejandos...
Os irlandeses devem saber distinguir entre investimento produtivo - que implica um custo no presente mas tem como contrapartida uma geração de receitas líquidas futuras - e investimento sumptuário, que implica um custo durante a fase de realização e que é gerador de despesas líquidas futuras.
O investimento sumptuário tem sido o tipo de investimento preferido pelos diversos poderes públicos em Portugal, e explica em parte a lamentável situação a que chegamos...
Caro Tonibler,
Quis reservar, mas fui informado que a lotação está esgotada há vários dias...não me surpreende, a aficion é conhecida...
Caro Gonçalo,
A redução do IRC é determinante, tanto via taxa como via medidas de incentivo fiscal ao investimento e à poupança...como bem sabe, até agora tem-se seguido, inexplicavelmente, o caminho de penalizar ambos...
Eliminação do IRC será irrealista, nem vale a pena discuti-la (em minha opinião, claro).
Diz que a Irlanda cresceu 1%, mas isso é o crescimento do PIB. Como na Irlanda boa parte do dinheiro produzido são lucros das multinacionais, que saem do país, na prática o crescimento do PNB, que é aquilo que interessa aos irlandeses, deve ter sido bem melhor - e se calhar foi negativo.
ResponderEliminarDe qualquer forma, o crescimento do PIB irlandês deve-se à grande fatia que as exportações ocupam nesse PIB. Ou seja, a economia irlandesa é muito menos puxada pelo consumo interno do que a portuguesa. Se Portugal tivesse uma relevância das exportações tão grande como a Irlanda tem, possivelmente também estaria agora a crescer.
O que isto quer dizer é que a Irlanda não pode facilmente ser tomada como modelo para Portugal.
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarAinda bem que vejo que faz uma distinção entre "auto-estradas para ninguém percorrer" e auto-estradas para alguém percorrer:
Caro Carlos Sério,
ResponderEliminarEssa distinção é fundamental, até porque nos últimos anos assistimos a uma proliferação das AE do 2º tipo, bastante mais keynesianas...
Caro Lavouras,
As suas observaçõea até fazem um certo sentido, embora no caso da Irlanda eu desconheça qual a distinção entre variação do PIB e do PNB...
Sei que em Portugal essa distinção é importante - como Vítor Bento, por exemplo, tem chamado a atenção - uma vez que os rendimentos pagos ao exterior (em termos líquidos) representaram cerca de 5% do PIB (em 2011)...
Na Irlanda poderá ter alguma expressão mas não tanta como em Portugal.