segunda-feira, 5 de março de 2012

"Atração felina fatal"


"How Your Cat Is Making You Crazy"

March 2012 ATLANTIC MAGAZINE

Confesso que ainda hoje me incomoda saber que em tempos, em grandes civilizações, como a egípcia, os gatos atingiram um estatuto de divindade. Na mitologia egípcia existiu uma deusa com cabeça de gato, Bastet, divindade solar e deusa da fertilidade. Nos templos dedicados à deusa os gatos eram considerados como a encarnação da deusa e tratados em conformidade.

Hoje, face aos conhecimentos científicos, posso pensar que tenha havido motivos para tal atitude.

Sabe-se desde há muito que certos insetos, parasitas e vírus podem condicionar o comportamento dos seus hospedeiros com o objetivo de facilitar a sua sobrevivência e propagação. O exemplo mais bem estudado é de um parasita denominado Toxoplasma gondii que necessita do gato para se reproduzir. Para o efeito consegue alterar o comportamento dos ratos. Os cérebros destes roedores sofrem alterações estruturais e funcionais muito interessantes, perdem o medo aos gatos, inclusive "adoram" a urina destes animais que, só por si, em condições normais, seria alarme mais do que suficiente para se porem a milhas. O cheiro a urina de gatos provoca nos ratos infestados reações idênticas a um estímulo sexual! São inúmeras as experiências que revelam estas mudanças no comportamento, cujo resultado final é fácil de ver, levar o toxoplasma ao intestino do gato para se reproduzir após ter apanhado o rato, aquilo a que alguns cientistas chamam "atracão felina fatal".

Agora vamos aos humanos. O toxoplasma é muito perigoso durante a gravidez, podendo provocar abortamentos ou graves alterações congénitas. Fora desta situação, em princípio, e desde que não haja diminuição do sistema de vigilância imunológica, em que pode provocar a morte, como já aconteceu com os imunodeprimidos, a infestação é assintomática ou idêntica a um quadro pseudo gripal. No entanto, os quistos de toxoplamose, ao localizarem-se no cérebro, podem provocar, também, alterações estruturais e funcionais que começam a ser conhecidas. O toxoplasma não ganha nada em infestar os humanos, porque os gatos não nos comem, mas origina alterações comportamentais, algumas delas muito perigosas, como lentificação ao reagir em situações que exigem reflexos rápidos, aumentando substancialmente o risco de acidentes de viação, duas vezes e meia mais dos que não estão contaminados, diminuição do medo, e sem medo os seres humanos não conseguem aperceber-se dos riscos, aumento substancial do risco de esquizofrenia com destruição da massa cinzenta, além de modificações dos neurotransmissores cerebrais. Em suma, durante muito tempo não se suspeitava que os humanos pudessem ser manipulados como os ratos. Não podemos esquecer que partilhamos muitos genes com estes últimos e que vivemos muitos mais anos, fazendo com que os efeitos possam fazer-se sentir com características não pensadas. Ou seja, a "atração felina fatal" também se observa nos seres humanos e poderá explicar muitas outras coisas, como a "gatomania" tão visível na internet e redes sociais. Há quem pretenda explicar esta propensão para o "amor aos felinos" como uma forma de comunicar em que os gatos, nas suas poses e comentários, substituem a vontade dos promotores e divulgadores, os quais necessitam desta nova forma de comunicação para se exprimirem. Há mesmo teses que apontam para esta explicação. No entanto, de acordo com estudos epidemiológicos e biológicos, não é de excluir que muitos amantes e donos dos gatos possam sofrer de toxoplasmose a qual pode provocar modificações estruturais e funcionais dos seus cérebros nada despiciendos. Sendo assim, quem diria que o toxoplasma chegasse ao ponto de entrar na internet induzindo os "amantes de gatos" a partilhar as suas experiências, usando novas formas de linguagem, mas podendo igualmente ser responsáveis por acidentes, sobretudo de viação, porque o atraso na resposta a certos estímulos é muito significativo, e, até, ser corresponsável por graves doenças psiquiátricas, que não se limitam à esquizofrenia, também aumentam os suicídios e homicídios.

Talvez agora consiga explicar o comportamento dos antigos egípcios que adoraram Bastet, que criaram templos dedicados a esta divindade e que consideravam os gatos como a reincarnação da deusa. Às tantas a toxoplasmose deveria ser muito prevalente naquele tempo...

11 comentários:

  1. O que eu aprendo aqui! : )
    Muito interessante.

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  2. Com efeito, ao observarmos as imágens que representam os antigos faraós egípcios, notamos os enormes tocados que lhes ornamentavam as reais cabeças. Conhece-se também o costume de lhes enfaixar os crâneos desde tenra idade, por forma a atingirem mais tarde, uma forma alongada.
    Terá sido aquele, o meio utilizado pelos egípcios, para proteger os faraós da toxoplasmose?!
    Se foi, não parece que em muitos casos a prevenção tenha resultado, a avaliar pela megalomania manifesta na construção de imensos palácios e altíssimas pirâmides, na perseguição e na execução ao povo de Israel, na captura e escravatura de outros povos e ainda, na forma alienada como conduziam as suas Bigas, atropelando quem se encontrasse no seu caminho.
    Parece que ainda hoje a hereditariedade não se extinguiu...

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  3. Há uns poucos meses apareceu um artigo na secção de ciência do Economist sobre este assunto.

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  4. Quer dizer que a imagem popular da senhora louca que alimenta uma centena de gatos pode até ser o efeito do parasita?

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  5. Uma vez que o caro Professor considera muito provável a hipotese proposta pelo nosso Amigo Tonibler, admite então que existam outros protozoários responsáveis pela "intoxicação" dos cérebros daqueles que alimentam cães, repteis, aves, peixes, etc.
    E... porque não estender esta probabilidade até àqueles que se dedicam a alimentar seres humanos abandonados?
    Nestes casos, qual será a toxina que lhes infecta o cérebro?

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  6. Meu caro Bartolomeu

    O que lhe posso dizer é que muito provavelmente muitas condutas e comportamentos poderão ser ditados pela influência de parasitas e outros germes que necessitam de ser conhecidos e estudados. Nada de espantar, o comensalismo e o parasitismo existiram desde sempre. Agora se é para ajudar os mais necessitados, isso não sei responder, o que posso adiantar é que em termos de evolução alguém tem de ganhar com isso, sem provocar graves desmandos, é preciso ter isso em linha de conta, um parasita que se preze evita matar o hospedeiro, caso contrário, também, vai à vida. Parece-me que muitos seres humanos, verdadeiros parasitas, aprenderam, e muito bem, a lição, pelo que me é dado ver...

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  7. ;))))))
    A minha vénia, caro Professor!!!

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  8. Bartolomeu

    Não sei qual a "toxina" que permite aos seres humanos alimentar outros, nem sei se haverá alguma toxina, a não ser que o amor pelo próximo possa ser considerado como tal, mas se for, então, não existe, infelizmente qualquer epidemia, se compararmos ao efeito, por exemplo, do protozoário toxoplasma...

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  9. Existe sim, caro Professor, e o Senhor bem sabe que sim. Mas mesmo que duvidasse, bastar-lhe-ia considerar a existência da humanidade.
    E a essa "toxina", até poderíamos chamar Fé. Não necessáriamente a fé que a igreja nos impinge, mas a outra, aquela que nos anima e nos solidariza quando tomamos conhecimento do sofrimento alheio.
    ;))

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  10. ó Dr. Massano ..o que interessam os felinos quando os porcos estão à solta ?
    Vc viu as noticias do correio da manhã ? as escutas de socrates ?

    Porque será que este blog não tem noticias sobre tamanha vergonha nacional ?

    afinal o ex primeiro ministro nunca pôs os pés na faculdade ?????não se lembra da dissertação final ????ahahahahaha kakakakakakakkakaak
    não fez um amigo ..um colega ..que farsa nojenta ...vai durar até quando ?

    quem não fala no assunto vira cumplice..

    e aqui neste blog ..se fala de miados ..miau ..miau ..ffff..miau miau..
    Vamos longe sim senhor.

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