No decurso das minhas aulas faço todos os possíveis por estimular os alunos para que se debrucem, analisem e reflitam sobre algumas temas de forma a estruturar o pensamento e a criatividade. Não é fácil despertá-los para este desiderato, sobretudo na pré graduação. Na pós graduação as coisas são mais fáceis, mas mesmo assim verifico algum constrangimento e dificuldade. Tenho, desde há algum tempo, feito esforços no sentido de descobrir novos "pensadores". Lanço para a assistência temas desafiantes, chamando a atenção para a sua importância. Ao fazê-lo informo que gostaria imenso de ver um dos alunos a apresentar um ensaio sobre o assunto, mas tem de ser curto, sucinto. O poder de síntese é indispensável para a transmissão das ideias e conhecimentos. Dou uma ou duas dicas por aula. Em troca não recebo grande coisa, não recebo nada! Mas já me aconteceu ter sido contemplado com uma ou outra preciosidade. Este ano deu-me para estender esta conduta aos alunos do segundo ano, habitualmente faço isto com os do quarto ano.
Uma das jovens alunas aceitou, na penúltima aula, o meu repto, porque a provoquei diretamente. Trata-se de uma aluna que está sempre com muita atenção e cujas reações faciais não enganam quanto ao seu interesse. Hoje, antes de começar a aula, um aluno entra na sala e entrega-me uma folha com um texto, dizendo que face ao meu desafio tinha escrito sobre o assunto proposto. Olhei para o rapaz espantado, porque não estava à espera. Como ainda faltava uns bons minutos para começar a aula li-o nas calmas e fiquei muito surpreendido com o conteúdo e a forma. Calei-me. Ao iniciar a aula, comuniquei aos alunos que tinha acabado de receber um texto de um colega presente no anfiteatro. Comentei que todos deviam lê-lo, analisá-lo e debatê-lo. Realcei as qualidades do mesmo e felicitei o aluno. Foi então que uma explosão de palmas ecoou no anfiteatro. Todos os alunos, sem exceção, associaram-se às minhas palavras. Já perdi o conto aos anos em que ando nisto, e nem quero fazer contas, mas foi a primeira vez na minha vida que vi uma reação desta natureza. O meu aluno ficou satisfeito, obviamente, mas eu ainda fiquei mais.
Hoje, apesar do desconforto que venho a sentir desde há algum tempo, recebi uma lição e, sobretudo, um estímulo para continuar a acreditar nos mais jovens. E eles são mesmo muito jovens!
Sendo assim, convido os interessados a irem ao Quarto da República ler o ensaio de Marco Almeida, "Tratamentos diferenciados em função de comportamentos causadores de doença". Não se arrependerão, estou certo disso.
Obrigado.
Estão realmente de parabéns, o Marco José Gonçalves Almeida
ResponderEliminare o seu professor Salvador Manuel Correia Massano Cardoso.
O raciocínio do futuro médico e aforma clara e objectiva como o expõe, transmitem-nos a firme sensação de que em breve a medicina contará com mais um excelente profissional emboído de princípios éticos e humanísticos. Quem sabe, a imágem reflectida do seu mestre.
Quando se ouvem os críticos do "no meu tempo é que era", eu gostava de sublinhar a sorte do Marco Almeida em ter nascido nesta era onde pode apanhar professores destes. No meu tempo, não existiam
ResponderEliminarComentários ao texto do Marco, irão para o quarto, depois de ler com atenção.
Eu acho que é um péssimo hábito, esse de tratar estudantes universitários por "alunos".
ResponderEliminarAlunos são os das escolas primárias e liceus. Nas universidades há, ou deve haver, estudantes.
Li, no QUARTO DA REPÚBLICA, o texto de Marco Almeida, bem como os 4 comentários que lhe estão anexos.
ResponderEliminarQuanto ao texto, acho-o muito interessante dos pontos de vista profissional e humanístico, sendo aquilo que , em meu entender, é de esperar de um “aprendiz” de médico que se acredita sério e animado do verdadeiro espírito da futura missão.
Quanto aos comentários são “óptimos” mas demais para a minha fraca capacidade de os entender, tal o grau de elaborado preciosismo que apresentam.
Voltando ao Marco de Almeida, só quero lembrar que está no 2º ano e o curso é longo e exigente, cheio de gente que de espírito de missão pouco ou nada tem e que se sente uma elite universitária. Espero bem que o Marco “aguente” o espírito e a vontade que lhe levou a escrever este texto, que nele acredite e o faça vingar. Quero dizer, espero que o Marco não se “perca” e não venha a ser…”mais um entre tantos”.
Só cá faltava a tirada situacionista dos alunos versus estudantes.
ResponderEliminarO cúmulo do ridículo é ouvir esta gente perorando sobre este tema do estudante para depois exclamar com orgulho pertencer aos alumni de uma qualquer alma mater.
Não há mesmo pachorra.