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A deslocação em Tortuguero |
Era difícil adivinhar o que nos esperava no Parque Nacional Tortuguero. Partida de San Jose, de novo muito cedo, rumo ao nordeste caribenho, a um
habitat primitivo, assim classificado pela literatura de viagem. O autocarro ficou-se por Cariari, muitos quilómetros aquém do destino. A partir deste local não há estradas ou caminhos onde um qualquer veículo possa servir de transporte por terra firme. Dali continua-se numas modestas chatas por rios e canais, alguns pouco profundos, que quebram a continuidade de uma floresta tropical densa, repleta das mais variadas formas de vida.
Alojamento em plena selva, na margem oposta à da povoação de Tortuguero, pequena localidade de pouco mais de 1000 habitantes, convertidos às vantagens da conservação das tartarugas, em especial da tartaruga verde, cuja caça (e colheita de ovos) foi durante muito tempo o recurso fundamental – a par da exploração da madeira, hoje também fortemente limitada – daquelas gentes.
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Natureza pródiga |
Dizem-nos que esta conversão é sincera, e que a comunidade local é hoje o principal agente da preservação da biodiversidade. Não custa vencer o ceticismo inicial que nos dificulta a aceitação imediata de factos relatados por guias nem sempre rigorosos naquilo que transmitem, ciosos de apresentarem ao visitante a versão mais simpática do produto que promovem. A verdade é que o pequeno
pueblo apresenta efetivamente sinais do abandono das antigas práticas predadoras de subsistência, sinais de que as populações veem na preservação dos recursos naturais a forma sustentável de garantir uma vida dificultada e encarecida pelo isolamento. Descobriram no turismo a sua principal fonte de rendimento, cientes de que este tipo de turismo só permanece se o desconforto das viagens for compensado pela manutenção daqueles ecossistemas no seu estado mais puro e das espécies mais significativas e raras.
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Mural da escola de Tortuguero |
Anunciava-se chuva intensa para os dias que planeámos passar em Tortuguero, situação aliás normal por aqueles sítios mesmo durante a chamada estação seca. Íamos devidamente apetrechados para a enfrentar mas fomos afinal brindados por dias de sol brilhante só interrompido na manhã do segundo dia, momento em que atmosfera se desfez numa tremenda tempestade tropical que inviabilizou a programada caminhada por um trilho floresta adentro.
Valeu, sobretudo, o passeio madrugador pelos canais, assistindo ao extraordinário despertar da fauna. Esses momentos ficarão para sempre na memória e não são fáceis de descrever. Pode ser que as fotos transmitam uma ideia. Mas para além da impressão visual é preciso estar ali para somar lhe as emoções proporcionadas pelos cheiros, pelo calor e humidade, pelos sons, pelos movimentos, pela luz peculiar e filtrada por uma floresta que amiúde se fecha em círculo e nos envolve completamente...
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A Preguiça-de-dois-dedos |
Declinámos a oferta do programa noturno. Tratava-se de assistir à arribada das tartarugas verdes para a desova. Íamos prevenidos que esse extraordinário movimento só se iniciaria daí a umas semanas. O que um guia sério de resto nos confirmou. Uns dólares poupados, melhor aplicados no muito que ainda faltava ver...
Deixámos para trás Tortuguero quase certos de que o que nos faltava percorrer e observar não iria desfazer ou diminuir o impacto e as sensações daquele local único. Hoje podemos confirmá-lo.
(
continuação)
Fantástico! É de deixar sem respiração, imagino a viagem naquelas canoas, a ver as margens afastadas e o rio infestado de caimões, é de coragem!, que grande aventura, vê-se que o fotógrafo tentava apanhar tudo o que via, chegou-nos o detalhe maravilhoso da vida na natureza surpreendida na sua tranquilidade. Obrigada, fantástico relato da viagem e excelente documentação fotográfica.
ResponderEliminarUm excelente safari fotográfico. O meu amigo sabe da poda!
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