Vai começar o Europeu. O
futebol não é um caos e cada equipa tem princípios científicos,
filosofia, modelo e sistema de jogo. O treinador português assegura
que essa cultura está assimilada pelos atletas. Contudo, assaltam-me muitas perplexidades, que vou partilhar com os
leitores.
Duvido logo que o nosso meio-campo assegure convenientemente
as adequadas transições ofensivas, por falta de um número dez de raíz. Tal
situação dificulta os necessários movimentos de ruptura, de forma que o esférico chegue
jogável aos alas ou ao ponta-de-lança, paralisando o adversário surpreendido
pelo inesperado do movimento.
Por outro lado, não se
conhece nem pelo trinco, nem o pivot, o que traz dificuldades adicionais na
formulação da filosofia do jogo, dada a importância do seis e do oito na
arquitectura da equipa. Este facto conflitua com a periodização
tática e quanto ao próprio modelo de jogo, modelo esse de forma alguma
confundível com o sistema de jogo. E muito menos com a filosofia e os
princípios. De qualquer forma, é natural que se imponha um duplo pivot, já que
apenas um, concretizando uma filosofia de triângulo invertido, não se compagina
com as características dos atletas portugueses.
Aliás, o duplo pivot
torna-se tão mais necessário quanto a defesa tem apresentado fragilidades de
monta: sofre cuecas a toda a hora (disse cuecas, isto é, túneis, não quecas, que estas
tarefas estão vedadas aos selecionados) e tem apanhado nós cegos persistentes. Claro
que para fugir a estes nós, os atletas gostam mais da defesa à zona, gosto que
deve ser contrariado pela adopção no mínimo de uma defesa mista, já que o homem
a homem também não é próprio de atletas tão dotados. A questão do meio-campo é
ainda crucial em tudo o que respeita à basculação do jogo, como as
características dos atletas condiciona o tipo de pressão sobre o adversário,
designadamente a pressão alta. Deste modo, a tática defensiva não pode
dispensar um modelo de bloco baixo, a roçar mesmo o autocarro. Neste contexto,
o saber jogar sem bola é absolutamente decisivo.
No ataque, falta-nos
obviamente um ponta-de-lança, já que os escolhidos têm a particularidade de
acertar preferencialmente nas orelhas da bola, e revelam enorme dificuldade em
encher o pé. Ao contrário, os alas têm tendência para abusar não só das trivelas,
mas também das tabelas, toques vistosos, mas raramente produtivos.
Dadas as mialgias de
esforço que esta alta competição propicia, jogar de cadeirinha e controlar o
jogo é fundamental, assim como é determinante uma boa gestão do microciclo, através
da prática de um profundo descanso activo.
Para um bom sucesso da
selecção, resta-me esperar que o treinador leia e assimile esta filosofia. Depois, não me venha dizer que não avisei!...
eh eh eh!
ResponderEliminarReparo que a sua filosofia está desprovida de triangulações no segundo terço, apesar do bloco baixo. Nunca conseguiremos estar de acordo sobre isso!...
Por outro lado, há quem goste da velha escola de filosofia alemã que diz "não sabes chutar à baliza não sabes jogar". Vá-se lá imaginar uma barbaridade destas...
De facto, Tonibler, para além do Porto/Benfica, também aqui perfilhamos teses algo diferenciadas. O que não deixa de ser natural, dadas as diversas linhas de investigação de que este ramo da ciência tem sido alvo.
ResponderEliminarDe qualquer forma, a sua tese reveste-se de alguma fragilidade, se a compaginarmos com aquela que postula que, para servir as boas triangulações e blocos baixos de esquerda é preciso saber jogar sem bola. Portanto, seguindo esta linha investigativa, não saber chutar não é impeditivo de ser um super jogador. Aliás, a realidade comprova-o de sobejo. Basta ler o nome da grande maioria de super-heróis que povoam as primeiras páginas do jornal A Bola.
E eu a pensar que a economia era complicada...! Por mim, ficava-me pelo "Viva o Benfica", que resume tudo o que há a esperar deste nobre desporto :)
ResponderEliminarCara Suzana,
ResponderEliminarjá foi tempo em que as coisas eram simples. Hoje o futebol saiu da pré-história e já não basta dizer que se perdem ou ganham jogos. Tem que se ter um discurso como o do Caro Pinho Cardão, em voz grave, baixo volume e ar intelectual "picando" outras áreas, menos sofisticadas do saber. Economia é aquilo que se sabe, qualquer taxista fala disso...
Ora nem mais!
ResponderEliminarAmigo António,
ResponderEliminarA propósito de princípios científicos permite-me que te coloque uma dúvida fora das quatro linhas de jogo:
O Tribunal de Contas afirma no seu mais recente relatório anual que
foram "detetadas irregularidades no âmbito da execução orçamental afetando € 41 mil milhões,"
Ora a despesa pública (corrente e de capital) foi para 2011 cerca de 79,4 mil milhões.
Como é que podem ter sido detetadas irregularidades em operações das finanças do estado envolvendo mais de 52% da despesa pública?
Quando à bola propriamente dita não sou capaz de dar uma para a caixa. Fico simplesmente abismado com a tua sapiência na filosofia da matéria.
Mas prevejo que este clube de milionários portugueses não passe à segunda fase. Porquê?
São os que estão melhor instalados, ouvi dizer algures. E, como dizia o maltês, saco cheio não se dobra, patrão!
Caro Rui:
ResponderEliminarPor esta mistura de futebol e finanças públicas é que eu não esperava! O que me dizes é enorme novidade, mas também não estranho. Por dever de ofício, nos 3 anos em que fui ilustre Deputado da Nação, tive que estudar o Relatório da CGE elaborada pelo Tribunal de Contas, com vista à discussão no Plenário. Em todas as rubricas e entidades havia irregularidades, umas de natureza meramente formal, outras substanciais, como desorçamentações (muitas), e muitas outras de diversa ordem, gravidade e teor. O TC chegava a afirmar que na Conta Geral do Estado apenas uma coisa era certa, a de que as contas não estavam certas.
De qualquer forma, e assim a frio, e pelo que disse, não se podem tirar conclusões sobre a gravidade dessas irregularidades. Só vendo. O Relatório refere-se a que ano?
PS: Também muitas vezes essas irregularides apontadas não têm pés nem cabeça, e apenas se justificam pela inexperiência dos técnicos que os leva a valorar aspectos sem qualquer importância.
Ou seja, com muito jogo mastigado a meio campo, faltoso e pouco técnico
ResponderEliminarIsso mesmo, mais ou menos assim...,caro Tonibler
ResponderEliminarO Pinho Cardão por este andar vai fazer concorrência o Seabra!
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