1. Num dos mais lidos e especializados jornais económicos “on line” editados em Portugal, li há pouco o seguinte comentário “ A Grécia continua a ser palco de forte destruição de riqueza”.
2. Este comentário, de sabor futebolístico (a moda assim o exige?), feito a propósito da notícia de que o PIB na Grécia tinha contraído 6,5% no 1º Trim/2012 por comparação ao 1ª Trim/2011 (variação homóloga), revela que quem o escreveu não tem a menor noção do que é o PIB: o valor daquilo que uma economia acrescenta (fluxo), num dado período, à riqueza nacional existente (stock) no início desse mesmo período. Ou, tendo essa noção, resolve escrever o que lhe vem à cabeça, pouco se importando se isso está certo ou errado.
3. O facto de o PIB do 1º trimestre deste ano ser inferior ao do 1º trimestre do ano anterior - em 6,5% ou noutra qq % - não significa que o próprio PIB seja negativo: significa apenas que o valor acrescentado do período considerado foi inferior ao do período de comparação...mas ser inferior não é o mesmo que ser negativo...
4. Assim sendo, não houve nenhuma destruição de riqueza, o que houve foi um acréscimo menor de riqueza do que aquele que se tinha verificado um ano antes...
5. Mas é através deste tipo de falsas ideias fabricadas à pressa pelos media, que os cidadãos vão consolidando a sua ignorância sobre estes assuntos, acabando por não ter a menor noção daquilo que se discute: todos têm a mesma razão, digam o que disserem, ninguém tem razão no final...
6. Não admira, pois, que este ambiente de confusão seja propício para os Crescimentistas difundirem as suas fantasiosas teses sobre o crescimento a “todo o vapor”, sem a menor preocupação quanto aos pressupostos desse mesmo crescimento...
7. Quem diz que a Grécia está destruindo riqueza pode dizer, com a mesma facilidade e convicção, que essa história da correcção dos desequilíbrios da economia é uma obsessão dos neo-liberais...e o que se impõe é dar toda a prioridade ao crescimento (como, é detalhe que pouco importa).
Ai, Senhor Doutor Tavares Moreira... o meu estimado amigo acaba de me dar um nó no cérebro que é obra.
ResponderEliminarEntão a Grécia, que está para lá da possibilidade de recuperação económica, baixa o valor do PIB, relativamente a que mês fôr e isso não deve ser considerado um aspecto negativo???
Estou a sentir vertíngens, sou-lhe sincero. Isto porque, sempre ouvi dizer que o crescimento do PIB, seja em que economia seja, para além de desejável, é um sinal positivo, inequívocamente positivo.
Agora... que um crescimento económico, seja de que país for e em que situação for, não deve nunca ser obtido, custe o que custar e de qualquer maneira... isso já me parece absolutamente razoável.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarAs minhas desculpas, mas o meu ilustre amigo deve ter lido mal, ou apenas em "sobrevoo", o que escrevi neste Post - não classifiquei nem de negativo nem de positivo o facto de o PIB grego ter caído 6,5%, em termos homólogos, no 1º trimestre deste ano, o texto tem um sentido bem diferente desse...
Importa-se de ler novamente (sei que é um sacrifício grande o que lhe peço, quand même...)?
Sacrifício nenhum, caro DR. Tavares Moreira. Lêr os seus posts, proporciona-me em primeira análise, aprender.
ResponderEliminarNo entanto, a leitura que faço dos pontos 3 e 4 deste post, levam-me a concluir que o caro Dr. não considera negativo para a recuperação da economia grega, o facto de o Produto Interno Bruto ter decaído.
O meu raciocínio baseia-se tão somente no facto de estarmos a referir-nos a uma economia que se encontra abaixo da linha de água, o que me faz concluir - do meu ponto de vista - que, mesmo que o PIB registado no primeiro trimestre deste ano, tivesse sido superior ao do 1º trimestre do ano passado, continuaria a ser negativo.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarApriecei seu gesto heroico de reler o Post que escrevi sobre a economia grega...ousaria propor uma distinção honorífica ao Snr. PR para reconhecer o excepcional mérito do meu amigo ao enfrentar tão penosa empreitada...
Terá então reparado que o meu ponto não é o de discutir o demérito da situação económica grega - ninguém em seu perfeito juízo o poderá negar - mas sim a tremenda confusão do autor da notícia citada quanto ao que um recuo na variação do PIB, por mau que seja (que é) poderá significar...
O que essa variação não pode significar - ao contrário do comentário que citei - é uma destruição de riqueza mas apenas uma menor criação de riqueza do que a que se verificou no período tomado para comparação...
É uma confusão impossível, pior do que a de "alhos com bugalhos"!
Ao seu dispor para qq outro esclarecimento.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarSe algum mérito pode ser encontrado no mais singelo dos meus actos, e por isso possa esperar reconhecimento; prefiro que ele me chegue através da palavra amiga daqueles que me são caros. Nunca, de um Presidente de República.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarPois eu já ouvi o sr. Presidente do ISEG mandar essa mesma patacoada, confundir o crescimento do PIB, a segunda derivada do "activo" com o juro a pagar pela dívida, a primeira derivada do "passivo". Atendendo que o homem é doutorado em Economia em Inglaterra e supostamente o chefe da escola de economia da futura Universidade de Lisboa, temos que desculpar os jornalistas.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarNesse caso, podemos ter razões para dizer que o Mundo está perdido...nada mais nos resta que resignação...
A vantagem dos não economistas, e dos ignorantes em geral, é que interpretam um pouco insitintivamente, recusando o que parece ilógico e aceitando, sem mais, o que parece fazer sentido, daí a confusão que o caro Tavares Moreira aqui vem esclarecer. No entanto, como ignorante que sou destas matérias, parecer-me-ia que a dificuldade em criar mais riqueza e, por consequência, a redução comparativa do crescimento do PIB, poderia muito bem resultar da destruição das fontes da riqueza anterior, ou seja, o PIB diminui porque estão a desaparecer as condições de criação de riqueza que sustentava o anterior nível de crescimento. Cresce-se menos e cada vez será menor a capacidade de crescimento, levando a um decrescimento. Poderá ver-se isto assim ou não? É que me parece que é esta a interpretação comum de quem ouve essas notícias.
ResponderEliminar"Quem diz que a Grécia está destruindo riqueza pode dizer, com a mesma facilidade e convicção, que essa história da correcção dos desequilíbrios da economia é uma obsessão dos neo-liberais...e o que se impõe é dar toda a prioridade ao crescimento (como, é detalhe que pouco importa)."
ResponderEliminarMas que grande confusão.
No lo entiendo nada, meu caro Tavares Moreira.
Com desíquilibrios da economia refere-se por exemplo ao facto de os ricos pagarem menos impostos que os " – camponeses, operários, polícias e outros mesteres –"?
Acompanho o raciocínio da Dra. Suzana, e concordo na resposta que dá à sua própria pergunta, quando diz: -“(…) por consequência, a redução comparativa do crescimento do PIB, poderia muito bem resultar da destruição das fontes da riqueza anterior, ou seja, o PIB diminui porque estão a desaparecer as condições de criação de riqueza que sustentava o anterior nível de crescimento (…)”
ResponderEliminarCara Suzana,
ResponderEliminarDirei que é mais ou menos isso, ou, se quiser utilizar uma linguagem mais própria do meio aquático, as fontes de criação de riqueza geram agora um caudal menor, pelo que no final do período de comparação a bacia da riqueza nacional encheu menos do que no período que serve de comparação...não diminuiu, mas encheu menos.
Apelidar esse menor enchimento de esvaziamento é que não teria lógica, creio.
Acrescento que isto não significa, uma perda do capital produtivo nacional, significa que o grau de utilização desse capital se reduziu, produzindo menos: slavo obviamente quanto à emigração dos cidadãos produtivos, que constitui uma efectiva perda, embora reversível (não é fácil, certamente).
Ou a velocidade ser menor não significa que se ande para trás, significa apenas que a velocidade desceu (a aceleração foi negativa).
ResponderEliminarDou-lhe razão Susana Toscano,
ResponderEliminarquando há destruição do aparelho produtivo, como acontece agora com o encerramento de muitas empresas, isso signifivca perda, pura e simples, do "capital produtivo" como lhe chama o Tavares Moreira.
É que a crise, a falta de crédito, não atinge apenas as "más" empresas, como se quer fazer crer, mas arrasta na enchurrada tanto as más como as melhores empresas. É por esta razão que a actual crise se torna tão nefasta e a continuar-se por este caminho, com longínqua e cada vez mais difícil recuperação.
Pelo que percebi dos comentários anteriores, para haver destruição de riqueza seria necessário não só que a taxa de crescimento do PIB fosse negativa como o próprio PIB fosse negativo. Será que percebi bem?
ResponderEliminarSim, mas a sua medida nesse caso é virtualmente impossível porque acontece não no fluxo da moeda (onde se mede o PIB) mas no valor dela (a inflacção de facto). Por exemplo, quando se constrói uma autoestrada ao lado de outra (ah, grade Sócrates!) a medida dá positiva porque o fluxo de dinheiro existe, mas a destruição do activo (o valor da autoestrada que existe) provoca esse PIB negativo.
ResponderEliminar