quinta-feira, 7 de junho de 2012

Inquéritos em directo

Tenho estado a assistir ao confrangedor espectáculo da comissão de inquérito às PPP’s, onde é “inquirido” um alto funcionário do Estado que sempre conheci como uma pessoa escrupulosa e tecnicamente muito competente. Há quatro horas, quatro!, que os diferentes deputados, à vez, com ar policial e suspeitoso, formulam e repetem perguntas cheias de subentendidos, dirigem-se ao depoente com insinuações sobre a sua competência e isenção e atiram coisas como “já sabemos que não esteve envolvido nesse caso, mas acha que o Estado negociou bem?”, ou “como jurista, o que lhe parece…?”, como se as pessoas fossem ali para “achar” ou para emitir pareceres jurídicos em cima do joelho. A complexidade do tema fica, patentemente, aquém dos conhecimentos e experiência de muitos dos que inquirem, razão pela qual não sabem perguntar nem entendem as respostas ou as interpretam mal. Enfim, o inquirido está nesta altura à beira de um ataque de nervos, mais do que justificado, ao ponto de um deputado do Partido Comunista reconhecer que, a continuarem assim, não tarda não se encontra ninguém decente que aceite ocupar um lugar de responsabilidade porque não está para se sujeitar àquilo.
Até admito que tenha que haver comissões de inquérito, realizadas por deputados que não sabem inquirir nem orientar um questionário e muito menos tirar das respostas conclusões que interessem ao apuramento dos factos, mas que sejam transmitidas em directo, expondo as pessoas àquele tormento para que cada partido fique no “filme” como lhe interessa, parece-me deplorável.

7 comentários:

  1. Anónimo00:51

    Concordo plenamente que ninguém decente se sujeita a um enxovalho desses, ainda por cima de gente que na maioria dos casos não tem curriculum sequer mediano quanto mais, curriculum que lhe baste para inquirir, seja em que tom for, alguém decente. O que me leva a uma pergunta. O que sucederia, há consequencias legais, para alguém que, sujeito a essas impertinencias, simplesmente diga que não está para aturar parvoices, levante-se e saia porta fora?

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  2. "acha-se" ... quando há falta de conhecimento ... "acha-se" rapidamente.
    Nunca tanta falta de estudo atingiu o cume politico, ... ... pensava eu ... que, salvo raras excepções, ficariam pelas autarquias...

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  3. Cara Suzana:
    As Comissões de Inquérito são, perdoe-se a expressão, uma "fantochada". Pura perda de tempo, apenas, geralmente, exibicionismo saloio dos Deputados. Se for ver, as conclusões do Relatório da Comissão são, praticamente em todos, são sempre as que a maioria defendeu quando o inquérito foi pedido, o que significa que o inquérito não valeu para nada. A razão é a razão do número. Os minoritários, para responder, fazem declarações de votos ou relatórios paralelos com as conclusões que também já tinham antes do inquérito. Para cúmulo, uns e outros tudo fazem para que as sessões sejam transmitidas em directo. Espectáculo indecoroso, pelo palavreado oco, introduções longas que só os próprios ouvem, muitas perguntas sem nexo, extrema violência verbal. E repetição das mesmas perguntas até à náusea. Uma solução que só podia dignificar a Assembleia era acabar com este tipo de inquéritos. Mas é impossível, pois é neles que muitos deputados fazem prova de vida.

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  4. Depois da Inquisição que se mantêm mitigada, a Real Mesa Censória, agora sob o mais ténue nome de Republicana Mesa Censória.
    Ontem soubemos que das 300? testemunhas do processo BPN, só 8 foram ouvidas e o juiz precisa de mudar de portátil.
    De Isalto já sabemos que prescreveu. Já não é Oeiras que vale a pena como ele sublinhava risonho e anafado com o seu charuto, é Portugal que vale a pena.
    De T'rocaste soubemos ontem que chegou montado numa máquina da mais alta gama com motorista pendurado.
    E ao povo, que são os seus irmãos com pingo de ética, pedem sacrifícios gozando ainda a dizer que somos um povo extraordinário!
    Pudera, como diria D.Januário Torgal a quem aplaudo, porque há muito que se passou o execrável!

    Extraordinários éramos se voltassem os que puseram no seu lugar Miguel de Vasconcelos e outros que tais.
    Mas a cobardia faz parte do ADN deste povo (os instalados, os rentistas do poder, chamam-lhe bom senso!).
    E os "cara de pau" sabem-no. E abusam, e abusam.

    É isto um país ou um lugar apenas mal frequentado?
    A história vai e vêm, a ignorância e a maldade é que se mantêm.
    Cada vez há menos pachorra para viver neste país de corruptos e crápulas para quem não há limites à arbitrariedade e à ganância!
    Foi preciso 48 anos para acabar com um regime em tudo quase igual ao actual.
    Quantos mais anos vamos esperar para que este povo se alevante e diga não aos corruptos e sim a uma verdadeira democracia?

    Piolheira de país!

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  5. Suzana, é confrangedor verificar, salvo raras e honrosas excepções, que só são excepções porque deveriam ser a regra, que nessas comissões, sejam ou não de inquérito, nada se clarifica, pelo contrário, porque não há realmente vontade de esclarecer seja o que for. Quando não se estudam os dossiers e investigam os assuntos o resultado só pode ser uma discussão de acusações e insinuações. É folclore político para gozo dos próprios.

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  6. Caro Zuricher não sei responder-lhe, mas realmente apetece assistir um dia a uma cena dessas, a falta de respeito e a arrogância ignorante das perguntas mais do que justificava uma rebeldia,ser deputado da República implica saber respeitar os outros.
    Caro Pinho Cardão, é isso mesmo, indecoroso, mas se fosse só inútil ou inconsequente nem faria tanto mal,o grande problema é que quem é chamado para "responder" é completamente maltratado e enxovalhado, e isso não se perdoa. Qualquer cidadão normal tem direito ao seu bom nome e à sua dignidade e caberia ao senhores deputados antes do mais, zelar por que esses direitos fossem respeitados na própria Assembleia da República mas, em vez disso, dão um péssimo exemplo e demonstram, no mínimo, que nem sequer têm consciência do modo como actuam. Concordo que essas comissões deviam acabar e, sobretudo, não deviam em caso algum ser arma de arremesso político através dos infelizes que têm o azar de ir lá servir de pretexto para estas exibições, à custa da sua humilhação pública.

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  7. Dou de barato os argumentos de "arremesso político" e "humilhação pública".

    No entanto o achismo educado, isto é analizar um problema com "common sense" e "fairness" é intrínseco à democracia.

    Este achismo é provavelmente incompreensível para o tuga rectangular que está sempre pronto para se empinar na aresta menor ou num qualquer vértice. A tal prova de vida referida pelo nosso amigo Colirense.

    É certo que não faz essa crítica, mas uma conclusão mais apressada levar-nos-ia a ela.

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